No segundo capítulo da série Profissão Social Media, trago à discussão um assunto bastante menosprezado por boa parte dos “social medias” de plantão: planejamento (que – pasmem – não é somente escolher os canais de atuação de uma marca!). Convidei mais uma vez 10 profissionais dos quatro cantos do país com distintas formações educacionais e diferentes realidades de trabalho na tentativa de ilustrar um cenário bastante complexo da profissão, condizente com a pluralidade de atuações que temos no Brasil. Antes de apresentá-las formalmente, abro um espaço para falar um pouco do projeto em si (principalmente para aqueles que ainda não conhecem).
A série surgiu do post “Profissão Social Media: áreas de atuação e fontes para estudo”, que fiz no ano passado em parceria com Mayara Mendes, Mari Ferreira e Juliana Freitas. Neste ano, resolvi dar continuidade ao conteúdo produzindo vários posts sobre cada uma das áreas destrinchadas, dessa vez com ainda mais minúcia e detalhamento às funções exercidas (além de referências para estudo). A me ajudar nessa jornada, convido 10 profissionais de repertórios diferentes que respondem a algumas questões sobre a profissão, o trabalho e o mercado. Recentemente também sugeri uma palestra sobre o projeto no Social Media Week SP, que acontece em setembro, e peço encarecidamente pelo seu voto através deste link. Por enquanto você já pode conferir o primeiro capítulo, sobre monitoramento, e, agora, nosso segundo tema: planejamento.
Novamente a predominância de profissionais de São Paulo se dá pelo simples motivo de ser o maior polo de agências de Comunicação/Publicidade/Marketing do Brasil. No entanto, tentei manter minha proposta de buscar diferentes referenciais, trazendo falas também do Norte e Nordeste. Ao final do post você pode conferir uma ficha mais detalhada e completa sobre cada uma das entrevistadas, mas, por enquanto, eis a lista: do Rio de Janeiro, Daniele Rodrigues, Francelle Jacobsen e Patrícia Moura; de Aracaju, Janaína Conceição; de Belém, Mayara Nobre; de Curitiba, Vívian Maciel; e, de São Paulo, Taís Oliveira, André Sinkos, Verônica Merege e Juliana Matheus.
Planejamento: o que é, como faz, onde entra?
Alguém que nunca teve contato com a matéria de planejamento (não apenas na graduação, mas em termos mais amplos de estudo/conhecimento) pode deduzir, através da própria palavra, que trata-se de algo referente a “estar preparado para” – ou seja, é uma ação anterior que pensa como executar uma ação posterior. Essa concepção, embora um pouco rasa, pode ser um bom ponta-pé inicial para abordarmos o assunto. Seguindo essa ideia de preparação, Francelle Jacobsen, professora e coordenadora na Faculdades Integradas Hélio Alonso – FACHA, define o planejamento voltado para mídias sociais como o “desenvolvimento de um plano de comunicação considerando os objetivos da marca, público alvo, estratégias, monitoramento, metas, métricas” que “contempla diferentes redes sociais, anúncios e integração com outras mídias”.
Ou seja, trata-se de “contextualizar o cenário digital, o comportamento do público e os desafios os quais a marca precisa enfrentar, apontando possíveis caminhos e abordagens para promover um relacionamento mais íntimo com estes públicos nas plataformas sociais”, explica Patrícia Moura, professora na Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM (RJ). A partir desse escopo macro, caminha-se para um plano mais delimitado, compreendendo “as táticas a serem utilizadas para obtenção dos objetivos iniciais”. Embora essas propostas complementares de definição nos ajudem a compreender um pouco do trabalho com foco em mídias sociais, é importante dar um passo atrás para buscar “da fonte” um pouco do que já se compreende como trabalho de planejamento – muito antes das mídias sociais e da própria internet, embora venhamos a abordar suas atualizações mais adiante.
“Planejamento responde a um problema de negócio, buscando as melhores estratégias de comunicação para esse desafio”, explica Daniele Rodrigues, professora na Universidade de São Paulo – USP. Ela explica que “executar uma consistente análise Macroambiental (visão mais geral sobre a categoria, comportamento do consumidor e condições econômicas, culturais e sociais) e Microambiental (analisando os pormenores dos concorrentes e da marca/produto/serviço com o qual estamos trabalhando) é parte central do escopo dos planejadores”, uma vez que “o conceito estratégico e, posteriormente, o criativo, surgem nessas bases”. A partir daqui já podemos ver como o trabalho de planejamento, para além de estratégia e criação, atua intrinsecamente ligado a uma vasta produção de pesquisa e análise. Se você acha que ser planner é apenas sugerir formas estratégicas (criativas) e táticas de comunicação, sem um vasto embasamento teórico, está enganada(o).
A curiosidade e a vontade de entender as coisas que acontecem fazem parte do seu trabalho. Porque dentro da agência, você tem que ser a pessoa que entende o que está acontecendo. Você precisa pegar um monte de informação e fazer conexões, enxergar padrões e entender as motivações de um comportamento para criar algo que seja relevante, para o seu cliente e para as pessoas. Esse entendimento, esse raciocínio, é a nossa grande entrega. […] É seu papel entender como levar a melhor mensagem da melhor forma onde quer que o seu consumidor esteja pra recebê-la. O planejamento macro está sempre presente no micro, porque o tático nada mais é que um desdobramento da estratégia.
Vívian Maciel, Planejamento na agência SoWhat
Taís Oliveira – mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC, linha de pesquisa Cultura, Comunicação e Dinâmica Social – sintetiza bem: “Planejamento é se debruçar para valer na história, contexto, nos públicos, nos problemas e objetivos de comunicação da organização. É documentar e estudar o material levantado afinco. E aí, diagnosticar problemas de comunicação e sugerir ações para resolvê-los.” Ainda melhor do que sua definição, está essa analogia que não deixa ninguém com dúvidas: “Para ilustrar, é como uma consulta médica. Você vai ao consultório e conta suas queixas, o médico solicita exames clínicos, depois do diagnóstico te sugere um tratamento e faz seu acompanhamento para verificar se há a melhora do problema queixado”. O termo “diagnóstico”, inclusive, é bastante comum à matéria de planejamento, e ajuda a compreender que: 1) há um problema; 2) foram feitas análises; 3) vamos propor uma solução.
