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Monitoramento e métricas de mídias sociais: do estagiário ao CEO

Desde que a pesquisa d’O profissional de inteligência de mídias sociais no Brasil adicionou à seção de fontes de estudo, em 2015, uma pergunta sobre quais livros são referência no mercado, a obra “Monitoramento e métrica de mídias sociais: do estagiário ao CEO” de Diego Monteiro e Ricardo Azarite se manteve no top 3 todos os anos – perdendo o posto de livro mais indicado apenas na última edição, em 2017, para a coletânea do IBPAD. Foi o primeiro livro sobre monitoramento de mídias sociais do país com versão impressa que ajudou, em 2012, junto ao anterior e-book “Para entender o monitoramento de mídias sociais” (2011), organizado por Tarcízio Silva, na consolidação da área no Brasil.

Trata-se, também, obviamente, de um livro estratégico: como chefias do Scup na época, Monteiro e Azarite buscavam consolidar autoridade sobre o tema ao mesmo tempo que também capacitavam o mercado – ainda muito precoce – sobre como desenvolver um trabalho eficaz de monitoramento. Isso não significa, entretanto, que é um livro-panfleto, muito pelo contrário – Mari Ferreira, poucos meses após o lançamento, escreveu: “Com esse livro, o Scup deu um baile e um passo a frente na concorrência, no quesito referência em desenvolvimento e fomento do mercado”. E Tarcízio Silva, outra figura também bastante responsável por fomentar o mercado de monitoramento de mídias sociais (e um dos autores do prefácio), classificou-o como: “uma obra útil, abrangente e rigorosa”.

Com tamanho respaldo, quando decidi comprá-lo, ainda em 2016, as minhas expectativas eram enormes. Confesso, entretanto, que – naquele momento – não conseguir identificar todos os elogios que tinham sido atribuídos à publicação na época do seu lançamento. Talvez, portanto, tivesse feito um post sobre ele naquele ano, a minha abordagem teria sido um pouco diferente. Dois anos se passaram e, hoje, revisando todos os capítulos e sabendo tudo que eu sei (sobre a “história” do monitoramento de mídias sociais no mercado), consigo entender a sua importância. Porque, de fato, como Mari Ferreira pontuou, é um livro: 1) didático, bastante explicativo para todos os níveis; 2) conciso, que resume os principais apontamentos da área e; 3) consistente, que sustenta toda a teoria com falas reais e contextualizações práticas.

Como o próprio nome indica, “Monitoramento e métrica de mídias sociais: do estagiário ao CEO” é dividido em duas partes não-oficialmente-nomeadas: a primeira foca em gestão e negócios, trazendo um esforço importante de aculturamento do trabalho – não somente o monitoramento, é bom destacar – em mídias sociais para empresas de todos os tipos. A segunda parte não é para CEOs/gestores, mas para estagiários/analistas: práticas e aspectos do dia a dia do trabalho são apresentadas (muitas – a maioria – que seguem os mesmos moldes até hoje, seis anos depois) seguindo a metodologia proposta pelos autores – que guia todo o livro. Mais do que uma resenha, neste post pretendo fazer um resumo dos principais pontos levantados na obra a partir de uma visão crítica, ainda que levando em consideração o contexto do seu lançamento.

E para que serve medir a performance do seu negócio? Cito pelo menos quatro razões-chave para justificar: melhorar sua tomada de decisão, aprender e ajustar para evoluir seu desempenho, abrir alas para que você consiga estipular metas a serem alcançadas e agir em tempo para corrigir algo em rota de colisão.
Fabio Cipriani

INTRODUÇÃO – Mídias sociais: mais que um departamento, uma competência para todas as áreas da empresa

O livro começa batendo numa tecla muito importante: “mídia social não é um departamento, é um conhecimento” (Ian Black). Pode parecer uma afirmação óbvia em 2018, mas, em 2012, as (grandes) empresas ainda estavam se adaptando a essa realidade. E, por mais que de lá para cá as coisas tenham mudado (e melhorado) bastante, essa percepção de que as mídias sociais seriam uma “atividade restrita a um departamento específico” ainda se mantém até hoje. O simples fato de ainda termos o cargo “social media” mostra que pequenas e médias empresas ainda sofrem para evoluir nesse critério.

De olho nos grandes negócios, os autores atribuem essa dificuldade à “pouca troca de experiência prática entre os profissionais do mercado”. Talvez essa fosse uma realidade naquela época, mas, seis anos depois, podemos dizer que muito já foi trocado e debatido sobre esse assunto. Hoje o conhecimento já foi “absorvido de forma mais profunda por universidades, editoras e meios de comunicação”, mas o problema não parece ter sido solucionado como um todo. Por isso a metodologia Social Media Cycle (SMC) apresentada no livro ainda consegue ser atual e relevante, uma vez que “foi construída a partir das experiências de diversos profissionais, que compartilharam por meio de entrevistas as melhores práticas que conhecem para o trabalho com mídias sociais” a fim de ajudar o mercado “a dar o grande salto que ele precisa”.

A introdução, portanto, tem como objetivo mostrar como as mídias sociais não podem ser um departamento isolado (baseado em procedimentos e requisições), mas uma competência distribuída (baseado em entendimento e alinhamento). Nesse contexto a publicação também argumenta pela importância e constância das mídias sociais ao longo do tempo, tirando o selo de apenas mais uma “modinha” da internet. Levando em consideração principalmente que esta primeira parte do livro é mais direcionada para gestores, é uma argumentação importante respaldada por falas de vários profissionais do mercado. Para ilustrar o impacto da nova competência (no contexto de negócios), os autores apresentam uma tabela bastante didática:

Esse é, na verdade, um grande mérito do livro. Todos os capítulos, sem exceções, dispõem de pelo menos três ou quatros figuras (fluxogramas ou tabelas). Embora possa parecer exaustivo, na verdade, tendo em vista o público-alvo, é um ótimo artifício para resumir o que os autores estão querendo passar de maneira sintetizada. Ao total, são quase 50 figuras que ajudam a compor o aspecto extremamente didático do livro. Além desse atributo, boa parte dos capítulos também começam – ou ao decorrer do texto acabam aparecendo – narrativas fictícias que simulam situações de negócios/mercado, mais uma vez na tentativa de fisgar o empresário que está lendo a publicação e/ou localizar o profissional/analista que consegue se identificar com aquela história.

Apesar das limitações, as mídias sociais fazem parte da realidade das empresas. O grande problema é que há vários casos de organizações e profissionais atuando nas mídias sociais segundo o modelo de tentativa e erro. Não só porque elas não estão inseridas num novo campo de conhecimento, mas também por gerarem a sensação de que são simples. “Afinal de contas”, dizem alguns gestores, “até uma criança de 7 anos sabe criar uma página em uma mídia social”. A realidade é que existe uma imensa diferença entre colher, postar informações, e interagir nos canais sociais de maneira estruturada, de modo a obter bons resultados para o negócio do ponto de vista estratégico, a fazer isso de maneira improvisada (pág. 23).

Vale pontuar também que os autores argumentam pelas mídias sociais a partir da perspectiva de monitoramento e métricas, ou seja, para além do apoio ao trabalho de social media, eles buscam evidenciar como essa competência pode – e deve – auxiliar em todas as frentes de negócios (RH, Logística/compras, TI, Marketing, Financeiro, Jurídico, Atendimento, Produtos): percepção quanto a empresa e comportamento dos colaboradores, qualidade de entrega e serviço, disponibilidade e qualidade dos sites e sistemas, direcionar/melhorar campanhas e divulgação, passivos jurídicos e impacto de esclarecimentos em geral, qualidade do processo de atendimento e demandas do consumidor, gestão de comunidade, etc.

CAPÍTULO 1 – Como superar a visão “broadcast” para se aproximar dos clientes nas mídias sociais

Após a introdução sustentar o argumento de que mídias sociais não são um departamento, mas um conhecimento/competência, o primeiro capítulo chama a atenção para as mudanças de paradigmas que as plataformas sociais impingiram à sociedade atual. A partir do Cluetrain Manifesto e do livro Groundswell – Fenômenos Sociais nos Negócios (Charlene Li e Josh Bernoff), os autores explicam o que André Lemos já apontava em 2003 sobre a liberação do pólo de emissão: “Se pudéssemos resumir essa visão em uma frase, poderíamos dizer: ‘transferência de poder’. Um poder que deixou de ser centralizado (pelos donos dos meios de comunicação, como jornais e redes de televisão) e passou a ser distribuído” (pág. 30).

É evidente que essa afirmação – principalmente recortada de tal maneira – é um pouco prepotente e, ao passar dos anos, temos percebido que essa “descentralização” não se fez tão forte assim mesmo com as diversas tentativas da internet. Os próprios autores têm essa preocupação de retomar a ideia e explicar como ela é muito mais complexa do que aparentava ser (no início dos anos 2000, talvez), no entanto, ainda assim, para os fins didáticos da obra e pensando o olhar voltado para a atuação de marcas/empresas/negócios na internet, esse era (é) um argumento bastante válido. Isso porque, como apontaram ainda em 2012: “Em vez de se reinventar nas novas plataformas, as empresas de comunicação promoveram a simples migração de conteúdos”.

Muitas vezes, apesar de seu potencial, as mídias sociais são encaradas como um local para a exposição de marcas semelhante a um outdoor, comercial de televisão ou banner de um portal. Segundo essa lógica, o que importa é o número de seguidores e visualizações de conteúdos de perfis. Assim, as mídias sociais acabam se tornando mais um canal para as empresas, mais uma mídia. A verdade é que, como bem definiu a pesquisadora Katie Delahaye, as “mídias sociais não são sobre mídias, mas sim sobre a comunidade na qual você faz negócios”. – pág. 32

Faço questão de pontuar o ano da publicação e trazer também a citação acima para mostrar como as coisas (infelizmente) não mudaram tanto assim mesmo depois de seis anos. Cada vez mais, nos últimos anos, as empresas (principalmente pequenos e médios negócios) se tornaram dependentes de uma única plataforma e atuam com um modus operandi de panfletagem que não reflete em nada as dinâmicas e os atributos específicos da rede. São, portanto, dois pontos distintos, mas que se complementam: a dependência de uma mídia e o equívoco de tratar esta – ou qualquer outra social – apenas como mídia. Nesse contexto, somos bombardeados de anúncios que não queremos ver por profissionais cada vez mais requisitados no mercado de trabalho.

Por fim, o primeiro capítulo ainda engata uma discussão muito popular nos dias de hoje: inbound x outbound marketing. Este debate é levantado, entretanto, sem citar essas terminologias e, ao mesmo tempo, em tom de crítica à (segunda) abordagem que as empresas tiveram perante as mídias sociais. Nesse cenário, elas eram interpretadas como mídia: empurram informações, perpetuam modelo corporativo e dão bastante relevância para transação; quando em troca constante clientes-empresa, podem trocar informações, renovar a forma de fazer negócios e a prioridade é conversação. Hoje, este cenário se alinha mais com o conceito de inbound marketing, ainda que este tenha se tornado extremamente invasivo e “vazio” – graças ao boom do marketing de conteúdo.

CAPÍTULO 2 – Níveis de maturidade em mídias sociais: o caminho para a evolução da empresa

No segundo capítulo, os autores apontam três abordagens pela quais as empresas costumam enxergar as mídias sociais: como uma plataforma de publicação, como um espaço de relacionamento ou como uma rede de mobilização. Embora enfatizem que não há uma maneira correta nessas três perspectivas, atribuem a cada uma delas um nível de maturidade que “avança” conforme a complexidade do trabalho. Deste modo, conseguem localizar a metodologia elaborada: o Social Media Cycle, no qual a mídia social em 1) é vista como (mais) um canal de contato; em 2) é vista como um espaço de conversação/diálogo; e em 3) é vista como um novo formato de fazer negócios e gerir a organização.

É óbvio que, ao atribuir níveis de maturidade para as abordagens das empresas frente às mídias sociais, ainda que não dite o certo ou errado, hierarquiza o trabalho de maneira que nenhum negócio vai querer ficar atuando de maneira amadora. Além do Scup, outras empresas como a ferramenta Simply Measured e a consultoria Altimeter (Prophet) também já propuseram metodologias para interpretar “estágios” de atuação das empresas nas mídias sociais. Embora cada uma utilize suas terminologias específicas, o direcionamento para o progresso é comum em todas as propostas: o maior nível de maturidade será alcançado quando as mídias sociais forem incorporadas a todas as vertentes de negócios. “É necessário ter um modelo que traga um direcionamento e mais eficiência para o trabalho com mídias sociais, assim como provoque uma evolução no nível de maturidade das empresas como um todo” (pág. 59).

Na metodologia do livro, cada área – conteúdo e campanhas, interação e atendimento, tomada de decisão plano de negócios – é destrinchado para que o leitor consiga localizar onde a sua empresa (mais uma vez, direcionando a narrativa para CEOs e gestores) está para cada nível de maturidade. Novamente, ratificam: a busca irresponsável pelo terceiro nível “é um erro porque […] depende de diversos fatores, como momento financeiro da empresa, engajamento da direção executiva e definição de objetivos e metas para um determinado período” (pág. 52). Ainda nesse contexto, os autores entram numa discussão ainda bastante atual sobre o que motiva as empresas nas mídias sociais: ROI (economizar dinheiro/gerar mais vendas), competitividade (ser melhor que a concorrência) ou o cliente (ser mais relevante para o consumidor) – dado o argumento até aqui, a conclusão é esperada:

Quando o cliente é o centro das atenções, tanto o ROI quanto a concorrência não podem ser ignorados. Mas há uma diferença: não se deixará de fazer algo que todos percebem como importante simplesmente porque não gerará vendas – ou pior: gerará vendas que não poderão ser medidas. Nesse cenário, as ações realizadas não trazem receitas ou economia de custos de um modo direto, mas seus efeitos vêm a longo prazo. A empresa encara as mídias sociais como algo estratégico (pág. 55).

Ainda no contexto da metodologia SMC, os autores indicam as formas de atuação segundo os níveis de maturidade: para produção de conteúdo e campanhas, há desde embasamento no modelo de mídia tradicional, sem levar em conta interação e continuidade (SMC1), passando por estímulo de conversação (SMC2), até envolvimento de toda empresa (SMC3); quanto a interações e SAC, começa com a replicação da estrutura e mentalidade de canais tradicionais, foco em neutralizar as reclamações (SMC1), passa pela reconfiguração de processos e estruturas para enxergar o atendimento como oportunidade para reforçar a experiência do cliente (SMC2) até a integração do SAC 2.0 com todos os níveis organizacionais (SMC 3); por fim, para tomada de decisões, parte da restrição das informações às áreas de marketing aleatoriamente (SMC1), passando por demanda de informações para momentos específicos de mudanças (SMC2) até a utilização estratégica e definitiva para políticas da empresa (SMC3).

CAPÍTULO 3 – O ciclo das mídias sociais na perspectiva dos negócios

Depois de introduzir as mudanças de paradigmas e como as empresas têm encarado essa realidade nos dois primeiros capítulos, o foco do terceiro é começar a adubar terreno para entrar na disciplina de monitoramento. Para isso, entretanto, há um esforço perceptível – e justificável, levando em consideração um dos públicos esperados para a obra – dos autores em contextualizar a importância desse trabalho com a visão de negócios. A ideia de “ciclo”, no título, parte do conceito de aprendizado em circuito duplo proposto por Chris Argyris, professor de Harvard. De maneira simples, o argumento é que, quando há um problema, há duas formas de resolvê-lo: apagando o incêndio ou indo atrás do que o causou para que não aconteça nunca mais.

No contexto das mídias sociais, tal teoria ganha um novo impulso e se torna imperativo colocá-la em prática. Antes, com a publicidade tradicional, o foco das empresas era (e podia ser) em sua imagem. Isso porque a experiência real das pessoas com a marca não aparecia na mídia. Hoje, acontece o contrário. As experiências reais dos consumidores estão em evidência – e não as imagens criadas num estúdio a partir de um roteiro pensado pela empresa. Agora, as organizações precisam lidar mais com a realidade do que com a imagem que querem passar. […] A organização que trabalha com o conceito de circuito duplo melhora o negócio como um todo – e chega a uma solução duradoura. Quando a organização passa a ser gerida nesse modelo, todas as áreas e camadas hierárquicas valorizam as informações vindas das mídias sociais. Elas não só fazem esforços para usá-las, como demandam, de uma maneira pró-ativa, dados de monitoramento para tomar decisões. (pág. 65-66).

Um dos grandes méritos do livro está em, ainda que apresente os diferentes níveis de maturidade, sempre “recomendar” o direcionamento ao mais avançado. Nessa parte, por exemplo, a divisão entre ciclo virtuoso e vicioso nas mídias sociais argumenta pela inteligência (estratégica) para além da otimização (operacional) do monitoramento. Ou seja, por mais que admitam que há diferentes maneiras de atuação, (o SAC ser tratado apenas como resolução de problemas comunicacionais – levando em consideração o “momento” que a empresa se encontra em relação a sua atuação digital), o argumento preza sempre pela evolução e melhoria do negócio a partir dos dados das mídias sociais. No fim das contas, tudo depende de planejamento.

Todo processo dentro de uma organização passa por um ciclo, em que há: planejamento, implantação, acompanhamento e melhoria. É o ciclo do “agir”. Um projeto de mídias sociais de uma empresa conta com etapas que levam em consideração seu nível de maturidade no planejamento, como os dados serão capturados na implantação e assim por diante. Mas de pouco adianta ter um processo muito bem definido se os ganhos não se espalham pela empresa. Por isso, esse ciclo só é realmente efetivo se houver um segundo momento além do “agir”, o “difundir”. Esse momento se refere ao impacto mais intangível do processo nos negócios da empresa, o impacto cultural. É como o output desse trabalho será valorizado, entendido e usado por todos na empresa (pág. 69).

Este capítulo fecha com uma proposta de modelo de atuação nas mídias sociais (com foco principalmente no trabalho de monitoramento e dados em geral), levando em consideração principalmente quatro fases do SMC: 1) mensurar os objetivos de negócio e a maturidade da empresa internamente para; 2) capturar as informações e operacionalizar o fluxo de monitoramento como um todo e enfim; 3) analisar as informações para gerar conhecimento e e inteligência estratégica de negócios até; 4) disseminar as práticas por meio dos resultados das etapas anteriores com capacitação e informação. É importante manter em mente essas etapas porque elas serão retomadas ao longo do livro.

CAPÍTULO 4 – Monitoramento: o coração das mídias sociais

A proposta deste capítulo é destrinchar o ciclo apresentado anteriormente ainda com mais detalhes. Um grande defeito, entretanto, na minha opinião, é a união de ambas as disciplinas (monitoramento e métricas) em um grande processo. Eu entendo que houvesse uma necessidade de argumentar estrategicamente por ambos os trabalhos de maneira conjunta na época (afinal os dois lidam, essencialmente, com dados), mas achei irresponsável trazê-los sem uma distinção explícita logo de imediato – algo do tipo só acontece nos dois capítulos seguintes, mas ainda de maneira confusa.

Para o capítulo quatro, então, tomemos como saldo a proposta e argumentação operacional do Social Media Cycle, levando em consideração todas as etapas do trabalho que envolve desde coordenadores (para definir escopos e objetivos; dimensionar e estruturar equipes e processos), passando por analistas (para pensar métricas/KPIs, plano de classificação e keywords; e analisar em busca de melhorias), até gestores (para desenvolver todo o trabalho aculturamento da empresa com base nas análises).

CAPÍTULO 5 – Como definir métricas a partir dos objetivos de negócio

O quinto capítulo do livro é o maior e provavelmente o mais denso de todos em termos de informação a ser consumida – e assimilada – pelos mais variados tipos de leitores. Ele começa, mais uma vez, com uma proposta de exercício para localizar o nível de maturidade da sua empresa. Pode parecer cansativo, mas é importante bater nessa tecla para que o leitor, principalmente no caso de gestores ou empresários não familiarizados com o trabalho em mídias sociais, não queira dar um passo maior que a perna. É preciso, nesse cenário, levar em consideração: a disposição da empresa, o orçamento disponível, a visão de negócio, o tempo/prioridade da transformação digital e a preocupação dos superiores. A tabela abaixo serve como esquema didático para exemplificar as diferentes atividades de acordo com o nível de maturidade das organizações.

Após esse exercício, acontece (novamente) o problema que citei anteriormente: o nome do capítulo fala sobre métricas e o texto apresenta, quase sem contextualização, ensinamentos sobre o monitoramento de mídias sociais. Esse é um problema relevante, a meu ver, porque é uma constante no mercado a confusão entre monitoramento e métricas. Já vi a expressão “monitorar resultados” ser empregada várias vezes no sentido de “atividade de ficar de olho nas métricas”, ou seja, não se trata de um trabalho de monitoramento, mas um trabalho com métricas. É óbvio que é inevitável que essa expressão, em seu significado mais amplo, não acabe também se referindo ao trabalho com métricas, mas particularmente, tratando-se de fontes que entendem essa diferença, acho um pouco irresponsável não evidenciar essa distinção.

Feito esse adendo, posso continuar com o conteúdo apresentado no livro. São apresentados, então, três tipos de monitoramento: ouvir, contra-ação e tomada de decisão – todos estreitamente ligados aos níveis de maturidade apresentados no capítulo 2. Em seguida, explica-se que o monitoramento pode ser feito sobre uma marca, um evento ou um tema. Cada um desses cenários demandará um planejamento específico e dedicado ao projeto de monitoramento, para que sejam definidos os objetivos, as ferramentas que serão utilizadas, o set up necessário, a mão de obra de trabalho (e suas devidas funções), até análise e entrega final. Para quem tiver interesse específico, recomendo a série de posts que fiz sobre o material do curso de monitoramento de Tarcízio Silva aqui no blog.

A definição do que será medido num monitoramento de mídias sociais depende dos objetivos de cada departamento – e da empresa como um todo. Tendo em mente isso, os indicadores de negócio (métricas com um significado de negócio) serão estabelecidos. Eles são chamados de KPIs (Key Performance Indicators, na sigla em inglês) e representam as necessidades estratégicas da empresa. Dificilmente cada objetivo de negócio tem mais de três KPIs (pág. 92).

Na subseção “Escolhendo os ‘objetivos’ e métricas'”, as falas sobre os primeiros são certeiras: “como as mídias sociais refletem seres humanos, fica impossível determinar padrões aplicáveis a qualquer empresa” (pág. 94). Toda a sustentação do argumento – de que as métricas devem ser selecionadas a partir da sua máxima de valor para os objetivos de negócios – parte da famosa frase de Douglas Hubbard: “Mensuração é uma redução quantitativamente expressa de incerteza, baseada em uma ou mais observações”. Particularmente gostei bastante de outra ótima citação, da então coordenadora de BI da dp6, Luana Baio: “O estratégico não está relacionado à simplicidade ou à complexidade da métrica, mas sim ao valor da informação que ela traz consigo”.

Quando pensamos nos objetivos de negócio da empresa, não há certo nem errado. Não há nada de errado em usar uma métrica baseada na quantidade de compartilhamentos de uma mensagem como KPI quando se deseja medir o resultado de uma campanha de divulgação da marca (branding). Mas, se pensarmos na maturidade da empresa como um todo, veremos que há métricas mais evoluídas (pág. 95).

Infelizmente a confusão em torno de monitoramento e métricas volta logo em seguida, na tentativa de explicar os diferentes “tipos” de dados das mídias sociais. Na figura 5.7, logo abaixo, por exemplo, intitulada “Modelagem SMC de métricas em mídias sociais”, os dois primeiros tipos de dados (o quê e como) são frutos do trabalho de monitoramento enquanto os dois últimos (quem e quanto) podem ser tanto de monitoramento quanto de métricas, sendo apenas o último (onde) relacionado ao tracking de ações e, por tanto, exclusivo de métricas. O mesmo problema se repete na figura 5.8: opinião e público são referentes ao monitoramento; audiência, transacional e navegação são referentes às métricas; e relacional, demográfico e participação podem se referir a ambos.

