Quem me segue no Twitter sabe que eu sou um grande entusiasta do Snapchat. Não tanto pela plataforma em si (também), mas provavelmente (bem) mais pelo meu rancor e ódio constante a tudo que Mark Zuckerberg toca. O modo como ele copiou na cara dura a funcionalidade mais importante do app amarelinho me assusta, mas não tanto quanto me assusta o fato de as pessoas terem lidado com isso “numa boa” – já não sei mais do que esse cara não é capaz, e aparentemente estamos ok com isso. Um mês atrás o Business Insider divulgou um gráfico da ascensão estrondosa de usuários diários ativos do Instagram Stories em comparação com o Snapchat (que deve começar a cair muito em breve, se já não começou). Atenção: cenas fortes abaixo.
Frente a esse cenário de profunda tristeza (é uma piada, mas também é sério), tentei tirar algum proveito de tudo isso. Tendo lido há algumas semanas o texto “Fronteiras cambiantes da vida pública e privada” de John B. Thompson para uma matéria da faculdade, comecei a pensar sobre a questão da privacidade no que tange ambas as plataformas. Porque embora possuam funcionalidades bem semelhantes (afinal Mark copiou tudo igualzinho, ratifico), as apropriações de cada uma delas partem de pressupostos relativamente diferentes. Antes de entrar nessa discussão, entretanto, trago algumas informações introdutórias sobre o texto em questão – e é importante enfatizar também que talvez esse não seja o melhor texto para essa análise (afinal ele foi feito para a disciplina de Política), mas estou partindo de uma necessidade de melhor compreensão do artigo utilizando algumas de suas ideias para tentar pensar alguns exemplos mais contemporâneos e pertinentes às mídias sociais.
O objetivo do autor é compreender como os domínios público e privado “se reorganizaram com o nascimento das novas formas mediadas de comunicação na Europa do início do período moderno”. Usa como base fundamental da sua argumentação um escândalo político de Parlamentares britânicos que tiveram suas más condutas escancaradas pela mídia de maneira que veio a chacoalhar o cenário político britânico como nunca anteriormente. O artigo é bastante denso, daqueles que parecem mais um capítulo de um livro – traz várias informações, conceitos e referências sobre o assunto. Está dividido em quatro grandes partes que conduzem sua linha de raciocínio: O público e o privado; O surgimento da visibilidade mediada; A transformação da privacidade; Fronteiras cambiantes entre o público e o privado – desses quatro, os dois últimos dialogam mais diretamente com algumas reflexões que trarei a seguir, mas os dois primeiros também são importantes.
Na primeira parte, Thompson faz uma breve – porém razoavelmente densa – contextualização histórica do pensamento acerca do público e do privado. Para isso, recorre a dois autores essenciais à discussão: Hannah Arendt e Jürgen Habermas. Seu objetivo nesse momento é mostrar que as fronteiras entre o público e o privado não são exclusividades da modernidade, já estavam presente nas sociedades desde a Grécia Antiga (porque todo texto de Ciência Política precisa voltar lá). Ele explica que, a partir do surgimento das cidades-estado, surge uma vida política separada da vida do lar, onde, nesse contexto, “o domínio privado era o do domicílio e da família” e “o domínio público era um espaço de aparição em que as coisas ditas e feitas poderiam ser vistas e ouvidas pelos demais”. A partir de Arendt, ele explica que o lar era a fonte da necessidade onde se provia a sobrevivência, enquanto o domínio público estava mais ligado a uma ideia de sociabilidade discursiva.
Ainda nessa primeira parte o autor se apoia em Arendt para apresentar como essa dinâmica muda muito tempo depois com o surgimento das sociedades modernas a partir dos séculos XVII e XVIII – explicando “o surgimento do social” e a emergência da “sociedade civil”. No entanto, ele faz importantes críticas ao trabalho de Arendt devido à sua omissão frente ao debate sobre as mídias comunicacionais (circulação massificada da informação) que começam a se proliferar também nesse momento. A partir daí traz Habermas para falar sobre a (refeudalização) da esfera pública e o contexto da sociedade do espetáculo de Debord. Explica aqui o conceito habermasiano de “princípio da publicidade”, a ideia de que “a opinião pessoal de indivíduos privados poderia caminhar para uma opinião pública a partir do debate racional e crítico entre um grupo de cidadãos”. Enfim, mostra como os sentidos de público e privados são realocados na modernidade, mesmo que algumas referências permaneçam.
