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O “nordestino” no Twitter em fevereiro: entre a política, o sotaque e a identidade

Desde que finalizei, entreguei e apresentei meu TCC, no final do ano passado, tenho buscado alternativas para continuar com um possível projeto de mestrado que me permita ingressar numa pós-graduação com tema semelhante. Já tive algumas ideias (específicas, outras mais abrangentes), mas – por enquanto – não tenho nada definido. Nesse cenário confuso e incerto, uma das ideias que tive foi criar uma base de dados sobre nordestinos no Twitter para que pudesse, talvez, desenvolver algo em cima disso num futuro próximo. Mensalmente, portanto, devo compartilhar uma visão geral do que foi conversado/discutido e quem foram os atores que fomentaram essa discussão.

O primeiro post foi publicado no blog do IBPAD, colocando em foco como as funcionalidades de text analysis e network analysis da ferramenta Netlytic podem ser extremamente úteis para pesquisas acadêmicas. Quanto aos resultados, no mês de janeiro, cerca de 60% das 37.333 menções no Twitter sobre nordestinos foram retweets, destacando três assuntos principais: sotaque (além de um caso específico fruto da cultura de fãs, outros mais relacionados a produtos televisivos da Rede Globo), política (o julgamento do ex-presidente Lula) e futebol (parceria entre times/campeonatos nordestinos e emissoras de TV para direitos autorais de exibição). Em fevereiro, o cenário não mudou muito.

Desta vez, entretanto, pretendo seguir caminho inverso ao que fiz no primeiro post, apresentando inicialmente a rede composta pelos usuários para, em seguida, destrinchar os assuntos mais comentados. A lista de arestas gerada pela Netlytic resultou numa rede com 16.068 nós (usuários) e 17.270 arestas (conexões). Como, para essa primeira abordagem, o que me interessa é visualizar “the big picture”, utilizei a métrica de componentes conectados para filtrar apenas o grupo da rede com maior número de conexões entre si, o que resultou em 63,38% da rede: 10.283 nós e 12.980 arestas. No grafo abaixo você pode visualizar melhor a rede completa e, destacado em marrom, o maior componente conectado.

Direcionar o olhar para o grupo mais conectado é relevante pois é ali onde as discussões, embates e conversas em geral sobre a temática acontece mais calorosamente – o que não indica que todo o resto deve ser ignorado ou subestimado (retornaremos a ele mais adiante), mas que o processo de analisar a estrutura de conversações pode oferecer insumos gerais para a análise mais detalhada. Apresento, portanto, logo abaixo, a rede já com o filtro de componente conectado, os nós em menor proporção para destacar os agrupamentos e os principais clusters destacados com suas devidas cores. São eles, respectivamente: política-esquerda, com 2.717 nós (26%); cultura pop, com 2.462 nós (24%); futebol, com 1.225 nós (11%) e política-direita, com 771 nós (7%).

Cluster Azul – Política-Esquerda / Cluster Verde – Cultura Pop / Cluster Vermelho – Futebol / Cluster Marrom – Política-Direita

Além dos clusters, o grafo também permite perceber outro aspecto importante dessa rede: trata-se, mais uma vez, de uma rede bem dispersa e com baixo índice conversacional (usuários mencionando uns aos outros, como uma conversa). Assim como em janeiro, há vários agrupamentos do tipo broadcaster que indicam fontes de replicações de mensagens através de retweets – ou seja, em termos simples, são vários usuários dando “RT” em uma mensagem específica. Dos 26.002 tweets coletados, 12.971 são retweets (49%); na rede de maior componente conectado, essa porcentagem aumenta – já que a métrica foca justamente nas conversas com mais interações (menções e retweets): dos 13.317 tweets, 10.128 são retweets (76%).

Quem são, portanto, esses atores responsáveis pela mobilização de milhares de usuários quanto ao assunto “nordestino”? O maior cluster, que agrega usuários em torno do assunto política, é encabeçado por: @conversaafiada, @eduguim e @lulapelobrasil; logo em seguida, o cluster de cultura pop é liderado por @whomath e @bchartsnet; quando o assunto foi futebol, @brunoreis, @resenhabbmp e @ecvitoria comandaram a conversa; e, por fim, @lula_nacadeia e @rj_em_alerta são os principais mobilizadores no cluster razoavelmente heterogêneo (e bem disperso) da política-direita. No grafo abaixo (clique para ampliar) estão apresentados os usuários com maior grau de entrada, ou seja, que receberam mais menções ou retweets sobre o tema em fevereiro.