Há até uma tentativa do autores de diferenciar métricas, dados e KPIs, no entanto, com exceção do último, o restante ainda aparece bastante confuso. Em suma, e desfazendo a confusão levantada até aqui, poderia dizer que métricas são, a grosso modo, indicadores. Isso significa que, no trabalho de monitoramento, é provável que métricas serão acionadas: quantas comentários positivos? quantos comentários sobre a campanha? quantos comentários mencionando o influenciador X?; no entanto, o trabalho com métricas de mídias sociais – comumente também chamado de social analytics (ou web analytics, para blogs) – envolve métricas (ou indicadores) já pré-dispostos nas plataformas: cliques, likes, bounce rate, etc.

Na prática, funciona mais ou menos assim: um analista de métricas (ou de BI/analytics) trabalha com indicadores já provenientes das mídias sociais, pois são “rastros digitais” deixados pelos usuários nas páginas/publicações; enquanto um analista de monitoramento trabalha com toda uma linha de pesquisa que envolve a estruturação de coleta e análise de comentários e/ou relacionado a indivíduos (como é o caso com o envolvimento de análise de redes) para gerar dados que podem ser quantificados como métricas/indicadores. Ambos trabalham com dados (de mídias sociais) e com a mesma finalidade: extrair inteligência estratégica deles, mas os meios para este mesmo fim são diferentes para cada cenário.

A seguinte diferenciação que os autores fazem entre dados, informação e conhecimento a partir do famoso esquema de David Sommerville devolve o conteúdo de volta aos trilhos, mas a insistência em classificar os dois últimos como “métricas” pode – novamente – confundir o leitor. Vale destacar aqui a apresentação de alguns KPIs famosos no mercado que ganharam força principalmente à época pela divulgação de um material da Altimeter. Esses são apresentados e ensinados até hoje em cursos de monitoramento de mídias sociais como algumas alternativas possíveis para análise de resultados:

  • Share of Voice: porcentagem de menções da marca comparado ao universo com os concorrentes, que pode ser cruzado com dados de sentimento/tema e avaliado temporalmente;
  • Taxa de sentimento: proporção de menções por sentimento em relação ao total;
  • Imagem: proporção de menções positivas e neutras em comparação ao total;
  • Advogados da marca ativos: proporção de usuários que geraram resultados positivos nos últimos 30 dias em comparação ao todo.

Ao tratar da relação entre métricas (que, aqui, são sempre referentes a indicadores do monitoramento) e os níveis de maturidade SMC, há uma proposta de contextualizar tudo isso com o esquema de funil de vendas de uma marca. O problema é que falar em funil de vendas na internet implica automaticamente levar em consideração a jornada do consumidor online, que – pelo menos na grande maioria das vezes – só pode ser avaliada a partir de métricas de tracking, ou seja, referentes a cliques e navegação (e não proveniente do monitoramento). Toda essa confusão continua no resumo do capítulo, que apresenta as métricas de cada nível num contexto de monitoramento: SMC1 – audiência e volume; SMC2 – quantidade e qualidade das interações; SMC3 – recomendações.

O cruzamento de métricas do tipo social com métricas on-line e off-line potencializa o valor da informação e se torna uma fonte riquíssima para a tomada de decisão. Apesar dos benefícios que pode trazer, esse tipo de cruzamento é raro. Primeiro, porque há barreiras tecnológicas. Integrar bases que estão em locais e sistemas diferentes não é fácil. Em segundo lugar, porque há uma barreira “política”. As informações estão espalhadas por departamentos estanques, agências e prestadores de serviço da empresa. Para conseguir superar esses descasos, é necessário um esforço muito grande dos tomadores de decisão da empresa. Há casos de empresas que obrigam seus fornecedores a trocarem informações como condição básica para prestarem serviços. Com o passar do tempo, as pessoas deixam de enxergar a troca de informações como uma obrigação e passam a fazê-lo de um jeito mais espontâneo e pró-ativo. Isso porque percebem os ganhos desse tipo de integração (pág. 106).

A excelência da obra retorna quando os autores entram no tópico Return of Investment, com uma explicação séria, densa e responsável sobre assunto tão polêmico. “Quem trabalha com mídias sociais costuma sofrer uma grande pressão para calcular o ROI e provar que vale investir nesse tipo de trabalho”, no entanto, tratando-se de uma nova área, a falta de segurança e clareza “pode prejudicar sua aplicação e aprendizado” (pág. 106). Sempre trazendo exemplos e aplicações reais, os autores conseguem demonstrar ao público empresarial que é preciso muita cautela quando falamos de ROI de mídias sociais – e ainda apresentam alguns exemplos de aportes metodológicos (figura 5.15).

Há uma discussão coerente sobre as limitações e dificuldades do cálculo de ROI nas mídias sociais, nas quais os autores citam a dificuldade de capturar dados, a escassez de tempo e energia nas empresas e a responsabilização totalitária (e única) de uma ação para provar o resultado. Isso tudo, entretanto, não deve banir o ROI de vez: “Uma visão mais ampla permite perceber que os impactos financeiros são causados tanto por ações recentes e tangíveis como distantes e intangíveis” (pág. 116), explicam. Os autores citam, então, o modelo Balanced Scorecard (BSC), que traz quatro perspectivas de indicadores de negócios: aprendizagem (conhecimentos e competências que os colaboradores possuem), processos internos (qualidade e produtividade), cliente (retenção e finanças (receitas/despesas).

Na Figura 5.17, vemos que em todas essas perspectivas há um lado transacional e outro de relacionamento. Numa organização eficiente, recebem valor igual, pois tanto um quanto o outro são importantes para perpetuar o negócio. Assim, na perspectiva de Aprendizagem, há tanto indicadores que geram um impacto claro, como funcionários saberem inglês para vender no mercado americano, quanto indiretos, no caso de um curso mostrando a importância de atender bem o cliente no pós-venda. O critério para investir nesse tipo de atividade é o quanto ela afeta o tipo e o posicionamento de negócio (pág. 117).

Quando, portanto, devemos nos preocupar com ROI nas mídias sociais? Segundo Monteiro e Azarite, quando “estamos diante de um processo em que a ação e o impacto nas vendas é próximo e tangível (transacional)” (pág. 118). Quando foco das ações e estratégias sejam resultados intangíveis a longo prazo, recomenda-se pensar em KPIs diferentes. Para finalizar, um conceito bem legal que os autores apresentam é o de “Teoria do Negócio”, de Peter Drucker, no qual, de maneira simples, há um diferença entre ser uma empresa eficaz (o que faz) e ser uma empresa eficiente (como faz): “Drucker atentou para o fato de que as empresas na atualidade eram muito boas em serem eficientes, ou seja, em ter processos enxutos e sistemas de controle de desempenho. Em contrapartida, elas se tornaram muito frágeis para perceber e mudar a rota do negócio ou para implantar o posicionamento no dia a dia junto com a eficiência dos processos” (pág. 120).

CAPÍTULO 6 – Classificar, capturar e analisar: como colocar em prática o planejamento

O sexto capítulo tem uma abordagem mais prática sobre o trabalho de monitoramento, dividido em três momentos: classificar, capturar e analisar. O primeiro ratifica a importância do plano de classificação, que fornecerá a estrutura estratégica para interpretar os dados. O segundo coloca em xeque algumas questões técnicas, como dimensionamento (volume de trabalho x equipe), estruturação (possibilidades de terceirização), softwares (objetivo x funcionalidade), equipe (maturidade), processo (atividades), keywords (escopo) e implatação/acompanhamento (testes). A tabela abaixo resume e organiza cada um desses aspectos, que devem ser pensados na etapa de planejamento do projeto.

O último momento, analisar, refere-se à prática de “transformar os dados capturados em informações de negócio”. Ou seja, “para que os dados se tornem importantes na tomada de decisão, eles precisam estar qualificados e relacionados de modo a ficarem em sintonia com uma análise de interesse – no caso, falando de acordo com as missões, valores e objetivos de negócio da empresa (p. 137)”. Não menos importante, o trabalho de comunicar esses resultados, informações e inteligência é essencial para todos os contextos nos quais ele será apresentado (seja para gestores, diretores, analistas, cliente, etc.). Por fim, o exercício de melhoria constante:  “fazer otimizações e melhorias em todo o projeto para evoluir o monitoramento, tornando-o cada vez mais eficiente e estratégico”.

CAPÍTULO 7 – Aculturar: espalhando a cultura social na empresa

A proposta do capítulo 7 é oferecer um panorama menos informal – mais “planejado” e “potencializado” – para o processo de aculturamento em relação ao trabalho de mídias sociais na empresa: “Para gerar uma cultura de mídias sociais, é importante saber quais são as áreas e respectivas pessoas-chave para o projeto de mídias sociais” (p. 143). Eles sugerem definir pontes de aprendizado que levarão a “cultura de mídias sociais” para cada uma das áreas da empresa, levando em conta seu potencial de uso e nível de maturidade – além de interesse (da área) e influência. Nesse cenário, são recomendadas três atividades para aculturar a empresa como um todo à (nova) realidade de trabalho dedicado às mídias sociais.

Em busca constante por melhorias, os autores recomendam ainda um planejamento pós-demandas para identificar como é possível avançar com o aculturamento. Seria trabalho de um gestor, portanto, conforme indicado na obra, listar quais serão as ações tomadas para seguir em frente; estas pensando um público-alvo específico, que podem ser referentes às áreas ou níveis hierárquicos; e definir quais serão essas ações visando os objetivos e a prioridade de cada uma delas no cenário macro da empresa.

CAPÍTULO 8 – A operação de mensurar os dados das mídias sociais

Os três últimos capítulos do livro retomam as fases do trabalho apontadas no capítulo 6 (classificar, capturar e analisar). Neste penúltimo capítulo, portanto, os autores apresentam direcionamentos operacionais para o trabalho de monitoramento: como organizar as menções, como elaborar um plano de classificação, como integrá-lo com objetivos estratégicos, etc. Quanto ao primeiro, apontam duas medidas analíticas: sentimento e conteúdo (categorização). Embora seja um pouco simplista, é geralmente – até hoje – o ponto de partida dos projetos de monitoramento. No entanto, é importante ratificar que essas categorias analíticas são exclusivas ao conteúdo, enquanto hoje podemos averiguar também usuários, localização, etc.

Ainda sobre o plano de classificação, os autores reforçam que ele parte de alguns pontos básicos, como o objetivo do projeto, o nível de maturidade da empresa, as métricas do trabalho e um fluxo de trabalho bem alinhado entre operação e gestão. A integração entre o “núcleo de mídias sociais” e outras partes da empresa é indispensável para alinhar os objetivos de mídias sociais com os objetivos estratégicos de negócio. Recomendam, portanto, a participação de analistas e gestores no briefing e validação do plano de classificação: “A presença dos gestores no processo de planejamento da classificação não é operacional, mas sim uma participação de supervisão que trabalha pelo alinhamento com objetivos da empresa” (pág. 154).

Outra questão muito importante é a complexidade da análise de sentimento. Ainda que esse critério tenha sido adotado pelo mercado de monitoramento de mídias sociais como padrão, há algumas nuances a serem consideradas na simples divisão negativo-neutro-positivo: “Em linhas gerais, toma-se um ponto com o qual a análise de sentimento será relacionada, uma referência específica que varia de acordo com o objetivo de negócio da empresa” (pág. 155), que pode ser a marca, o produto ou o processo de vendas como um todo. Por exemplo, quando trabalhei para o CRM da E.life/Coca-Cola, o sentimento de uma mesma menção poderia diferenciar quanto ao atendimento, quanto ao produto e quanto à campanha. Isso é mais comum, entretanto, em projetos/empresas com mais maturidade.

Uma boa prática para a análise de sentimento mais completa é criar uma régua de proximidade com o cliente progressiva, que conta com dois níveis (tanto para positivo quanto para negativo): um diz respeito a algo mais pontual, à percepção da marca (que não necessariamente leva à ação); o outro diz respeito a um sentimento mais duradouro, referindo-se ao engajamento, que por sua vez implica em uma ação de destruição ou defesa da marca. A análise de sentimento que usa essa régua, portanto, consegue descrever com maior riqueza qual é o tipo de relação que os clientes têm com uma marca e acompanha o engajamento verdadeiro, aquele que vai além da mera citação. Na metodologia SMC, essa régua é chamada de análise de sentimento por engajamento (p. 157).

Além da análise de sentimento, o tratamento mais comum aos dados de mídias sociais é a categorização – que pode, inclusive, conforme apontado pelos autores, ser cruzada também com o sentimento. Deste modo, “a classificação compreende motivações (categorização) e intensidades (análise de sentimento) da relação existente entre uma marca e um consumidor” (p. 158). Pensando novamente a metodologia SMC, os autores apontam três níveis de plano de categorização, que depende de variáveis como investimento e maturidade da empresa. Eles se relacionam com a complexidade do sentimento já apontada, conforme o direcionamento de interpretação (tema, produto/situação, momento) e de valor estratégico (conteúdos, oportunidades, associação).

Menos confuso e mais prático, o framework dos 5-Ws e 1-H (o que motivou? reparo? menção? intenção de compra? sugestão?; em que momento? pré-compra? compra? pós-venda?; quem falou? cliente? mídia? funcionário? imprensa?; de onde falou? loja física? e-commerce? site?) dá um direcionamento interessante para quem trabalha com monitoramento: “Esse modelo consegue exprimir com detalhes a relação que os diversos agentes têm com a marca monitorada” (p. 160). Como medida alternativa (ou acrescente), gosto bastante também da metodologia de decompor, responder, descobrir e implementar proposta por Tarcízio Silva, pois ultrapassa as limitações da primeira e pensa de modo inteligente como não partir do zero.

A estratégia de categorização comportamental consegue trazer um cenário mais fidedigno do momento em que os consumidores entram em contato com a marca. Como resultado, as estratégias de marketing – principalmente, as baseadas em relacionamento – passam a ser embasadas em premissas sociais bastante sólidas, que agregam com relevância e proximidade ao consumidor. O plano de classificação alinhado com todos os personagens presentes no processo consegue solucionar alguns problemas e mitigar alguns riscos (p. 161).

CAPÍTULO 9 – Capturar: Dimensionando o trabalho de mídias sociais

O capítulo 9 expande o trabalho de monitoramento/métricas em direção à generalização do trabalho de mídias sociais, (ainda que) com dicas valiosas sobre processos e gestão operacional. Os autores pontuam o que deve ser considerado ao dimensionar a equipe, por exemplo (volume de menções, capacidade máxima/profissional, saúde da marca, software disponível); e como estruturar um projeto terceirizado, destacando seus benefícios (liberdade de análise e inteligência externa/isenta, etc.) e problemáticas (melhor integração, mais visão de negócio e agilidade nos processos, etc). Sobre isso, recomendam levar em consideração fatores como mercado, recursos e importância estratégica.

Os autores seguem com orientações sobre software, perfil da equipe e relação com a metodologia SMC. Quanto ao primeiro, destacam como características a serem avaliadas: usabilidade, estabilidade, facilidade de diagnóstico, trial, tipo de diagnóstico, dados capturados, flexibilidade e confiança – ratificando, no fim, escolha por preço x funcionalidade x performance. Quanto ao segundo e terceiro, recomendam um perfil “mais broadcast, que tenha boa capacidade analítica e metas numéricas” no SMC 1; “mais interativo, que tenha boa capacidade de ativação e comunicação e lide com metas mais intangíveis – de salubilidade da marca” para SMC 2 e; “mais de negócio, com conhecimento de valores da empresa e metas referentes a engajamento” para SMC 3.

O planejamento do monitoramento criará as demandas das tarefas – que, consequentemente, criam demandas de competências. Deve-se fazer um balanço da listagem das demandas com as disponibilidades de equipe, estrutura e recursos de modo geral (financeiros, humanos, infra estrutura e etc.). A solução para a estruturação da equipe é definir tarefas diferentes para um mesmo profissional, por exemplo. A escolha por dedicar ou compartilhar as tarefas pode ser feita tomando como base uma tabela com vantagens e desvantagens de cada um dos cenários. No micro ambiente – ou seja, no núcleo de mídias sociais –, há profissionais específicos, com cargos criados nos primeiros anos de atuação em mídias sociais. No macro ambiente – ou seja, nas áreas mais gerenciais, diretivas e executivas –, há a necessidade de uma nova integração (p. 180).

Vale ratificar que aqui os autores trabalham com um cenário no qual há um “núcleo de mídias sociais”, que seria como um departamento dentro de uma empresa (ou agência) que atuasse direta e exclusivamente com essa vertente. Ainda que considere essa realidade um pouco ultrapassada (o que poderia ser facilmente justificado pela época que o livro foi lançado), o verdadeiro problema aqui, a meu ver, é – novamente – a confusão do “trabalho” de mídias sociais e “trabalho” de monitoramento. Em nenhum momento fica evidente que estão falando de um projeto/área de monitoramento, mas de mídias sociais como um todo. A descrição dos papeis da figura 9.8 deixa tudo ainda mais confuso, ajudando ainda mais a reforçar esse problema.

Logo em seguida, o capítulo aborda uma questão basilar do trabalho de monitoramento, a escolha das keywords. Quando falam sobre esse assunto, entretanto, fazem com propriedade – alertam para a atenção a erros de digitação, apelidos, nomes errados, frases correlatas, personagens, por exemplo. Também indicam testes constantes – com um possível piloto de semanas para auditoria – quanto ao plano do software de monitoramento, a variedade de menções, a buscas feitas, a processos definidos e a equipe dedicada. “Uma boa prática é agir de modo a saturar ou estressar a estrutura operacional ao extremo, para saber, de fato, se o planejado atende as expectativas, inclusive em cenários tidos como incomuns” (p. 185), explicam.

O capítulo termina com o argumento de que “o núcleo de mídias sociais atende a toda a empresa”, enquanto reafirma que “o objetivo desse capítulo é mostrar como integrar o núcleo de mídias sociais aos responsáveis pela empresa em sua perspectiva mais abrangente” (p. 186). Ainda que, reforçando também nessa parte, citem boas práticas para que essa integração ocorra, o – meu – problema é que a narrativa ficou confusa ao falar sobre trabalho de mídias sociais e não de monitoramento (ou métricas, como mencionamos anteriormente). Por fim, os autores trazem novamente a metodologia SMC para falar sobre as evoluções dos processos de mídias sociais em cada nível de maturidade: o 1 como reagente de crises/confrontos, o 2 como processual e estruturado, e o 3 como evolução fluida e autêntica.

CAPÍTULO 10 – Analisar: Transformando dados isolados e descontextualizados em informações relevantes

O último capítulo do livro apresenta diversos modelos de análise comuns no mercado de monitoramento de mídias sociais. Os autores chamam a atenção para as etapas de analisar (transformar os dados), comunicar (compartilhar a informação) e melhorar (usar o conhecimento), como um processo contínuo e constante em busca de resultados eficazes. Quanto à análise mais especificamente, montam a base do pensamento analítico a partir de três formatos padrões: absoluto, progressivo e comparativo. Pode parecer óbvio para quem já tem o mínimo de experiência, mas é um ótimo embasamento para quem nunca parou pensar de modo estruturado no trabalho de análise.

É a partir desses três pilares básicos que o livro aponta outros 10 modelos de análise comuns ao trabalho de monitoramento:

  1. Análise por temos mais citados: associação de citações e menções à marca (absoluto);
  2. Análise por sentimento: avaliação quantitativa das menções por parâmetros de sentimento (comparativo);
  3. Análise por categorização das menções: avaliação quantitativa das menções por parâmetros de categorização (comparativo)
  4. Análise por horários de menções: análise temporal para compreender o comportamento digital dos consumidores (comparativo)
  5. Análise por hypes nos gráficos: análise temporal para averiguar momentos que fogem do padrão (progressivo);
  6. Análise por sazonalidade: análise temporal para averiguar padrões temporais recorrentes de um meio externo (progressivo);
  7. Análise por mineração de dados (BI): avaliação comparativa com base de dados externas às mídias sociais (comparativo);
  8. Análise por concorrência: avaliação comparativa de métricas referentes aos concorrentes (absoluto);
  9. Análise por exposição x market share: avaliação do impacto das mídias sociais no negócio (absoluto);
  10. Análise por audiência e relevância de influenciadores: avaliação comparativa do poder de engajamento e influência dos usuários (absoluto).

Além de esse ótimo panorama de análises mais comuns no mercado, o livro também levanta outro ponto muito importante: o relatório (e sua função comunicacional). A partir da fala da então analista Pri Muniz, os autores apontam três pilares principais a serem levados em consideração na produção de um relatório: interesses do público-alvo (o que querem extrair desse material?), conhecimento do público-alvo (quem são e quais os conhecimentos dos leitores?), relação público-alvo x núcleo de mídias sociais (quais são as expectativas?). Por fim, ainda recomendam boas práticas como a utilização de gráficos, exemplos, didática, contextualização do negócio e inovação estratégica.

Depois de analisar e comunicar, ainda falta uma etapa: “Essa é uma fase de avaliação própria que busca alcançar melhores resultados e mais eficiência no processo como um todo” (p. 210). Como dois métodos possíveis para esse processo, recomendam a otimização de atividades e o brainstorm de sugestões. O primeiro se preocupa em encontrar, durante o processo, novas maneiras de torná-lo mais eficiente, com menos esforço e possivelmente mais rápido através de uma possível metrificação. O segundo volta o olhar para as pessoas da equipe, que fazem parte do processo, e propõe medidas criativas para que seja realizada uma otimização.

CONCLUSÃO – A cultura das mídias sociais

Vimos neste livro como o monitoramento das mídias sociais pode contribuir para todas as frentes de um negócio e como colocar isso em prática. Percebemos que fazer esse trabalho está longe de ser algo simples e trivial, mas os ganhos são compensadores. Este livro, mais que explorar o tema, traz uma metodologia de trabalho. Essa é a sua primeira versão e, com certeza, poderá ser evoluída junto com você (p. 216).

Talvez o principal problema da obra é querer abraçar o mundo e falar de tudo ao mesmo tempo – o que poderia até ser (novamente levando em consideração a época em que foi lançado) uma necessidade (ou um risco válido) para ajudar a avançar o mercado. Nesse sentido, a introdução e os três primeiros capítulos são extremamente didáticos e valiosos: destaco principalmente o uso de figuras/fluxogramas que são ótimos aportes de ensinamento/compreensão, os exemplos fictícios que dialogam sempre com questões reais e a constante preocupação em admitir níveis de maturidade ainda que sempre encorajando pelo avanço.

Os capítulos 4 e 5 serão avaliados de maneira completamente diferentes a depender do leitor: a meu ver, como analista, há vários problemas práticos principalmente na confusão monitoramento x métricas – que em nada (ou pouco) ajuda um estagiário querendo aprender sobre o assunto, por exemplo; para um gestor ou CEO, entretanto, as explicações podem fazer sentido na teoria e ajudarem na valorização/consolidação da cultura dos dados. Ratifico, também para esse personagem, a ótima discussão sobre ROI – com um olhar cirúrgico de quem trabalha com o assunto mas, ao mesmo tempo, uma perspectiva realista de quem entende as cobranças do mundo dos negócios.

A segunda e última parte do livro, que teoricamente seria destinada para analistas/estagiários, tem seus pontos altos e baixos. Os capítulos 6 e 7, embora simples e diretos, são certeiros nas explicações e linhas de argumentação. O capítulo 8, mais denso, oferece um ótimo panorama operacional para pensar um projeto de monitoramento; assim como o capítulo 10, que fecha o livro muito bem com frameworks factíveis ao mercado. O problema de “querer abraçar o mundo” só volta a ficar evidente no capítulo 9, quando não fica clara a distinção entre trabalho(s) nas mídias sociais e o que seria – pelo menos indicado pelo título do livro – um trabalho de monitoramento/métricas.

E então, vale a leitura? Sim. Ainda que tenha alguns probleminhas (nem tão diminutivos assim), é um clássico do mercado de monitoramento/métricas e de mídias sociais como um todo. Se eu fosse estagiário (eu era, quando aquiri), leria para começar a me familiarizar com termos, questões e processos do trabalho. Se fosse CEO, também leria me familiarizar com termos, questões e processos do trabalho. É um livro básico (nem tão básico assim) para quem trabalha e/ou deseja trabalhar com monitoramento/métricas e social media em geral. Ajudou a moldar todo um mercado e continua atual em vários sentidos.