A segunda parte do texto é guiada pela pergunta: o que é ser visível? “Visível é aquilo que pode ser visto, que é perceptível pelo sentido da visão”, seria a resposta mais simples. Ele parte da noção mais comum de visibilidade (da pré-modernidade), localizada, ou seja, “aqueles que são visíveis para nós são aqueles que compartilham conosco a mesma referência espaço-temporal” – o que exige um pressuposto de referencial recíproco também. No entanto, Thompson chama a atenção para como o desenvolvimento da mídia comunicacional (desde a mídia impressa até a eletrônica) oferece a essa noção mais comum de visibilidade um descanso ao referencial espaço-temporal de localização da copresença – surgindo aí o que chama de visibilidade mediada (“novas formas de visibilidade cujas propriedades específi cas são moldadas por meios específi cos de comunicação”), uma visão contemporânea mais ampliada.
As mídias eletrônicas possibilitaram a transmissão de informações e conteúdos simbólicos por largas distâncias com pouco ou mesmo nenhum atraso. Consequentemente criam um tipo de simultaneidade desespacializada: quem está distante pode se fazer visível praticamente no mesmo instante de tempo, pode ser ouvido no mesmo momento em que fala e pode ser visto no momento em que executa a ação, embora não compartilhe o mesmo referencial de espaço com os indivíduos para os quais está visível. Ainda, as mídias eletrônicas contam com uma riqueza de produções simbólicas possibilitando a reprodução de algumas das características da interação direta nessas novas mídias.
Como mencionei anteriormente, esses dois primeiros momentos não são essenciais ao assunto do post, mas acho importante descrever essas construções históricas para reforçar sempre que nada que compreendemos hoje enquanto sociedade e indivíduos sociais foi decisão divina – é tudo construção social (e se foi construído pode ser desconstruído). Na terceira parte do texto, por exemplo, ele mostra como a noção de privacidade se transformou com o tempo – mantendo ideais semelhantes, mas sob pressupostos diferentes. Na Grécia Antiga o “domínio privado era relevante apenas por dar as condições necessárias para que os indivíduos sobrevivessem e assim participassem do domínio público”, ou seja, era dado um valor muito maior ao domínio público, símbolo de liberdade “em que os seres humanos poderiam satisfazer todo seu potencial como seres humanos”. A privacidade estava ligada à privação da liberdade.
O sentimento em relação à privacidade já é outro na modernidade, onde “a esfera privada proporciona aos indivíduos um espaço para se recolher do brilho da vida pública e de ser constantemente visto e ouvido pelos outros”. Ou seja, o privado é visto com bons olhos, como espaço de autenticidade e autonomia. Thompson explica que essa noção parte do contexto social e político no qual emergem as questões da privacidade nos últimos séculos, pautado principalmente pela tradição da teoria política liberal democrática que se preocupa em definir os limites do Estado. Em segundo lugar, ele aponta que “hoje estamos inclinados a pensar a privacidade como um tipo de direito, algo que, como indivíduos, reclamamos que legitimamente nos pertence”. Na melhor definição: “Para Warren e Brandeis, a privacidade é o direito de ser deixado em paz”.
A maior parte das demais tentativas de conceituar a privacidade em termos de intimidade, de sigilo e do âmbito pessoal têm outras deficiências igualmente complicadas . Como poderíamos então conceituar privacidade? No meu ponto de vista, a maneira mais produtiva de se conceituar privacidade é em termos de controle. Em seu sentido mais fundamental, privacidade tem relação com a habilidade dos indivíduos em exercer controle sobre alguma coisa. Normalmente esta coisa é interpretada como informação: ou seja, privacidade é a habilidade de controlar as informações sobre si mesmo, e também de controlar a maneira e até a medida que essas informações são comunicadas aos outros.