E essa solução não é estável, única nem fixa. “É muito importante entender que o trabalho do planejamento não acaba quando as ações são implementadas”, alerta Mayara Nobre, especialista em marketing digital e Project Manager na empresa Empatia. Trata-se, portanto, de um trabalho constante de observação, “sempre em busca de oportunidades de ser relevante”, pontua Juliana Matheus, estrategista na R/GA e colunista no blog Jovens Planners. “O que você faz depois com as informações que coleta é apenas uma questão tática, de plataforma – o pensamento estratégico independe disso”, reforçando a importância da pesquisa e análise. Esse, no entanto, é o “mundo ideal” do trabalho de planejamento – aquele onde é “o primeiro passo para posicionar a marca de forma assertiva, seja no mercado, no relacionamento com o consumidor ou nas mídias sociais”, conforme pontua Janaína Conceição.
Planejamento na Base Propaganda, ela alerta para um dos principais problemas do mercado em pequenas e médias agências: “geralmente o trabalho de planejamento só acontece de fato quando a marca já está posicionada nas mídias sociais e precisa evoluir a sua estratégia de marketing ou corrigir erros que a presença não-planejada tenham ocasionado”. Do outro lado da moeda, em maiores agências e grandes clientes, “problemas” também surgem: “O desafio está naquele cliente que tem 5 agências, cada uma atendendo a uma frente, e todas são ativadas para entregar uma determinada campanha”, conta Verônica Merege, também estrategista na R/GA e colunista no JP. “Já vi muitos enxergarem nessa situação uma oportunidade de fazer o trabalho do outro, de mini concorrências em busca da ‘melhor verdade’, do ‘melhor insight’, de qual trabalho de fato guiará as outras agências na criação. […] É necessário entender que precisamos ajudar o cliente a criar uma comunicação unificada […]. Às vezes temos o controle, e às vezes precisamos ceder.”
Como podemos aferir, as adversidades que encontraremos no mercado podem ter diferentes faces – a depender de qual ator você vai encontrar pela frente. Apesar de tudo isso, podemos compreender que, no final das contas, o trabalho do planner é, de fato, diagnosticar um problema (de comunicação, neste caso).“Ao mesmo tempo em que ele amplia o repertório através de pesquisas, levantamentos, desk, integração com outras áreas, ele também precisa tomar a decisão de com base nesse caos, qual será o caminho que trilharemos para resolver o problema”, descreve André Sinkos, Supervisor de Planejamento na F.biz. “Ele é a pessoa responsável por investigar, entender e interpretar informações até encontrar a melhor forma, direcional, insight e mensagem que sejam capazes de estabelecer uma conexão real entre marca/produto e consumidor.”
E como faz?
Essa singela introdução nos ajuda a compreender melhor a proposta por trás do trabalho de planejamento. Já podemos perceber certo fluxo de atuação, conforme destrinchado por Dani Rodrigues: “1) pesquisa – etapa estruturante para o planejamento, onde buscamos as respostas às análises macro e microambiental; 2) insights a partir dos dados coletados/observados para transformá-los em planejamento de conteúdo e de mídia, bem como em ativações especiais; 3) análise dos caminhos estratégicos concebidos para ver se atendem aos objetivos de negócio e de comunicação do briefing”. Na prática, entretanto, essas etapas podem ser um pouco mais complexas, sendo condicionadas pela realidade do seu trabalho – se é uma grande agência, pequena/média agência, se está alocado no cliente, se trabalha numa cidadezinha ou numa grande metrópole como Recife ou São Paulo, etc.
A rotina diária exige organização e método. Receber briefing, entender claramente o que a empresa deseja comunicar, envolver outros setores sempre que necessário, executar plano de ação, fazer interface com criação e tecnologia, revisar publicações, acompanhar os resultados e propor melhorias. Gosto de trabalhar da seguinte forma: faço a interface com outras áreas, lidero equipe multidisciplinar, composta por três profissionais responsáveis por conteúdo, design e performance.
Francelle Jacobsen, Coordenadora de Marketing Digital e Professora na FACHA
Janaína Conceição, Vívian Maciel e Verônica Merege, em diferentes descrições, também reforçam as etapas anteriormente mencionadas: briefing > pesquisa: concorrência, mercado e consumidor + tendências + benchmarking > interface com demais áreas envolvidas > insight > guias editoriais (a persona, identidade da marca, identidade visual, posicionamento, linguagem, públicos e segmentações, etc.) > plano tático de execução e mensuração > acompanhamento. “Isso tudo acontece não necessariamente nessa ordem – às vezes tem parte da equipe analisando a concorrência e outra parte fazendo pesquisa, por exemplo – o fluxo é bem orgânico”, explica Vívian. As práticas se diferem entre agências, localidades e clientes, mas Janaína pontua que “os desafios são: entender o que vai ser dito, porque é relevante falar daquilo, qual o melhor momento para aquele conteúdo ir ao ar, através de que recurso e linguagem, como será segmentado e que tipo de interação esperamos do público”.
Cada agência conta com métodos e ferramentas distintas. Em geral, existe um fluxo quase fordista em grandes agências, onde um atendimento irá pegar o briefing, planejamento “planeja” e depois elaboramos o briefing criativo para criação ou conteúdo. Nos últimos anos outras áreas passaram a fazer parte desse fluxo, como mídia e B.I.. Eles estão envolvidos em todas as etapas do projeto de formas diferentes. Posso pedir para que mídia me alimente com informações de clusters e performance das últimas campanhas, ou para que o B.I. me ajude a construir um cenário do comportamento digital de determinado consumidor. Em geral o planejamento irá liderar essa investigação estratégica, utilizando diversas áreas como recursos para chegar a um insight mais poderoso.
André Sinkos, Supervisor de Planejamento na F.biz
Patrícia Moura e Juliana Matheus reforçam as diferenças das rotinas e fluxos de trabalho, argumentando pelo caráter cada vez mais integrado às demais áreas das agências. “De maneira geral, [planners] terão o aprofundamento do briefing, o desk research da categoria e a geração de insights sobre o público alvo como atividades base para o desenvolvimento da estratégia que será ativada nas mídias”, explica Patrícia. “O que percebemos é que, cada vez mais, o planner tem um papel mais holístico, um olhar sobre o projeto como um todo. É quase como um guardião do job, que vai olhar a entrega de ponta a ponta e garantir que ela resolva o problema do cliente e/ou do público final”, acrescenta Juliana.