MONTEIRO, Diego; AZARITE, Ricardo. Monitoramento e métrica de mídias sociais: do estagiário ao CEO – um modelo prático para toda empresa usar mídias sociais com eficiência e de forma estratégica. São Paulo: DVS Editora, 2012.

Profissão Social Media: métricas – da teoria à prática

Embora tenha optado por finalizar a série Profissão Social Media com o tema Métricas, acho importante desde já – e é algo que será recorrente durante todo o texto, aparecendo nas respostas das(os) várias(os) entrevistadas(os) – que a mensuração de dados não é (ou pelo menos não deveria ser) somente uma prestação de contas. Por mais que o trabalho de métricas esteja comumente associado à produção de relatórios para apresentação resultados (de campanhas, ações e esforços de comunicação em geral), isso não significa que ele se limita ao final do ciclo de produtividade do marketing digital.

Antes de entrarmos nesse debate, entretanto, apresento (pela última vez) a série Profissão Social Media sem conhecê-la: tudo começou no post  “Profissão Social Media: áreas de atuação e fontes para estudo” que fiz no final de 2016 com a ajuda de Mayara MendesMari Ferreira e Juliana Freitas. Desde então, produzi durante todo o ano de 2017 mais outros cinco posts específicos sobre cada uma das áreas listadas: monitoramentoplanejamentocriação de conteúdorelacionamento e mídia. Em setembro, já tendo entrevistado os profissionais de métricas, tive a oportunidade também de ser selecionado (graças a algumas dezenas de pessoas que votaram em mim!) para palestrar na nona edição do Social Media Week São Paulo.

Para fechar toda essa experiência com chave de ouro, apresento enfim os últimos 10 profissionais que tive o privilégio de entrevistar para este último episódio da série: de São Paulo, Gabriel Ishida, Pri Muniz, Cinara Moura e Karol Oliveira; do Rio de Janeiro, Gustavo Esteves e Marcos Malagris; de Porto Alegre, Vitória Comarin e Meiriane Jacobsen; de Salvador, Florilson Santana; e de Brasília, Ariadna Neves. Com esses nomes de peso, fecho oficialmente a lista de participantes do Profissão Social Media: foram 60 entrevistados de 15 estados diferentes (com direito até a participação internacional) e níveis hierárquicos variados, o que espero ter colaborado para narrar as diferentes perspectivas e realidades da profissão social media em todo o Brasil. Pela última vez, portanto: vamos lá!? 🙂

Métricas: o que é, como faz, onde entra?

Pode parecer mais antigo, porém foi apenas em 2009 que o Facebook inaugurou seu famoso botão de “Like”. Desde então, as mídias sociais – e eu diria até que a tecnologia em geral – têm se tornado cada vez mais metrificadas – o que, consequentemente, tem gerado várias discussões e debates sobre a ansiedade que essas curtidas (ou a falta deles) nos causa. Por mais que essa perspectiva do tema não nos interesse, é um bom ponto de partida óbvio para imaginar mais ou menos de onde parte o trabalho de métricas para mídias sociais: “Trata-se de medir e interpretar dados de redes sociais digitais”, sumariza Florilson Santana, Digital Planner na Tempo Propaganda. “No escopo Micro está em analisar o desempenho online de marcas e campanhas. No escopo Macro, está em comparar, gerar insights, construir parâmetros e dados estatísticos”.

Em consonância, Gabriel Ishida, consultor de inteligência e influencer marketing, complementa: “O trabalho de métricas trabalha com o campo de indicadores, ou seja, lida desde com a metodologia e operacionalização até análise e manuseio de dados”. Pensando esse trabalho como um processo, Marcos Malagris, da Coca-Cola, evidencia três estágios: “1) trazer o status de uma campanha ou ação de comunicação, ou seja, se está performando de acordo com os objetivos; 2) trazer insights e mais textura sobre a percepção da campanha, dos produtos e da marca pelo consumidor, assim como outras questões de seu comportamento e; 3) apresentar planos de ação para o ajustes na campanha, produtos ou marca”. De certa forma, portanto, poderíamos pensar o trabalho com Métricas a partir das perspectivas de (1) avaliação, (2) análise e (3) aprimoramento.

Eu considero o trabalho de métricas como uma extensão da área de pesquisa. Isso porque, assim como a pesquisa, o objetivo dessa atividade é compreender o contexto interno e externo em que a organização está inserida para reduzir incertezas e encontrar oportunidades para a sua atuação. Dentro da comunicação, o trabalho de métricas está muito relacionado com a elaboração de diagnósticos para embasar o planejamento, além do controle e da avaliação de resultados de campanhas digitais. Mais especificamente dentro da atividade de Social Media, as métricas servem para mensurar a presença online e o desempenho das ações realizadas dentro dos canais digitais de uma marca.

Vitória Comarin, Analista de Métricas na Pmweb

Entendendo o trabalho de métricas, portanto, como interpretação de comportamentos, Pri Muniz, Insights na Mutato, pontua: “Métricas é sobre medir. E medimos para entender. Quando falamos de métricas muitas pessoas acham que é algo difícil, mas não é. É simples. Quando entendemos que ao falar de números, ações, resultados, etc., na verdade estamos falando sobre o comportamento de pessoas, sobre suas reações, tudo fica mais humano e claro. Então, em resumo, o trabalho de métricas é sobre entender pessoas”. Para ela, o profissional de métricas deve descobrir com as pessoas estão pensando, “entender o que estimula uma pessoa a interagir com um conteúdo”, além de se propor a “entender quem ela é, quais as suas motivações, gostos e preferências”.

“Isso fica claro quando paramos para analisar métricas como a retenção de um vídeo, por exemplo. Temos que nos colocar no lugar daquela pessoa: o que será que ela estava fazendo quando foi impactada pelo vídeo? Por que ela clicou? Por que ela desistiu? Por que ela continuou? É preciso humanizar números. É preciso entender que números são pessoas”, explica. Não é por acaso que, no início da década, monitoramento e métricas andaram por muito tempo lado a lado. Embora sejam disciplinas diferentes, ambas são – de certo modo – metodologias de “pesquisa”, no sentido que as duas se propõem a investigar e averiguar (com diferentes instrumentos e sob diferentes propostas) contextos específicos da comunicação e comportamento digital dos usuários.

Sob perspectiva mais técnica, Meiriane Jacobsen, Product Manager na SimilarWeb, acrescenta: “O trabalho de métricas consiste em observação e análise constante da estratégia de comunicação/marketing, não somente avaliando a forma como estamos comunicando, mas principalmente com o viés de investigar o reflexo da estratégia no público, ou seja, como ele se comporta diante da nossa ação de comunicar”. Pensando em marketing, portanto, explica: “É esse trabalho que vai garantir o conhecimento necessário sobre o nosso público (o que o agrada ou não) e possibilitar a tomada de decisões mais adequadas com os nossos objetivos de marca. […] Em mídias sociais temos um contexto em que a marca não tem total controle sobre como as pessoas vão se apropriar da sua mensagem, e justamente por isso precisa ter um olhar mais atento sobre o que acontece por lá”.

Trabalhar com métricas consiste na coleta, avaliação, análise e elaboração de insights a partir de variáveis pré-definidas utilizadas para quantificar tendências ou comportamentos. As métricas, sejam elas de Marketing, numa visão mais generalista, sejam numa visão mais especializada de mídias sociais, devem estar sempre atreladas ao objetivo para cumprirem seu papel de mensurar e apontar caminhos.

Cinara Moura, Gerente Digital das revistas Trip e Tpm

Afunilando ainda mais o trabalho em suas especificidades, é importante lembrar que este – como todos os outros que vimos nessa série – deve acontecer por algum motivo. “O trabalho de métricas consiste em selecionar, mensurar e analisar os sites, redes sociais e demais portais de informação perante um objetivo”, ratifica Gustavo Esteves, CEO do Métricas Boss. “Não importa que tipo de rede social, empresa e ou site é, TODOS possuem algum objetivo, nem que seja o compartilhamento da informação – o trabalho de métricas é de fato selecionar essas métricas para poder medir e justifica o fracasso ou sucesso do objetivo. No aspecto micro, o trabalho é de acordo com cada métrica selecionada, mensurar, analisar, justificar e criar ações para manter ou melhorar uma métrica”, complementa.

Nesse sentido, é compreensível a associação comum do trabalho à ideia de prestação de contas, conforme aparece na fala de Ariadna Neves, Coordenadora de BI da Isobar: “De forma simples, trabalhar com métricas consiste em dar ‘feedback’ de ações realizadas. São elas que fornecerão informações sobre a atuação e como ela está sendo recebida pelo público. Não as analisar é desperdiçar tempo e dinheiro sem saber se os esforços estão ou não gerando resultados”. E complementa: “Com o boom digital, principalmente das mídias sociais, o ato de medir se tornou ainda mais fundamental, tendo vista o crescimento do interesse das marcas por melhor desempenho com baixo investimento e alta rentabilidade. Costumo dizer que trabalhar com métricas consiste em medir e construir, construir e medir”.

“Para isso, são necessários profissionais que entendam o processo de comunicação e tenham uma visão crítica sobre ele, mas que também dominem metodologias de pesquisa e mensuração, o que não é um perfil muito fácil de encontrar”, explica Marcos Malagris. “Esse profissional será o responsável por atuar como consultor em parceria principalmente com o planner da campanha, mas também com os times de criação e mídia, construindo conhecimento e aprendizados validados que possam ser aplicados para melhorar os resultados” (MM). Há, portanto, várias oportunidades pela frente, como aponta Karol Oliveira, Data Strategist na Wieden+Kennedy: “Quando se trabalha em uma agência, você acaba lidando com mais de uma área pra poder analisar uma campanha, já que ela pode atuar em várias frentes ao mesmo tempo”.

E como faz?

Eu acredito que uma das coisas mais bacanas de se trabalhar com métricas de social é o dinamismo na rotina. Obviamente que há atividades que fazem parte do dia a dia da maioria dos profissionais, como detectar possíveis problemas ou crises, mapear oportunidades, avaliar performance de canais em épocas de relatórios, classificar menções, mas as mídias sociais oferecem um ambiente em que se manifesta o ápice da complexidade, num cenário que muda na mesma velocidade dos resultados da telesena: de hora em hora. Não são raras as ocasiões em que o fluxo planejado é alterado por circunstâncias que surgem ao longo do dia, como uma nova demanda, um mapeamento que não existia anteriormente ou a solicitação de novos dados para embasar algo. Por isso, é fundamental que os profissionais tenham a flexibilidade necessária para buscar o equilíbrio entre o que foi planejado no começo do dia e o que foi de fato realizado, evitando a ansiedade que pode emergir de um fluxo de trabalho tão dinâmico.

Cinara Moura, Gerente Digital das Revistas Trip e Tpm

De maneira simples (na prática), Ariadna Neves aponta três passos: acompanhamento, análise e report“No mundo ideal, […] com o auxílio de uma dashboard, o profissional de métricas precisa verificar a performance dos indicadores-chave (KPIs) dos canais proprietários dos clientes, além das métricas relacionadas ao monitoramento das redes. Encontrando qualquer inconsistência, ou algo que chame a atenção, seja uma variável de crescimento ou queda, ou mesmo uma descoberta, a métrica se transforma em objeto de análise. O profissional vai em busca do porquê. Por fim, ele gera algum tipo de relatório, trazendo conclusões, insights e sugestões”, descreve.

Esse processo resumido aparece, de diferentes modos, nas falas dos demais entrevistados, como assinala Meriane Jacobsen: “As principais atividades e funções são universais e consistem principalmente em: correr atrás das estratégias que estão sendo colocadas em prática para coletar dados, trabalha-los e analisar resultados (consolidados em um relatório)”. Mais minucioso, Florilson Santana aponta: “A rotina diária se resume em acompanhar o desenvolvimento das páginas das marcas e comparar com os dados colhidos anteriormente. O fluxo se divide em análises diárias de engajamento e interações, relatórios semanais comparativos e relatórios mensais de métricas gerais das mídias sociais de marcas e insights estratégicos para melhor desempenho do conteúdo digital”.

O profissional de métricas é o responsável por definir indicadores de desempenho, estudar o comportamento dos usuários dentro dos canais digitais das marcas, levantar insights a partir das informações retiradas dos dados analisados, identificar ameaças e oportunidades de atuação para a comunicação digital do cliente, realizar o controle das campanhas digitais em tempo real e avaliar os seus resultados. Entre essas atividades, a que mais ocupa tempo é a extração e análise de dados para a elaboração de relatórios.

Vitória Comarin, Analista de Métricas na Pmweb

Um ponto importante levantado pelos entrevistados é a responsabilidade por uma avaliação constante (e possivelmente em tempo real), desmitificando a ideia de que métricas é apenas um trabalho de prestação de contas: “É importante que o analista não fique esperando o mês acabar para olhar os números: deve olhar todos os dias para ter tempo hábil para agir. Claro que produzir reports é importante, mas eles devem mais sobre como os números saíram e o que foi feito para melhorar do que apenas reportar números e só agir no mês seguinte”, explica Gabriel Ishida. “Apesar de muito frequentemente o profissional de métricas atuar apenas ao fim de uma campanha ou ação de comunicação para avaliar seu sucesso, idealmente sua atuação deveria se dar antes, durante e depois de um processo de comunicação”, complementa Marcos Malagris.

“Trabalhar com métricas é ficar sempre em alerta. Medir é observar, constantemente, quais são os fatores que alteram o comportamento das pessoas em relação a um conteúdo, por exemplo. Fatores previsíveis, como o investimento de mídia, ou fatores imprevisíveis, que são orgânicos e, muitas vezes, difíceis de prever”, aponta Pri Muniz. Em sua colocação, faz questão também de lembrar o que há por trás de todos esses resultados: “Muitas vezes entendemos a pessoa responsável por métricas como alguém que está ali apenas para reportar resultados, números e entregar relatórios. Sim, funciona dessa forma. Porém, não podemos esquecer que todas as entregas, levantamentos e estudos têm como objetivo principal entender o comportamento de pessoas, muitas vezes traduzidos em números/ações”.

“De forma mais prática, as principais atividades são medir, estudar, entender e reportar. Como? Através de relatórios e conversas. Já o fluxo segue um modelo padrão: entendimento da necessidade e do que se precisa responder (briefing), planejamento, execução e entrega. Lógico, temos diversos formatos de trabalho. Tudo é bem maleável”, complementa. Sobre esse cenário, Vitória Comarin comenta: “Não vou mentir, a rotina de métricas pode parecer chata pra quem olha de fora. Exportar dados, organizar planilhas e analisar números não são exercícios muito dinâmicos, e, para quem não tem afinidade com a área de exatas, podem parecer atividades complicadas. Apesar disso, é com a análise de dados que conseguimos levantar a maior parte dos nossos insights e aprendizados, que são indispensáveis para a criação de estratégias e planejamento de campanhas que se comuniquem corretamente com o público alvo”.

Muito da rotina é acompanhar cotidianamente os canais do cliente que atende, acompanhar as campanhas que estão rodando, dialogar com as outras áreas (sendo em agência: mídia, planejamento, atendimento e até criação) para sempre estar atento às mudanças e estratégias que estão sendo tomadas, entender as histórias que os dados estão contando (entender o motivo de grandes variações, compreender o que tornaram determinados conteúdos destaque em relação ao resto, ver como o público está se comportando), tirar insights dos dados observados e compilar todas essas informações para informar isso ao cliente e a equipe com quem você trabalha (reports). Muito do dia a dia é lidar com planilhas de dados das mídias sociais do cliente e fazer análises comparativas de desempenho e performance. É muito sobre análise e senso crítico pra conseguir definir quais métricas trazem as informações que você precisa para responder as perguntas necessárias.

Karol Oliveira, Data Strategist na Wieden+Kennedey

“Quando se consegue ter um profissional de métricas trabalhando em um nível mais estratégico, ele irá conseguir se inserir em outros momentos do processo que não somente na parte final de consolidação os resultados em um relatório, como nas etapas inicias de planejamento, levando insights e aprendizados anteriores, e ajudando a definir os principais KPI’s do projeto”, explica Meiriane Jacobsen. “Nesse contexto, deve atuar como um consultor de negócios, ajudando a mapear os objetivos da ação e selecionar os melhores indicadores para serem acompanhados. Nesta etapa, o profissional deve trazer os aprendizados de campanhas anteriores para integrar o briefing e o planejamento em si, certificando-se de que o conhecimento está sendo construindo e aplicado campanha a campanha”, complementa Marcos Malagris.

É também nessa etapa de planejamento na qual será construído o protótipo para o diagnóstico da marca no contexto digital que serão definidos “quais serão os indicadores de desempenho gerais do cliente e quais os específicos de cada campanha”, como explica Vitória Comarin: “No caso de campanhas que direcionam os usuários para sites ou landing pages, o profissional de métricas elabora o plano de tracking da página, apontando para as interações (eventos) que devem ser quantificadas”. Gustavo Esteves complementa: “Caso seja um e-commerce por exemplo, a pessoa além de analisar custos das campanhas de facebook ads e instagram, analisará o SAC 2.0, engajamento e ROI. Se estamos falando de perfis mais institucionais ou de awareness, os principais pontos a serem analisados serão os retornos da sua campanha/postagens através de ferramentas como scup, live buzz e demais”.

Ariadna Neves chama a atenção para a diferença de senioridade desses profissionais: “É muito importante que as atividades e as funções do profissional estejam separadas entre júnior, pleno e sênior. Costumo inseri-las dentro da pirâmide do conhecimento, dessa forma, o profissional não pulará etapas e chegará mais completo ao último nível”, conta. “O júnior precisa estar na base, com os dados e a informação. Ter contato direto com os números, extraindo, minerando e tabulando. Já o profissional de nível pleno é aquele que vai transformar a informação coletada em conhecimento. Ele é o responsável pela análise. Já o profissional de nível sênior, em conjunto com o pleno, vai gerar os insights. Este profissional deve estar mais envolvido com outros times (planejamento, conteúdo, negócios…), além de realizar estudos e pesquisas com maior frequência”, explica.

Nesse tipo de gestão, é o profissional sênior que fica responsável por produzir (e apresentar) os relatórios: “É importante que estes reports não apresentem apenas resultados, mas sejam estruturados de forma a trazer o status (o objetivo está sendo atingido?), insights (o que aprendemos sobre a campanha e o consumidor?) e planos de ação (que ações podemos tomar para corrigir o rumo da campanha ou intensificar o sucesso nos resultados?)”, pontua Marcos Malagris. “Os reports podem ser enviados ou apresentados presencialmente (ou por calls), logo, é esperado deste profissional uma boa desenvoltura para falar em reuniões, de forma a conseguir trazer seus principais pontos e responder a questionamentos. É importante conseguir contar histórias a partir dos dados e ser bastante assertivo nas recomendações de planos de ação”, complementa.

Como se integra (com as demais áreas)?

Essa é uma pergunta que eu mesmo tinha bastante interesse nas respostas, pois, conforme discuti no post sobre Mídia, percebo cada vez mais uma união entre essas duas áreas no que hoje denominam Business Intelligence (ou BI). A área mais óbvia, portanto, era essa: “Quem lida com métricas de mídias sociais costuma ter que aprender bastante sobre mídia e sobre comportamento da audiência”, aponta Karol Oliveira. “As métricas fornecem as informações necessárias para a atuação de mídia, auxiliando na determinação de onde investir e também no acompanhamento do retorno desse investimento. Além disso, o profissional de métricas faz a análise do comportamento do usuário durante a implementação de testes A/B, apontando para a melhor forma de realizar a comunicação com um público específico através do investimento em mídia”, acrescenta Vitória Comarin.

No entanto, não é somente com Mídia que Métricas dialoga, conforme apontado em várias respostas: “Em um cenário ideal, Métricas deveria dialogar bastante com: planejamento, levando insights e aprendizados de projetos anteriores, e ajudando a definir os principais KPI’s do projeto; mídia, levando resultados e possibilidades de otimizações da estratégia enquanto a campanha ainda está acontecendo; criação, levando resultados de formatos específicos, linguagens e comportamento do público pensando em entender qual comunicação funciona melhor para o objetivo”, explica Meiriane Jacobsen. “As métricas dialogam praticamente com todas áreas: com criação, mostra quais conteúdos funcionam e quais tipos de engajamento o público apresenta em cada. Com planejamento, mostra dados de pesquisa e de contextos para embasar a estratégia. E, claro, com mídia, as métricas são o principal recurso para entender quais canais funcionam ou não”, reforça Gabriel Ishida.

Essa pergunta é complexa porque isso varia muito de acordo com os processos das agências e empresas, que mudam MUITO entre si. Isso difere muito de agência pra agência, ou mesmo de clientes. A forma com que cada empresa lida com as áreas de métricas está muito sujeita a sua cultura organizacional. Há agências onde Métricas é um braço de Mídia, funcionando como uma micro-área de melhoria de compra de mídia, analisando anúncios, e tem uma relação distante com outras áreas. Há outras onde Métricas mora em planejamento, como onde eu trabalho (na WK), sendo muito mais ligada a questões de objetivo e tendo um relacionamento com mídia muito mais de receber dados e informações, do que fazer parte desse processo de extração. Outras ainda veem métricas como o centro da agência, e as outras áreas se comunicam através dos insights de BI – mas essas são mais raras. E há também lugares onde métricas é quase ignorado, sendo isolada das outras áreas e ficando muito mais distantes dos processos (basicamente fazedores de relatórios). Em empresas, algumas a colocam no guarda-chuva do marketing, sendo um dos braços da área; algumas ficam alocadas em controladoria (determinando processos), TI (como o centralizador de informações), logística, ou ainda ser uma área à parte, tendo pontos de contato diretamente com todas as outras áreas.

Karol Oliveira, Data Strategist na Wieden+Kennedy

A já citada área de Criação também faz parte do relacionamento com o profissional de métricas: “Há um diálogo diário com as equipes de conteúdo e criação para mídias sociais. Gerando propostas criativas baseadas em dados reais existentes nas mídias sociais”, aponta Florilson Santana. Ainda nesse contexto, Vitória Comarin acrescenta: “Esse contato se dá pelo levantamento de insights e avaliação de resultados que sejam influenciados pelo aspecto visual das redes sociais. Também é bastante realizado durante Testes A/B, nos quais pode-se compreender melhor o comportamento dos usuários em relação às imagens utilizadas pela marca em seus canais digitais”. Além de Criação, ela também direciona o relacionamento com outras duas áreas: atendimento e desenvolvimento (front-end e back-end).

“Nas agências que possuem área de métricas bem estruturada, o atendimento é o responsável por entregar ao profissional de métricas as necessidades informacionais do cliente, fazendo com que as métricas estejam sempre alinhadas com aquilo que o cliente deseja descobrir”, explica sobre a primeira. “No caso de campanhas ou publicações nas redes sociais que levem o usuários até o site, é necessário implementar algumas tags específicas para que o acompanhamento das métricas através de ferramentas como o Google Analytics seja possível. O profissional de métricas entra em contato com esse profissional sempre que há a criação de um novo site, landing page ou campanha multi-canais”, acrescenta sobre a segunda. Mas e quanto à área de planejamento, citada desde o início? “[O profissional de métricas] é capacitado para levantar dados que podem compor o diagnóstico de comunicação da marca no âmbito digital”, aponta.

“Através desses dados, é possível compreender melhor o perfil e o comportamento do consumidor nas redes sociais; avaliar se o usuário que está em contato com a marca através desses canais é o mesmo definido como seu público-alvo; e enxergar as ameaças e novas oportunidades para a atuação das marcas dentro das redes sociais”, explica Vitória. “Além disso, [também] é o responsável pela determinação dos indicadores de performance que deverão ser analisados durante o controle e, posteriormente, na avaliação dos resultados digitais. Levando-se em consideração que a maioria das ferramentas de Web Analytics não fornece a análise retroativa de dados, é importante que o profissional de métricas seja inserido no processo de planejamento desde seu início, certificando-se que será possível mensurar os resultados corretamente” (VC).