O autor traz para discussão três dimensões de privacidade segundo Beate Rössler: a privacidade informacional, referente ao controle das informações (“sobre nós mesmos e o direito de protegê-las do acesso indesejável de outras pessoas”); a privacidade decisional, referente à escolha de quem ou o que possui acesso (“controle de nossas decisões e ações e o direito de protegê-las da interferência indesejada por parte de outras pessoas”); e privacidade espacial, referente ao: direito de proteger nossos espaços contra pessoas indesejadas (“controle de nossos próprios espaços e o direito de protegê-los contra a invasão indesejada de outras pessoas”). É importante pensar nessas dimensões para que possamos localizar também as violações passíveis a cada uma delas, pois essas infrações também variam de acordo com o contexto.
E é a partir do conceito de self de Erving Goffman que Thompson propõe uma “definição rudimentar” à noção de privado, onde “os direitos relacionados […] são aqueles em que o indivíduo tem que exercer controle e restringir o acesso dos outros”. Aqui, finalmente, já é possível abrir a ponte que pretendo fazer com as reflexões sobre o Instagram e o Snapchat. Isso porque Goffman é o principal autor no qual os textos sobre auto-apresentações em mídias sociais se baseiam atualmente. Para ele, “a informação a respeito do indivíduo serve para definir a situação, tornando os outros capazes de conhecer antecipadamente o que ele esperará deles e o que dele podem esperar” (GOFFMAN, 1972). É ele que consolida a ideia de performance, em que nós, enquanto atores sociais (e há uma ênfase mesmo ao teatro), agimos de maneira adequada à cena social onde nos apresentamos.
Dialogando diretamente com a proposta de Goffman, Thompson traz no texto o argumento de Helen Nissenbaum sobre “integridade contextual”: a privacidade também deve partir de um ponto de análise que leve em consideração seu referencial contextual – ou seja, “em cada uma delas há normas específi cas para regular o que é apropriado e aceitável na maneira como a informação é revelada e compartilhada”. A autora propõe dois tipos de normas: de adequação e de fluxo de distribuição/de informação. A primeira diz respeito a questões sobre o que compartilhar, onde e para quem, enquanto a segunda está relacionada à proliferação da informação, ou seja, para quem posso divulgar informações de terceiros. No texto, Thompson dá um exemplo de uma consulta no médico; aqui, podemos associar a primeira a uma nude enviada no Snapchat, por exemplo, e a segunda à divulgação dessa nude.
O autor segue a argumentar que a esfera privada não pode ser mais pensada (se é que um dia já pôde) como um espaço localizado, já que as novas tecnologias de comunicação expandem a noção de privacidade a outros níveis de sociabilidade – e reforça o aspecto do exercício de controle dos indivíduos. São, portanto, dois pontos de atenção que podemos associar ao debate Instagram Stories x Snapchat: em primeiro lugar, a noção mais facilmente identificada de gerenciamento de self em cada uma das plataformas; e, em segundo lugar, como a noção de privacidade (ou a sua falta) condiciona o modus operandi dos usuários em cada uma das plataformas. Para me ajudar a pensar sobre isso, pedi a ajuda dos meus seguidores do Twitter com a seguinte pergunta: vocês se sentem confortáveis para postar no Instagram Stories o mesmo que postavam no Snapchat?
As respostas se apoiaram em três pilares que são extremamente complementares, mas destrincho aqui cada uma delas para poder dissertar um pouco sobre suas peculiaridades: em primeiro lugar – e talvez mais importante, a nível informacional – o fato da funcionalidade Stories ter chegado depois, ter sido incorporado à plataforma do Instagram. Como eu mencionei lá no início do texto, mesmo que as plataformas sejam semelhantes (em termos de funcionalidade), os usuários se apropriam delas de maneiras diferentes. Se você for parar para pensar, tanto Twitter quanto Facebook também permitem a publicação de imagens, mas o Instagram – enquanto mídia social que surgiu com o único intuito de compartilhar retratos instantâneos – mesmo adotando novas funcionalidades, mantém uma “coerência sócio-cultural” por parte dos seus usuários.