Como se integra (com as demais áreas)?
Conforme já mencionado em algumas falas anteriores, o planejamento atravessa diversas partes – como “guardião”, precisa ter uma boa visão do todo e transitar bem entre todas as áreas. “O trabalho de um planner depende de um bom relacionamento com o atendimento para que ele traga a visão do cliente e ajude nos briefs; depende de um bom relacionamento com a criação para que as ideias conversem com a estratégia e tragam os resultados que o cliente espera; depende de um bom relacionamento com a mídia para garantir que a mensagem certa chegue à pessoa certa e no momento certo; depende de BI/Analytics para monitorar a evolução da campanha; e por aí vai”, defende Juliana Matheus.“É quem guia o job e quem mantém todas as áreas unidas, fazendo com que a entrega final esteja em sintonia com a estratégia”, acrescenta Vívian Maciel.
A integração com as demais equipes não é uma questão de aperfeiçoamento do trabalho, mas um pré-requisito básico. “Quando a equipe consegue acompanhar todos os passos do planejamento é muito mais fácil para que cada área execute sua parte da melhor forma, pois as pessoas além de sentirem que fazem parte de toda a construção, têm um entendimento e conhecimento melhor de onde/por quê/para quem surgiu cada passo”, pontua Mayara Nobre. Já Verônica Merege reforça o caráter de visão holística do planejamento, uma vez que “ideias virão, e cortes de gastos também, então é preciso ter sempre alguém de olho nas novas adaptações do projeto e das demandas para se manter fiel ao que mais tem fit com o público”. Nesse cenário, “o planejamento se atém a encontrar uma verdade do público com o qual se pretende gerar impacto, e se mantém fiel ao olhar do consumidor com o desenrolar do job”.
Trabalhe bem em equipe de forma que a Criação se sinta a vontade de discutir ideias: você verá muita diferença quando o insight realmente se transformar em uma ideia que gera impacto E SAI DO PPT (é muito importante isso :P). Trabalhe bem em equipe com a Mídia: há formatos cada vez mais novos e oportunidades cada vez mais interessantes para conversar com as pessoas. Trabalhe bem com o Atendimento e ganhe a liberdade de apresentar suas próprias ideias, de ganhar mais prazo, de oferecer propostas mais ousadas aos clientes. Muito dessa integração não está no job description de um planner, mas ela é essencial para que você faça tudo o que realmente acredita. Tenha as pessoas ao seu lado.
Verônica Merege, Estrategista na R/GA
Dani Rodrigues, além de ratificar a importância de áreas centrais como atendimento e criação, reforça o apoio das áreas de pesquisa/dados. “O trabalho de compreensão de mercado, consumidor e tecnologia – tríade das estratégias, é em parceria com profissionais de pesquisa, monitoramento e de business intelligence”, explica. “[…] Pesquisas de campo, entrevistas, netnografia, metodologias como ‘um dia na vida da pessoa’ e similares podem trazer resultados ainda mais assertivos e qualificados se contarmos com o apoio de profissionais que transformam dados isolados em sabedoria. […] Na era da alta performance, da otimização real time de cada centavo de mídia, atuar em cima de inteligência é pré-requisito de sucesso”, argumenta. Ela também alerta para a importância da tradução do trabalho de planejamento: “A maneira como “contamos” nossa estratégia é um recurso importante à compreensão das nossas ideias. O planejador é um contador de história, por isso […] ser empática à audiência da estratégia é parte do escopo do planejador”.
E onde estudar? Por onde começar?
Quem me conhece e/ou conhece o blog sabe o quanto eu acredito no autodidatismo – pelo menos quando o tema é trabalho em mídias sociais. A questão, entretanto, é, tratando-se de uma matéria muito além desse universo, é possível estudar por conta própria? Francelle Jacobsen argumenta que “sim, basta querer, pesquisar e se atualizar em relação às práticas do mercado, cases e ferramentas. Acompanhar blogs e canais no Youtube, tem muito conteúdo legal por aí”. A história de André Sinkos vai de encontro à essa possibilidade: “comecei a ler alguns livros e quando percebi o que realmente era o planejamento e seu potencial comecei a buscar alguns cursos pequenos e baratos para me capacitar”, conta. “Além disso busquei blogs, livros, Slideshare… acho que usei as skills investigativas de planejamento para me tornar planejamento.”
Essencialmente relações públicas é uma profissão de planejamento, embora seja multidisciplinar podendo atuar em áreas mais específicas como assessoria de imprensa, cerimonial e protocolo e relações governamentais, por exemplo. Mas todas elas tem em comum a necessidade de planejar ações, logo, planejamento é uma espécie de core business das RP (junto com mapeamento de públicos, que é outra particularidade entre as habilitações de comunicação). Talvez a grande diferença entre publicidade e relações públicas seja o prazo e objetivo da comunicação, em geral RP planeja a médio e longo prazo com o objetivo de criar relacionamento e fortalecer imagem, por outro lado, publicidade planeja a curto prazo com o objetivo de vendas (claro que isso não é uma regra geral). E essas informações são importantes de se especificar no planejamento também.
Taís Oliveira, co-fundadora e colunista no blog Versátil RP
Há, entretanto, algumas ressalvas a serem pontuadas – Patrícia Moura explica: “vejo um certo grau de subjetividade na construção de narrativas de estratégia que não se aprende sozinho. A mentoria e feedbacks constantes são as chaves do sucesso de um planner”. Taís Oliveira complementa com mais rispidez: “O curso universitário e cursos complementares são muito importantes. A experiência é importante. Ter contato com pessoas mais experientes na área é importante. Acredito que é um combo de fatores que agregam no desenvolvimento do profissional”. Nesse sentido, para além do aprendizado individual, ambas recomendam a participação em grupos, presença em palestras, cursos e workshops para desenvolver um senso crítico interpessoal que as leituras sozinhas não dão conta. Já Verônica Merege e Juliana Matheus alertam para os perigos dos estudos superficiais – “estudar por conta própria” precisa ir além do consumo de textos na internet.