Marcos Malagris também chama a atenção por essa integração entre planejamento e métricas: “Em um mundo ideal, estes dois deveriam ser os maiores parceiros, de modo a construir um plano de comunicação focado em atingir os objetivos delineados no briefing”, argumenta. Ele aponta a realidade do profissional de métricas em três contextos diferentes:

  1. Agência: “O profissional de métricas também terá interface com o cliente, através da figura do gerente de comunicação ou congênere, responsável por prestar contas sobre o plano executado para o resto da empresa”.
  2. Cliente: “Já no contexto do cliente, não é tão comum existir um profissional especializado em métricas, com exceção de grandes empresas, onde estes profissionais trabalham em parceria com a agência para construir aprendizados que possam ser incorporados nos processos. Para isso, esse profissional terá contato com diversas áreas da empresa, como o gerente de comunicação responsável pelo plano, a área de pesquisa, os gerentes de marca, entre outros”.
  3. Empresa: “O papel desse profissional é atuar não só como um tradutor dos dados e informações, para que possam virar conhecimento e serem incorporados nas ações de comunicação, mas também ser um consultor e parceiros de negócios, ajudando a influenciar os planos de comunicação e de negócio”.

Acredito que o trabalho de métricas em comunicação enquanto um departamento específico é uma condição temporária. Os conhecimentos desta disciplina deveriam estar distribuídos entre as outras áreas de uma agência de comunicação (por ex. atendimento, criação, mídia e principalmente planejamento), afinal, o trabalho com métricas nada mais é do que trabalhar de forma a alcançar um objetivo específico, delineado durante o planejamento da campanha. Entre o time que trabalha com mídia, com certeza o conhecimento de métricas já é mais saliente, mas entre os demais profissionais ainda não é tão disseminado e muitas vezes causa um pouco de repulsa, por se tratarem de números. Em um estágio de maturidade mais avançado, acredito que o trabalho do profissional de métricas se dilua entre os demais departamentos, como por exemplo o atendimento e planejamento mapeando os principais objetivos da campanha e quais métricas e metas serão perseguidas e o time de criação e mídia acompanhando os resultados e adaptando o conteúdo e sua veiculação.

Marcos Malagris, Media Intelligence Supervisor na Coca-Cola

Independente da área, o que todos os entrevistados relataram em comum é a necessidade por algo que humildemente denominei “cultura do analytics”, uma ideia de integração e essência de todo o trabalho de comunicação digital: “Sempre digo que métricas devem ser a obrigação de QUALQUER empresa. Falei muito disso aqui TODAS as áreas precisam falar com a área de métricas, seja para entender um comportamento, para medir alguma informação ou para pensar em uma nova funcionalidade e ou campanha. A área de métricas poderá enxergar o potencial disso e ajudar a ajustar”, aponta Gustavo Esteves. “É incrível pensar como esse trabalho pode influenciar praticamente tudo. Vivemos medindo tudo em nossa volta. E quando falamos de agências, que divulgam produtos, serviços e conteúdos, toda análise de comportamento é uma contribuição”, reforça Pri Muniz.

“A área de dados deve ser o centro. Para qualquer ação ou nova ideia deve-se antes analisar dados, sejam eles ou não do ambiente digital. É o que chamamos de análise preditiva, que nada tem a ver com prever o futuro, mas analisar o passado para ter mais chances de acertar no futuro”, explica Ariadna Neves. Para superar o desafio de mostrar a importância dos dados e torná-los interessantes para as outras áreas de uma agência/empresa, ela conta sua própria experiência: “Normalmente levanto alguns insights, junto os responsáveis de cada setor e realizo uma apresentação. Nesse caso, não levo um relatório, pois pode ser muito chato para alguns. Vou pontuando os insights e explicando exatamente o que aconteceu, dessa forma, proporciono discussões e brainstorm”.

“Eu bato muito na tecla de que as métricas restritas ao trabalho dos analistas de dados não servem para nada. Um trabalho de inteligência de dados só faz sentido se for compreendido, validado e defendido por diferentes áreas de uma agência ou cliente e, para isso, é necessário desenvolver empatia, utilizar a mesma linguagem das áreas demandantes e mostrar como os dados podem ser úteis para todos”, acrescenta Cinara Moura. “Requer sair da bolha de quem realiza um trabalho técnico e dialogar com outras especialidades e isso exige muito esforço, pois é necessário sentar ao lado de quem pensa diferente, dedicar um tempo na argumentação e, muitas vezes, mostrar na prática como os dados podem ser úteis. Isso porque só quando percebem a real utilidade outros departamentos pedem por dados”.

Quando falamos de integração, precisamos deixar um pouco os modelos de trabalho de lado e voltar a focar em pessoas. Dessa vez, nos profissionais. Integrar áreas é sobre integrar pessoas. Podemos ter um modelo de trabalho integrado incrível, mas sem pessoas dispostas, que se entendem e conseguem dialogar juntas, nada disso sai do plano das ideias. Por isso o trabalho de gestão e construção de equipes é tão importante. Outro fator é o tempo: como integrar se as pessoas estão ocupadas demais para conversar? Integração é sobre construir junto, não sobre cada um fazer a sua parte. Métricas faz integração quanto é parte de todo o processo. Faz integração quando as pessoas, não as entregas, se juntam. Seja em entregas prévias para o planejamento sobre o entendimento de pessoas, seja em análise de performance e conversas relacionadas ao conteúdo para a criação.

Pri Muniz, Insights na Mutato

E onde estudar? Por onde começar?

É bastante comum que profissionais interessados em ingressar na área de Métricas busquem, como ponto de partida, cursos sobre o assunto – como foi o meu caso, por exemplo. No entanto, após alguns anos desse feito, venho a acreditar que o aprendizado prático (de ferramentas, geralmente o que as pessoas mais se preocupam em aprender) deve ser secundário em relação ao aprendizado de mercado. Nesse sentido, eu e Karol Oliveira estamos em consonância: “A pessoa que tem interesse em trabalhar com métricas precisa conhecer sim sobre o uso das plataformas e ferramentas principais, mas isso é algo possível de se aprender no dia-a-dia e é uma coisa que pode mudar muito a cada atualização. Ou seja: é muito mais importante desenvolver o racional por trás do uso das plataformas/ferramentas do que dedicar todo seu tempo a isso”.

“Aprendi a mexer por exemplo no Google Analytics, Scup entre outras abrindo a ferramenta e fuçando, mas tenho TOTAL certeza que isso só foi possível pois eu tinha um aprendizado amplo sobre negócios, métricas, redes sociais e demais infos. A ferramenta ela é um meio e não um fim, o início é você saber o que quer encontrar nela, o meio é ela ter responder e o fim é a ação que você vai tomar com aquela informação”, conta Gustavo Esteves. “Eu acredito que o conceitual seja o primeiro passo e deva partir de um entendimento mais amplo. Busque entender sobre negócios > marketing > comportamento > mídias sociais, formando um funil de desencadeamento lógico em que é possível entender o porquê das coisas. Se você for direto pro topo do funil, ou seja, ferramentas, corre o risco de se tornar um profissional raso que se limita ao entendimento técnico e que tem cada vez menos espaço e valor no mercado”, acrescenta Cinara Moura.

Existem vários cursos presenciais e online que trazem uma ótima base de conhecimento, que você ir adquirindo independente de já estar na área ou não e ir se preparando pra quando estiver. Mas se a verba está curta para investir nisso, existem canais do Youtube que ensinam excel, blogs e sites (como esse!) que trazem informações bastante didáticas sobre a área. Sem contar que é sempre bom ficar de olho em profissionais de referência no mercado para acompanhar o que eles vem produzindo de conteúdo.

Karol Oliveira, Data Strategist na Wieden+Kennedy

Já Meiriane Jacobsen acredita no equilíbrio entre as partes: “Eu diria que 50/50 [do aprendizado deve ser técnico ou de negócios], porque é um reflexo da profissão, que é especialista (dados, métricas, ferramentas) mas precisa analisar o mundo real e seu contexto (seres humanos, clientes, comunicação, empresas)”. No entanto, ela chama a atenção para a importância do conhecimento técnico como base da interpretação de negócios: “A base técnica do profissional tem que ser boa para ele ter uma visão correta dos dados, então não adianta ter visão de negócios mas não saber como a ferramenta faz para capturar e calcular determinada métrica, pois esse profissional poderá estar tomando conclusões sobre (apenas) interpretações”. Um profissional que deseja iniciar os estudos para atuar no campo de Métricas deve, portanto, começar por onde?

“Para aqueles que estão iniciando, acredito 90% do aprendizado deve ser técnico e 10% estratégico, visto que há uma necessidade maior do domínio das ferramentas e dos processos. Sendo bem orientado e focado, a parte estratégica crescerá gradativamente, juntamente com a capacidade de correlação e de cognição. É provável que, atuando como nível pleno e sênior, essa proporção se transforme em 40%-60%. A parte estratégica, voltada para análise dos dados e negócios, será o diferencial desse profissional”, aponta Ariadna Neves. “O uso de ferramentas pode ser feito de forma autônoma, mas a forma como olhar os números deve ser aprendida em cursos ou no ambiente de trabalho. A parte estratégica eu creio que você só consegue aprender se envolvendo com isso no dia a dia de trabalho, então, acho difícil aprender de forma autônoma”, opina Gabriel Ishida.

Hoje, com acesso à internet, é possível aprender qualquer coisa de maneira autônoma. Para mim, o aprendizado técnico nunca foi ponto decisivo em uma contratação. Estou falando que ele não importa? Claro que não, estou falando que a técnica é algo que podemos aprender de diversas maneiras, o mais importante é entender o comportamento das pessoas. É pensar. Cada marca, cada negócio e cada segmento demanda conhecimentos específicos. Estou falando que conhecer culturalmente quem são as pessoas e como elas se relacionam, para mim, vale muito mais do que uma técnica. Na minha lógica, para uma contratação, o conhecimento amplo fica com uma fatia de 80% e o técnico 20%.

Pri Muniz, Insights na Mutato

Para estudar, há diversos caminhos: “Tem muito material gratuito disponível na web, e muitos cursos bons sendo ministrados atualmente. Eu mesma, quando comecei, aprendi a maior parte do meu conhecimento técnico sozinha, lendo e fuçando em fóruns. Não tinha cursos e tinham pouquíssimos materiais disponíveis (e em português não tinha quase nada, a não ser materiais do Google, pioneiro nisso)”, conta Meiriane Jacobsen. “Parece uma dica boba, mas procurar no Google pelas ferramentas e habilidades que você quer aprender ajuda muito. Foi assim que eu descobri que o Google Analytics, o Google AdWords e tantas outras ferramentas oferecem cursos gratuitos e certificações que contam muito pro mercado. Hoje em dia, até mesmo o próprio Facebook oferece curso e certificações com preços acessíveis. Algumas das plataformas que eu recomendo: Escola do Marketing Digital, Google Analytics Academy, Facebook Blueprint, Coursera, Veduca, compartilha Vitória Comarin.

“Acho importante mencionar que, quando eu ingressei no mercado, já estava na universidade. Para quem não teve a oportunidade de cursar ensino superior ou técnico, acho de extrema importância ir atrás de conhecimentos mais amplos sobre Comunicação (principalmente Relações Públicas) e Marketing. […] Para quem quer ir mais além, recomendo os estudos sobre matemática, estatística e, principalmente, computação. […]”, complementa. Já Marcos Malagris segue de acordo, mas aponta também a necessidade de, para além de estudar, produzir: “É possível estudar de maneira autônoma, mas a melhor forma de aprender sempre será na prática, com algum estágio ou projeto pessoal. Felizmente, hoje em dia todos podemos criar blogs, páginas no Facebook e Canais no Youtube, por exemplo, o que já oferece uma boa quantidade de dados para começar a aprender de forma prática”.

“Vejo 4 grandes pilares de conhecimento no trabalho com métricas: estatística, ferramentas/programação, o negócio/mercado em questão e comunicação. Acredito que a parte técnica seja mais ‘fácil’ de ser aprendida. Um livro básico de estatística já ajuda a ter uma noção inicial para executar as análises (uma boa dica é o livro Estatística para Ciências Humanas). Quanto ao conhecimento ferramental e de programação, felizmente temos inúmeros tutoriais online e gratuitos das principais ferramentas e linguagens de programação utilizadas”, complementa. “O conhecimento teórico e crítico dos processos de comunicação geralmente é aprendido na faculdade, com uma ampla bibliografia de teóricos de comunicação, enquanto a parte de negócio, que não costuma ser muito bem trabalhada em uma faculdade de comunicação, normalmente é adquirida na experiência de dia a dia de trabalho ou aprofundada em um MBA. No entanto, é possível correr atrás desses conhecimentos por conta própria, pedindo indicações de bibliografias e estudando de forma autônoma” (MM).

Iniciei minha carreira como Social Media, trabalhando muito mais na área de conteúdo do que de métricas e aos pouquinhos fui buscando entender melhor como eu poderia utilizar os números ao meu favor. Eu era estagiária, e a gente sabe que nem sempre os lugares que trabalhamos nos ensinam tudo aquilo que precisamos saber (e é aí que a tal da proatividade chama), então fui correndo atrás. Lembro que aos 18 anos eu olhava o perfil do LinkedIn de profissionais já estabelecidos no mercado, principalmente na área de Business Intelligence, e buscava pelas qualificações que eles tinham em comum, tentando me espelhar neles. Nessa busca por conhecimento, fui procurando tutoriais no YouTube, jogando tudo que eu queria entender melhor no Google e aprendendo. Hoje, aos 21 anos, percebo que essa prática foi extremamente importante para meu crescimento profissional.

Vitória Comarin, Analista de Métricas na Pmweb

Por fim, Karol Oliveira chama a atenção do repertório de aprendizado para além da técnica e da teoria: “Adquirir informação e conhecimento que ajudem a desenvolver o racional para solucionar problemas e responder perguntas é o mais importante para o profissional de métricas. Ele sempre terá um problema que precisa ser ‘solucionado’/respondido e desenvolver o caminho que vai ser seguido para encontrar essas respostas é o mais importante. Esse senso crítico que quanto maior a diversidade da base de conhecimento do profissional, melhor”, aponta. “Além de conceitos de comunicação, é importante entender de estatística básica e o excel vai ser sempre seu melhor amigo! Se você já está na área é muito importante estudar o segmento do cliente que atende e como funciona seu negócio, isso vai ser muito importante na hora de analisar os dados, assim como definir KPIs e etc”, destaca.

Numa perspectiva mais pessoal, Cinara Moura compartilha sua experiência com a prática do aprendizado: “Acredito que o primeiro passo seja um movimento de autoconhecimento, ou seja, buscar entender como você aprende mais, como você assimila mais facilmente o conhecimento, que tipo de evolução te desperta a se dedicar mais, etc.”, conta. “Eu, por exemplo, tenho uma necessidade de escrever, esquematizar, pois sou extremamente visual, e também aprendo muito quando compartilho conhecimento – o que é bom pois tenho me dedicado muito às atividades docentes. Sabendo disso, tento compartilhar com minha rede mais próxima o que aprendo a fim de obter novas perguntas e pontos de vista e, assim, ir aprofundando o conhecimento” (CM).

Como entrar no mercado?

Tendo em vista que este já é o sexto post da série Profissão Social Media, pode soar repetitivo, mas não há para onde fugir: a resposta é sempre estudar e produzir. “Estudar os materiais disponíveis e tentar por em prática em algum projeto pessoal ou voluntário, depois procurar uma oportunidade onde possa ir consolidando esses aprendizados e vivenciando cada vez mais a cultura de métricas”, aponta Meiriane Jacobsen. “Creio que principalmente se aprofundar em cursos e estudos frequentes sobre comunicação digital, de forma ampla e segmentada”, acrescenta Florilson Santana. E Gabriel Ishida complementa – e ratifica: “Além de fazer cursos técnicos (tanto presenciais quanto online), também buscar se informar sobre novidades da área (ex: novos métodos de extração de dados) e pegar jobs voluntários para montar portfólio. É importante demonstrar alguma experiência, mesmo amadora”.

Cinara Moura também toca nessa tecla, mas levando em conta também o momento de “pós-produção”: “[Forme] uma rede de contatos relevante e que realmente agregue em sua formação. Falo aqui de pessoas reais, não de supostos gurus, cujo trabalho você só conhece de cases de internet. Fale com seu professor, converse com seus colegas, faça cursos que tenham outras pessoas inteligentes querendo aprender tanto quanto e com você, vá formando vínculos reais, pois a partir deles você será lembrado”, pontua. “Além disso, investir em personal branding é fundamental. Vá criando reputação a partir dos cursos que você fez, de matérias que você leu, de coisas que te deixam inquieto. Como? Escrevendo, compartilhando, gravando vídeos, batendo papos. Mas é importante lembrar que isso dá muito trabalho, pois, na área de mídias sociais, assim como na vida, nada vem sem esforço”.

Como o primeiro estágio é sempre difícil, sugiro se qualificar por conta própria através de cursos e certificações online e da criação de um projeto pessoal. Para os cursos online, sugiro tirar as certificações do Google em Google Analytics e em Google Adwords. O material de treinamento deles é muito bom e os certificados vão pesar no currículo. Paralelamente, se possível, o ideal seria tentar se qualificar no uso do Facebook Ads. Com certeza existem muitos tutoriais gratuitos ou cursos de curta duração para conhecer o básico da ferramenta. [Ainda] a criação de um projeto pessoal como um blog, página no Facebook ou canal no Youtube vai ajudar bastante na construção desse conhecimento. Afinal, na otimização desse projeto você será obrigado a correr atrás de muita informação e análise de dados. Por fim, se o futuro profissional tiver recursos financeiros, ajuda bastante realizar cursos na área, que podem ajudar a fazer novas conexões profissionais e incluir a chancela no currículo.

Marcos Malagris, Media Intelligence Supervisor na Coca-Cola

É evidente, portanto, a importância de um projeto pessoal para ingressar na área – conforme descrevi nesse texto. Tire certificações gratuitas (escrevi sobre a Google Academy aqui), mas não deixe de colocar o aprendizado em prática! “Quem ainda está cursando a faculdade pode aproveitar as disciplinas que requerem a realização de trabalhos práticos para simular páginas nas redes sociais e analisar os dados registrados por elas, criando um portfólio”, indica Vitória Comarin. “Quando comecei a trabalhar com SEO e Web Analytics por exemplo, queria colocar em prática o que eu estudava em blogs. Sugeri para um amigo, dono de um site que eu assumisse isso para ele com custo 0, mas se eu fizesse alguma merda ele não tinha o direito de reclamar! […] Acredito que os jovens podem tentar sair do convencional e propor nem que seja para uma página de facebook de bairro isso. No mínimo se ele mostrar resultados poderá salvá-lo como case e ou a empresa pode contratá-lo depois”, conta Gustavo Esteves.

Pri Muniz, como alguém que sempre divulga vagas para a área, oferece algumas dicas pontuais: “Além de fazer como o nosso querido ET Bilu e buscar conhecimento, vale fazer um check-list simples. Uma sugestão é: leia a descrição da vaga. Se encaixou? Sabe fazer tudo? Faz um textinho simples, direto e simpático sobre você, seu trabalho e porque está se candidatando. Não se encaixou porque está inseguro com algo ou é de uma outra área e está se arriscando em uma nova oportunidade? Faz um textinho contando sua história e mostrando seu interesse. Pessoas interessadas, que sabem escrever, sabem ser claras e diretas, sabem pra onde querem ir têm muito mais chances.”. E ainda: “Pesquise um pouco sobre o lugar e sobre a pessoa que você está entrando em contato. Acredite, os textinhos que falei vão ficar mais fáceis. Não esquecer das coisas legais que existem e que funcionam bem: um Linkedin organizado, um blog com textos sobre o que você faz ou pesquisa e um bom portfólio”.

É difícil porque o mercado de trabalho está ruim, então, muitas vezes pessoas de outras áreas, sem experiência, acabam enviando currículos para todos os lugares. Sou uma pessoa que contrata gente de diferentes áreas, muitas vezes gente que nunca trabalhou com insights. Se a pessoa possui a capacidade análitica e conhecimento cultural que acho necessário, sua área e experiência pode não ser decisiva. Por outro lado, vale um esforço do profissional que quer uma realocação, já que tenho consciência que muitos gestores não agem dessa forma. Infelizmente.

Pri Muniz, Insights na Mutato

Novamente, pode parecer óbvio, mas outra dica importante para quem deseja trabalhar com métricas é se familiarizar o quanto antes com sua principal fonte de trabalho: dados. “A primeira coisa é perder o medo de números. Eles são informações que contam uma história, se você enxergar eles assim a coisa tende a ficar muito mais fácil”, aponta Karol Oliveira. “Um bom conhecimento em Excel e facilidade com números são imprescindíveis para conseguir se adaptar à essa área. Além disso, o conhecimento geral de disciplinas da área de exatas, como matemática, estatística e computação, pode contribuir para destacar o currículo. Às vezes, para um cargo a nível júnior ou pleno, essas qualidades são mais importantes do que a experiência com as ferramentas de web analytics – isso porque as ferramentas de análise podem variar entre si, mas a base para utilizá-la é a mesma”, acrescenta Vitória Comarin.

Sobre isso, Karol também chama a atenção dos futuros profissionais: “Outra coisa é compreender que é uma área que muda quase completamente da noite pro dia; quando você acha que começou a entender como algo funciona, ele tende a mudar”. Para além disso, como já mencionado na integração com outras áreas, as habilidades com Métricas também podem variar: “É importante tentar entender todas as atribuições de métricas e em qual parte dessa área você quer entrar. Se você gosta de social, é importantíssimo entender quais as métricas fornecidas de cada uma das mídias sociais e como elas podem ser usadas. Se você está mais próximo de mídia, uma certificação em Google Adwords é um bom passo para se aproximar de diversos termos e conceitos da plataforma. Se você gosta de desenvolvimento, aprender a programar e fazer coleta de dados em APIs ou sites é um excelente caminho […]” (KO).

E compartilha sua própria história: “Quando eu estava em atendimento passei a estudar as demais áreas da agência com que eu tinha contato para que eu pudesse ser mais assertiva e respeitosa com relação a jobs (entender quais informações as áreas precisavam no briefing, como era seu fluxo de trabalho, como as coisas eram feitas e quanto tempo elas demoravam) e a equipe em si. E isso me fez conhecer a área de métricas e BI, e foi assim que me apaixonei por ela”. Ela conta que na agência em que trabalhava essa área nem sequer existia, por isso resolveu estudar por conta própria – o que a ajudou tanto a melhorar enquanto profissional de atendimento quanto a se preparar (e se descobrir) para a área de métricas – ainda assim, entretanto, a transição não foi fácil: “Existiu muito preconceito quando fui buscar oportunidade no mercado. As pessoas questionavam muito o por que de um atendimento querer virar BI, como se não fizesse o menor sentido pra elas”.

“Quando saí da agência em que estava, decidi dedicar meu tempo em achar realmente um trabalho na área. Pouco antes disso eu dediquei mais de um ano estudando diversos cursos da área de comunicação, social media, pesquisa, etnografia, monitoramento, análise de redes, métricas e business intelligence. E isso com certeza me ajudou com relação a minha falta de experiência, para entender melhor a área, para buscar colocação profissional e também no dia-a-dia assim que entrei”, conta. “Entender como o trabalho se distribui em uma agência e como costuma funcionar o diálogo com o cliente também me trouxe algumas visões diferenciadas pro meu processo como BI. Eu recomendo pra quem ainda não está na área estudar o máximo possível a respeito, isso mostra pras pessoas que podem te contratar que você é dedicado e está interessado no assunto” (KO).

