Quase toda semana vejo em grupos do Facebook alguém solicitando por indicações de cursos para o trabalho em mídias sociais. As respostas costumam variar a depender das pessoas que vão comentar, mas geralmente seguem um padrão de: indicações entre conhecidos/colegas da área, cursos “top of mind” (o respondente não necessariamente fez o curso, mas conhece de algum lugar e responde para se mostrar prestativo) e opções gratuitas nem sempre disponíveis em português. No meio desses comentários ainda é possível encontrar, se você tiver sorte, alguém que realmente fez algum curso e está disposto a te contar – resumidamente – como foi a sua experiência.
Embora algumas pessoas (geralmente mais experientes) ainda enxerguem esse movimento com certa descrença, trata-se de um fenômeno recente do mercado que vem crescendo pouco a pouco. Na pesquisa “O Raio X dos profissionais de Mídias Sociais no Brasil” de 2015, 48,2% dos respondentes – de uma amostra de mais de 1.000 – citaram alguma instituição ou curso profissionalizante por onde passaram. Na pesquisa “O profissional de inteligência de mídias sociais no Brasil” de 2016, 58% – de 368 respondentes – citaram a realização de algum curso livre. Em ambos os casos a porcentagem cresceu em relação ao ano anterior, o que mostra uma possível crescente para os anos seguintes. E há algum problema com isso?
Na minha humilde opinião, não. Isso mostra que as pessoas estão preocupadas em aprendizado e/ou capacitação. Como já citei em outro post, acho muito importante que profissionais que trabalham com comunicação voltada para mídias sociais – ou marketing digital como um todo – busquem conhecimento das mais diversas formas. Embora eu acredite no autodidatismo (e este blog não me deixa escapar desse termo), também compreendo as motivações que levam as pessoas a optarem prioritariamente por um curso e não uma busca e estudo de um material online, por exemplo. Eu mesmo já fiz quatro cursos voltados para a área de mídias sociais desde que comecei (também) a estudar sozinho.
Acho que o principal trunfo que um curso tem a oferecer é o importantíssimo fator da curadoria. Como também mencionei em outro post, conforme a internet vai sendo tomada por um tsunami de marketing de conteúdo nem sempre com conteúdo, fica difícil separar o bom/útil do imprestável/panfleto. Esse esforço exige um conhecimento que um estudante provavelmente não consegue ter noção, uma vez que grande parte do assunto deve ser inédito para ele. Num bom curso esse material já vem organizado responsavelmente (às vezes baseado num histórico de aprimoramento de feedbacks de alunos que já o fizeram) por um(a) professor(a) que estará disposto/a a te mostrar o melhor caminho a seguir.
Isso sem contar o ambiente propício para aprendizado, a troca com colegas que é sempre rica, o próprio networking, dentre muitas outras coisas. Enfim, somente o fato de você ter se interessado por este texto me faz acreditar que você não precisa de motivos para procurar por cursos, certo? O que você procura aqui e o que eu tenho a oferecer, conforme experiência própria e reflexões coletivas, são critérios que você deve levar em consideração na hora de escolher o curso ideal para você. Perceba que tanto aqui quanto no título o curso a ser escolhido não é somente “o melhor” (ou o ideal), mas “o melhor PARA VOCÊ”. Isso porque, como tudo em comunicação, não há fórmulas secretas nem soluções mágicas. Tudo depende do que você deseja. Portanto, aqui vão algumas ideias para te ajudar nessa busca:
1. Objetivo: o que eu quero?
Tudo sempre começa por aqui. Embora seja automático pensar que um curso vem para te fornecer conhecimento, na verdade, há outras nuances a serem consideradas. O que você deseja, de fato, com o curso? Você quer simplesmente aprender coisas novas? Com essas coisas novas você pretende produzir alguma coisa? Ou seu desejo é mais pelo networking e ambiente de encontro de profissionais da mesma área? Talvez sua intenção seja apenas a de ter um curso “de peso” no currículo, não? Essa reflexão é extremamente importante porque vai guiar todas as suas escolhas seguintes. A minha recomendação é que a decisão seja sempre por aprendizado para produzir e consequentemente fazer-se presente, mas cada um sabe o que é melhor para si profissionalmente.
2. Escopo: qual é o conteúdo?
Já neste segundo momento ter um objetivo bem definido começa a mostrar sua importância. Digamos, por exemplo, que sua missão no curso seja aprender a produzir um relatório de métricas para uma página “amiga” para criar um portfólio profissional. Talvez seja interessante observar, neste cenário, se o curso de métricas que você achou tem algum módulo voltado para a produção de relatórios – ou algum conteúdo relacionado a dataviz. Muitas vezes as pessoas selecionam um curso pelo nome e esquecem de averiguar o conteúdo programático. Entretanto, assim como a “profissão social media” engloba diferentes áreas, cada uma delas possuem diferentes instâncias que podem ter mais foco em determinado curso e menos em outro. Fique atento!
3. Professores: quem são?
Outro fator muito importante a ser considerado é o corpo docente. É bom avaliar esses profissionais como se você estivesse prestes a convidá-los para orientar seu TCC, ou seja, mais uma vez: além de ser (muito) bons, precisam ser adequados com suas expectativas. Procure no LinkedIn (talvez até no Lattes), jogue seu nome Google, verifique se ele tem algum conteúdo publicado, etc. Lembre-se que é este profissional que vai te passar o melhor conteúdo disponível para as suas demandas, ou seja, ele precisa ter muito conhecimento para literalmente dar e vender. Eu particularmente fico com o pé atrás com profissionais que se autointitulam “gurus”, porque sou incrédulo de tamanha prepotência – mas vai de cada um, de qualquer forma, é importante fazer uma boa busca sobre a pessoa para saber quem ela é e o que ela tem a oferecer.