Existe um valor na pirâmide de Maslow que trend report nenhum vai substituir, se você não entender de fato o que ele significa. Existe um valor ao ler os longos conceitos do Kotler, a cultura de convergência do Jenkins, a semiótica da Santaella. Planejamento é ir a fundo, é ir atrás, é se perder no tempo enquanto lê sobre coisas aparentemente irrelevantes, mas que uma hora vão se conectar com todas as outras coisas que você andou lendo pelos últimos tempos. Não se contente em ver os links populares: procure pelo livro mais antigo, e também pelos textões sobre selfies mais recentes. Procure conhecer os heads de planejamento de outras agências, procure pelos primeiros planners de Londres. Entenda as discussões sobre o futuro do planejamento. Discuta sobre creative strategist vs. comms planner vs. brand strategists vs. ux strategists vs. seja lá qual for o próximo… Raciocine sobre o planejamento 360º e se pergunte se existe mesmo um Marketing 3.0. Por mais batido que seja o tema, é preciso ler diversos pontos de vista para formar o seu.
Juliana Matheus e Verônica Merege
Uma coisa que aprendi com o módulo de planejamento do CoLab Social Media é que repertório (tanto de teorias “tradicionais” quanto de novidades da área, do mercado, das plataformas, etc.) importa muito. Vívian Maciel explica que “as mudanças acontecem com tanta agilidade que a atualização precisa ser constante”. Seguindo esse argumento de que um planner nunca deve cessar seus aprendizados, Dani Rodrigues reforça que “um bom planejador precisa entender de ser humano e ser observador”, ou seja, “além de cursos e estudos de obras sobre planejamento e estratégia propriamente, é fundamental buscar conhecimento sobre comportamento do consumidor, metodologia de pesquisa, premissas de comunicação em plataformas sociais digitais, engajamento de audiência, linguagens, formatos e similares. Soma-se a isso, a necessidade de frequentar os lugares onde as transações e as experiências acontecem e ter repertório cultural.”
Como entrar no mercado?
Quando falamos de criação ou conteúdo, falar de portfólio é quase tão natural quanto necessidades humanas básicas. Nas áreas de monitoramento e métricas, a divulgação de relatórios públicos é algo também bastante valorizado. E para planejamento? “O portfólio também é indicado neste caso, apresentando os cases desenvolvidos como foco nos insights estratégicos apontados pelo planejamento e resultados alcançados”, indica Patrícia Moura. “Publicar textos e cases a partir de planejamentos colocados na rua em blogs e slideshare, por exemplo, é uma forma de demonstrar habilidade estratégica, sem expor o planejamento feito para um cliente, que é um documento confidencial. O importante para agências e marcas não é ver o tático do planejamento, mas ter confiança que o profissional sabe solucionar os desafios de comunicação e negócio mesmo em briefings complexos”, acrescenta Dani Rodrigues.
Taís Oliveira reforça que toda a série de habilidades requisitadas para o trabalho de planejamento (“pesquisar e interpretar dados secundários, analisar aspectos da cultura organizacional da marca, elaborar pesquisas mais específicas, análise de públicos, etc.”) podem se tornar documentos de apresentação que demonstram domínio de habilidades e técnicas. Para quem precisa desenvolver portfólio (mesmo sem nunca ter trabalhado), Janaína Conceição sugere algumas possibilidades: análise de comunicação de uma marca que consome; levantamento de soluções para problemas diagnosticados de uma marca específica; pesquisa sobre consumidor e perfil de público específico; estudo de mercado; dentre outras coisas. Não precisa ser o melhor trabalho do mundo, o importante é mostrar a que veio. “Tudo isso pode gerar insights riquíssimos para marcas […]. É ser proativo e entender cada vez de mercado, de negócio e de pessoas”, explica.
Para a nossa sorte, Verônica Merege do blog Jovens Planners já escreveu um post completamente dedicado à criação de portfólio para quem trabalha com planejamento. No texto, ela apresenta questões a serem refletidas pelos planners antes mesmo da criação do produto e, em seguida, dicas simples de como colocá-lo em prática. Além das ideias apresentadas, tanto ela quanto Juliana Matheus chamam a atenção de uma buzzword relativamente polêmica no mercado publicitário: networking. “Na maior parte das vezes, as vagas de planejamento nem chegam a ser divulgadas – são preenchidas por indicações de conhecidos”, argumenta Juliana. “O portfólio ajuda a ter uma visão do raciocínio, mas o contato com pessoas da área é o que possibilita o acesso às agências”. De fato, não adianta ter o que mostrar mas não ter para quem mostrar – e o contato com o ambiente de mercado ajuda bastante nesse aspecto.
O povo romantiza muito esse papo com profissionais da área e direciona tudo exclusivamente para VAGAS, mas networking é muito mais que isso: é saber exatamente quem são os líderes das agências aonde você quer trabalhar; é saber quem são as pessoas de suas equipes, é saber onde eles estudaram e que curso fizeram para chegar aonde estão. É ir atrás dessas pessoas, ou de pessoas que estão no mesmo nível que você, e conversar sobre suas percepções e seus problemas. Não é sempre que na agência ou na empresa você vá encontrar as melhores pessoas para conversar sobre carreira, e networking pra mim é isso: acumular pessoas valiosas que te acrescentam e muito na discussão sobre o futuro da sua área, e depois, eventualmente, ser indicado pra vaga dos sonhos.
Verônica Merege
Tanto Mayara Nobre quanto André Sinkos reforçam essa ideia de trabalhar em rede e se fazer relevante (não apenas produzindo, mas também estudando). “Acredito que de certa forma existe um perfil para essa área, você deve gostar de estudar, investigar, se aprofundar e estar aberto constantemente ao novo”, pontua André. Ele possui uma daquelas histórias inspiradores de alguém que se encontrou em planejamento, começou a estudar por conta própria e teve sorte de ser chamado para uma agência que acreditou em seu potencial, tendo sua rotina, seus chefes e cursos específicos como pilares essenciais para sua capacitação enquanto profissional. “Você não pode se colocar para baixo, mas também precisa reconhecer algumas limitações iniciais. A história que você vai contar muitas vezes acaba sendo mais importante que sua experiência em si, é essencial valorizar seus pontos positivos relacionados com a área”, orienta.