Quando alguém demonstra interesse na área a qual trabalho, costumo revelar alegrias e também frustrações. É comum as pessoas se encantarem com aulas ou palestras, mas quando escutam que terão que trabalhar com números, cálculos e planilhas, costumam se assustar; e quando não se assustam, se frustram com o tempo. Tenho diversos casos de profissionais assim. Inicialmente o profissional interessado em realocação deve buscar informações. Descobrir anseios e frustrações de quem está a mais tempo no mercado é de grande valia. Estudar. Estudar muito. Cursos online, básicos e gratuitos, como os que existem no Cursera, podem ajudar. Realizar networking fará com que seja conhecido na área. Uma outra recomendação é a construção de um portfolio. Sugiro sempre iniciar com um estudo/pesquisa de monitoramento de redes sociais.

Ariadna Neves, Coordenador de BI na Isobar

Mas como é a área no Brasil?

Talvez você já tenha lido em algum lugar que uma das áreas mais efervescentes dos últimos anos é a de dados, principalmente para quem trabalha com comunicação/publicidade. Mas será que essa é uma realidade que ultrapassa as barreiras do polo Rio-São Paulo? “Eu já tive oportunidade de atuar com clientes do RS, SP, RJ e DF e vejo realidades que refletem a realidade socioeconômica de cada região. São Paulo concentra a maior fatia de investimento privado do país e tem uma cultura fortemente direcionada para o trabalho, o que impacta diretamente a realidade da comunicação, com uma pressão absurda por resultados – por um lado – e uma vanguarda quanto à inovação e à aplicabilidade de todo tipo de método. Os demais estados, apesar de terem ótimos profissionais e clientes, tendem a ficar à mercê de investimento menores, o que pode comprometer o potencial do Marketing Digital”, conta Cinara Moura.

Até mesmo no Rio de Janeiro, onde nós – retirantes – costumamos ouvir que as oportunidades são melhores, a realidade não é tão simples assim: “O mercado carioca é difícil, mas não é impossível. A disciplina de métricas ainda é de certa forma recente e muitas agências ainda estão em um processo de desenvolver esses departamentos”, explica Marcos Malagris. É importante ratificar, entretanto, que esse cenário descrito é específico para o profissional de métricas – como lembra bem Gustavo Esteves, no contexto mais abrangente das mídias sociais (e comunicação/marketing digital como um todo), as possibilidades são maiores: “Para redes sociais o mercado carioca está com bastante oportunidade. Se você pensar que todo estabelecimento tinha que ter um perfil BEM administrado nas redes sociais, temos uma oportunidade absurda. Muitas lojas estão fechando sim no Rio de Janeiro, mas temos outras de menor porte surgindo e fazendo da rede social a sua maior publicidade”.

Sendo assim, a sugestão de Malagris parece razoável: “Para quem está ainda começando a carreira, não indico se fechar totalmente a vagas para trabalhar com métricas. Muitas vezes é difícil encontrar a vaga dos sonhos e experimentar no início é fundamental para trazer conhecimento das outras partes do processo de comunicação. Também é importante ter em mente que no início muitas vagas de estágio ou assistente são uma espécie de faz tudo, que vai ter que ajudar desde a criação de conteúdo a avaliação dos resultados, o que é ótimo! No início é essencial conhecer um pouco de tudo”. Sobre a capital, aponta: “No Rio, temos oportunidades em agências, clientes, veículos e start-ups. Por não ser um mercado tão aquecido quanto o de São Paulo, o normal é você ser levado pelas oportunidades que aparecem. Na minha opinião, o principal desafio neste início é conseguir trazer valor e conquistar o espaço dentro da empresa”.

A impressão que eu tenho conversando com amigos de outros estados do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, é que mercado do Rio Grande do Sul ainda não desenvolveu todo seu potencial para a área de métricas. Existem profissionais extremamente qualificados no estado e agências com bastante competência e experiência no mercado digital que exercem esse serviço, mas as oportunidades de atuação são poucas. Acontece que os principais clientes se encontram na região sudeste do país, e como o assunto de métricas ainda é recente, o mercado do sul ainda não expandiu toda sua capacidade dentro dessa área. Digo isso porque vejo que a grande maioria das agências do Rio Grande do Sul ainda não oferece esse serviço aos seus clientes – ou, quando oferecem, se limitam ao modelo de relatório de acompanhamento semanal/mensal, sem explorar tudo que a área de métricas tem a oferecer.

Vitória Comarin, Analista de Métricas na Pmweb

“Brasília, por sua vez, traz ao Marketing Digital o desafio de trabalhar num contexto de órgão público, já que o ritmo e as exigências são ditadas por instituições governamentais”, conta Cinara Moura. “O mercado de Brasília é pequeno, com poucas empresas com núcleos de inteligência de dados, seja owned, earned ou paid media, mas é perceptível um crescimento nos últimos anos. Em geral, é mais comum ofertas de vagas mais generalistas”, complementa Ariadna Neves. Já em Salvador, Pri Muniz – há anos afastada do mercado – torce por progresso: “Quero ver a cidade evoluir nas discussões e nos investimentos”. E Florilson Santana, que continua no mercado baiano, aponta as mudanças com otimismo: “A Bahia ainda está crescendo na área de métricas, há excelentes profissionais, no entanto pouco explorados, sendo subutilizados como produtores de relatórios”.

É possível perceber na fala da maioria dos entrevistados – em diferentes lugares do Brasil – um problema constante: demonstrar ao mercado (local) a importância do profissional de métricas – ou simplesmente do trabalho baseado em dados (ou data-driven, como popularizado no mercado). Como, portanto, vencer esse desafio de mostrar que esse profissional não é somente um “mero produtor de relatórios” e sim um “parceiro que pode realmente trazer valor para o negócio”? Marcos Malagris orienta: “Esse espaço é conquistado aos poucos, pessoa a pessoa do time, através dos bons insights trazidos e da qualidade nas análises, sempre focando no problema em questão a ser resolvido ou no objetivo a ser alcançado”. Ou seja, não é uma situação fácil, mas é uma prova prática de que o seu trabalho vale a pena – e, portanto, tem o que mostrar para o cliente (ou para empresa onde trabalha).

Métricas para pequenas e médias empresas: o tal do ROI

“Return of investiment” – ou, em português, retorno de investimento – é um dos termos mais populares do marketing digital (embora seja muito anterior à própria internet). De maneira simples, como o próprio nome já indica, diz respeito ao cálculo que é feito em cima do que foi utilizado financeiramente para produzir os esforços de uma ação (campanha, post, etc.) em comparação com o que foi recebido em troca. A grande questão que ronda o mercado há pelo menos oito anos é: como calcular o ROI nas mídias sociais? Não há uma resposta simples nem uma fórmula mágica para isso – cada caso é um caso. Justamente por isso é necessário voltar o olhar para onde começou (ou deveria ter começado): o planejamento, responsável por definir desde o início o(s) objetivo(s) de qualquer esforço de comunicação.

“Acredito muito que os profissionais precisam saber sempre que o que fazem (na vida) é perante um objetivo. Por exemplo, se você entra na academia, talvez queira se manter saudável ou emagrecer; logo, seu objetivo está aqui! O que falta é antes de tudo as pessoas selecionarem os objetivos das ações/campanhas e depois as métricas que vão poder ajudá-los a medir o sucesso ou falha da mesma. As coisas JAMAIS devem ser feitas por achismo”, aponta Gustavo Esteves. E – mais uma vez – educar os clientes quanto a isso é papel dos próprios profissionais: “Fazer entender, por parte do receptor da informação a importância da definição de objetivos e KPIS é papel do analista”, argumenta Ariadna Neves. Esse é um processo necessário para descartar de vez – ou ao menos problematizar, no sentido mais benéfico da palavra, ou seja, questionar – as famosas “métricas de vaidade”.

“Por diversas vezes me deparei com clientes interessados em números de vaidades. Costumo dizer: ‘Número de seguidores é legal, mas você já experimentou olhar para essa taxa de retenção?’. A construção de um relacionamento com clientes focados em métricas de vaidade pode demorar, mas é importante ir mostrando pouco a pouco descobertas que o possam interessar, mesmo quando não solicitadas. Com o tempo ganhará confiança e estes mesmos clientes demandarão mais informações”, explica Ariadna. “O que um bom profissional faz é determinar um caminho de qualquer número ao sucesso da empresa: se você traça todas as ações e investimentos que a empresa faz para ter lucro (vendas, assinaturas, doações), é transparente e honesto quanto a isso, as métricas de vaidade desaparecem muito rápido”, complementa Karol Oliveira.

Ser coerente com o objetivo de uma ação ou objetivo macro de uma empresa na hora de traçar as estratégias limita o espaço de “métricas de vaidade”, porque os KPIs vão ser definidos com base no objetivo e as análises também. Quando as coisas são coerentes entre si, coisas que não levam a lugar nenhum caem por terra. E isso vai desde quanto investir em um post, até como fazer a segmentação, ou que tipo de anuncio comprar: ninguém que tem que traçar uma sequência de números vai dizer “o que nós temos é que conseguir followers para a sua empresa que faz caixas de papelão decolar!”, mas esses profissionais conseguem explicar facilmente porque há 10 segmentações diferentes rodando em patrocínios diferentes e como que o sucesso ou fracasso de cada um deve impactar.

Karol Oliveira, Data Strategist na Wieden+Kennedy

Meiriane Jacobsen chama a atenção do debate em torno das métricas de vaidade sob uma perspectiva ainda mais responsável, analisando cada contexto conforme necessário: “Não gosto de (pré)julgar métricas e dizer que elas não servem, afirmando, por exemplo, que impressões é pura vaidade, ou que não se pode esperar um ROI positivo em estratégias de mídias sociais. Para cada objetivo, precisamos ter um KPI. E é definindo isso antes da estratégia começar a rodar, deixando bem claro o que se busca, como se atingirá, e como mensuraremos o sucesso que se torna possível mostrar o valor de um trabalho realizado”. Ela explica que “é tudo uma questão de deixar claro que, se o que eu quero é visibilidade, eu vou buscar visibilidade, e não conversão, e vice-versa” – ou seja, cabe ao analista (ou à equipe, num cenário mais favorável) estabelecer o que será comprovado ou não.

O desafio maior, portanto, encontra-se nas pequenas e médias empresas, onde não há um departamento responsável por Métricas – mas somente um profissional/freelancer possivelmente “faz-tudo”. Nessa situação, o que fazer? “Existe um papel muito importante de educação do cliente, onde o profissional precisa descobrir o que é ‘valor’ para ele, qual é a sua necessidade, e, se for o caso, ajudá-lo a ver que com algumas estratégias você colhe resultados a médio e longo prazo, e o valor que se enxerga é muito mais simbólico do que monetário”, explica Jacobsen. Nesse contexto, para ajudar no processo (de argumentação), a distinção proposta por Pri Muniz para os tipos de objetivos – que podem ser de imagem ou de venda – parece bastante interessante: “Queremos estabelecer uma imagem para os consumidores ou queremos vender para esses mesmos consumidores? Mostrar valor envolve muita coisa”.

Sobre imagem, ela pontua: “Temos diversas formas de medir, que inclusive devem envolver trabalhos relacionados com pesquisa. Preferência de marca, aumento de conversas positivas, declarações de consumo, vendas. Tudo isso pode ser cruzado com investimento. Mesmo quando não estamos falando, diretamente, de resultados que batem no dinheiro”. Já no contexto de vendas, ela sinaliza: “Quando falamos de retorno de venda, temos a mídia e a estratégia de resultados, temos outros indicadores que não estão dentro das agências, mas sim em resultados de venda das empresas. Em 2017, ano que estamos presenciando a diversidade refletindo em vendas, precisamos entender que o retorno do investimento deve ser mensurado também como imagem de marca”. Essa é uma distinção difícil de ser feita, principalmente para pequenas e médias empresas, mas talvez seja o movimento mais apropriado para discutir ROI.

Eu acho que a compreensão do real valor de um trabalho de dados envolve o amadurecimento de várias partes da cadeia, tanto do lado das marcas, que ainda valorizam muito as tais métricas de vaidade, quanto dos fornecedores. Creio que evoluir é um processo e a única chance que temos de fazer isso acontecer é nos tornando profissionais melhores e tornando-se referências onde estamos atuando. Pode soar arrogante falar isso, mas, de fato, realizar um bom trabalho – seja num cliente milionário, seja com o zé da esquina ou com o freela – é a melhor forma de mostrar como os dados podem ser relevantes, como podem somar ao negócio, como podem facilitar a vida de todos. Depois que você faz um bom trabalho, a régua passa para um outro nível, num movimento de melhoria que não volta ao estado anterior e forma um ciclo contínuo de amadurecimento. É um trabalho que parece pequeno, mas contribui na prática para o desenvolvimento do mercado.

Cinara Moura, Gerente Digital das revistas Trip e Tpm

Mais pragmático, Gabriel Ishida aponta outros caminhos para debater o ROI: “Creio que a melhor forma de provar valor é trazendo dinheiro para o cliente. Em pequenos e médios isso fica até mais fácil pois há um controle maior sobre o que está recebendo de grana. […] Acho que a discussão de ROI tem crescido dentro os círculos de anunciantes e veículos devido ao amadurecimento na forma de olhar as métricas e isso acho super positivo para nossa área”, aponta. Para ele, o profissional precisa ter uma qualidade que denomina “variedade de rastreio”, uma espécie de portfólio com formas para mensurar os resultados. “Uma maneira simples de entender resultados de redes sociais é isolando a ação apenas nesses canais, ou seja, tudo que vier de resultados financeiros será atribuído às redes sociais. Ou ter vouchers e códigos especiais, mesmo em lojas físicas, que são distribuídos apenas nas redes sociais. Assim consegue se rastrear essas vendas”, recomenda.

“O essencial é estabelecer com o cliente do trabalho o que é ‘sucesso’. Qual o principal objetivo a ser perseguido, construção de marca? Retorno em vendas? Construção de comunidade? Uma vez que o objetivo de negócio e de comunicação estejam alinhados e claros para todos envolvidos, é hora de identificar quais as melhores métricas para representar o atingimento desses objetivos”, complementa Marcos Malagris. “É importante ter uma mentalidade de aprendizado, através de tentativa e erro. Começar com um palpite de qual melhor métrica a ser acompanhada e ao final de um processo entender se ela realmente se correlacionou com as vendas, por exemplo. Caso não tenha cumprido seu papel, a métrica pode ser substituída por uma segunda hipótese, e assim buscando os indicadores mais assertivos. Não é fácil, é um processo de aprendizado que precisa ser alinhado entre todas as partes” (MM).

“Nem sempre teremos uma análise de ROI como em um e-commerce, então é necessário alinhar qual a melhor métrica de comunicação para ser acompanhada, tentando sempre buscar a correlação com as métricas de negócio através de estudos estatísticos, por exemplo”, continua. Para ele, o grande desafio do trabalho com métricas é “conectar as pontas”, ou seja, encontrar a coerência entre os dados e os objetivos/metas: “O alcance ou a taxa de engajamento de uma publicação se relaciona com as vendas no final do mês? A temática de ROI é essencial, mas é apenas uma das pernas dos resultados de negócio. É a análise do retorno a curto prazo, enquanto a construção de marca trabalha no retorno a longo prazo, e não vai conseguir ser medida pela simples análise do ROI”.

O principal problema que eu vejo hoje dentro dessa questão são as entregas de resultados sem contexto. Além disso, as métricas ainda sao tratadas por muitos profissionais como apenas a mensuração dos resultados finais de uma ação. Se deu certo, o conteúdo segue no cronograma do próximo mês; se não deu, é substituído por outro. Mas não é assim que as coisas devem ser mostradas. É importante procurar a razão para isso, identificando tendências de comportamento que possam levar a agencia a aprimorar seu serviço e o cliente a perceber o impacto que as redes sociais tem não só na sua presença online, mas também na identificação de tendências no comportamento do consumidor e na coleta de informações capazes de influenciar o processo de tomada de decisão da marca. Para mostrar valor, eu acho importante mostrar também aprendizado, trazer informações e encontrar oportunidades que não seriam possíveis sem o trabalho de métricas.

Vitória Comarin, Analista de Métricas na Pmweb

E como a área mudou nos últimos anos? Para onde vamos?

Assim como todas as áreas que fizeram parte desta série, é inevitável contestar que os cenários mudaram bastante. Na área de métricas, algumas mudanças já foram apontadas nas falas dos entrevistados, mas vale ratificar: “Se pensarmos em métricas no passado, as pessoas ainda falavam muito em métricas de vaidade como page views, curtidas e demais. Hoje em dia isso ainda acontece e MUITO, mas com o advento das novas mídias e a publicidade cada vez mais tendo que mostrar seu retorno, as métricas necessitam de fato serem escolhidas da melhor maneira e medirem um objetivo”, conta Gustavo Esteves. “Atualmente, a gama de dados e de possibilidades de cruzamento de informações são muito maiores, antigamente, os profissionais ficavam presos a somente poucas informações disponibilizadas por somente algumas mídias sociais existentes”, complementa Florilson Santana.

“Quando iniciei na área, há quase 8 anos, ferramentas e métodos de trabalho eram bastante precários. Hoje, as redes sociais fornecem um número maior de informações, há ferramentas que possibilitam a integração de canais e o cruzamento de dados. Facilidades que otimizaram o tempo e possibilitaram mais dedicação à análise”, conta Ariadna Neves. “Evoluiu bastante as formas de mensuração e os métodos de coleta e visualização. Há uma preocupação maior sobre a parcialidade do dado, inclusive forçou o Facebook a terceirizar a mensuração de dados de mídia, por exemplo. Também houve avanços na mensuração de resultados de mobile, inclusive nas análises multicanais, em que conseguimos traçar o usuário único no mobile e no desktop”, compartilha Gabriel Ishida.

Oportunidade: Acredito que os profissionais de métricas terão mais oportunidades de trabalho dentro das empresas (digo, direto na empresa, sem intermédio da agência), porque é uma tendência a internalização dos serviços de marketing digital, e grandes empresas já sentem falta de pessoas especialistas em métricas que tenham uma aproximação maior do negócio.

Desafio: Com isso, o nosso desafio é cada vez mais conseguir “sair fora da caixinha de métricas” e conseguir conversar com outras áreas, ter uma visão de negócios, de marketing (como um todo, nâo só mídias sociais e digital), e entender as preocupações do alto escalão das organizações. Responsabilidade: Desde sempre depositam a expectativa de “ter insights” nas costas do profissional de métricas, e a partir do momento que o profissional de métricas está mais perto da estratégia, mais a responsabilidade de influenciar em decisões cairá sobre ele.

Meiriane Jacobsen, Product Manager na SimilarWeb

Marcos Malagris também chama a atenção para a evolução (ainda gradativa) do mercado de comunicação digital como um tudo: “No início, o trabalho de métricas era apenas mais uma das tarefas do analista, que se desdobrava para montar um plano, produzir conteúdo, responder os usuários e avaliar a performance das publicações. Com o crescimento no volume de dados coletados, as possibilidades de análise foram se mostrando mais promissoras, o que trouxe a necessidade de profissionais especializados”. Embora essa realidade ainda não seja predominante (principalmente no caso de freelancers), Karol Oliveira reconhece: “É bacana ver como métricas e BI mesmo deixou de ser uma área de empresas gigantescas e passou a ser realidade de pequenas agências e empresas. Há uns 10 anos, poucas agências tagueavam um site e muitas nem tinham uma área de digital. Hoje é impensável lançar uma campanha ou site sem ter como mensurar”.

“Mas acho que o que mais mudou foi o pensamento das empresas/agências com relação a consolidação e armazenamento dos dados, assim como manter um histórico com essas informações. Cada vez mais essas áreas passaram a ser acionadas no dia a dia e para se desenvolver estratégia, ao invés de só serem lembrados depois que a campanha acaba pra fazer um mísero relatório”, acrescenta Karol. Em consonância, Meiriane Jacobsen conta: “Ao passo que a cultura de métricas vai se consolidando nas organizações, as pessoas já sabem o que o que elas querem descobrir, e olham para as métricas certas em busca de respostas. E o profissional de métricas é o responsável por propagar essa cultura, com isso, o nosso trabalho está ficando cada vez menos operacional e mais estratégico. Na medida que vão aumentando as possibilidades de coletas de dados mais automatizadas, juntamente com o crescimento da maturidade dos clientes ao consumir métricas, conseguimos desempenhar um papel mais focado em consultoria, e não em ‘relatoria'”.

“Durante muito tempo essas áreas [de métricas e monitoramento] apenas trouxeram reports, apresentando os dados, o que é muito diferente de uma análise, que transforma esses dados em informação e conhecimento. Esse amadurecimento ainda está em processo, a medida que as empresas e agências deixam para trás a ‘data curiosity’ para tentarem ser realmente ‘data driven’. Não basta coletar e apresentar os dados, é preciso transformá-los em conhecimento e planos de ação para a companhia”, ratifica Marcos Malagris. “Hoje, há um entendimento mais claro da importância das métricas, de um bom relatório, de inserir dados em uma concorrência ou planejamento […]. No entanto, o desafio atual está no COMO fazer com que esses dados sejam realmente relevantes e comportem inteligência, o que demanda tempo de desenvolvimento e amadurecimento dos profissionais da área a fim de que estejam prontos para responder esse como conceitualmente e na prática, já que há muito nos acostumamos com o primeiro cenário”, complementa Cinara Moura.

A área precisa se consolidar e provar que traz valor. Muitas agências ainda estão desenvolvendo seus departamentos, que ainda lutam para trazerem insights reais, aplicáveis e serem de fatos valorizados. É um processo normal de amadurecimento. Focar menos em promessas e ferramentas caras e mais em pessoas qualificadas e com visão crítica para conseguirem influenciar de forma positiva o negócio. O principal desafio na minha opinião é conseguir entregar tudo que vem sido prometido com o boom do “big data” e da mídia programática. Sim, temos uma quantidade imensa de dados disponíveis, mas realmente estamos conseguindo usá-los para transformar nossos negócios? Estamos conseguindo cruzar as métricas táticas de performance de conteúdo até os resultados reais de negócio? A grande responsabilidade é essa, conseguir conectar as duas pontas e olhar para menos dados, de forma mais assertiva e focada em gerar planos de ação.

Marcos Malagris, Media Intelligence Supervisor na Coca-Cola

Para o futuro, portanto, o desafio parece ser mais estratégico/subjetivo e menos técnico/automático: “Arrisco dizer que a flexibilidade vai continuar sendo a carta na manga dos bons profissionais. Se você tem um bom entendimento de negócio e comportamento humano, você consegue se adaptar com facilidade às novas oportunidades na área de dados, então, buscar entender sobre motivações, tendências, sobre a realidade dos seus clientes e como agregar diferenciais a ela pode ser o primeiro passo para sair na frente do que vem por aí, seja lá o que for”, aposta Cinara Moura. “Ter um profissional que consiga ser mais estratégico e criativo, mas não como um ‘acúmulo’ de função a partir da entrega de um relatório, mas da construção até o entendimento do resultado. Também temos o desafio de entender cada vez mais o comportamento das pessoas. As pessoas que entenderem quem está por trás de um like, uma visualização, um comentário ou qualquer outra ação terá uma evolução. E, claro, existe também o desafio de evolução da inteligência de ferramentas”, complementa Pri Muniz.

E por falar em inteligência, outro termo tão comum (agora junto a “artificial”), o que esperar desse cenário? “Acredito que o mercado será cada vez menos adepto de certificações. Ferramentas como Google Analytics e Watson Analytics, por exemplo, permitem que você faça uma pergunta para a ferramenta já trazer o resultado, elas serão cada vez mais fáceis de serem usadas e o Machine Learning será mais acessível. Com isso acredito que os novos desafios e responsabilidades serão as pessoas terem a cabeça na estratégia e no objetivo e não tanto na ferramenta, pois as empresas vão exigir pessoas tomadoras de decisão”, aposta Gustavo Esteves. “Com a tecnologias se tornando cada vez mais acessível, como o controverso Watson ou outras fontes de inteligência artificial, BI/métricas tende a se tornar uma área de provimento e adaptação de tecnologias que mudam como o negócio funciona, ao invés de entregar relatórios”, complementa Karol Oliveira.