E isso nos leva diretamente ao segundo ponto, que é a auto-apresentação das pessoas em cada uma das plataformas. Um ótimo exemplo disso é essa montagem feita com diferentes “Rihannas” em diferentes mídias sociais, conforme explicado brilhantemente – também a partir de Goffman – por Tarcízio Silva neste post. A identidade que construímos de nós mesmos na internet segue também fragmentada, adequando nossa performance (ou gerenciamento do self/auto-apresentação) a cada um dos contextos de sociabilidade convencionado para cada uma das plataformas. Em resposta à minha pergunta, uma amiga comentou sobre como no Instagram há uma imposição ainda mais forte sobre certa “ditadura da beleza”, ou seja, uma necessidade de se apresentar sempre bem – talvez uma herança dos primórdios do app, disponível apenas para usuários de iPhone.
Em comparação, no Snapchat, outro amigo comentou – vários, na verdade – que o app era bem mais despretensioso. Chegamos, portanto, no terceiro e mais importante ponto para esse post: como plataforma mais fechada, o fantasminha dava ao usuário maior controle sob sua privacidade. Há, inclusive, controvérsias sobre seu entendimento enquanto mídia social (no conceito acadêmico mais atualizado), justamente por ter uma usabilidade tão restrita entre os usuários. Embora tenha começado como chat para compartilhamento de imagens (snaps) com outros amigos, a plataforma só deslanchou de verdade com a consolidação do My Story – que permitia criar uma narrativa audiovisual a partir de vídeos (ou imagens) com até 10 segundos de duração. Ainda assim a sociabilidade do ambiente era bastante restrita, pois não havia acesso externo à plataforma – e o controle estava literalmente nas mãos dos próprios usuários.
Ao sucumbirmos ao Instagram, portanto, perdemos a nossa privacidade não apenas no senso comum da palavra, mas no sentido de território do self que Goffman propõe. Deixamos de lado – até certo ponto, obviamente – uma persona que constitui a nossa identidade para nos adequarmos às novas normas sociais convencionadas à usabilidade do Instagram. Odeio soar tão romântico, mas é uma observação que precisa ser pontuada. A transgressão da nossa privacidade, nesse sentido, também vem em forma de violação ao nosso controle, aquele que estabelecemos na nossa relação com o Snapchat durante os anos que permanecemos enquanto usuários do aplicativo.
É evidente que isso não significa que não estamos reféns da reprodutibilidade comum às novas tecnologias da comunicação – em tese, você pode publicar no Instagram o que publicava no Snapchat. O que quero chamar a atenção, entretanto, é que somos socialmente condicionados ao modo que atuamos nos diversos contextos sociais. Quando falamos de internet (ou mídias sociais), a privacidade – que não precisa ser necessariamente estruturada, mas pode ser também apropriada (pense em fakes do Twitter, por exemplo) – tem um papel importantíssimo na nossa construção de si. Quando perdemos o controle, nosso direito de ser é violado e se tivéssemos que apontar um culpado (além de nós mesmos): Mark Zuckerberg.
A habilidade dos indivíduos em exercer controle sobre seus territórios do self e de restringir o acesso a eles é constantemente posta em cheque, e em alguns contextos, comprometida pelo fato de que os outros podem se valer dos novos meios – tecnológicos, políticos e legais – para ter acesso, conseguir informações, explorá-las em benefício próprio e, em algumas ocasiões, torná-las públicas. As fronteiras mutantes entre a vida pública e a vida privada tornam-se um novo campo de batalha nas sociedades modernas, um terreno disputado em que os indivíduos e organizações travam um novo tipo de guerra da informação: usando de todos os meios disponíveis para obter informações sobre os outros e para controlar as informações sobre si mesmos, muitas vezes esforçando-se para lidar com mudanças que não puderam prever e com agentes cujas intenções não puderam entender. Trata-se de um terreno em que as relações de poder estabelecidas podem ser abaladas, vidas podem ser prejudicadas e até, em alguns casos, reputações podem ser perdidas.