Ele sugere seis dicas para responder à pergunta que sintetizem bem o que foi dito até aqui – com algumas intervenções minhas: 1) se aproxime das pessoas certas do mercado através de cursos e eventos (networking básico); 2) estude sozinho (mas lembre-se de ir além de posts em blogs e corra atrás de livros e teorias mais cascudas); 3) produza conteúdo em canais públicos para criar sua reputação (sua imagem e o que você tem a dizer é o seu maior repertório); 4) faça cursos complementares como de gestão, trend hunter, antropologia humana (o aprendizado nunca acaba!); 5) saiba contar a sua história e suas motivações (a impressão que você causa diz muito sobre você enquanto pessoa e enquanto profissional); 6) arrisque. Quanto ao portfólio, dá uma última dica: “Muitas vezes o que planejamos acaba não gerando a criação final, por isso é importante contar a história por trás daquele planejamento”.
Mas como é a área no Brasil?
Depois do que eu acredito que foi uma ótima propaganda para a profissão, chega o momento de falar como estamos “na vida real”. Digo isso porque, se o próprio menosprezo pelo trabalho já tenha sido citado, temos algumas outras dificuldades a serem enfrentadas até em grandes metrópoles. No Rio de Janeiro, por exemplo, tanto Francelle Jacobsen quanto Patrícia Moura admitem a escassez de oportunidades. Em São Paulo, com a maior demanda, cresce também a competitividade por oportunidades. “Hoje vemos muitas pessoas que trabalham com conteúdo buscarem por funções mais estratégicas dentro da agência. Community Managers, Content Strategists, BI”, apontam Juliana Matheus e Verônica Merege. “Todos eles, se fizerem um bom estudo de comportamento e conseguirem compor um raciocínio de atuação em digital, conseguem executar bem a função de um planner.”
Elas reforçam que planners precisam buscar o conhecimento de diversas outras frentes para se manterem relevantes, opinião semelhante a de Janaína Conceição – que, ainda assim, vem de uma realidade bem distinta:“Num mercado super tradicional, onde o online só ganhou espaço há pouco tempo, o Planner não se justifica apenas com esta função”. Em Aracaju, onde atua, planejamento ainda é uma área muito tímida e decrescente, onde o profissional acaba tendo que atuar mesclando diversas outras funções. “Isso acontece porque, culturalmente, a maioria do clientes não tem um departamento de Marketing que entende a importância do planejamento. A marca flutua de acordo com o que o mercado está fazendo […]”, explica. “Estamos falando de um mercado ainda imaturo em vários aspectos, onde até os clientes maiores ainda apresentam certa resistência ao planejamento enquanto necessidade e enquanto função de extrema importância para a área”.
Essa problemática de planejamento a longo prazo também é uma questão importante em Belém, cidade de Mayara Nobre. “O mercado de Belém muitas vezes não visualiza o planejamento como algo estratégico – como ainda é um mercado muito varejista, acabam focando muito em campanhas sazonais”, conta. Além da inconstância da periodicidade do trabalho, a balança financeira também sempre decide literalmente o valor desse esforço. Em Curitiba, realidade bem diferente do restante do Paraná (onde “existe uma desvalorização do mercado como um todo e por consequência dos profissionais”), Vívian Maciel aposta na qualidade dos trabalhos. “Sinto que estamos caminhando pra um momento ainda mais interessante pros planejadores”, conta. “Apesar de termos um mercado bem fechado, com pouca vagas na área e poucos profissionais também (se comparado a grandes estruturas como SP), tenho acompanhado o trabalho de algumas agências daqui e tem saído muita coisa boa dessas terras.”
Planejamento para pequenas e médias empresas
Frente à essa pluralidade de realidades em pequenas e grandes cidades, aliado também à constatação feita anteriormente da dificuldade de justificar o trabalho de planejamento, fiz questão de perguntar às entrevistadas como vencer esse desafio – mirando principalmente um público que precisa ser mais “educado” quanto ao trabalho. “É uma demanda a mais explicar o processo e a razão de cada atividade dentro do planejamento”, pontua Taís Oliveira, que possui maior experiência justamente com esse público. “Outra questão que dificulta é a verba disponível para investimento de mídia, algo que deve ser previsto no planejamento, e que em pequeno porte por vezes nem existe ou é muito limitada. E não existe milagre em comunicação, sem verba muito menos”, explica. É um cenário complicado, cuja responsabilidade de planner pesa ainda mais.
O planejamento é importante para qualquer cliente, independente do porte. Mas, acredito que para os pequenos, um Planner tenha um peso ainda maior. Geralmente são clientes que sequer têm um departamento de Marketing. Não entendem de Publicidade e atuam sempre de forma muito intuitiva e impulsiva. O dono da marca, ou o Gerente Comercial, ou o Assessor de Comunicação são muitas vezes o principal ponto de contato com a agência e, com isso, o briefing nem sempre é mais preciso, as pautas e aprovações se perdem por conta da subjetividade e da inexperiência que guiam todo o processo. Neste cenário, o Planejador assume a responsabilidade sobre aquela marca e todos ganham com isso. No entanto, não é raro ver que uma coisa é o que está sendo pautado pelo planejamento e outra, bem diferente, é o que a marca efetivamente coloca em prática. A luta é diária.
Janaína Conceição, Diretora de Planejamento na Base Propaganda
Dani Rodrigues desenha, para que entendam melhor: “se a decisão por um filme na TV é baseado em análise estratégica, por que uma plataforma social digital que pode impactar milhões de pessoas não merece o mesmo respaldo e cuidado?”. É responsabilidade dos próprios planejadores argumentarem pela importância do seu trabalho. “Os planejadores que trabalham com estratégia em mídia social precisam passar segurança aos clientes, se comprometendo com resultados palpáveis (crescimento de x % nas vendas no e-commerce, por exemplo) para ganhar relevância”, argumenta. “Não é sobre estar na rede social do momento, é sobre atuar na plataforma que mais construir para seu cliente, com a mensagem mais assertiva, amplificando para o cluster de maior potencial de negócio ou construção de reputação”. Seguindo por essa ideia, André Sinkos reforça o argumento de que a responsabilidade está nas mãos dos próprios planejadores.