Um dos benefícios de trabalhar os dados para além da Netlytic está em poder manuseá-los com mais facilidade. Ao extrair a lista de arestas para elaboração da rede no Gephi e o arquivo .CSV com todas as menções coletadas, pude cruzar essas fontes de dados para descobrir quais eram os tweets da base de dados referentes a cada cluster. Ou seja, de maneira mais detalhada: 1) a partir da rede gerada (com o filtro de maior componente conectado), exportei uma planilha com as métricas referentes aos nós; 2) inseri essa base na planilha com os tweets coletados para que tudo se mantivesse num único arquivo; 3) utilizei a fórmula PROCV para, na base de tweets, criar uma coluna que indicasse a qual cluster aquela linha se referia.

Com esse processo, semelhante ao que fiz nessa outra análise também do Twitter, pude separar os tweets para que se tornasse mais fácil identificar o que cada grupo – levando também em consideração o volume considerável de retweets – estava mencionando sobre o tema. Desta forma, elaborei as nuvens de palavras abaixo a partir dos tweets de cada um dos cinco clusters destacados, respectivamente. No entanto, o que se pode perceber é que, como era de se esperar, os termos mais frequentes em cada grupo é referente principalmente às mensagens com maior número de retweets – o que acaba limitando um pouco a exploração dos dados.

A primeira nuvem de palavras, referente ao cluster de polícia voltada à esquerda, apresenta a maioria dos termos relacionados ao tweet de @conversaafiada, @bbcbrasil e @lulapelobrasil; a segunda nuvem, esverdeada, traz basicamente os termos referentes aos tweets populares de @whomath e @bchartsnet; no cluster de futebol, a nuvem de termos em vermelho representa em sua grande maioria os tweets mais populares do jornalista e comentarista esportivo @brunoreis; por fim, no grupo de política à direita, o tweet do usuário @Lula_nacadeia é o que mais reverbera na nuvem de palavras.

Tweets que movimentaram a conversa sobre nordestinos em fevereiro

  1. @whomath: “nayara falando de representatividade nordestina, nem parece que zoou a gleici dias desse pelo fato dela ser do acre kkk hipócrita #bbb18”
  2. @bchartsnet: “Uma rainha negra, gorda, da favela, empoderada. Outra rainha LGBT, nordestina e com visibilidade internacional. Ambas tendo destaque na maior festa popular do mundo juntas 💗! Vem, Beija-Flor! #globeleza”
  3. @conversaafiada: “Diálogo entre garçom nordestino e empresário coxinha em restaurante chic de SP. Empresário tentava provar a amigo rejeição do Lula entre os pobres: Empresário: em quem você vai votar para presidente? Garçom: no Lula Empresário: e se não for candidato? Garçom: em quem ele mandar”
  4. @eduguim: “Grande parte do eleitorado Nordestino, mais afinado com o PT, irá descobrir que não pode votar só quando chegar na urna em outubro, Denuncie armação do TSE para barrar a esquerda em 2018, sob a batuta de Luiz “mato no peito” Fux. Espalhem enquanto é tempo”
  5. @lulapelobrasil: “O povo nordestino deixou de ser tratado apenas pela fome, pela mortalidade infantil e pela evasão escolar e passou a ser considerado parte do Brasil. Eu tenho confiança de que podemos recuperar o Brasil.”
  6. @kaiooliveiras: “Um nordestino q não gosta de farofa tem q ser exilado do país.”
  7. @brunoreis: “Tenho dito, Matheus, atacante do ABC hoje é o melhor jogador do futebol nordestino. Tem 9 gols em 7 jogos no ano. Artilheiro do futebol brasileiro em 2018. Menino de personalidade. Clareou, chutou. Bem no estadual e no nordestão. Ano passado foi bem também. 19 anos apenas.” [tweet apagado]
  8. @priscilaevelynn: “amo comida nordestina aaaaaaaaaaa”
  9. @bbcbrasil: “#MaisVistos Família nordestina guardou séculos de romances medievais de mais de 700 anos na memória http://bbc.in/2GGQZp9”
  10. @lula_nacadeia: “Mas pra muitos ignorantes no nordeste, luladrão é o “pai dos pobres” povo burro! E antes que venham encher o saco, eu sou nordestino. @Isabellniky @BecaBrix @HumbertoReisJr @Henrietterrsa @iaragb @MsCMauro @wwrealist @SPD_33 @FUSSHIGHLANDER”