“domínio privado era relevante apenas por dar as condições necessárias para que os indivíduos sobrevivessem e assim participassem do domínio público”, ou seja, era dado um valor muito maior ao domínio público, símbolo de liberdade “em que os seres humanos poderiam satisfazer todo seu potencial como seres humanos”.
Não é meio isso que estamos vivendo agora? Digo, concordo com vc que temos uma persona para cada rede, baseada nas gramáticas de cada canal, cada nova mídia. Mas se tem uma coisa que tenho visto acontecer com os adolescentes principalmente é que a necessidade cada vez maior de exposição e de cultivar uma imagem pública como uma forma de satisfazer suas vontades e potenciais. É meio na pegada do vídeo do Porta dos Fundos sobre influenciadores.
Outro fenômeno que observo em alguns monitoramentos é a relação do adolescente com o número de telefone. Essa é uma geração que não faz ligação. Eu me orgulho do meu recorde de 9h seguidas falando com um amigo ao telefone, essa geração jamais compreenderia a necessidade de ligar se pode mandar um whats. E justamente por isso o número de telefone é colocado em perfis do Twitter, Instagram (e uns malucos no Tinder) não como uma abertura para a privacidade daquela pessoa, mas um novo meio de comunicação.
Eu jamais daria meu telefone assim, abertamente. É uma forma de me rastrearem. As pessoas dão check-in sem contar que é uma forma de indicar localização exata. E há tb uma inversão do privado, uma vez que os vídeos e fotos dos “influencers”, em tese, são de momentos privados, dentro de casa ou indo para o trabalho. É um compartilhar dos momentos privados, tornando-os públicos e, em vários momentos, convidando as pessoas a participar daquele momento.
Não tenho ainda uma opinião fechada e formada, como dá pra perceber rs. Concordo que o uso do Snapchat é mais restrito e tem a vantagem de que os pais não estão lá. Como estão no Instagram. Inclusive, o insta tem busca, coisa que o Snapchat não tem. O insta tem tag, que permite que se encontre pessoas aleatórias q falem de um mesmo assunto, que o Snap não tem. Então assim, sou super entusiasta do Snapchat (queria só q eles fossem menos bocós e liberassem versão pro Windows Phone :P) e fiquei feliz de ver q o uso dele fora do Brasil segue +- ok, que a turma 25- continua usando, que aqueles anúncios são todos vistos e têm resultado. Só não sei se é uma relação que o brasileiro tenha com privacidade, entende? Acho que as pessoas perderam totalmente o filtro.
Que comentáriozão!!!! Respondo por partes:
1) Na verdade essa citação pode ter sido mal colocada, hehe, não é o que a gente vive agora porque naquela época (Thompson fala a partir de Arendt) o domínio privado era o lugar da necessidade muito ligado ao trabalho, sabe? Era no lar que províamos e o lar que provia. Então o que acontecia no lar ficava no lar. Era tipo um pit stop da vida, que, para a sociedade grega daquela época, acontecia de verdade “do lado de fora”. Não sei se dá pra comparar por se tratar de peculiaridades muito específicas (vale lembre que o texto é escrito na disciplina de Política, eu que fui ousado e roubei :P)
2) Quanto a superexposição, concordo em partes. Entendo o que autores como a Paula Sibília (do livro “O Show do Eu”) fala, sobre como a sociedade do espetáculo criou palcos tecnológicos para nos exibirmos ainda mais, PORÉM não gosto desse pensamento da superexposição pela superexposição. Acho que precisamos complexificar as coisas. É evidente que estamos nos exibindo mais (porque agora temos plataforma para isso), mas às vezes pensamos só no que estamos exibindo e esquecemos de pensar o que deixamos de exibir. Se tiver interesse no debate vale dar uma olhada no item “Os discursos sobre a superexposição do eu e a era da vigilância” do segundo capítulo do livro Dinâmicas identitárias em sites de redes sociais: Estudo com participantes de cenas de música eletrônica no Facebook, da Beatriz Polivanov 🙂
3) Pegando ponte no item anterior, entendo sua frustração com a nova geração haha mas também não gosto dessa romantização argumentativa do passado. Em determinadas ocasiões e circunstâncias acho até prejudicial. É que nem o Bauman e sua insuportável modernidade líquida, sabe? Eu entendo as mudanças, entendo a crítica, mas tenho muito mais interesse em entender essas mudanças – o processo e as novas dinâmicas – do que lamentar possíveis perdas de essência, como se um fosse melhor que o outro. É apenas diferente.
