Eu tenho uma professora querida que sempre me disse (não diretamente, mas falando com a turma) que os textos e as leituras acadêmicas ajudavam a compreender melhor a vida. No quinto período da universidade, já estou mais que concordando com ela nesse aspecto – pelo menos nas leituras “de humanas” que faço. E é por isso, também, que acho importante juntar o que me parece muitas vezes separado pelas próprias estruturas: a academia e o mercado. Já citei o Tarcízio Silva num tweet que ele fez sobre isso e aqui ratifico a minha posição de que a universidade tem muito a oferecer aos profissionais de mídias sociais (já que não posso entrar em outros campos onde não estou presente).
Pensando nisso, trouxe esta semana ao blog um texto que já tinha tido contato anteriormente na faculdade e, neste período, aconteceu de ser “leitura obrigatória” (odeio essa expressão, parece condenamento) em uma das matérias que estou cursando. Trata-se de um artigo escrito por Raquel Recuero em 2012 para um congresso na Bahia, no qual ela apresenta alguns conceitos fundamentais para discutir a dinâmica de capital social em rede e como ela se estrutura por parte das ferramentas e dos usuários. Embora seja um artigo de vinte e poucas páginas, o texto é bastante denso no sentido de que ela apresenta muitos conceitos e pensamentos de autores que ajudam a fundamentar o pensamento e a discussão a respeito desse tema. Nas palavras da própria autora:
“O presente artigo busca discutir as mudanças ocasionadas pelas novas formas de conexão nos sites de rede social (SRSs) das redes sociais online nos investimentos e recursos que chamamos ‘capital social’. A partir de uma apresentação teórica e baseados no duplo aspecto envolvido no conceito, onde ambos (atores e rede) beneficiam-se dos investimentos individuais, apresentaremos uma proposta de sistematização da compreensão do conceito de capital social nas redes sociais online.”
Mas vamos com calma. A primeira coisa importante a se fazer é ter bem esclarecido o que a autora entende como sites de rede social (SRSs). Para isso, ela lista três condições necessárias:
- (Sites que permitem) a construção de um perfil público ou semi-público em uma determinada ferramenta;
- (Sites que permitem) a articulação de uma lista de conexões (também pública ou semi pública);
- (Sites que permitem) a possibilidade de ver e navegar nessas conexões disponibilizadas na mesma ferramenta.
Esse é um ponto-chave para a discussão principalmente para diferenciar seu conceito com o bem mais amplo e mais antigo de (“apenas”) redes sociais. O que o artigo propõe discutir é “como as novas formas de conexão proporcionadas pelos SRSs […] modificam as formas de investimento, acumulação e os benefícios associados ao capital social”. Ou seja, já na pergunta, a autora parte do pressuposto de que as ferramentas causaram “uma mudança na forma de obter e dividir valores”, tanto na prática de manutenção das próprias como também nas diferentes apropriações feitas pelos atores que as compõem. Mas, novamente, vamos dar uma pausa para tentar entender o que é (ou como entendem) o capital social.
“Constitui-se em recursos que são mobilizados através das conexões sociais, única e exclusivamente. Para Coleman (1988) é, deste modo, um bem que está diretamente constituído na estrutura social, contido nas conexões que são construídas pelos atores e que, por sua vez, também estruturam, entretanto, em uma definição mais instrumentalista, o capital social é a “soma de recursos” que está disponibilizada pela rede, relacionada às conexões que os atores possuem, mas não necessariamente recursos que estão contidos nelas, pois os benefícios são adquiridos ou recebidos pelos atores.”
Ou, de forma mais resumida, trata-se de “um valor relacionado às conexões sociais, ou seja, obtido através do pertencimento a um grupo social”. Em palavras ainda mais simples, é o capital (sim, quase no sentido financeiro da coisa) que você pode obter ou oferecer através da sua relação com um grupo (ou rede) social. E, nesse sentido, a autora está explicando o capital social para além dos SRSs. Por isso, ela faz um alerta (também em forma de argumento): a mediação pelo computador oferece novas formas de acumulação e acesso a recursos geralmente não “disponíveis” nas relações entre os indivíduos fora dessas ferramentas. Ou seja, ela argumenta que há “uma mudança no capital social que é causada pela transmutação das redes sociais na mediação do computador”.