Embora a análise de redes seja uma metodologia extremamente útil para (literalmente) visualizar como as conversas aconteceram, uma vez que não é o meu objetivo principal focar na estrutura das interações para possivelmente encontrar grupos e/ou atores relevantes nesse cenário, é preciso também voltar o olhar para além da base mais popular/mobilizada. Como mencionei anteriormente, iniciar a análise voltando o olhar de rede para a parte mais conectada pode indicar temas relevantes para análises mais específicas – e assim conseguimos perceber discussões sobre política principalmente centrada no ex-presidente Lula, a “nordestinidade” como categoria compreendida pela cultura pop e o recorte regional nas disputas (simbólicas) esportivas.

Para superar as barreiras dos tweets e clusters mais populares/mobilizados, criei uma nuvem de palavras somente com as menções coletadas que ficaram de fora da rede de maior componente conectado. No resultado, alguns assuntos já identificados continuaram presentes: lula, bb18, nayara, futebol, garçom, restaurante e empresário – todos termos já levantados nas nuvens de palavras dos clusters. No entanto, a palavra com mais destaque, que apareceu também em janeiro, mas ainda não havia aparecido nesta análise, é “sotaque” – que aparece em associação direta a outros termos também em evidência, como “amo”, “paulista”, “carioca”, “gosto” e “ouvir”. Na maioria dos tweets, aparece em tom de exaltação e também em comparativo com outros semelhantes.

Uma questão muito interessante a discutir sobre esse assunto é como parece haver um imaginário social do que seria o “sotaque nordestino”, como um representante único de nove estados distintos, enquanto outros…: “Qual é o seu sotaque favorito? — Carioca, gaúcho, Paulista, nordestino, ah todo”. Pensando o sotaque como uma representação exclusivamente oral, uma hipótese a ser levantada é que essa convenção do que seria um sotaque nordestino pode ter surgido a partir das representações do que seriam também personagens “nordestinos” na televisão e no cinema. Nesse contexto, a categoria “nordestino” é aplicada a um todo identitário muito maior que deve supostamente dar conta de milhões de pessoas com diferentes valores, tradições e referências – semelhante à discussão que travei também no meu TCC.

No mais, termos como “anos”, “sertão”, “chuva”, “romances” e “família” são referentes a dois tweets com certa repercussão relevante: “A chuva volta ao sertão nordestino após seis anos de seca. Agora o sertanejo espera a volta de Lula” e “Família nordestina guardou séculos de romances medievais de mais de 700 anos na memória https://t.co/JU57dnfUAj”. No entanto, o que mais tem me chamado a atenção, desde a primeira análise, é a presença de outras palavras como “gay”, “negro(a)” e “mulher”. Como aparece no tweet da @bchartsnet, um dos mais populares de fevereiro contendo o termo “nordestina”, esta categoria identitária aparece ao lado de outras muito mais consolidadas (e diria até, respaldadas) numa espécie de osmose interseccional das minorias.

Interseccionalidade é uma sensibilidade analítica, uma maneira de pensar sobre a identidade e sua relação com o poder. Articulada originalmente em favor das mulheres negras, o termo trouxe à luz a invisibilidade de muitos cidadãos dentro de grupos que os reivindicam como membros, mas que muitas vezes não conseguem representá-los. O apagamento interseccional não é exclusivo das mulheres negras. Pessoas negras ou de outras raças/etnias dentro dos movimentos LGBT; meninas negras ou de outras raças/etnias na luta contra o sistema que empurra os jovens da escola para a cadeia; mulheres nos movimentos de imigração; mulheres trans dentro dos movimentos feministas; e as pessoas com deficiência lutando contra o abuso policial — todas essas pessoas sofrem vulnerabilidades que refletem as interseções entre racismo, sexismo, opressão de classe, transfobia, capacitismo e muito mais. A interseccionalidade deu a muitas dessas pessoas uma forma de destacar as suas circunstâncias e lutar por sua visibilidade e inclusão.
Kimberlé Crenshaw