“Ter um profissional de planejamento é um dos primeiros passos para a maturidade de uma empresa. Se você fizer um bom trabalho você passará a ser essencial”, explica. Quanto à questão de fazer muito com pouco, ele e Mayara Nobre concordam que é preciso ter consciência das limitações de trabalho para propor entregas relevantes dentro de um contexto inóspito. “Se nosso trabalho é fazer escolhas para os clientes, também precisamos fazer escolhas no trabalho. Qual o nível de profundidade necessária? As pessoas vão valorizar essa entrega? Vale a pena brigar por essa?”, orienta. Vívian Maciel acrescenta que: “independente do tamanho da agência ou dos clientes, é importante manter um espírito questionador e desafiar o status quo e modelos preestabelecidos, porque sempre existem coisas novas para serem trabalhadas, novos modelos de trabalho e novas oportunidades que podem ser criadas e que vão mostrar cada vez a relevância da disciplina – seja na sua agência ou no ciente.”
Cada agência, cada operação, cada equipe e cada área têm diferentes prioridades. Mais do que o tamanho: o que você está procurando trabalhando com planejamento? Você pode ser uma ótima “business woman” e encontrar formas de conquistar novos negócios com a sua estratégia. Você pode ser muito solícita e ser agência “consultoria” estratégica do seu cliente. Você pode ser a agência de pesquisa que traz as informações mais relevantes do público consumidor. As agências pequenas têm propósitos que precisam estar alinhados aos seus. Eu, por exemplo, não queria ser uma mulher de negócios, queria (e quero) ser uma consultora estratégia. A qualidade do meu trabalho se mede pela estratégia, pelo caminho traçado para se alcançar e impactar um público. É essa a técnica que eu quero explorar, então foi atrás de agências que me permitissem desenvolver isso que corri atrás. Acho que o problema é esperar muito do lugar onde você trabalha sem ter muita noção do que se quer. Vá atrás de um curso, de um profissional, de livros ou de alguma orientação para saber o que exigir da sua agência, porque ela nunca vai mudar só pra você conseguir entregar o trabalho que sempre quis. Isso é um esforço particular.
Verônica Merege
E como a área mudou nos últimos anos? Para onde vamos?
Todas as áreas de comunicação e publicidade sofreram consideráveis mudanças na última década devido à internet. “A velocidade, a instantaneidade, as conversas, as relações, os formatos de mídia, o acesso, a diminuição da barreira geográfica e assim por diante [muda com a internet]”, pontua Taís Oliveira. Nesse cenário cada vez mais dinâmico, o planejamento precisa se adaptar às novas normas sócio-culturais/tecnológicas da contemporaneidade, já que “os tempos se encurtaram e as variáveis se complexificaram”, segundo Dani Rodrigues: “O consumidor muda a forma se relacionar com o mundo e com as marcas em períodos cada vez mais curtos. As variáveis que condicionam as estratégias são em maior número e mais desafiadoras frente ao que os planejadores encontravam anteriormente”.
Janaína Conceição também cita a agilidade e a volatilidade como dois dos aspectos mais importantes a serem considerados atualmente, obrigando planners a estarem sempre preparados: “É um planejar-se e “desplanejar-se” contante”, explica. Também graças à internet, ela cita que – não apenas como consumidores, mas também (e principalmente) como profissionais, o acesso a informações de pesquisa e análise ficou muito mais fácil. “Hoje em dia, temos pesquisas frequentes sobre o comportamento do consumidor, dentro e fora do universo digital, temos sites e blogs dedicados à análise de mercado e isso facilita muito no nosso dia a dia”, explica. Isso, no entanto, é uma faca de dois gumes: como explica André Sinkos, a partir do momento que temos hoje mais informações sobre tudo, temos também trabalho dobrado e mais exaustivo para se aprofundar em questões relevantes.
Basicamente esse conceito mostra como a internet pode expandir a capacidade de um planner. Isso porque nós temos novas possibilidades. Podemos buscar insights olhando pra BI e números de acessos, interações e experiências. Podemos fazer digital research e analisar até mesmo aquilo que as pessoas produzem sem estímulo. Podemos nos aproveitar de metodologias de UX para compreender experiências on e off-line. Podemos identificar e desenhar táticas para targets precisos por meio de segmentação. Podemos desenhar o papel de cada canal na estratégia. Podemos acompanhar resultados 24/7 e propor novas rotas. Ou seja, temos acesso a uma infinidade de novas competências e informações que se tivermos conhecimento podem contribuir muito.
Vívian Maciel
Outra importante mudança que vem acontecendo nos últimos anos e que também foi citada constantemente para o que veremos a seguir é a questão multidisciplinar do profissional de planejamento, que já foi citada em alguns momentos. “Surgiram vários modelos de planejamento e o planner precisa entender mais das outras áreas para gerar direcionamentos que vão conduzir de forma efetiva aqueles que irão tangibilizar seu trabalho”, explica André Sinkos. Vívian Maciel e Janaína Conceição também argumentam por essa transformação ainda em prática, em defesa de um profissional cada vez mais completo. A curitibana enxerga que: “As disciplinas estão cada vez mais interligadas. Ao mesmo tempo, todas as áreas tem suas particularidades e sua entrega que dificilmente alguém será tão capaz de fazer como você”. Talvez por isso Juliana Matheus e Verônica Merege destaquem as importância das especializações e habilidades secundárias.
De modo geral, acredito que o Planner precise ser cada vez mais completo. Precisamos entender de planejamento, criação, mídia, audiovisual, SEO, BI, mobile, CRM, Inbound Marketing e, principalmente, de negócio. Precisamos entender de mercado, de política, de economia e de tudo o que gera novos negócios para os clientes e para a agência. Temos que entende um pouco de tudo e ainda assim ter a certeza de que precisamos continuar estudando, lendo, pesquisando, desbravando. Com essa mentalidade, ganharemos mais espaço nas agências e nos departamentos de marketing, pois estaremos sempre um passo à frente, enxergando todo o universo da marca e não apenas em projetos isolados.