E aqui entra aquela parte que mencionei lá no começo sobre ajudar a entender melhor o mundo. Não sei se é só comigo, mas sempre que um autor explica um conceito ou uma teoria sobre a sociedade que “estrala” os dedos na minha mente (“caramba, é mesmo…”), eu fico encantando – e tá aí o meu interesse em ler (alguns) textos da faculdade. São explicações para o que a gente enxerga como “natural” mas que, na verdade, é tudo construído socialmente, principalmente na relação entre os indivíduos. Olha só:
“Como socialmente o pertencer a um grupo não é um fato dado, mas algo que requer investimento de recursos pessoais (tais como tempo, sentimentos e etc.), podemos dizer também que o capital social está também relacionado com o investimento de cada ator na rede social que está, por sua vez, relacionado as expectativas que o ator tem de retorno (Lin, 2001).”
Mas deixando de lado o encantamento e voltando à discussão, a autora compreende que o capital social tem um duplo aspecto: “para compreendê-lo, é preciso analisar ‘como os indivíduos investem nas relações sociais’ e, em um segundo momento, ‘como capturam os benefícios nessas relações'”. Isso quer dizer que existe, de fato, essa troca entre o indivíduo e a rede – eu invisto em algo para conseguir um benefício qualquer. Citando outro autor, ela alerta que é preciso “distinguir os recursos em si da habilidade de obtê-los”, ou seja, o capital social é apenas aquilo que você recebe em troca do seu investimento à rede – “por exemplo, o acesso a determinadas informações que não estariam disponíveis de outro modo”. Nesse sentido, a conexão feita para obter esses recursos (ou sua manutenção) não é considerada um laço social, mas uma forma de “arrecadá-lo”.
Ao mesmo tempo, isso significa dizer que “a qualidade do capital social está relacionada com a qualidade das conexões (que, por sua vez, depende do investimento) e com os demais atores e os recursos pessoais que possuem e que estão dispostos a investir na rede”. Em outras palavras, poderia-se dizer que uma rede é apenas tão boa quantos os atores que nela atuam. Os benefícios que podem ser gerados para cada dessas pessoas também se torna um bem de valor significativo para a rede como um todo, uma vez que está tudo conectado. Tendo isso em mente, já podemos conceituar o laço social: “é a conexão que é estabelecida entre dois atores e que dá acesso a recursos sociais para ambos e que forma a estrutura social.”
Novamente, tentando facilitar o entendimento: você se conecta com outras pessoas através de laços sociais para, numa rede, investir e obter os benefícios do capital social. Esses laços são classificados como (mais) fracos ou (mais) fortes, com alguns dos quesitos principais sendo o acúmulo de intimidade e confiança. Algumas características desses dois grupos são:
LAÇOS/CONEXÕES FORTES
- tendem a conectar atores mais semelhantes entre si;
- dependem de conhecimento e similaridade;
- exigem maior investimento por parte dos atores;
- tendem a formar núcleos de nós próximos, interconectados (os chamados clusters nas redes sociais);
- são mais capazes de gerar confiança, intimidade, engajamento e mesmo valores reconhecidos pelos grupos.
LAÇOS/CONEXÕES FRACAS
- também são chamados de “pontes”;
- conectam os diferentes grupos, que são mais importantes para a circulação de informações novas nos grupos;
- são mais capazes de garantir valores diferentes tais quais o acesso a informações novas.
Não existe melhor nem pior nesse caso, são apenas diferentes. Vale lembrar que, até aqui, a autora ainda não entrou “oficialmente” na discussão dessa relação de laços sociais e capital social nos SRSs, embora visualizar essas conexões no Twitter, por exemplo, facilitem muito a compreensão de suas características. Antes de entrar nesse contexto, ela argumenta: “as ações sociais são motivadas pelo capital social, portanto, a entrada em SRSs e a atuação nessas ferramentas também poderia ser relacionada com a percepção de capital social” – e, a partir daí, ela explora quais são os investimentos que acontecem nessas ferramentas e como se estrutura o capital social nesses ambientes.