Este é um “fenômeno” que venho trabalhando desde a monografia e que está diretamente relacionado com o sentimento e a sensação de “orgulho” que costura todas as disputas simbólicas em torno do sentir-se (ou autointitular-se) nordestino. É interessante pensar sobre isso porque a interseccionalidade, como foi “criada”, nasceu nos Estados Unidos, portanto, discuti-la no contexto brasileiro deve levar em consideração várias outras instâncias históricas de poder e relações sociais. Além disso, há uma lacuna entre o sentimento de orgulho como resposta a ataques externos (que foi o que discuti no meu TCC) e classificar essa identidade como legítima da interseccionalidade no contexto brasileiro (que pode ser o meu projeto de mestrado, quem sabe?). Com a cabeça borbulhando mas ainda sem uma ideia definida, sigo acompanhando.

Relatório de Monitoramento: Repercussão do filme “Axé – Canto do povo de um lugar” nas mídias sociais

Já faz um tempo que eu queria fazer um trabalho de monitoramento “independente” para produzir um relatório público que integrasse portfólio. Cheguei a cogitar alguns temas no ano passado, mas nada me incentivava – tanto em termos de inspiração quanto de condições “técnicas” – o suficiente para que aquele desejo fosse realizado. Neste ano, tive a ideia de fazer um infográfico do The Voice Kids e até rodei um monitoramento no Twitter, mas tive alguns problemas técnicos que me impediram dar continuidade a isso. Algumas semanas depois, veio “Axé – Canto do povo de um lugar”.

O filme, em suma, conta a história da axé music. Dirigido por Chico Kértesz, traz uma série de entrevistas – foram mais de 100 – com atores importantes da cena musical baiana, dentre artistas, músicas, jornalistas, produtores, empresários, etc. É um registro importantíssimo para esse fenômeno que surgiu na década de 80, ascendeu absurdamente em 90 e perdeu toda a força dos anos 2000 em diante – com uma estrela se tornando muito maior do que o próprio movimento. Alguns trabalhos acadêmicos e um livro (Por Trás dos Tambores, de Jonga Cunha) já tentaram deixar a marca do axé na história, mas obviamente não se comparam com o impacto midiático que um documentário sobre o tema teria perante o público baiano e brasileiro.

Caso o entusiamo da minha fala ainda não tenha deixado evidente, eu gosto muito de axé. Ouvi muito enquanto criança, tendo nascido em Salvador, e depois de uma fase adolescente rebelde, voltei a ouvir vários clássicos de carnavais passados pouco antes de entrar na faculdade. Comecei a ir em shows de vários artistas, conheci os “carnavais fora de época” (ou micaretas, para quem é do Sudeste) e até garimpei por textos acadêmicos sobre o assunto – por um tempo, esse seria o meu objeto de TCC. O interesse foi tanto que até entrei para a equipe da página Trechos de Axé, um projeto muito bacana que tenta manter acesa a chama já praticamente apagada da cena nos últimos anos. Tenho até hoje os textos que escrevi, em sua maioria reflexões e opiniões sobre a indústria falida da axé music.

Quando eu soube do documentário, ainda em outubro de 2016, fiquei muito feliz por ele ter sido produzido e extremamente ansioso para assistir. Mas foi só três dias antes da estreia no circuito comercial, 19 de janeiro de 2017, que eu tive a ideia de unir o útil ao agradável: finalmente tirar do papel a ideia de fazer um relatório de monitoramento com um tema que muito me interessava. Corri então para montar um planejamento prévio, pensar nas ferramentas que iria utilizar, qual seria o período analisado, quais seriam os objetivos, como eu faria a estrutura de todo o escopo do trabalho, etc. E agora que o resultado já está no ar, são esses aspectos “dos bastidores” que eu gostaria de compartilhar aqui.

Primeira parte: planejamento, configuração e base de dados

A primeira coisa que eu fiz foi colocar no papel tudo que eu queria e tudo que eu pretendia. Desenvolvi um desenho metodológico que rascunhava quais eram os objetivos, ou seja, onde eu queria chegar com aquilo; e também como eu chegaria naquilo, quais ferramentas eu teria que utilizar para fazer o monitoramento e a partir de quais critérios (em outras palavras, quais seriam os termos ou combinações para coleta).