Nesse contexto, Gabriel Ishida aposta: “Enxergo um crescimento nas consultorias especializadas em dados, pois serão muitas fontes e métodos possíveis que será necessária uma mão de obra muito específica para extrair o melhor desses dados. […] Creio que o analista diferenciado saberá desde olhar o dado de forma crítica e orientado a negócios até saber minimamente operar um código para extrair os dados num banco de dados, ou seja, saber um pouco de programação para poder extrair os dados de forma mais livre”. E Karol Oliveira ratifica: “A recente explosão de ferramentas de análise de dados é um exemplo disso: 15 anos atrás a Tableau não existia como empresa; há 4 ela era tecnologia de ponta, futurista; hoje está começando a ficar obsoleta. Em breve, apresentar números não será mais o bastante, mas sim teremos de mudar como a empresa funciona baseados em leituras de dados cada vez mais complexos“.

Tenho grandes expectativas para o futuro da área de métricas. Com o desenvolvimento das novas tecnologias digitais e com o assunto de análise de dados cada vez mais em pauta, acredito que os próximos passos para a área de métricas estão ligados com a integração de canais digitais e estruturas omnichannel, além do uso das métricas para personalizar a experiência do consumidor dentro dos canais digitais de acordo com seu perfil. Hoje já temos agências que desenvolvem esses serviços, inclusive eu tenho a oportunidade de trabalhar em uma delas, mas percebo que a falta de conhecimento sobre o assunto ainda é um empecilho para o desenvolvimento da área de métricas.

Vitória Comarin, Analista de Métricas na Pmweb

“Enxergo [para o futuro] o trabalho menos operacional e mais estratégico. Haverá uma necessidade maior de entendimento do comportamento dos usuários no ambiente digital (e fora dele). O mercado precisará, verdadeiramente, de cientistas de dados com maior potencial estratégico, que saiba interpretar números e tenha maior domínio na correlação da informação”, opina Ariadna Neves. De acordo, Vitória Comarin acrescenta: “Minha perspectiva é que em cinco anos a área será mais consolidada, sendo melhor compreendida e, assim, mais contratada. O presente já nos possibilita a análise de dados cruzados e em larga escala, para o futuro acredito num maior protagonismo do uso desses dados para a concepção de novas campanhas digitais. Sem dúvidas, como desafio, temos que esse protagonismo de dados acarretará na necessidade de uma equipe de profissionais cada vez mais híbridos, com conhecimentos para além da matemática, comunicação e programação”.

A verdade é que o futuro, em toda a área de comunicação, é incerto. Tudo depende das (novas) tecnologias e, principalmente, de como as pessoas se apropriarão desses instrumentos. “Se você trabalha com conteúdos de marca, por exemplo, a popularização do VR e de conteúdos para serem consumidos através dessa tecnologia (vídeos 360º ou mesmo games) vai ter que ser mensurado e mais opções de ferramentas pra isso deverão ser criadas/adaptadas”, explica Karol Oliveira. E essas novas tecnologias não implicam por si só questões técnicas, mas culturais, como aconteceu com o fenômeno dos influenciadores digitais (ou usuários-mídia) e levou Gabriel Ishida a desenvolver métodos de análise para essa nova estratégia de comunicação fruto de um advento técnico-cultural. Por fim, nas palavras de Karol: “A mensuração de dados acaba acompanhando as inovações e mercados de tecnologia, porque cada vez que uma tecnologia nova é criada, passa a existir a necessidade de mensurar e estudar seu uso – e isso muitas vezes requer o desenvolvimento de novas tecnologias”.

Considerações finais

O mercado de métricas ainda é muito inicial nas agências, mas vem crescendo grandemente e sendo cada vez mais valorizados pelas próprias marcas, com demanda do uso inteligente dos dados gerados pelas mídias sociais.

Florilson Santana

O mercado de Métricas e de social media precisam andar juntos e cada vez mais pensar em como podem medir o seu objetivo de forma eficaz. Os profissionais precisam muito aprender e estudar sobre isso para fazermos o mercado evoluir cada vez mais.

Gustavo Esteves

Métricas é uma área que, ao meu ver, foi menos afetada durante a crise e creio que carece de bons profissionais. Os bons estão muito bem empregados e precisamos de mais mão de obra qualificada para fazer com que nosso mercado evolua.

Gabriel Ishida

Acho que a mensagem importante, que acabei falando várias vezes, é que o profissional de métricas precisa desenvolver essa visão de ser um parceiro de negócios, um consultor, que está sempre buscando entender (e construir) o real problema do cliente. Afinal, muitas vezes o próprio cliente não tem clareza do objetivo a ser perseguido ou qual problema ele precisa resolver. Nesse contexto, a grande dificuldade acaba sendo não se perder diante da grande quantidade de informações. Afinal, adaptando a frase do gato de Alice, quando não se sabe que pergunta quer responder, qualquer resposta serve. Através desse processo, o profissional pode passar de um mero produtor de relatórios para alguém que traz real valor para o negócio do cliente.

Marcos Malagris

Entendam de pessoas! Saibam quem elas são! Não trate comportamento apenas como números. Discutimos tanto sobre gerações, sobre recortes de privilégios, sobre classe, sobre gênero, sobre diferenças. É preciso tratar números como pessoas. Acho que um dos maiores desafios de quem trabalha com publicidade, independente da área, é lidar com o dia a dia das agências, que muitas vezes e em muitos lugares envolve muita pressão e cobrança. São muitas coisas. Na minha visão, pessoas precisam de tempo. Tempo para pensar, tempo para investigar, tempo para analisar. Respeite o seu horário de trabalho e se dê tempo para viver. Como um profissional vai conseguir entender de comportamentos de pessoas se trabalhar 12h por dia e não conseguir ler um livro, ver uma série, um filme, um vídeo e entender como funciona a vida lá fora? Não consegue. O equilíbrio é um ganho para as duas partes. A vida em agência é um grande Entei em looping eterno repetindo “calma, tá tudo bem agora”. É preciso exercitar o respeito e a calma no ambiente de trabalho.

Pri Muniz

Eu acho importante entender que o trabalho de métricas vai além da mensuração de resultados. Esse é um equívoco que muitas pessoas acabam fazendo, principalmente por não compreenderem tudo que pode ser aprendido a respeito do contexto em que uma marca está inserida através da análise de dados digitais. Nós temos hoje uma fonte imensa de dados facilitada pela internet, que podem nos ajudar – e muito! – a compreender o comportamento do nosso público-alvo. Mesmo assim, eu vejo que não são muitos profissionais que conseguem transformar dados em informação. Algumas agências ainda estão muito focadas em apresentar apenas o básico: engajamento, evolução da base de fãs, custo do clique e conversões para o site. Esses números são extremamente importantes para a mensuração de uma campanha, mas quando se realiza análises voltadas apenas a eles, muitas informações podem ser perdidas. Métricas é uma área que vai muito além de apresentar resultados, é uma área voltada ao aprendizado, que se dedica a entender o que há por trás de cada dado, que busca compreender as razões que levaram ao resultado obtido, que reduz incertezas e identifica oportunidades de atuação dentro da comunicação.

Vitória Comarin

FONTES DE REFERÊNCIA E INDICAÇÕES PARA ESTUDO

Blogs, sites e portais
Whitepapers e e-books

Em breve

Livros

Em breve

Participantes

Ariadna Neves
De Brasília, com 7 anos de experiência e formação em Publicidade | LinkedIn

Ariadna Neves é Publicitária de formação e especialista em marketing pela Universidade Católica de Brasília. Com experiência de mais de 7 anos em análise de dados e monitoramento de redes sociais é, atualmente, Coordenadora de Business Intelligent, na agência Isobar. Já atendeu clientes como Banco do Brasil, Secretaria de Comunicação do Governo Federal, Embratur, Sebrae, Secretária de Saúde do Distrito Federal, entre outros. É também professora-parceira no curso Métricas e Análise Digital: do monitoramento a performance em redes sociais, na Brasília Marketing School.

Cinara Moura
De São Paulo, com 11 anos de experiência e formação em Relação Públicas | LinkedIn | Slideshare

Profissional de Comunicação e Marketing Digital, graduada pela UFRGS (RS) e pós-graduada pela FIA (SP). Com mais de 12 anos de experiência atuando em projetos multidisciplinares de conteúdo, planejamento e mensuração de resultados, tem em seu currículo passagem por agências como Cadastra, AD.Dialeto, AG2 Nurun e Moringa. Atualmente, é Gerente Digital das Revistas Trip e Tpm. Em sua atuação docente, já ministrou aulas em instituições como Faculdade Impacta, IBPAD, ESPM e SENAC-SP.

Florilson Santana
De Salvador, com 8 anos de experiência e formação em Relações Públicas | LinkedIn

Especialista em Comunicação Digital, UNIFACS. Bacharel em Relações Públicas, UNIBAHIA. Atuante na área de Marketing e Social Media há mais de 7 anos é atualmente Digital Planner na Tempo Propaganda. Possui em seu histórico clientes como Governo da Bahia, Universidade Salvador, Instituto IEL, Concessionária VIABAHIA, Shopping Piedade, Grupo Sanave, Grupo Civil e Cheiro de Pizza. Dentre os seus cases pessoais, está o Projeto RP Depressão, idealizado em 2012 e que hoje é a terceira maior página sobre a área profissional no Facebook. Este projeto utiliza o humor como ferramenta de engajamento digital para falar da profissão de Relações Públicas e foi ganhador em 2013 do prêmio RP Brasil. Além disso é Palestrante da área de Relações Públicas e Comunicação Digital e co-autor no livro “Adeus – Golfinho Feio”.

Gustavo Esteves
Do Rio de Janeiro, com 12 anos de experiência e formação em Publicidade e Propaganda | LinkedIn | Blog | Slideshare

Fundador da Métricas Boss, empresa especializada em Web Analytics com clientes como Vix Brasil, Monte Carlo Jóias, Papelex, Richards, Tommy Hilfiger, Super Prix, IBMEC entre outros. Certificado Google Analytics, formado em Publicidade e Propaganda pela Estácio de Sá, mais de 12 anos de atuação em Marketing Digital, tendo passagens por empresas como Shoptime.com, Americanas.com, Comprafacil.com e Leader.com, atuando principalmente com Web Analytics. Vencedor na categoria Cultura e Segundo Colocado na categoria Segurança no Rio Ideias App.

Gabriel Ishida

De São Paulo, com 8 anos e experiência e formação em Midialogia | LinkedIn | Twitter | Slideshare | Blog

Especialista em análise de dados, principalmente influenciadores e mídias sociais. Oito anos de experiência, tendo passado por consultorias e cliente. Atualmente, é consultor de inteligência e influencer marketing e co-criador do projeto Atlas Media Lab.

Karol Oliveira
De São Paulo, com 3 anos de experiência e formação em Comunicação Social (Relações Públicas) | LinkedIn

Karol Oliveira é pós-graduanda em Planejamento Estratégico e Concepção de Branded Content.Trabalha há 3 anos com publicidade, onde se especializou em monitoramento e métricas de mídias sociais, Marketing de conteúdo e Branded Content. Atualmente trabalha como Data Strategy na Wieden+Kennedy.

Marcos Malagris
Marcos MalagrisDo Rio de Janeiro, com 8 anos de experiência e formação em Publicidade e Propaganda | LinkedIn | Facebook

Profissional de Marketing, formado em Publicidade e Propaganda pela UFRJ e pós-graduado em Marketing e Design Digital pela ESPM, atualmente ocupa a posição de Supervisor de Inteligência de Mídia na Coca-Cola. Experiência de 8 anos em marketing digital, inteligência de dados, web analytics e mídias sociais, tendo ministrado aulas e palestras em instituições como Infnet, ESPM, FGV, Quero Ser Social Media e IBPAD. Teve passagens por agências como FSB Digital e FLAGCX/RJ, onde atendeu clientes como Vale, Ipiranga, Oi e Coca-Cola.

Meiriane Jacobsen
De Porto Alegre, com 7 anos de experiência e formação em Comunicação Social (Relações Públicas) | LinkedIn

Trabalha com métricas e inteligência de dados desde 2010, treina profissionais da área e ministra cursos desde 2014. Iniciou sua trajetória de BI trabalhando especificamente com Web Analytics, gerenciado projetos e alta complexidade de configuração e análise de performance. Depois disso, ampliou seus conhecimentos para Social Analytics e também implantou projetos de Social Listening, colocando em prática sua base teórica de gestão de risco/crise.

Pri Muniz
Pri MunizDe São Paulo, com 7 anos de experiência e formação em Publicidade | LinkedIn | Slideshare

São mais de 10 anos trabalhando em diversas áreas da comunicação sempre com o objetivo de entender o comportamento de pessoas. Já passei por ONGs, campanhas políticas e agências nas áreas de planejamento, conteúdo, monitoramento e performance. Atualmente, sou Gerente de Insights na Mutato.

Vitória Comarin

Vitoria ComarinDe Porto Alegre, com 3 anos de experiência e formação em Relações Públicas com MBA em Big Data Aplicado ao Marketing
 | LinkedIn

Relações Públicas formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com especialização em análise e processos de Big Data pela ESPM. Possuo experiência em análise e planejamento de campanhas digitais, tendo trabalhado com grandes marcas como Guaraná Antarctica, Youcom, Azul Linhas Aéreas, Vale, entre outros. Atuo com foco em estratégias de dados, trabalhando com monitoramento, web analytics e CRO para compreender o comportamento do consumidor, encontrar oportunidades e aprimorar o funil de conversão do cliente.

O que aprendemos e como continuar estudando sobre métricas/BI, por Kaique Oliveira

[Texto escrito por Kaique Oliveira, cientista de dados na Focusnetworks e professor de marketing digital na FAAP]

Chegamos ao último artigo da minha série sobre Business Intelligence aplicado em agências de comunicação. Antes de disponibilizar o material completo da minha aula de métricas e monitoramento de mídias sociais, gostaria de compartilhar com vocês alguns comentários que recebi nos últimos artigos publicados no Insightee 🙂

“Vindos de um universo cada vez mais perdido em indicadores superficiais e não relacionados as regras de negócio, apenas focados em IV sem metas. É motivador ver textos com uma linha racional realmente voltada para o que realmente importa, o resultado do negócio.“
Marcio Ulpiano

“Acho incrível como ele consegue transformar o que pintam como um bicho de 7 cabeças em algo tão simples (e útil).“
Pedro Meirelles

“Realmente, o quanto a gente se perde vendo só números bonitos (que chamo de métricas de vaidade) e esquecemos o que realmente importa.“
Mabia Barros

“Manda mais Kaique no blog que tá pouco.“
Roberta Cardoso

“Tudo bem explicadinho. Obrigado Kaique.“
Welson Murici

Cada comentário foi um combustível para essa série de conteúdo que eu produzi ao longo de praticamente um mês. Se você ainda não leu os artigos, aproveite agora para conferir cada um deles e aplicar no seu cotidiano como profissional de Business Intelligence:

  1. O que os profissionais de BI de agências digitais podem aprender com o BI tradicional?
  2. Como utilizar indicadores de controle e verificação para medir a performance da sua campanha
  3. Como fazer um plano de métricas para campanhas

Por fim, abaixo está o material completo da aula de métricas e monitoramento que ministrei no curso de marketing digital na FAAP. Compartilhe este material com seus amigos e deixe seu comentário nesta publicação para que possamos conversar um pouco mais:

Esse material foi a inspiração para todo o conteúdo que eu compartilhei aqui no blog. Antes de finalizar a série – e para mostrar que o aprendizado não acaba quando termina -, gostaria de destacar alguns cursos e especialidades que fazem toda a diferença para quem deseja trabalhar como Analista de Dados, ou Analista de Business Intelligence.

Quando falamos de especialidades, temos um artigo completo feito pelo Pedro Meirelles que abrange não somente o Analista de BI, mas todas as profissões que estão dentro do contexto digital. Perceba que as palavras relatórios, mídia, Google Analytics e Excel estão em destaque na pesquisa. Não é por menos. Cerca de 70% da nossa rotina está dentro deste universo. Apesar de falarmos de dashboards personalizados, os relatórios em PPT ainda não saíram de moda.

Para ajudá-los nessa rotina e também a ter uma visão macro de possibilidades dentro de Business Intelligence, trouxe uma lista de cursos que eu considero extremamente relevante. Espero que seja útil para todos vocês que me acompanharam até aqui 🙂

1) MBA – ANÁLISE DE INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIO – IGTI

2) CURSOS – DASHBOADS, ESTATÍSTICA, ETC – IGTI (R$19,90 mês com acesso ilimitado)

3) CURSOS – MÉTRICAS, MONITORAMENTO, ESTATÍSTICA – IBPAD

4) CURSO – MONITORAMENTO E MÉTRICAS – ATLAS MEDIA LAB

5) CURSO DE MARKETING DIGITAL – UDACITY

6) BOOTCAMP – POWER BI – DOT INSIGHT

7) MBA – CIÊNCIA DE DADOS – FIAP

8) CURSOS – MÉTRICAS – SÃO PAULO DIGITAL SCHOOL

9) PÓS – COMUNICAÇÃO E MARKETING DIGITAL – FAAP

10) CURSO – MARKETING DIGITAL – FUTURE LEARN

Todas as escolas e cursos que indiquei foram referências que recebi de amigos e a maioria delas tenho muita propriedade para indicar. Por exemplo, estou no final do meu MBA em Inteligência de Negócio no IGTI, ministro aulas na FAAP, fiz cursos pela Future Learn e estou matriculado no Bootcamp de Power BI.

De alguma forma, tenho ou tive contato com todas essas indicações que fiz nesta publicação. Se você também conhece alguma indicação que citei, ou possui outras recomendações, por favor, deixe nos comentários.

Por fim, para encerrar a minha participação, quero agradecer a todos que me acompanharam no Insightee. Qualquer dúvida, sugestão ou crítica, sintam-se à vontade para compartilharem nos comentários. Até breve!

Como fazer um plano de métricas para campanhas, por Kaique Oliveira

[Texto escrito por Kaique Oliveira, cientista de dados na Focusnetworks e professor de marketing digital na FAAP]

Chegamos ao terceiro artigo da minha série sobre Business Intelligence aplicado em agências digitais. Entendemos a origem do profissional de BI no primeiro artigo chamado de O que os profissionais de BI de agências digitais podem aprender com o BI tradicional? e em seguida começamos a aprofundar um pouco mais na rotina da profissão.

Antes de continuarmos, eu recomendo que você leia o segundo artigo da série que ensina Como utilizar os indicadores de controle e verificação para medir a performance da sua campanha. Basicamente entendemos neste artigo que indicadores de controle e verificação são importantes para definirmos as métricas que serão monitoradas na campanha.

Iniciaremos agora o nosso plano de métricas, dividido em algumas etapas que eu defini como: levantamento de informações, definição dos indicadores de controle e verificação, mapeamento dos sistemas de informação e especificação dos entregáveis.

Etapa 1. Levantamento de informações

Precisamos entender como extrair informações relevantes de um briefing. Eu irei apresentar neste momento um exemplo de perguntas que eu utilizo para fazer este levantamento que antecede a construção do meu plano de métricas. Você pode modificar de acordo com as suas necessidades. O importante é você conseguir ter uma visão completa do que irá acontecer na campanha e começar a traçar a estratégia de monitoramento com base nisso.

01. Qual é o contexto atual da marca?
Ex: A escola de inglês XYZ possui o ensino mais rápido do mercado.
02. Qual é o objetivo de marketing?
Ex: Aumentar as matrículas em 5% na capital de São Paulo.
03. Qual é o objetivo de comunicação?
Ex: Ser reconhecida pela qualidade no ensino de língua estrangeira.
04. Qual é o objetivo de mídia?
Ex: Gerar 10.000 leads por mês durante a campanha.
05. Qual é o público-alvo?
Ex: Jovens, de 18-22 anos, em busca de recolocação no mercado.
06. Qual é o período de veiculação?
Ex: 01 de julho de 2017 a 30 de setembro de 2017.
07. Quais são as propriedades?
Ex: Landing page (Teste AB).
08. Quais são as embaixadas (canais em plataformas que não pertencem à marca)?
Ex: Facebook.
09. Qual é a estratégia?
Ex: Destacar os diferenciais da escola.
10. Quais são os recursos?
Ex: R$250.000,00.

Estas informações geralmente estão presentes no briefing do projeto. Observe que as respostas no exemplo acima foram simples, porém eficientes. Com essas informações conseguiremos iniciar a segunda etapa do plano de métricas que é a definição dos indicadores da campanha.

Etapa 2. Definição dos indicadores de controle e verificação

Se você leu o artigo sobre indicadores que eu indiquei no início deste texto, provavelmente, ao passar pelo levantamento de informações, começou a mapear mentalmente as métricas mais relevantes do projeto.

Em uma primeira leitura do levantamento de informações da escola de inglês que exemplificamos conseguimos identificar que trata-se de uma campanha de geração de leads, o que impacta diretamente no negócio do cliente. Sendo assim, os indicadores de controle ficam mais evidentes. Em geral, eles estão dentro das respostas que trazem o objetivo de marketing e mídia da campanha. Se fossemos mapeá-los teríamos:

  • IC – Objetivo de marketing: Aumentar as matrículas em 5% na capital de São Paulo.
  • IC – Objetivo de mídia: Gerar 10.000 leads por mês durante a campanha.

Na maioria dos casos os indicadores de controle estarão dentro destas duas esferas, pois trata-se sempre de números e metas da campanha. Agora que chegamos nos ICs, precisamos identificar os IVs, ou seja, os indicadores de verificação.

Se pegarmos o investimento total da campanha e dividirmos por 3 meses (período da campanha), teremos um investimento estimado de R$83.333 por mês. Se formos um pouco mais longe e dividirmos este valor por 10.000 leads (meta mensal de leads), teremos um custo estimado de R$8,33 por lead. Podemos dizer então que, para atingir meu IC de 10.000 leads por mês, preciso investir R$83.333 mensais e manter o custo por lead dentro de R$8,33.

Assim chegamos nos IVs que irão garantir que atingimos a meta do IC que está dentro do objetivo de mídia da campanha – a geração de leads. Sendo assim, teremos:

  • IV – Investimento mensal: R$83.333 por mês
  • IV – Custo máximo por lead: R$8,33 por lead

Para garantir a obtenção do IC relacionado ao objetivo de marketing, precisamos garantir que os leads gerados pela campanha sejam qualificados. Ou seja, não basta entregar um monte de formulários para o seu cliente se ninguém fizer a matrícula. Assim, nesse caso, seria necessário definir com o cliente a margem máxima de perda entre os leads gerados e as matrículas para garantir o alcance da meta do objetivo de marketing.

Claro que o objetivo sempre é fazer com que este número seja o menor possível, porém, existem diversas variáveis que podem impactar neste resultado esperado. Vamos avançar agora para o mapeamento dos sistemas de informação.

Etapa 3. Mapeamento dos sistemas de informação

Se na etapa 2 respondemos a pergunta O QUE monitorar, na etapa 3 iremos responder COMO monitorar. Já sabemos quais métricas precisam ser entregues e monitoradas, então precisamos agora buscar as ferramentas que irão nos apoiar nessa extração de dados.

No exemplo citado basicamente extrairíamos os dados do Google Analytics, do Business Manager do Facebook e do Banco de dados da empresa. Pelo Business Manager do Facebook iremos monitorar o volume investido na campanha e o custo por lead. O Google Analytics irá nos ajudar no teste AB, citado no briefing, e no acompanhamento do histórico de usuários que preencheram o formulário na landing page. Por fim, o banco de dados do cliente irá nos ajudar no cálculo da perda entre o volume de leads gerados e o número de pessoas que realizaram a matrícula na escola.

Importante lembrar que todas as ferramentas exigem um set up antes da ativação. Não esqueça de incluir isso no seu plano de métricas.

Etapa 4. Especificação dos entregáveis

Provavelmente tudo ficará mais claro para você agora. Eu vou apresentar uma tabela final que representaria a especificação geral do plano de métricas para o exemplo da escola de inglês que trabalhamos neste texto.