Janaína Conceição
Dani Rodrigues aponta outras duas mudanças recentes e crescentes: 1) a relevância ainda mais intensa da ciência de dados para pautar estratégias e; 2) a aferição dos resultados cada vez mais cobrada dos planejadores. “Com a facilidade do tracking de resultados de criativos, formatos de mídia e plataformas, o comprometimento com KPIs claro vira default”, explica. Para André Sinkos, “não existe nada mais humano do que os dados no digital, eles são gerados pelas pessoas e por isso são registros importantes de comportamentos muitas vezes sem filtros” – e foi isso que o levou para a área de BI, uma das grandes facilitadoras do trabalho atual de planejamento. Aqui vale destacar a crescente atuação de real-time marketing, que “não é uma modalidade de planejamento, mas uma condição para garantir a eficácia e oxigenação das estratégias”, explica, uma das principais referências no Brasil sobre o assunto.
Se antes concebíamos um planejamento estratégico por 5 anos, hoje precisamos revisá-lo conforme variáveis que se alteram num ritmo frenético. As frentes de comunicação ganham relevância ou são subjugadas de modo dinâmico de modo que, embora traçamos um racional a médio prazo – por exemplo, estabelecendo que uma determinada marca terá 4 ativações ao longo do ano, só vamos definir os pormenores dessas ações mais próximo da sua execução. As plataformas sociais digitais são alteradas quase semanalmente, fruto da forma como os consumidores as usam, inclusive. Olhar para o planejamento sob uma ótica real time permite que o conceito estratégico macro que rege a marca seja adaptado à contextos específicos, à micro-momentos da jornada do consumidor.
Dani Rodrigues, Real-Time na Coca-Cola
Para o futuro (que já é agora), ela aponta também a necessidade de compreender melhor o comportamento humano como um todo. “Por conta da lógica da sociedade em rede, o planejador precisará transitar com ainda mais naturalidade por áreas diversas do conhecimento. Entender o comportamento do ser humano será cada vez mais desafiador”. E ainda nessa discussão sobre humanização das marcas, Taís Oliveira suplica: “espero que os profissionais estejam mais atentos e dispostos a humanizar as propostas de planejamento, sobretudo a partir da responsabilidade ética. Que não seja necessário fazer gerenciamento de crise para as peças com machismo, racismo, sexismo, homofobia, mas que essas questões sejam pontuadas desde o início do processo de planejamento”.
Mais adiante, André Sinkos vê uma relevância cada vez maior para o planejamento, levando a visão estratégica para além da comunicação e tornando-se um asset das empresas. “Sabemos que sempre seremos responsáveis pela verdade do consumidor”, sintetiza as paulistas do blog JP. “Com as operações de conteúdo em real-time, a avaliação de resposta do que se é comunicado é dinâmica. Essa interpretação não é só de BI, é do planejamento. A mudança na criação deve ser guiada pelo planejamento. É preciso se tornar útil para a operação como um todo, é preciso ir atrás de novas formas de se tornar útil. Não sei se teremos um escopo de trabalho tão definido além de ‘ajude-os a encontrar uma forma de realmente causar impacto'”.
Considerações finais
Não existe forma correta de fazer o trabalho de planejamento, cada pessoa tem seu estilo, cada agência tem sua metodologia, cada entrega tem sua peculiaridade. Em um universo tão amplo eu considero essencial para o profissional dessa área estar sempre aberto e pré-disposto e sair área. Fazer cursos que inicialmente não tem relação, mas que depois você encontra a conexão. Ler livros de outras áreas, ver séries que você não gosta, usar ferramentas que inicialmente não fazem sentido. Mais do que um profissional completo, precisamos ser profissionais complexos. A riqueza do nosso trabalho está nisso. Não podemos ter preconceitos e medo de arriscar. Hoje em dia eu agradeço a maluquice dos meus pais de me colocarem em cursos de cerca elétrica para gado, panificação e costura. Por me fazerem assistir pequenas empresas grandes negócios depois de Globo Rural. Além de um repertório mais rico isso fez com que eu sempre estivesse aberto para mudanças e também atento para extrair de cada experiência aquilo que fizesse sentido para minha vida 🙂
André Sinkos
Acho que em resumo de tudo que falei, o importante é estar fazendo, quando a gente prolonga demais acaba perdendo o time, o ritmo e a chance. É não ter medo de testar, é buscar referências e estar disposto a se desconstruir dia a dia, o mundo já mudou e precisamos acompanha-lo. Precisamos estar alinhados ao espírito do nosso tempo!
Mayara Nobre
É duro ouvir dessa forma, mas não espere que alguém te ensine nada. A verdade é que quem faz sua carreira é você, e só você. Por isso, valorize demais quando teu chefe parar, sentar e te mostrar como se faz, isso vale ouro. A rotina e o trabalho cobram muito do seu chefe pra que ele faça isso. Mas seu chefe vai te cobrar também. Então a autonomia no aprendizado precisa ser grande. Absorva tudo que puder a todo momento. Reuniões, conversas, palestras, livros, tudo pode se transformar em insumo pro seu aprendizado. Mas também não se cobre pra saber tudo de uma hora pra outra. É uma caminhada, não uma corrida. Pense que quando você for a pessoa no cargo de liderança, precisará ter entendimento de todas as partes, de cada pedacinho do trabalho. Por isso, mesmo quando você ficar de saco cheio de algum trabalho que esteja fazendo, calma, que eu tenho certeza que isso vai se mostrar como algo muito relevante depois.
Vívian Maciel
Thunder only happens when it’s raining. Nós já viemos com o pacote completo para ser um ótimo profissional porque somos naturalmente curiosos só por termos escolhido trabalhar com estratégias. Dedicação é SEMPRE reconhecida, mais cedo ou mais tarde, e pelas pessoas que você menos imagina. Acreditamos que o que a maravilhosa bruxa Stevie Nicks quis dizer é que só quando nos entregamos e agimos como o profissional que queremos ser, é que as coisas acontecem. Seja todos os dias um pouquinho desse profissional que você está desesperadamente ansioso pra ser. Funciona pra gente 🙂
Juliana Matheus e Verônica Merege
FONTES DE REFERÊNCIA E INDICAÇÕES PARA ESTUDO
– Empatia – A habilidade fundamental para os novos tempos
– Planejamento, um desafio de formação
– Planejamento integrado com U.X. + B.I.