4) A questão do privado (em contraponto ao público) do Snapchat, pelo menos a partir da reflexão que eu fiz, é mais ligado justamente a essa coisa de controle – que é o que o Thompson argumenta estar diretamente ligado à nossa noção de privado na modernidade. É privado porque nós temos o controle, os meios, para deixar as pessoas de fora, sabe? O Instagram, por mais que seja do insuportável do Mark que não libera os dados que a gente gosta, é extremamente público. O Snap é uma plataforma bem mais fechada!
5) Que massa saber disso! Tenho um amigo de Chicago e ele realmente continua no Snapchat. Feliz que lá ele ainda vive! Sei lá porque brasileiro é assim… Acho que gostamos das coisas mais fáceis e mais concentradas. Num sei. Talvez esteja ligado com isso de privacidade também, mas acho que as pessoas nem pensam muito sob esse aspecto – é mais uma de “eu vou porque tá todo mundo lá”.
Já gosto de um textão! rs
1) O tempo todo vemos uma obra que foi escrita para um propósito que pode se adaptar, com algumas ressalvas sempre, para outras áreas. As regras da Arte fala de literatura, mas usamos para discutir disputas simbólicas em qualquer campo social. Eu quero ler o texto pra poder fazer apropriações melhores (me manda, menino!!!), mas não sei se vejo a forma como um adolescente se relaciona com o mundo muito diferente de a vida em casa ser uma espécie de pit stop pras socializações que ele tem na rua e nos grupos de amigos. O que tou discutindo aqui tem um recorte geracional importante. O comportamento de policiamento ou exposição varia de faixa etária e talvez de condição social ou religiosa (teria q fazer uma análise mais profunda dos dados q eu tenho coletados aqui)
2) Concordo que não é superexposição pura e simples, comportamentos humanos raramente são assim tão fáceis de analisar rs. Já estou caçando o livro da xará pra ler, vi que ela tem um artigo sobre o assunto. Mas o que percebo é que estamos vivendo uma mudança da noção de privado e público que é mais exacerbada que na Europa, por exemplo. Ou até nos States, terra da midiatização da vida rs. Me preocupo sim com a quantidade de rastro digital que os jovens tão deixando online, mas a ideia não era ser saudosista. Vi que soou assim rs, não era mesmo meu objetivo. A ideia era pontuar a mudança de comportamento. (tenho o mau hábito de escrever em torrentes, sem muitos filtros e sem editar direito depois).
3) Minha preocupação são as consequências só rs. Sou tiazinha véia, me preocupo “com essa juventude de hj em dia” kkkkkkk
4) Sim! Concordo com vc. O snapchat é muito mais fechado. Queria um relatório mais atual de uso do snapchat e do insta stories por faixa etária. Acho que turma 35+ é que usa muito mais o Instagram, q era público do app de qualquer jeito.
5) Creio que a “migração” tenha sido vou pq está todo mundo lá. Era o q via blogueiras comentando quando o stories foi lançado. Q no instagram haviam mais pessoas para ver. No entanto vi uma blogueira brasileira fazendo ação em snapchat de marca agora em maio, não lembro pra qual. Enfim, sem dados fica difícil de entender exatamente o que é.