A tabela acima está em um modelo resumido. Você pode incluir mais detalhes dentro de cada campo para deixar o plano mais claro para a sua equipe. Eu vou explicar abaixo como preencher cada coluna:

  • Indicador – Qual é o nome da métrica que você quer monitorar?
  • IC ou IV – A métrica representa que tipo de indicador?
  • Fonte – Onde está essa métrica? Qual é o sistema de informação?
  • Objetivo – O que você pretende monitorar com essa métrica?
  • Cálculo – Qual será o cálculo utilizado para chegar na métrica?
  • Meta – Qual é a meta que está atrelada a sua métrica?
  • Período – Qual é a periodicidade que você precisa reportar esses dados?

Esta metodologia, como disse no último artigo, eu trouxe da disciplina de monitoramento e melhoria contínua de processo. Foi muito útil entender isso para a minha rotina de análises no departamento de dados.

O seu plano de métricas não precisa se resumir a esta simples tabela. Você pode e deve incluir no documento todos os detalhes que forem necessários para garantir a qualidade do monitoramento da sua campanha. Inclusive, se você utiliza alguma ferramenta de dashboards, será essencial ter este plano completo para definir as métricas que seus gráficos devem representar, a origem de cada uma delas e a periodicidade de cada uma delas.

Nos próximos artigos eu irei ajudá-los com algumas indicações de ferramentas para construção de dashboards e cursos que eu considero relevantes da área de business intelligence. Se tiverem outras dúvidas, por favor, deixem nos comentários 🙂

Como utilizar os indicadores de controle e verificação para medir a performance da sua campanha, por Kaique Oliveira

[Texto escrito por Kaique Oliveira, cientista de dados na Focusnetworks e professor de marketing digital na FAAP]

Este é o segundo artigo da minha série sobre Business Intelligence aplicado em agências digitais. Em minha primeira contribuição eu falei sobre O que os profissionais de BI de agências digitais podem aprender com o BI tradicional?. Agora o objetivo é aprofundar um pouco mais nos temas que envolvem a rotina desta profissão em agências digitais.

Antes de falarmos de Indicadores de Controle e Indicadores de Verificação, precisamos resgatar uma preocupação do BI tradicional chamada: regra de negócio. Regra de negócio é o processo de entendimento das métricas que realmente são relevantes para a empresa. Quando falamos de indicadores em mídias sociais, sabemos que existe uma grande massa de números que podem ser analisados. Porém, a principal tarefa do profissional de BI é entender a relação desses indicadores com as metas de negócio. Podemos chamar este processo de entendimento da regra de negócio. Guarde este primeiro conceito, pois agora iremos um pouco mais a fundo neste tema.

Entende-se por Indicador de Controle (IC) o resultado final de um produto ou processo. Este conceito eu trouxe da matéria de monitoramento e melhoria continua de processo. É um conceito simples e que pode ser aplicado no entendimento da regra de negócio. Exemplo: O objetivo da campanha é aumentar em 10% o volume de vendas de um determinado produto no período de três meses. Neste caso, este deve ser o seu resultado final, ou seja, o seu IC. Talvez você tenha relacionado o IC com o conceito de KPI, certo? Você não está errado. O IC precisa ser o seu KPI. Quando for montar o seu dashboard de controle, este deve ser o indicador principal no painel.

Agora que entendemos o IC, vamos para o Indicador de Verificação (IV). O IV será a métrica de suporte que irá garantir o alcance do seu IC. Exemplo: A sua meta de vendas foi projetada com um custo médio por conversão no seu e-commerce, ou seja, o valor investido em mídia dividido pelo número total de vendas. Este custo médio por conversão será o seu IV. Quando houver uma anomalia no seu IC, você poderá fazer um drill down (aprofundamento) para entender quais foram os IVs que impactaram no seu resultado final.

  • IC (KPI): Aumentar em 10% o volume de vendas do produto X em três meses.
  • IV: Custo médio por conversão no e-commerce.

O exemplo acima tem relação com uma campanha de performance, que geralmente facilita o entendimento dos indicadores e regras de negócio, pois o objetivo na maioria das vezes está relacionado a vendas. Porém, quando falamos de campanhas de branding, que possuem como objetivo gerar a lembrança de marca, qual seria o melhor indicador de controle relacionado à regra de negócio? Se a sua resposta foi Brand Lift¹, está correta. Claro, está é uma métrica muito aplicada no digital, mas que pode impactar em outros indicadores de negócio, como o CLTV (Customer Lifetime Value), valor de marca, entre outros. Plataformas de mídia, como o Facebook e o Youtube, possuem pesquisas específicas de Brand Lift para campanhas de branding. Visualmente podemos então citar um novo exemplo de IC e IV para campanhas de branding:

  • IC (KPI): Alcançar um brand lift de no mínimo 30% das pessoas impactadas pela campanha no ano.
  • IV: Frequência média mensal da campanha.

Mostramos dois exemplos em que o IC estava relacionado à uma regra de negócio. Porém, essa mesma estrutura de definição de indicadores pode ser utilizada em casos em que não existe uma regra de negócio. Por exemplo, se você tiver uma meta de pageviews no seu portal, este pode ser o seu IC e o seu IV pode ser o Custo por Clique (CPC) da sua campanha de anúncios que direciona para o portal. Os IVs também podem ter como objetivo manter a qualidade do processo. Por exemplo, definir um tempo médio das visitas ao portal. Assim você garante a qualidade do volume de pessoas que acessarem o site.

Não existe um limite de ICs e IVs para um projeto. Mesmo assim, lembre-se que indicadores precisam ser eficientes. Quanto menos indicadores você tiver para monitorar, maior será a velocidade do seu trabalho. Pense sempre na qualidade do indicador e, sempre que possível, no impacto que ele tem no negócio do cliente.

Vale ressaltar que os ICs são as métricas que mais interessam para o nível executivo e gerencial de uma empresa. Ou seja, estes são os números que você precisa reportar com maior frequência para o seu cliente. Os IVs, geralmente, são controles internos da agência que podem ser monitorados por você (BI), ou por departamentos diferentes. Podemos utilizar como exemplo o nosso mapeamento de indicadores da campanha de performance. O custo médio por conversão no e-commerce pode ser um IV que será monitorado pelo departamento de mídia. Você, como profissional de BI, precisa garantir o resultado final, ou seja, o IC.

Ao utilizar este mapeamento de indicadores, você reduz os relatórios infinitos, centraliza o que é relevante em dashboards e distribui o monitoramento de performance da campanha com outros departamentos.

No próximo artigo eu irei trazer um modelo de plano de métricas para sua campanha. O plano de métricas inclui os indicadores que apresentei neste artigo e a visão completa do que será necessário para o monitoramento da performance do projeto.

¹Em termos simples, é a métrica que mede a lembrança da marca após a pessoa ser impactada por uma campanha.

O que os profissionais de BI de agências digitais podem aprender com o BI tradicional?, por Kaique Oliveira

[Texto escrito por Kaique Oliveira, cientista de dados na Focusnetworks e professor de marketing digital na FAAP]

Antes de tudo é importante saber, ou reforçar, que o profissional de BI nâo nasceu em agências moderninhas de comunicação. Este profissional existe há anos, desde os tempos que as empresas entenderam a importância da utilização de dados na tomada de decisão em um negócio.

Apenas para contextualizar, o BI tradicional geralmente é um projeto que tem como objetivo reunir todos os dados disponíveis em uma empresa, tratá-los e disponibilizá-los de forma estratégica para os responsáveis na organização. De forma compilada, o BI tradicional é uma ferramenta de apoio à tomada de decisão.

“Pode-se descrever Business Intelligence (BI) como o processo de recolha e tratamento de informação que apoiam a gestão de negocio ”

Gilberto Barbosa Mota

Imagine uma rede de lojas espalhada pelo Brasil. Pense como seria compilar todos os dados de vendas e esforços em marketing de todas essas lojas, em tempo real, e tomar uma decisão com base nessa informação. O BI tradicional foi e continua sendo a solução para casos como este, em que a empresa gera um volume alto de dados e precisa de velocidade nos movimentos estratégicos.

Agora que entendemos o BI tradicional, vamos voltar para o BI que nasceu em agências digitais. A primeira coisa que aprendemos com o modelo tradicional de BI é que o objetivo de todos os esforços é gerar inteligência para a tomada de decisão de negócio. Este sempre foi o motivo da existência de profissionais e soluções nesta área. Na prática é refletir se os dados entregues para o cliente realmente impactam no negócio dele.

Um segundo item tratado neste texto é a velocidade de entrega destas análises. Identifique os indicadores relevantes para o negócio do seu cliente e trabalhe em automatizar a visualização destes dados. Se eles são importantes, eles precisam ser controlados em tempo real.

A terceira lição do BI tradicional, também diluída nas outras, é a importância da atuação ao longo do processo e não somente no final. O BI não é o profissional que entrega relatórios finais na agência. O BI é o responsável por monitorar os indicadores de performance durante os projetos e ele deve identificar as causas de cada anomalia para corrigir rotas ou até mesmo melhorar o que está bom.

Se você trabalha nesta área, guarde bem essas lições. Não existe o BI antigo ou o novo BI, ambos precisam ser relevantes para o negócio do cliente.

Este foi o primeiro artigo da minha série de textos relacionados ao universo de Business Intelligence. Nos próximos eu irei tratar de outros temas mais específicos, como a diferença entre indicadores de controle e verificação e a relação deles com os KPIs, modelo para plano de métricas, ferramentas utilizadas no mercado e outros assuntos relevantes da área.

Google Analytics para iniciantes: curso gratuito oferece um panorama geral da ferramenta

Em uma das minhas primeiras entrevistas de estágio, lembro que tive que fazer uma prova com algumas questões relacionadas à função do trabalho (era uma vaga de Estágio em Social Media com foco em performance, se me recordo bem). “Escreva com suas próprias palavras o que é ‘bounce rate'”, pedia um dos itens da avaliação. Eu não fazia ideia do que fosse (estava no segundo período da faculdade e não tinha começado a estudar sobre social media e derivados), então tentei responder conforme a tradução me indicava: “deve ser algo relacionado a bater de volta, tipo um rebote”, pensei. Enrolei da maneira que pude, mas não foi o suficiente e perdi aquela vaga – justo, afinal eu não estava apto a exercer aquela função (embora fosse estágio e o ideal é que ensinem em vez de cobrar).

Alguns anos depois, quanto fundei o blog e comecei a me interessar por métricas (mesmo de mídias sociais), percebi que precisaria, em algum momento, aprender a mexer no Google Analytics. A pesquisa d’O profissional de inteligência de mídias sociais no Brasil já me indicava isso, nos últimos dois anos. Embora o meu fascínio por métricas tenha se esvairado razoavelmente desde então, a análise que fiz sobre os conhecimentos mais requisitados em vagas de mídias sociais só reforçou a ideia de que eu precisava, sim, aprender GA. Porque mesmo para quem não trabalha com métricas (mas com planejamento, por exemplo), é importante conhecer – mesmo que superficialmente – perspectivas de outras áreas (esse foi um argumento frequente no último Profissão Social Media). Se você trabalha ou quer trabalhar com métricas, GA é pré-requisito; mas se você trabalha ou quer trabalhar com planejamento, por exemplo, GA pode ser diferencial.

Para a nossa sorte, no começo deste ano o Google lançou através da Analytics Academy quatro novas versões de seus cursos gratuitos sobre Google AnalyticsGoogle Analytics for Beginners, Advanced Google Analytics, Google Tag Manager FundamentalsEcommerce Analytics: From Data to Decisions. Desses quatro, os três primeiros já estão disponíveis por completo em português – e o quarto deve ser disponibilizado a qualquer instante. Ou seja, tem para todo mundo: se você é iniciante como eu, o primeiro curso foi feito para você; se já tem certa experiência, o curso mais avançado recicla seu conhecimento e pode te apresentar novas funcionalidades; se já trabalha com analytics e precisa conhecer a Google Tag Manager (uma das ferramentas bastante citadas no meu levantamento), tem curso para você também; e se souber em inglês e trabalhar com e-commerce, o último é todo seu.

Eu escolhi fazer o Google Analytics para iniciantes porque, embora tenha certo conhecimento sobre métricas de mídias sociais e conceitos principais sobre o tema, a minha experiência prática com o Google Analytics é quase nula. Este blog, por exemplo, nunca teve instalado o código da ferramenta – isso por dois motivos: 1) porque eu nunca tive interesse em averiguar números para não ficar refém deles, uma vez que este é um projeto totalmente pessoal e, portanto, livre de quaisquer amarras; e 2) por simples preguiça – eu já instalei o código em outras empreitadas pessoais que tive na minha adolescência (mesmo sem saber mexer nem ver direito, só queria saber o número de visitas mesmo), mas nunca me veio a necessidade de fazer o mesmo aqui. Unindo o útil ao agradável, resolvi usar o curso para analisar o site (e o site para analisar o curso). E como foi?

Unidade 1 – Introdução

A primeira parte de um curso para iniciantes é exatamente o que se espera: o básico do básico. Antes de qualquer coisa, os instrutores Justin Kutroni e Krista Seiden primeiro buscam explicar por que mensurar rastros digitais são importantes. É óbvio que eles utilizam o contexto do Google e mais especificamente da ferramenta Google Analytics como exemplo, mas a explicação deles sobre o conceito de digital analytics é bem abrangente. O mais legal é que, depois de cada lição, eles ainda oferecem links e leituras complementares sobre o assunto discutido. Neste primeiro momento, por exemplo, recomendam um artigo do Think With Google sobre a jornada do consumidor na compra online e um glossário do próprio Google Analytics (em português!, essencial para quem está começando a estudar).

Depois de ensinar a importância de acompanhar os rastros digitais de possíveis consumidores e alguns conceitos básicos de digital analytics (a tradução seria algo semelhante a métricas/indicadores digitais), eles mostram como funciona o processo de coleta de dados do Google Analytics desde a implementação do código JavaScript num site até o modo como a ferramenta armazena as informações. É ótimo porque eles alinham a teoria (conceitos e discussões sobre analytics de um modo geral) à prática, já que estão também tentando vender o produto. A lição três, por exemplo, é totalmente dedicada à familiarização do aluno com o GA – e todas as partes básicas de configuração, desde gerenciamento de contas/vistas até permissão de usuários. Eles chamam a atenção para a importância de configurar bem todo o escopo, já que os dados coletados pela ferramenta não são recuperados em quaisquer problemas.

E uma das coisas mais legais está na imagem de tela que você vê acima. Em todas as unidades pelo menos uma ou dois lições eles disponibilizam uma possibilidade completamente interativa da ferramenta. Desta forma, o aluno consegue ver com os próprios olhos todos os passos necessários para executar o que está aprendendo no curso. Além da legenda em português, é possível também conferir a transcrição completa e devidamente dividida nos tópicos da narração no site de Ajuda do Google. Como cheguei a mencionar no Twitter, é como se eles pegassem na mão do aluno e dissessem: “vamos juntos!”. Achei realmente incrível. E, novamente, após de várias lições, ainda há indicações de leituras para maior e melhor compreensão do assunto e também da comunidade de discussão da Analytics Academy, onde profissionais mais experientes estão à disposição para tirar quaisquer dúvidas de novatos.

A questão da configuração é algo que merece realmente muita atenção. Na última lição da primeira unidade, você é levado por um passo a passo de como aplicar o filtro numa vista (a hierarquia da ferramenta é: conta > propriedades > vistas). O exemplo que utilizam é um filtro para excluir o tráfego interno, ou seja, para que – no meu caso – todas as minhas visitas (feitas através do meu notebook) ao blog não sejam registradas naquela visualização. Infelizmente por algum descuido eu inseri meu I.P. errado (eles mostram como achar o seu) e acabei perdendo essa configuração. Ou seja, agora todos os dados que tenho coletado do GA têm também procedência minha – e eu entro muito no blog, por motivos óbvios. Então é algo realmente muito importante e que eles alertam desde o início – uma vez processados, os dados não podem ser alterados.

Ao final de cada unidade há uma avaliação para testar seu aprendizado. O certificado do curso que recebemos ao final só é disponibilizado àqueles que obtiverem uma média igual ou maior que 80% das respostas corretas. Mas a avaliação é ótima porque, além de revisar o que aprendeu, você também relembra quais foram os temas importantes daquela unidade (caso tenha interesse em retomar para revisar posteriormente). Na primeira, por exemplo, aprendemos sobre como o Google Analytics funciona (por que ele é importante e para que ele serve); o que tem a oferecer aos negócios; alguns conceitos, definições básicas de atributos e estrutura hierárquica da ferramenta; e a aplicação de filtros e do código JavaScript.

Unidade 2 – Layout

Daqui em diante o foco na ferramenta só aumenta. Novamente somos apresentados ao modo de demonstração do curso, através de uma plataforma que nos guia por uma tour numa conta “fake” do Google Analytics. Assim conhecemos funções básicas como: o alternador entre Conta, Propriedade e Vista; o ícone de alertas; as configurações, comentários e ajuda; a pesquisa por relatórios, personalização e navegação. Também conhecemos os principais relatórios: tempo real, público-alvo, aquisição, comportamento e conversão. Já falei mas reitero o que disse: é muito bom ter a possibilidade de ver de perto como a ferramenta funciona, porque ela oferece várias funcionalidades e geralmente quem nunca usou fica perdido com tantas opções de execução. Não que todas essas opções sejam úteis e essenciais para o trabalho diário, mas é importante saber que elas existem e como alcançá-las.

Toda a unidade é dedicada a mostrar a plataforma, principalmente através da navegação pelos relatórios disponibilizados. Pouco a pouco você vai descobrindo as inúmeras operações que o GA te oferece, desde visualização ao cruzamento de dados simples ou mais complexos, aprendendo também algumas configurações básicas do relatório geral através de personalizações de atributos. Na última lição você ainda aprende como montar painéis (dashboards) relevantes para o seu trabalho – e descobre que há uma intensa produção da comunidade de usuários que já disponibiliza algumas possibilidades padrões no Google Analytics Solutions Gallery. Fica claro que o Google tem uma preocupação em mostrar que a ferramenta é bastante completa, para evitar justamente que as pessoas saiam da plataforma para fazer outras funções – desde a coleta, passando pela análise até a apresentação dos dados.

E ainda que esta unidade seja mais focada na ferramenta, ainda aprendemos alguns conceitos importantes que podem ser replicados às realidades de mídias sociais também. Finalmente aprendi, por exemplo, o que é taxa de rejeição (“a porcentagem de visitas em que o usuário acessou seu website e saiu sem interagir”), assim como revi o conceito da empresa sobre métricas (“os números em um conjunto de dados, geralmente relacionados com dimensões”), estas que são “um atributo de um conjunto de dados organizado para possibilitar uma melhor análise” – ou seja, pode ser comparado a uma categoria de análise (como se fosse uma etiqueta da informação para gerar insights). Abaixo compartilho um conteúdo disponibilizado pelo próprio Google sobre suas principais métricas:

Definições das métricas pelo próprio Google

  • “Sessões” refere-se ao total de sessões em determinado período.
  • “Usuários” refere-se ao total de usuários que visitaram o site em determinado período.
  • Exibições de página” refere-se ao total de exibições das páginas que têm o código de acompanhamento do Google Analytics para os usuários. Isso inclui as visualizações repetidas de uma única página pelo mesmo usuário.
  • “Páginas por sessão” refere-se ao número médio de páginas visualizadas durante cada sessão. Isso também inclui as visualizações repetidas de uma única página.
  • “Duração média da sessão” refere-se à duração média de uma sessão com base nos usuários que visitaram seu site no período selecionado.
  • Taxa de rejeição” é a porcentagem de usuários que saíram do seu site após visualizar uma única página sem realizar nenhuma ação adicional.
  • “Porcentagem de novas sessões” é a porcentagem de sessões de novos usuários do seu site no período.

Unidade 3 – Relatórios básicos

A terceira unidade é mais curta em termos de aulas (são apenas três), mas relativamente mais fica em termos de conteúdo – você conhece de perto os três principais (ou básicos, como o título da unidade indica) relatórios: Público-Alvo, Aquisição e Comportamento.

– Relatórios de Público-alvo: o foco deste relatório está, como o próprio nome já diz, no público (ou seja, nos usuários); pode ser acessado através de uma visão geral ou de usuários ativos; oferecem dados para compreender as características dos usuários, como o local de onde acessaram o site, o idioma dos seus sistemas de navegação e a tecnologia utilizada no acesso; destaque também para o relatório de comportamento, que te ajuda a compreender como os usuários estão navegando pelo website – o que é extremamente rico para análises de melhoria de usabilidade e interface (os conhecidos UI Design e UX Design); confira mais sobre esses relatórios neste artigo em inglês.

– Relatórios de Aquisição: aqui a atenção está no tráfego do website, ou seja, de onde/como surgem as visitas; esses dados são coletados pelo Google através de três níveis: medium (mecanismo que leva as pessoas ao seu site), source (especificações desse mecanismo) e campaign (especificações da sua divulgação do site); o medium pode ser organic (visitantes que chegaram ao site através da busca comum do Google), CPC (visitas por campanhas pagas), referral (visitantes que chegaram através de outro site), e-mail e none (pessoas acessando o site de forma direta); o source oferece, portanto, a URL específica do mecanismo que levou à visita, enquanto a campanha é para a mensuração de planos de divulgação de marketing; confira mais sobre esses relatórios nesta página.

– Relatórios de Comportamento: como já mencionei anteriormente, este relatório é útil para conferir os rastros digitais que os visitantes deixaram no seu site; como bem pontuado pelos instrutores do curso, muitas visitas não necessariamente indicam um bom resultado – é preciso conferir se esses visitantes estão fazendo alguma outra ação dentro do site, caso contrário, pode haver algum problema de expectativa x realidade; é aqui, portanto, que você pode conferir as páginas por onde os visitantes chegaram e por onde saíram, para pode otimizar a performance do site de acordo com o que você tem como objetivo para os usuários; confira mais sobre esses relatórios neste artigo em inglês.

O legal dessa unidade é que após cada vídeo sobre os relatórios há também um breve questionário sobre algumas das informações que foram passadas em aula, desta forma você consegue se manter atualizado com a enxurrada de aprendizados que poderia sobrecarregar o aluno e fazer com que ele acabasse esquecendo as questões mais importantes. Ainda assim, foi aqui o primeiro momento onde não gabaritei a avaliação final da unidade – simplesmente porque, como eu disse, embora seja mais curtinha, é muito conteúdo (e especificações, termos técnicos, etc.)!

Unidade 4 – Acompanhamento básico de conversões e campanhas

A quarta unidade possui lições dedicadas a algumas disciplinas de marketing digital e mídia, ou seja, estratégias e meios de divulgação de um conteúdo. Na primeira aula, por exemplo, você finalmente entende tudo que está por trás de um URL como este: http://simplymeasured.com/blog/how-to-gut-check-your-performance-against-competitors/?utm_source=mkto&utm_medium=email&utm_content=20170421-prospects&utm_campaign=newsletter. Cada um desses parâmetros é importante para contabilizar por qual advento o visitante chegou ao seu site – além de medium, source e campaign, já comentados aqui, há também content que é uma etiqueta de qual conteúdo específico foi utilizado para divulgar aquele link. Ainda há o parâmetro search, para buscas pagas.

Se você trabalha com mídias sociais muito provavelmente esse Campaign URL Builder deve ser um dos sites favoritos do seu navegador. Ele é essencial para que a mensuração torne-se mais apurada, para que o analista possa compreender de perto sobre o tráfego do site a partir de visitas externas. Para quem cria conteúdo, é também importante para medir o que tem respondido de melhor forma ou não – por exemplo, é possível saber se um post específico no Facebook está gerando mais tráfego do que outro post do Facebook com outra imagem, ou até mesmo outro post no Twitter, por exemplo. Recomendo “brincar” um pouco com a ferramenta “Criador de URLs” para campanha mesmo que você não tenha um site para mensurar os resultados, apenas para fixar melhor a lógica por trás de cada parâmetro. E eles também disponibilizam uma planilha de automatização bem bacana.