Num primeiro momento, pensei em fazer apenas no Twitter. Já tinha feito algo parecido no curso de Social Media Analytics da QUT e conhecia bem a ferramenta TAGS (que é tão fácil de usar que tem somente um vídeo-tutorial ensinando). No entanto, pela baixa popularidade do objeto, percebi que somente o Twitter não seria o suficiente. Tive que pensar em ferramentas que coletassem também Instagram, já que as restrições do Facebook não permitiriam fazer o mesmo. Acabei optando pela TAGS para o Twitter e a Netlytic para o Instagram, ambas gratuitas e disponíveis a todos – a última até tem opções pagas, mas a primeira opção disponibiliza 2.500 registros gratuitos para coleta.

Aqui eu preciso admitir uma falha absurda da minha parte: nas queries de pesquisa para o Twitter, pensei apenas nos modos “mais simples” pelos quais as pessoas iriam se referir à obra (filme/documentário + axé) – mais sobre isso no slide Metodologia do relatório. No entanto, deixei de lado aqueles que seguiriam à risca a formalidade e fariam menção ao documentário apenas com seu título original: “Axé – Canto do povo de um lugar”. Depois da conclusão do relatório, tive a sorte de pesquisar por essa possibilidade e perceber que não houve um volume muito grande dessas ocorrências. De qualquer forma, deixo aqui esse mea-culpa.

Fora isso, todo o planejamento e a configuração das ferramentas funcionaram perfeitamente. Vale pontuar também que só pensei no monitoramento de canal próprio a ser feito no Facebook quando os outros já estavam rodando. Felizmente esse tipo de coleta não exige uma configuração antecipada como é o caso no Twitter, onde as ferramentas só conseguem resgatar tweets de até sete dias antes da execução das configurações – em alguns casos, se não me engano, a extensão máxima é de 30 dias. Puxei os dados do Facebook com a Netvizz somente na segunda-feira, quando o período tinha encerrado.

Planilha onde uni as coletas do Twitter, Instagram e Facebook para facilitar a classificação

O grande benefício de trabalhar com essas ferramentas é o fato de elas serem gratuitas. Embora a Netlytic tenha algumas funcionalidades de análise (como text analysis e social network analysis), a Netvizz e a TAGS foram feitas para fornecerem somente os dados para que você possa trabalhar em outro ambiente – como no Gephi ou numa planilha do Excel mesmo. E foi o que eu fiz: com os dados em mãos, criei a planilha cuja imagem você vê acima para utilizar como minha principal base de dados. Ali juntei as coletas do Twitter, Instagram e Facebook de maneira separada e junta para poder trabalhar de forma integrada. Algumas coisas ainda tive que fazer a mão, como por o número de seguidores do Instagram e o perfil dos usuários do Facebook – que a Netlytic e Netvizz, respectivamente, não traziam.

Segunda parte: classificação e análise

Depois de ter montado o planejamento, escolhido as ferramentas e configurado (e rodado) a coleta, parti para a classificação. É importante pontuar que essa classificação não foi feita de maneira “avulsa”, pelo contrário: ela seguia os objetivos que eu tinha estipulado no desenho metodológico – que disponibilizei no Google Drive e você pode acessar clicando aqui. Cheguei até a montar uma estrutura prévia do relatório, para garantir que minha árvore de tagueamento atendesse às demandas que eu queria suprir – e perguntas que eu queria responder – na apresentação.

Pode parecer simples e óbvio, mas pensar uma estrutura para essa classificação (a chamada árvore de tagueamento) é um momento crucial para o andamento do trabalho. Isso porque de uma simples mensagem é possível decodificar diferentes aspectos de interpretação. O comentário: “Poxa, queria muito ver o filme com minha mãe, mas não está passando em Maceió” – pode ser visto dentro de um contexto de lamentação, reclamação, intenção, companhia, ausência e demanda, pelo menos. Nesse caso, uma exploração inicial pode ajudar a explorar o caráter das mensagens, mas são os objetivos do trabalho que vão oferecer as perguntas que você precisa responder.

Árvore de Tagueamento que criei após uma exploração inicial e pautado nos objetivos que tinha definido ainda no planejamento

O meu principal objetivo para esse relatório era montar um ranking das cidades que mais possuíam demanda pelo filme – porque ele havia estreado apenas em algumas cidades e, no Nordeste, apenas em cidades da Bahia. Então tive que correr bastante para classificar as mais de 1700 (esse número diminuiu bastante depois, quando limpamos comentários não-válidos) mensagens coletadas num período que inicialmente seria de três dias (de segunda a quarta-feira). Foi quando pedi socorro para Roberta Cardoso, minha colega e mestre que tive a oportunidade de conhecer através do IBPAD e tanto me ensinou e me ensina até hoje.