“Com efeito, o que a Internet parece proporcionar são ferramentas, como os sites de rede social, cujas diferentes formas de apropriação pelos grupos sociais podem gerar, conforme discutiremos, valores diferentes para as redes e os atores que ali estão. A apropriação, principalmente em seu caráter simbólico (Lemos, 2002), vai construir, assim, novos valores que são legitimados e reapropriados pelos grupos nas próprias práticas de interação nas ferramentas. Esses valores, entretanto, não são estáticos, mas dinâmicos, em constante mudança, não apenas pelo ambiente cultural onde cada tecnologia e apropriada, mas igualmente pelos usos que cada grupo ali constrói.”
Pronto. Entendemos o que é capital social, o que são laços sociais e o que são SRSs. Agora, vamos à luta: queremos tentar compreender “como se dão as novas formas de construção e investimento nos laços sociais mantidos através da Internet”. Isso porque a dinâmica dos SRSs não apenas molda as redes sociais as quais representam, mas também interferem o jogo de capital social que ocorre ali. Explicando melhor:
“Enquanto no mundo offline, manter uma conexão social, seja forte ou fraca, necessita investimento de atenção, sentimento e etc. tanto para a sua criação quanto para a sua manutenção, nos sites de rede social as conexões são inicialmente mantidas pela própria ferramenta (Elison, Steinfeld & Lampe, 2007).”
Ficou claro? A conexão social feita “fora do mundo virtual” exige uma série de fatores (e contratos) sociais cuja mesma conexão “dentro do mundo virtual” não demanda – enquanto, no primeiro, você precisa manter contato sabe-se lá como (mas precisa ser constante); no segundo, basta clicar em um botão e a conexão está feita, estabelecida, até que alguém a desfaça. E aí entra uma discussão acadêmica (bastante ampla) que a própria autora cita sobre a natureza dessas conexões estabelecidas online, se elas seriam “benéficas” (internet como facilitadora e amplificadora dos laços mais fortes) ou “maléficas” (laços mais fracos tendo efeito negativo nos laços sociais mais fortes). Particularmente, embora ache extremamente relevante a leitura dessa discussão, penso que as teorias poderiam ser atualizadas, já que os textos citados são de 1995 e 1998 – então nem vou entrar nesse mérito.
Voltemos, portanto, à discussão que interessa: abaixo estão os fatores complexificadores para os laços sociais em SRSs: permitem que esses laços sejam publicados e mantidos pelas ferramentas; permitem também a acumulação de laços sociais, justamente porque esses independem de um investimento direto; além disso, as conexões que podem ser estabelecidas também têm dimensões diversas. Essas ferramentas, portanto, como já mencionei, interferem diretamente na construção de capital social para além do seu conceito apenas de rede social. Nesse contexto, a autora diferencia os tipos de conexões que estão estabelecidas neles:
- A conexão associativa é aquela que está sendo mantida pela ferramenta, com efeitos para ambos os atores;
- A conexão emergente é aquela que é baseada na conversação e na interação verbal, que é mantida, principalmente, pelos atores.
- Ambas as formas constituem conexões com efeitos sociais.
“Sites de Rede Social, assim, como proporcionam formas diferentes de conexão, seriam, também, capazes de gerar formas diferentes de acesso a valores diferenciados de capital social (Ellison, Steinfeld & Lampe, 2007; Recuero, Araújo & Zago, 2011). Esses valores de capital social seriam relevantes na medida em que não estão acessíveis aos atores de outro modo. Esses sites, inclusive, construiriam, pela apropriação que geram nas redes, novos recursos a ser disputados.”