4. Depoimentos: quem fez?
Aqui voltamos ao início do texto. Embora essa seja a prática mais comum, escolher por indicações, coloco-a no “quarto passo” porque acredito – como já disse antes – que tudo depende. O curso precisa atender às suas demandas. Este talvez seja o principal motivo de relatos diferentes acerca de um mesmo curso num grupo do Facebook. Pessoas diferentes provavelmente possuem propósitos diferentes e esforços diferentes para escolher um curso para seu trabalho – geralmente ou criando muitas expectativas ou fazendo essa escolha no automático. Os depoimentos são importantes para averiguar, depois de uma bela garimpada, a qualidade do curso. Aqui você pode sim pesquisar em grupos do Facebook – mas não mais pela busca “curso”, mas já pelo próprio nome da instituição.
Bônus: Produção de conteúdo
Um fenômeno que eu percebo dentre alguns grupos de profissionais que ministram cursos voltados para mídias sociais é um descompromisso com fazer esse conhecimento rodar para além dos ambientes de sala de aula. Talvez haja um medo coletivo de que a divulgação de algum conteúdo de cursos cause uma desistência em massa de alunos que pagariam pelo material caso este não tivesse sido divulgado de forma gratuita. Não vou negar que essa possibilidade existe, mas o “investimento” a longo prazo de ter um material de qualidade rodando a internet pode ser bem mais proveitoso (e lucrativo) para o incentivo de alunos no futuro. Ou seja, para o professor/instituição, é uma forma de propaganda – de qualidade; para o aluno, é uma forma de averiguar o conteúdo e estimular o interesse.
Todos esses critérios devem te ajudar a fazer a escolha certa na hora de encontrar um bom curso. Como mencionei lá no começo, ainda é recente essa procura crescente por cursos especializantes e de capacitação voltado para mídias sociais, ou seja, se o número de instituições que oferecem esse serviço vem crescendo cada vez mais, a tendência é só aumentar nos próximos anos. Com tanta oferta (e já me pergunto se haverá tanta demanda), os alunos precisam estar atentos às qualidades e defeitos que cada curso têm a oferecer. Minha intenção aqui é justamente apresentar esses instrumentos para que você seja capaz de fazer uma escolha responsável e inteligente. Espero que tenha sido útil!
Para fechar com chave de ouro, ainda disponibilizo uma lista com mais de 50 instituições de ensino que oferecem cursos voltados para a área de mídias sociais. Com a ajuda novamente de Mayara Mendes, procurei em grupos do Facebook e em pesquisas do mercado quais são os cursos que os profissionais andam fazendo nos últimos anos. Essa busca me trouxe pouco mais de 50 instituições de ensino que oferecem cursos para as mais diversas áreas de atuação em mídias sociais. Para catalogar, recorri à divisão que propus no post sobre a “profissão social media”, uma vez que classificar com muita especificação daria muito trabalho. Isso quer dizer que dentro de “Criação” é possível encontrar cursos de branded content, storytelling, etc.
A planilha lista as instituições por ordem alfabética. Caso ela tenha sido referenciada em alguma pesquisa de mercado, recebeu uma anotação indicando tal referência. Os “Locais” são as cidades onde esses cursos costumam acontecer, mas há também uma coluna que aponta se há a opção de EAD – para profissionais do Norte e Centro-Oeste, essa é uma opção geralmente necessária. No final da tabela ainda é possível encontrar uma resposta à pergunta: há (ou já houve) um esforço da instituição em produzir conteúdo? Como já expliquei, acho muito importante que as instituições – ou seus professores – produzam conteúdo para a web. Precisamos, como mercado de profissionais, começar a compartilhar mais conhecimento.
Antes de finalizar, algumas considerações importantes: toda a minha pesquisa foi pautada por encontrar cursos voltados para a área de mídias sociais. Se eu expandisse esse cenário para uma busca de cursos de marketing digital, essa lista ficaria muito maior. De qualquer forma, há algumas instituições que também estendem esse escopo, oferecendo cursos de SEO, Adwords, Google Analytics, etc. – geralmente dentre as que também oferecem conteúdo de métricas/mídia. Outra informação importante é que eu obviamente deixei alguns cursos de fora (por motivos de mão de obra mesmo). Se você deseja colaborar com a planilha, pode entrar em contato comigo no Twitter ou aqui mesmo (nos comentários ou no contato) para que eu possa inserir mais instituições.
E para quem não possui a verba para bancar um curso, criei a aba “Certificações gratuitas” com cursos completamente online que te ensinam muita coisa. Se você também for auto-didata, a página de Slideshares daqui do site também pode ser muito útil. É bom ficar de olho nesses profissionais também porque muitas vezes bons professores não possuem uma constante frequente de cursos numa mesma instituição, ou seja, ele pode passear em diferentes lugares – o que também envolve diferentes cidades – para ministrar seus cursos. Este é o caso também de algumas aulas em faculdades ou em empresas como a IAB, por exemplo, que oferecem cursos periódicos mas sem um calendário organizado.
O importante é estar sempre em busca de aprendizado neste ambiente que muda diariamente. Por fim, algumas recomendações pessoais: cuidado com discursos totalizantes ou que prometem demais; fique atento com cursos onde não há a presença de professoras, pode ser um indicativo de que o assunto principal das aulas é a tenebrosa fragilidade masculina; para além de buscar aprendizado, busque também produzir conhecimento; cuidado com a produção de conteúdo sem conteúdo, apenas para conseguir leads; e ensinamentos de formações “tradicionais” não são ultrapassados, são a base do conhecimento que procuramos hoje. Estude. Produza. Compartilhe.