Com sua ajuda, conseguimos terminar a classificação dentro de um prazo razoável. Meu “sonho” inicial era terminar tudo e divulgar até quarta-feira, para poder entregar à produtora a lista de cidades onde eles deviam tentar distribuir o filme baseado nos pedidos das mídias sociais com certa antecedência. Só conseguimos finalizar a classificação na quinta, mas foi tempo suficiente para nos dedicarmos à análise – que, para fins desse trabalho específico, seria bem simples. Com as perguntas bem estruturadas, só precisava dos números para apresentar no relatório. E deixo aqui meu agradecimento mais que especial a Roberta, cuja experiência foi fundamental nesse momento.

Quarta parte: relatório

Embora tenha sido a última etapa, o relatório em si era a parte mais importante do trabalho. Isso porque, para além da análise do monitoramento, o objetivo “maior” era criar um produto que servisse de portfólio para a minha bagagem profissional. Foi por isso que desde o início convidei minha amiga de infância e hoje sócia-diretora de uma agência em Aracaju, Lara Telles da Molotov, para colaborar na elaboração do projeto. Não há como negar a importância de ter um relatório visualmente agradável, com diagramação bem feita, recursos imagéticos favoráveis, etc.

Por ter sido o último momento do trabalho, não significa que foi tratado de qualquer jeito. Como comentei anteriormente, já tinha feito uma “estrutura” no desenho metodológico e ainda na classificação comecei a montar um esqueleto para a apresentação. A minha principal preocupação era lembrar de uma fala bastante presente durante todo esse tempo que leio e estudo sobre monitoramento/métricas nas mídias sociais: é preciso saber contar uma história com os dados. Pensei, então, numa introdução que contextualizasse o objeto, motivação, metodologia, conexões entre as “partes”, etc. – tudo para tentar montar uma estrutura que guiasse o leitor de forma coerente e inteligível.

Também tive a preocupação de, com a ajuda de Lara, por em prática o que aprendi nos últimos anos sobre visualização de dados. Ou seja, não simplesmente jogar os gráficos e informações de qualquer jeito, mas ter cuidados simples que facilitassem a compreensão do leitor e deixasse a apresentação visualmente mais agradável aos olhos, tendo um direcionamento bem indicado logo de cara.


Para finalizar num tom ainda mais pessoal, queria compartilhar que estou realmente muito feliz com esse trabalho. Produzir um relatório público de monitoramento era uma das minhas metas para 2017 e já consegui fazer isso em janeiro! Poder fazer ainda sobre um tema tão próximo a mim foi de um sentimento ainda mais especial. E ainda ter duas pessoas que admiro muito profissionalmente ao meu lado foi extremamente gratificante. Agradeço também a Ana Cláudia Zandavalle, que me apoiou e tirou dúvidas sempre que precisei; a Jaqueline Buckstegge, minha mestre também do IBPAD; e ao marido de Roberta, Fábio Oliveira, que fez a capa linda pra gente.

Espero que sirva também de inspiração para quem está começando (ou para quem já tem mais experiência mas deseja finalmente produzir conteúdo) e estou à disposição para tirar quaisquer dúvidas. Tudo que aprendi em cursos e estudos pessoais sobre monitoramento foi de extrema importância, mas – como em qualquer ocasião – algumas dúvidas vão surgindo ao decorrer do caminho (principalmente quando se trata do Excel). Também posso compartilhar todos os arquivos (planilha e esqueleto da apresentação), basta solicitar. Uma recomendação final: assistam ao documentário!

Referências

http://www.slideshare.net/tarushijio/monitoramento-de-midias-sociais-casper-libero-072015-parte-01

http://www.slideshare.net/juniorsiri/relatrio-de-monitoramento-repercusso-do-filme-thor-o-mundo-sombrio-nas-mdias-sociais

http://www.slideshare.net/AnaClaudiaZandavalle/social-media-week-2016-monitoramento-de-mdias-sociais-construindo-um-portflio-pblico

http://www.slideshare.net/juniorsiri/como-tornar-didticos-e-dinmicos-seus-relatrios-de-monitoramento-e-mtricas

http://pt.slideshare.net/julieteixeira/dataviz-com-julie-teixeira