Portanto, já sabemos que há essa diferença nesses recursos que envolvem a disputa de capital social na rede (de internet). Mas, para entendermos melhor isso, precisamos estudar quais são os tipos de investimentos feitos pelos atores para a captação desses benefícios. Segunda a autora, “o tipo de investimento que será feito pelos atores nas redes sociais […] está diretamente relacionado com a apropriação e o tipo de benefício que eles esperam obter”. Ela defende que isso está relacionado com a apropriação (do indivíduo na ferramenta), que guiam as formas de investimento que são feitas ali, assim como esse jogo de investidas influencia o modo como as redes sociais estão estruturadas (o que, em outros textos acadêmicos, podemos conhecer como estruturas e estruturantes).
Antes de apresentar quais são esses tipos de investimentos, chamo a atenção para a ideia desses recursos online obtidos para fins de capital social que são recebidos em troca dos investimentos realizados pelos atores. Esses “também são dependentes das diferentes apropriações que os grupos fazem dos SRSs”, ou seja, são dinâmicos, construídos, negociados e transformados a todo instante. Ao mesmo tempo que representam um benefício para alguém, também representam um investimento de um grupo (com expectativas de retorno), no duplo aspecto do capital social que atinge tanto os indivíduos quanto os grupos. Mas, retomando a ideia dos investimentos, a autora categoriza os feitos em SRSs conforme abaixo:
a) Criação e Manutenção das Conexões Sociais: “Fazer uma conexão é uma forma de investimento, na medida em que essa conexão poderá prover determinadas formas de valor para cada ator. Sites de Rede Social reduzem a necessidade de investimento nas conexões e por isso, facilitam o acesso (ou a percepção de acesso) a determinados benefícios.”
b) Construção de perfil: “O perfil não apenas divulga informações, mas as relaciona a uma identidade comum. Assim, ele dá outra dimensão ao investimento, podendo servir como um espaço pessoal (por onde se pode receber benefícios variados) e de criação e manutenção de uma determinada identidade.”
c) Compartilhamento de recursos: “Esses recursos, que são disponibilizados por alguém como investimento, geram benefícios a outros. Para que o capital social seja construído, assim, é preciso que alguns invistam seus recursos pessoais, imaginando o benefício que poderão ter, também acesso, em retorno. […] Sites de Rede Social também proporcionaram aos indivíduos a possibilidade de fazer esse investimento de forma mais direta (publicar uma informação na timeline do Facebook) e perceber o retorno do investimento (por exemplo, “curtidas” em uma postagem) de forma mais clara.”
Antes de entrar no próximo “tópico”, vale ressaltar o conceito de conexões associativas e conexões emergentes. As primeiras são os tipos de conexões mantidas pela própria ferramenta, que não precisa de um investimento mais “trabalhoso” por parte dos atores; já as segundas exigem um grau de “esforço” maior dos atores, uma vez que são mantidas pelas conversações que ocorrem entre eles. Tendo isso em mente, podemos partir para tentar compreender como funcionam as conexões emergentes fracas ou fortes e as conexões associativas fracas. Aliás, segundo a a autora, as conexões emergentes “podem evoluir de laços fracos a fortes, enquanto aquelas que são apenas associativas não evoluem no tempo, são estáticas”. Uma forma “simples” de se pensar isso é: a associativa é a conexão feita ao seguir alguém no Twitter – nesse contexto, não há muito o que se fazer além do próprio ator; já a emergente se desenrola na interação que é feita naquele ambiente, ou seja, pode se desenvolver como um laço mais fraco (de ponte) ou mais forte).
Conexões associativas: o primeiro investimento desse tipo de conexão é aquele da construção de um perfil no site de rede social escolhido. Esse investimento proporciona, inicialmente, a criação de uma presença (indicando que o ator está apto a interagir naquele espaço). Essa presença, assim, é um primeiro benefício, que pode ser estendido pela criação e manutenção de conexões associativas e/ ou emergentes. Com as conexões emergentes e associativas, acontece também a legitimação desse investimento, na medida em que os outros atores reconhecem a presença de um indivíduo.