– Planejamento de Comunicação em Mídias Sociais
– Palestra sobre planejamento estratégico em mídias sociais
– Planejamento de comunicação aplicado às mídias sociais
– O Poder do Hábito – Por Que Fazemos o Que Fazemos na Vida e Nos Negócios
– Mainstream: A guerra global das mídias e das culturas
– Cultura da Conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável
– Tudo que é ruim é bom para você: Como os games e a TV nos tornam mais inteligentes
– Fenômenos Sociais nos Negócios: groundswell
– Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias
– Planejamento Estratégico Digital
– A cultura da participação: criatividade generosidade no mundo conectado
– Contágio: porque as coisas pegam
– Slide:ology – A arte e a ciência para criar apresentações que impressionam
– Planejamento de relações públicas na comunicação integrada
– COM+
Participantes
Planner Estratégico e Criativo + Business Intelligence Profissional focado em resultados. Acredito que o papel da comunicação é de encontrar verdades que conectem marcas e pessoas, para isso, nos últimos anos venho buscando novos modelos, metodologias e processos que permitam extrair dos consumidores informações necessárias para estabelecer essas relações.
Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Graduou-se em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É pesquisadora do COM+ e professora de pós-graduação em várias entidades, dentre elas USP, Faculdade Cásper Líbero, ESPM, IBDAP, Quero Ser Social Media, Perestroika, Senac e UNICEUB. Atuou como jornalista e há 10 anos atua com estrategista para marcas de diferentes segmentos (Netshoes, Pernod Ricard, Estadão, Itaú, Accor Hotels, Coca-cola e Turner Broadcasting). Além de professora, atualmente também é Real Time na Coca-Cola.
Graduada em Administração de Empresas pela UCAM – Universidade Cândido Mendes. MBA em Marketing pela FGV. Trabalha com marketing digital desde 2004, com passagens pelas empresas Vizcaya, Editora O Dia e U.NEAR. Atualmente é responsável pelo planejamento estratégico em mídias sociais na Sharing for Social, tendo como principais clientes: TEDxRio, Babies, PetRoomie, Arteiras Comunicação, Grupo Scenarium, Skafe Cosméticos, Winco Sistemas Ltda, AVG Brasil e Casarão Ameno Resedá; Experiência em treinamento in company com atuação nas empresas: Contextual Comunicação, Arteiras Comunicação e workshop para blogueiras para Skafe Cosméticos e Lojas Rede; ministrou curso de mídias sociais e foi professora do módulo mídias do marketing direto nos MBAs em Marketing Digital e E-commerce, no Instituto Infnet. Atuamente é professora de Mídias Sociais na Ecommerce School e curso de extensão Planejamento em Mídias Sociais, na Faculdades Integradas Hélio Alonso – FACHA.
Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV, graduada em 2010, pela Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia. Atua no mercado publicitário sergipano desde 2011, quando implantou o departamento de Marketing Digital da Ente Propaganda (extinta), migrando em seguida para a recém-criada Agência Lobby onde desenvolveu atividades de análise, produção de conteúdo, monitoramento e métricas para mídias sociais – além de planejar, coordenar e executar a implantação do projeto social Circulando Ideias. Em seguida, migrou para a Insight Propaganda onde atuou inicialmente como Social Media e, em seguida, como Analista de Convergência sendo responsável por planejar, coordenar e orientar projetos com foco na integração entre os meios on e off. Atuou também junto à Zeca, coordenando a produção de conteúdo para as redes sociais e o Planejamento Digital até assumir o Planejamento da Base Propaganda, onde atualmente planeja e desenvolve campanhas integradas e também coordena o núcleo de produção de conteúdo online e estratégias digitais dos clientes.
Strategist na R/GA, observadora de gente e entusiasta de multiculturas. É co-fundadora do blog Jovens Planners e já passou por grandes agências como Ogilvy & Mather e DPZ&T. Participou do Bootcamp de Planejamento de Comunicação da Miami Ad School e possui um MBA em Ciências do Consumo Aplicadas pela ESPM.
Especialista em Mkt Dígital e Project Manager na empresa Empatia, já trabalhou com gestão de equipe, planejamento e projeto de conteúdo para clientes como: Boulevard Shopping, Sorveteria Icebode, Cia Paulista de Pizza, Parque Shopping Belém, Sushi Ruy Barbosa, entre outros. Vem se aventurando também como facilitadora na escola Marco Zero, mergulhando nesse universo lindo de dar aulas pelo simples prazer de compartilhar.
Planejamento Estratégico e Digital da Heads Propaganda, atendendo Petrobras, O Boticário, Enel Energia, Rede Cityfarma, Eles por Elas – HeForShe ONU Mulheres e Shopping Madureira. Professora de cursos de extensão e MBA da ESPM online com as disciplinas de Mídias Sociais e Comunicação Eficaz em Redes Sociais.
Taís Oliveira (@tais_so), 27 anos. É formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas (Conrerp/2: 4318) pela FAPCOM e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC, linha de pesquisa Cultura, Comunicação e Dinâmica Social. Dentre os trabalhos no setor público e privado, agências e empresas tem experiência principalmente em mídias sociais na produção de conteúdo, gerenciamento de canais e equipes, planejamento de campanhas, planejamento editorial e atendimento ao consumidor. Atualmente gerencia de forma autônoma a performance digital de marcas e projetos. Co-fundadora e colunista no Versátil RP desde 2009, tem interesse em temas como comunicação, internet e tecnologia, ciências sociais, planejamento, empreendedorismo, cultura digital, diversidade, movimentos e causas sociais.
Digital strategist. A cada dia tento ver menos séries, descobrir novos filmes e terminar mais livros. Especialização em Cinema, Especialização em Gestão de Mkt. É colunista no blog Jovens Planners, de onde foi uma das co-fundadoras.
Assistente de planejamento e quebra-galho de social media na SoWhat. Apaixonada por pesquisa, comportamento e estratégia de marcas deu início a pós-graduação em Branding, pela Universidade Positivo. Colabora no blog Jovens Planners.