Eu arriscaria dizer que os benefícios atribuídos às conexões associativas são de caráter mais “quantitativo” – como, por exemplo, visibilidade e popularidade (nestes casos, um que desencadeia o outro). A autora explica que “a partir das ações individuais para construir melhor acesso à informação, os atores decidem a quem desejam conectar-se ou não”, o que significa que cada indivíduo “favorece” a popularidade de uns e a não popularidade de outros. Nesse caso, há também o caráter da legitimação para esses tipos de conexões, uma vez que a presença desse indivíduo popular na rede só se dá pela reconhecimento dos outros de que ele está ali. Estes são os benefícios gerados individualmente nas conexões associativas.
No entanto, o grupo também sai ganhando com essas ações individuais. Citando autores mais antigos, Recuero explica que “essas conexões são capazes de fazer circular informações novas pois conectam grupos diferentes”. Essa visibilidade adquirida por um ou determinados indivíduos gera uma circulação maior que beneficia toda a rede, que também ganha um filtro que atua “para o grupo como um todo, mostrando atores considerados relevantes”. Nessa disputa de capital social, há aqueles que investem diariamente nesses SRSs para obter algum desses benefícios já citados (podemos pensar nos famosinhos do Twitter, por exemplo), assim como também há aqueles (em sua maioria) menos interessados nesses retornos, visando apenas “investir em seguir os demais para obter as informações”.
As conexões emergentes já trabalham de outra maneira. Como ela exige um maior nível de “engajamento” dos atores, os benefícios que elas provêm estão mais ligados a um valor qualitativo – novamente, a minha percepção. Por exemplo, o suporte social: que “compreende todos o apoio, a construção de sentimento e intimidade característica das conexões sociais mais fortes, que é bastante comum”. Esse suporte também garante a legitimação da presença e a [própria legitimação da “face”] ou da identidade proposta pelos atores. Mas, assim como as associativas, as conexões emergentes também podem gerar visibilidade na construção das conversações que ocorrem dentro dessas redes – o que, na internet, é conhecido pelo fenômeno da clusterização.
“A clusterização é um benefício relevante para a rede, uma vez que proporciona acesso a melhores recursos para o grupo e a possibilidade de circulação desses recursos. Essa clusterização também gera maior proximidade, permitindo que os atores tornem-se mais investidores no próprio grupo e aumentem ainda mais a clusterização. Redes mais cluterizadas, portanto, são mais capazes de fazer circular outros benefícios para os atores (Burt, 1992).”
Um benefício também bastante relevante se tratando agora do compartilhamento de recursos é a autoridade. Conforme explica a autora, “enquanto valor, a autoridade é concedida pela rede devido às ações e reconhecimentos de um determinado ator”. Intrínseco à ela, está a reputação, outro valor individual que é construído pela percepção dos atores em cima das ações de cada ator em cada ferramenta. Esse benefícios podem ser melhores percebidos nas conexões associativas, uma vez que trabalham em cima do poder de visibilidade: “quanto mais conexões, mais visível e maior a quantidade de recursos disponibilizados aos atores.”
No campo coletivo, o compartilhamento de recursos favorece principalmente a criação de confiança no ambiente do grupo, facilitando as interações individuais. Estas ações formam pontes para que a informação circule com maior abrangência, proporcionando também “uma filtragem de informações, da qual a rede, como um todo, se beneficia”. A autora explica que o valor de confiança é extremamente importante para o grupo como um todo, já que há, a partir daí, “maior a cooperação entre os atores no compartilhamento de recursos quando os indivíduos solicitam”. O resultado é uma proximidade na rede que atua na clusterização e na manutenção de recursos dentro dela.
Tá ficando confuso? Talvez a tabela abaixo (presente no texto) ajude a clarear melhor as ideias:
Para irmos à reta final com o pé direito, acho que vale colocar aqui a citação direta da autora:
“O que discutimos, portanto, é que por proporcionar essas diferenciações nas representações das redes, os sites de rede social interferem nelas, gerando percepções diferentes de valores para os atores que vão motivar as ações de apropriação das próprias ferramentas, no sentido delineado por Coleman (1988) de ação social. Essas motivações alteram as representações das redes no espaço online, que se tornam diferentes das redes offline. Há, assim, novas formas de construir rede social (Recuero & Zago, 2009) e novas redes que impactam o cotidiano dos atores. Há, ainda, novos benefícios que são disputados e construídos pelos atores, gerando novas formas de capital social.”
Destrinchando esse pensamento: primeiro, precisamos (de uma vez) diferenciar redes sociais de sites de redes sociais. Feito isso, colocamos em mente que a apropriação desses SRSs pelos atores interfere diretamente no modo como as redes sociais no ambiente online se estruturam. Devido a isso, cria-se então “novas formas de construir rede social e novas redes que impactam o cotidiano dos atores”. Nesse contexto, novos benefícios nascem e passam a ser disputados de formas diferentes por esses atores. Benefícios esses que só aptos de acumulação a depender do tipo de investimento que será feito pelos atores (e do qual a ferramenta possibilita). E aí, a meu ver, quantifica-se (e os SRSs facilitam visualizar) esses valores.
Uma vez que o ambiente online deixa tudo à mostra a base de algoritmos, alguns simples e públicos (o número de seguidores de alguém no Twitter, por exemplo), entender o capital social que é disputado naquele ambiente fica mais nítido. E aí entra o que ela explica sobre a “quantidade” de recursos disponíveis e acumulados, que são usufruídos tanto pelo grupo quanto pelos indivíduos (seja pela filtragem de informação ou pelo benefício de visibilidade): “não é possível que todos os atores tenham a mesma visibilidade, pois a atenção de todos está concentrada em alguns e trata-se de um recurso finito” – e o mesmo vale para popularidade e informação.
“É este, portanto, o duplo aspecto do capital social nessas ferramentas: Ao possibilitar que os atores invistam nos sites de rede social de forma diferenciada, buscando acumular recursos que de outra forma não estariam acessíveis, os SRSs também constróem benefícios para os grupos e as redes. Quanto maior o investimento dos atores, mais fechado o grupo, maior o benefício deste como um todo. Entretanto, o usufruto e acúmulo individual dos benefícios não acontece na mesma medida para todos, gerando também competição entre os indivíduos.”
Para fechar, vale ler as conclusões “oficiais” da autora no artigo original (que você encontra lá no site dela). Mas, por fim, o que aprendemos hoje? Primeiro, espero, aprendemos que a universidade pode ser uma fonte muito mais proveitosa do que apenas um lugar para conseguirmos um diploma – as pesquisas científicas que acontecem no ambiente acadêmico pode nos ajudar a entender melhor o mundo, basta escolher o caminho certo. Segundo, que o capital social (conceito primeiramente abordado por Bourdieu, creio eu), trabalha, nos SRSs, tanto para o indivíduo quanto para a rede – mas, nunca, de forma dada. Terceiro, que talvez não tenha ficado muito claro, mas que só vale a pena ser de uma rede social se você tem algum interesse em participar dela – e é por isso que você investe recursos pessoais para criar laços sociais e adquirir benefícios para construir capital social.
O CAPITAL SOCIAL EM REDE: Como as redes sociais na Internet estão gerando novas formas de capital social. Contemporanea (UFBA. Online), v. 10, p. 597-617, 2012.
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O CAPITAL SOCIAL EM REDE: Como as redes sociais na Internet estão gerando novas formas de capital social. Contemporânea (UFBA. Online), v. 10, p. 597-617, 2012.
[…] foram praticamente quatro (ou cinco?) meses de atraso para esse post sair, e mais dois meses para dar continuidade às publicações que prometi serem semanais ou quinzenais. Por isso, peço desculpas. Mas, antes […]
[…] exemplo, podem manter uma conexão com você no Facebook devido à facilidade de manutenção desse laço fraco; ou, ainda, pessoas que você não conhece offline podem aparecer no seu news feed enquanto perfil […]