Fica bastante claro que o Google Analytics funciona como uma espécie de ferramenta de monitoramento dos websites, no sentido que sua função é monitorar os rastros digitais de todos os visitantes (e como tirar inteligência a partir disso). A função de metas, por exemplo, que aprendemos na aula 3, traz isso à tona: você pode estabelecer metas na própria ferramenta para verificar a efetividade das ações do visitantes no site; para além disso, o próprio GA cria um funil de ações (semelhante ao funil de marketing) para mapear onde o visitante possivelmente desistiu de completar a ação. De forma prática: na pesquisa do Relatório Brasileiro de Social Media, por exemplo, poderíamos aferir em qual página o usuário desiste de responder as questões. Isso pode indicar uma fadiga pelo questionário estar muito grande – e podemos trabalhar para melhorar isso.

Cada uma dessas metas é completamente personalizável para se adaptar às suas necessidades de trabalho. No curso eles usam como exemplo (desde o início) uma loja de e-commerce, então mostram como configurar essa meta a partir do objetivo de venda de algum item na loja online. Essa meta (do que queremos que o usuário alcance) pode ser medida através do Destino (página específica), Duração (tempo de acesso), Páginas/Visualizações (acesso às páginas numa sessão) e Eventos (ações específicas). Aqui eles já abrem caminho para o outro curso da Academy, o E-commerce Analytics: From Data to Decisions (disponível apenas em inglês). Mas ainda no curso para iniciantes você aprende o passo a passo, com a ajuda dos instrutores, como criar e configurar essas metas – um processo simples, mas que pode ser confuso caso você não tenha familiaridade com a ferramenta. Justin e Krista passam por cada um dos detalhes da configuração, para não deixar nenhuma dúvida.

Na última aula antes da revisão do curso você ainda conhece outra plataforma bastante popular da empresa, a Google Adwords, que é mais voltada para compra de espaço publicitário do que para a análise de dados, como o GA. Ainda assim é uma ferramenta bastante popular no mercado e há cargos específicos para “Analista de Adwords”, que, a meu ver, seria uma ramificação da ramificação da ramificação do profissional de mídia – afinal, é tudo, como falei, compra de espaço publicitário online. O curso não entra no modo de usar o Adwords, mas explica alguns conceitos fundamentais (que todo profissional que trabalha com internet deve saber) sobre essa ferramenta de mídia e principalmente mostra como fazer a interação com o Analytics. Também passa rapidamente (bem rápido mesmo) sobre a questão do leilão – que se refere justamente à compra de termos de busca do Google – e de remarketing – que se refere à reexibição de anúncios baseado no histórico do visitante.

Revisão do Curso

Vamos revisar o que aprendemos no curso Google Analytics para Iniciantes. Nós discutimos:

  • como digital analytics (métricas/indicadores digitais) podem ajudar seu negócio;
  • mostramos como o Google Analytics funciona;
  • e te guiamos no processo de como criar uma conta, instalar o código de rastreamento, e configurar diferentes vistas com filtros para teste.

Você também deve se sentir confortável com como navegar pelo Analytics, como compreender visões gerais e relatórios completos, além de como configurar dashboards e atalhos para rapidamente encontrar os dados que você precisa.

Esperamos que você também entenda como fazer análise basicas nos relatórios de Público-Alvo, Aquisição e Comportamento. Ao final, te introduzimos ao rastreamento de campanhas e como configurar metas para medir conversões.

Nós também te mostramos como integrar suas contas do Analytics e Adwords para rastrear e otimizar campanhas do Adwords.


O curso é muito bom mesmo. Como mencionei anteriormente, já tinha certa familiaridade com a ferramenta, mas apenas em “aprendizados” empíricos de projetos pessoais sem objetivo algum. O modo como eles te guiam pela ferramenta é incrível, com todo o cuidado possível para que o aluno não se sinta desafiado pelos inúmeros relatórios, métricas, dashboards, funções etc. Além disso, têm toda uma preocupação de também, aliado à prática, passar uma teoria fundamental para quem trabalha com mídias sociais ou marketing digital. Mesmo tendo certo conhecimento sobre o assunto, sinto que aprendi bastante. Depois de fazer o curso o maior desafio (em vários sentidos) é colocar tudo que aprendeu em prática. Não apenas por ter que enfrentar a ferramenta sozinho, mas principalmente para realmente colocar em prática os aprendizados e treinar – porque só assim se aprende.

Eu mesmo fiz o curso faz dois meses e provavelmente já esqueci várias coisas. Instalei o GA aqui no blog e tenho tentado acompanhar algumas coisas, principalmente para me manter atualizado no que se refere à ferramenta. Recomendo a todos que façam o mesmo. Façam o curso e depois procure um projeto pequeno e/ou pessoal para treinar sempre. O certificado que você recebe (caso tenha uma nota maior do que 80% a partir das avaliações feitas em cada unidade) é apenas simbólico, o importante mesmo é aprender e encontrar outras maneiras de mostrar que aprendeu – produzindo um relatório público, quem sabe. Daqui em diante você também pode procurar outros cursos mais avançados, com professores brasileiros que te mostrem algumas aplicações reais do mercado.

Quais os conhecimentos mais requisitados em vagas de mídias sociais/digital?

No terceiro ou quarto período da faculdade, quando intensifiquei a minha busca por um estágio, tive uma ideia que nunca saiu do papel: catalogar as vagas enviadas na lista de e-mail do curso para contar quais eram os requisitos mais pedidos pelas empresas, visando, desta forma, possuir dados concretos do que eu precisava aprender e quais habilidades técnicas precisava desenvolver (para conseguir um estágio). Nessa época, entretanto, eu não sabia direito o que eu procurava enquanto profissional, nem muito menos tinha consciência do que o mercado de trabalho teria a me oferecer.

No ano passado, alguns anos depois dessa ideia que nunca foi para frente, me veio novamente a vontade de fazer algo semelhante. Não lembro perfeitamente de onde ressurgiu esse interesse, mas acredito que foi algo que me apeteceu em algumas das minhas constantes visitas a grupos de vagas no Facebook. Desta vez, além de contabilizar os conhecimentos e habilidades mais requisitados, surgiu também a curiosidade de entender outras particularidades, como as semelhanças e diferenças entre as descrições das vagas por áreas e o modo como elas se relacionam ou se diferenciam entre si. Depois de postergar a ideia por mais um tempinho (alguns meses), pude finalmente colocá-la em prática com uma metodologia completamente exploratória que pensei para a execução.

Fiz o seguinte: pedi a uma amiga dona de um grupo de vagas no Facebook focado em digital/social que rapidamente tornasse o grupo público para que eu pudesse puxar os dados dos posts com a netvizz. Como a base era muito grande (e eu apenas uma pessoa), optei por tratar apenas um ano de posts de vagas naquela comunidade. Com os dados no Excel, a única classificação que fiz foi referente à vaga/área daquele post, para que pudesse tratá-los em categorias no momento da análise. No entanto, considerei apenas as vagas que traziam, junto ao anúncio em si, pelo menos um requisito ou função daquele trabalho – afinal, era a partir desse recorte que seria feita a análise por vaga/área. Para fazer a contagem, utilizei a Voyant Tools e listei os termos mais frequentes, criando um ranking com comando simples de COUNTIF no próprio Excel.

O resultado desse trabalho eu compartilho humildemente logo abaixo. A intenção é mostrar aos estudantes, estagiários e aspirantes quais conhecimentos e habilidades eles precisam desenvolver para seguir uma carreira nas seguintes áreas. Com isso em mãos, é possível procurar por cursos específicos, treinamentos online, tutoriais de ferramentas, etc. Ratifico também que a classificação das áreas/vagas que criei foram baseadas no meu post original sobre a Profissão Social Media, ou seja, há algumas generalizações – como a complexa área de Criação, por exemplo. Além do mais, deixei de fora cargos como Atendimento, Gerente de Projetos, UX, Desenvolvedor Front-end, dentre outras, que estão relacionadas ao universo de digital (proposto pelo grupo), mas que não se encaixam no conteúdo do blog.

Business Intelligence

A área de Business Intelligence, assim como quase todas as outras, não é essencialmente de mídias sociais. No entanto, como tem mostrado a pesquisa d’O profissional de inteligência de mídias sociais nos últimos anos, o termo foi apropriado pelos profissionais da área de comunicação que viram na internet (e, mais especificamente, nas mídias sociais) uma ascensão da preocupação com a mensuração de resultados principalmente nas plataformas online. Além disso, o próprio termo “inteligência” se tornou um aparato argumentativo importante para mostrar às empresas como os dados (tanto de mídias sociais como quaisquer outros de negócios) eram capazes de gerar valor à marca.

O foco no valor (e, principalmente, nos números) explica por que Matemática é a Formação mais requisitada dentre todas as vagas analisadas. Aliás, a maioria das formações ou são ou dialogam diretamente com a área de exatas: Administração, Economia, Engenharia, Ciência da Computação, Física e Sistemas da Informação. De intrusas, Publicidade aparece no top 3 (após Administração) e Comunicação Social está no final da lista. Com um nível de sofisticação em alta, principalmente para saber mexer nas diversas ferramentas listadas a seguir, saber Inglês é pré-requisito – bem distante de Espanhol, mas que também pode ser um diferencial; aqui, vale citar que Português nem chega a ser citado, não porque não é importante, mas porque é o básico do básico do básico.

A lista de Ferramentas exigida é provavelmente a maior dentre todas as áreas: são ferramentas de métricas (Google Analytics, Facebook Insights, YouTube Analytics), de mídia (Google Adwords, Facebook Ads, Twitter Ads) e análise/dataviz (Microsoft Excel, Tableau, Qlikview, Microsoft PowerPoint). Destacam-se também principalmente, além das ferramentas nativas das plataformas, as de monitoramento (Scup, Socialbakers, Brandwatch) e as de mídia programática (DSP, DMP, DCM, Adserver). Embora o termo de BI tenha sido apropriado majoritariamente por profissionais de monitoramento/métricas, é possível perceber o quanto o mercado tem caminhado para um lado mais focado em mídia, para pensar estrategicamente (quase de forma científica) a análise e aplicação dos dados.

Isso fica ainda mais evidente quando observamos os Conhecimentos mais requisitados. Além de pedir habilidades intrapessoais como Raciocínio Lógico e Capacidade Analítica, são pedidos diversos conhecimentos com relação à manipulação para análise de dados, seja como “habilidade geral” (CRO, SEO) ou em ferramentas específicas como Excel (VBA, Macro, ProCV). Os conhecimentos de Séries Temporais e Regressões também indica uma inclinação à Ciência de Dados, ratificado pela exigência tímida porém “diferencial” em várias vagas quanto a Linguagens de programação (destaque para SQL, Python e R).

Confira o ranking completo abaixo:

Formação
  1. Matemática
  2. Administração
  3. Publicidade
  4. Economia
  5. Engenharia
  6. Ciência da Computação
  7. Comunicação Social
  8. Física
  9. Sistema de Informação
Conhecimentos
  1. Capacidade analítica
  2. Tagueamento
  3. Raciocínio lógico
  4. Estatística
  5. SEO
  6. CRO
  7. Heatmap
  8. VBA
  9. Macro
  10. ProCV
  11. Séries Temporais
  12. Regressões
  13. Inbound
Ferramentas
  1. Google Analytics
  2. Excel
  3. Adwords
  4. Facebook Ads
  5. PowerPoint
  6. Tableau
  7. Facebook Insights
  8. Adobe Omniture
  9. Pacote Office
  10. Qlikview
  11. YouTube Analytics
  12. Tag Manager
  13. Scup
  14. Socialbakers
  15. Twitter Ads
  16. Adservers
  17. Data Studio
  18. Keynote
  19. LinkedIn Ads
  20. Twitter Analytics
  21. DSP
  22. comScore
  23. Alteryx
  24. Audience Center
  25. Brandwatch
  26. DCM
  27. Flurry
  28. Iconosquare
  29. MixPanel
  30. Quintly
  31. Radian6
  32. Salesforce
  33. Klipfolio
  34. SEM Rush
  35. Stilingue
  36. Teallium
  37. DMP
  38. Navegg
Linguagens
  1. SQL
  2. Python
  3. R Programming
  4. R Stats
  5. HTML5
  6. JavaScript
  7. PHP
  8. ASP

Community Manager

Diferentemente da área de BI, Community Manager (como o próprio nome já indica, Gerente de Comunidade) não é uma “área”, mas especificamente um cargo. No entanto, também como BI, é um termo que se popularizou com a profissionalização do mercado de mídias sociais. Embora o título e a função varie de acordo com as empresas e (talvez principalmente) regionalmente, segundo descrição da trampos, “a função do Community Manager (CM) consiste em criar conteúdos e fazer interações de acordo com a linguagem da marca”. É o famoso “heavy user” de mídias sociais (sem querer soar pejorativo), só que profissionalizado.

Antes de entrar nos requisitos, preciso eticamente ratificar que a base de dados para a análise do cargo foi bem escassa. Isso é um reflexo também da “impopularidade” do termo, que ainda tenta se consolidar no mercado – mas também se refere ao período “curto” de recorte da análise (apenas um ano). Ainda assim, de acordo com as vagas divulgadas e fazendo também uma correlação com a matéria anteriormente citada, é possível perceber como o CM é um “Social Media evoluído”. Ele analisa, produz e responde. É o responsável por uma comunidade inteira. Em outras palavras, é o “social media” que deu certo.

Por isso os Conhecimentos mais requeridos são tão diversos: Redação, Monitoramento (que também detém as ferramentas mais citadas, Scup, Seekr e Buzzmonitor), Gestão, SAC, Planejamento, Performance (aqui, Facebook Ads). No entanto, eu argumentaria – mais pela análise quali do que quanti – que a função de Community Manager atravessa principalmente as áreas de planejamento, criatividade e relacionamento (o trabalho de monitoramento serve como base desse trabalho). Ainda assim, faço o mea culpa e ratifico que o banco de dados foi muito pequeno para tentar desenvolver qualquer argumentação sólida. Espero poder desenvolver algo maior e mais concreto ainda este ano.

Criação

 

Como mencionei na série Profissão Social Media, generalizei bastante a área de Criação – embora não tenha nada incongruente, apenas ratifico que coloquei diferentes funções técnicas no mesmo guarda-chuva criativo. Isso quer dizer que aqui temos Redatores, Designers (só aqui há várias ramificações de trabalho, para Web, UX, etc.), Diretores de Arte, Conteudistas em geral, dentre outros. No entanto, o foco é praticamente o mesmo para todos eles: são esses famosos criativos que vão elaborar o produto final – seja uma peça, um site, um banner, um vídeo, etc. É importante lembrar que o grupo onde foi feita a análise é de vagas para “digital”, ou seja, não há apenas trabalhos específicos para mídias sociais, mas engloba outras vertentes do online também.

A Formação que mais se destaca, como já era de se esperar, é Publicidade – e suas vertentes de Marketing. Em seguida, temos Comunicação Social, Design, Jornalismo e Administração. É curioso perceber, no entanto, como as vagas têm seguido um caminho para além da criação comum que conhecemos – dialogando cada vez mais com a frente de desenvolvedores e programadores. Os Conhecimentos em UX, UI, CSS e até mesmo SEO mostram como a área criativa está se adaptando à tecnologia (também, de certa forma, a partir de dados). Outros conhecimentos como Inbound, Monitoramento e Métricas reforça o caráter digital atribuído à área, que tem na internet um vasto campo de desenvolvimento tanto para dentro (pensando os profissionais) quanto para fora (pensando os usuários/consumidores).

Dentre as Ferramentas mais citadas, temos principalmente o famoso Pacote Adobe: Photoshop, Illustrator, InDesign, After Effects e até o DreamWeaver. No entanto, encontramos também várias outras consequentes do cenário digital, como WordPress para blog; Google AnalyticsScup, Seekr e Buzzmonitor para monitoramento e métricas; Hubspot e RDStation para inbound/e-mail marketing; Instamizer e Hootsuite para gestão, dentre outras. Esse cenário mostra que os criativos não vão deixar de lado seu cerne de criatividade, mas estão se adaptando às novas realidades interacionais digitais que podem vir a sustentar vários dos seus insights de criação.

Para você que trabalha com esta área, vale reforçar a importância de um portfólio (mesmo que seja óbvio, apareceu na nuvem de tags mas não coloquei em nenhuma categoria porque não se encaixava, embora fosse constante). Destaco também, além de mergulhar nos estudos sobre tecnologia (apenas reforçando), vários casos em que a vaga pedia por pessoas “apaixonadas” por certo universos – principalmente entretenimento, cultura pop e games. A Nathália Capis, no curso da CoLab, ratificou essa importância de desenvolver projetos paralelos que não apenas criem portfólio, mas (e talvez principalmente) mostre um pouco mais sobre você.

Ferramentas
  1. Photoshop
  2. Illustrator
  3. InDesign
  4. WordPress
  5. Pacote Adobe
  6. Blog
  7. Pacote Office
  8. Premiere
  9. After Effects
  10. Google Analytics
  11. Dreamweaver
  12. Sketch
  13. Scup
  14. Seekr
  15. Buzzmonitor
  16. Excel
  17. Adwords
  18. PowerPoint
  19. Socialbakers
  20. Hubspot
  21. Hootsuite
  22. MLabs
  23. Instamizer
  24. iMovie
  25. Hugme
  26. Gain
  27. Adobe Muse
  28. Adobe Flash
  29. Bootstrap
  30. Unbounce
  31. RDStation
  32. Corel
  33. Animate
  34. Prezi
Conhecimentos
  1. UX
  2. UI
  3. CSS
  4. SEO
  5. Inbound
  6. Gestão
  7. Tipografia
  8. Métricas
  9. JavaScript
  10. Edição de Vídeo
  11. Monitoramento
  12. Estatística

CRM

Assim como a base CM, as vagas de CRM também foram relativamente baixas (comparada às demais). No entanto, acho importante falar sobre essa área aqui porque vejo vários conteúdos abordando o assunto mas pouco falando sobre a profissãoCRM é a sigla em inglês de “Customer Relationship Management” (Gestão de Rleacionamento com o Cliente), cuja descrição da Salesforce explica bem: “se refere a um conjunto de práticas, estratégias de negócio e tecnologias focadas no cliente que, desde pequenas e médias, até grandes empresas, podem utilizar para gerenciar e analisar as interações com seus clientes, antecipar suas necessidades e desejos, otimizar a rentabilidade e aumentar as vendas e a assertividade de suas campanhas de captação de novos clientes.”

Assim como BI, o termo foi nos últimos anos apropriado pelas ferramentas de monitoramento de mídias sociais que também associam frequentemente esse trabalho ao famoso SAC 2.0. Deste modo, CRM/SAC 2.0 se consolida no mercado simplesmente como relacionamento com cliente, muitas vezes focado apenas na interação e sem dar a devida atenção ao valor que essa interação, quando transformada em dados, pode gerar às empresas. No Brasil, vários casos de interação entre marcas e clientes (bancos, varejos, etc.) viraram “cases” de mídias sociais, na era áurea da popularização e profissionalização do mercado. Nos últimos anos, no entanto, os usuários se acostumaram com as mirabolanças (sem querer soar pejorativo) e há pouco destaque para esses casos.

Seguindo, enfim, para as vagas, percebemos que não há preferências quanto à Formação: Publicidade, Jornalismo, Administração, Relações Públicas, Comunicação Social e até Sistemas de Informação aparecem com números semelhantes. Nos Conhecimentos, Monitoramento e Gestão se destacam, seguidos de habilidades de Redação e SAC. E as ferramentas seguem em consonância: Excel, Pacote Office, PowerPoint, Photoshop, Google Analytics, Scup (monitoramento), Illustrator e Salesforce (monitoramento/CRM). É importante pontuar que algumas dessas habilidades, novamente, ultrapassam as “barreiras” das mídias sociais – isso acontece porque, no grupo, algumas vagas de analista de CRM englobam tanto mídias sociais quanto e-commerce, por exemplo.

Assim como as demais áreas de dados, há uma tendência cada vez maior de integrar as informações das mídias sociais a demais informações de negócios. Embora isso seja essencial e urgente, acho que ainda falta um debate mais humano de como trabalhar o relacionamento com os usuários (não apenas clientes) de maneira sofisticada. Geralmente são grandes empresas que têm esse cuidado, principalmente banco (Bradesco, Itaú, etc.), que precisam desse fluxo de atendimento, mas também outras grandes companhias como Coca-Cola, Vivo, Avon, dentre outras.

Métricas

Enquanto fazia a classificação das vagas, fiquei na dúvida se unia os cargos de Métricas e monitoramento ou trazia de forma separada. Embora as duas atividades sejam bastante entrelaçadas no mercado (como a própria nuvem de palavras ilustra), achei que seria melhor tratá-las separadamente – até porque a maioria das vagas tinham funções específicas de monitoramento ou métricas (sem contar os cargos mais expandidos de BI, que já considerei de forma distinta anteriormente). As vagas daqui, portanto, são específicas de métricas – em sua nomenclatura.

Assim como Business Intelligence, a área de Métricas têm valorizado cada vez mais Formações em cursos de exatas: Administração, Matemática, Estatística, Economia e até Engenharia aparecem dentre as mais citadas, com Publicidade correndo por fora. Isso é reflexo de uma “cultura de dados” cada vez mais consolidada no país: de acordo com uma pesquisa da MediaMath em parceria com o Winterberry Group, “36% dos executivos aumentaram seus investimentos em marketing e publicidade orientados por dados, em comparação com 26% no ano anterior”. No entanto, há um recorte regional importante a ser considerado nesse contexto, como bem pontuou José Calasanz neste post – e que é refletido na minha análise, já que a maioria das vagas são de São Paulo.

De qualquer forma, esta é uma realidade que (mesmo que encontre certas dificuldades de se consolidar em alguns mercados específicos) não tem volta. A supremacia do Excel no topo da lista de Ferramentas mostra como tratar e analisar dados (das mídias sociais ou não) é uma prioridade de várias empresas. Destacam-se também ferramentas próprias (Google Analytics, Facebook Insights, YouTube Analytics) e de monitoramento (Scup, Socialbakers, Buzzmonitor, Seekr, Sprinklr). Ao que parece, as vagas de métricas têm nível mais Jr./Pleno, sendo atribuídas funções e o papel de Cientista de Dados mais aos profissionais Sênior, na área de BI. Não tenho certeza, mas essa é a impressão que eu tenho.

Formação
  1. Administração
  2. Matemática
  3. Estatística
  4. Publicidade
  5. Economia
  6. Engenharia
Ferramentas
  1. Excel
  2. Google Analytics
  3. PowerPoint
  4. Scup
  5. Facebook Insights
  6. YouTube Analytics
  7. Socialbakers
  8. Buzzmonitor
  9. Adobe Analytics
  10. Seekr
  11. Quintly
  12. Sprinklr
  13. Adserver
  14. Tag Manager
  15. IBM Coremetrics
  16. Webtrends

Mídia

As vagas para a área de Mídia foram, disparadamente, as mais frequentes dentre o recorte da análise. De modo superficial, pode-se atrelar esse fator a duas questões relevantes: 1) como já comentei neste post, não há mais como atuar nas mídias sociais sem pagar pedágio – muito recentemente o Facebook anunciou que tem mais de 5 milhões de anunciantes; 2) novamente, reitero que o grupo não limitava as vagas à área de mídias sociais, ou seja, algumas das posições analisadas englobavam não apenas o universo de social, mas geralmente solicitava um conhecimento mais amplo dos profissionais – como fica evidente na lista de ferramentas, por exemplo, onde várias delas são provenientes de mídia programática.

Aqui é interessante perceber que, embora seja uma área com uma abundância (e relevância) de dados cada vez maior, a Formação em Publicidade se mantém como mais requisitada em números bem além das segunda colocadas, Matemática e Estatística. Aliás, dentre todas as áreas já citadas, esta leva o título de maior variedade entre as formações: Economia, Comunicação Social, Administração, Jornalismo, Relações Públicas, Ciências Humanas e Engenharia. O conhecimento da língua inglesa também foi bastante reforçado em várias oportunidades, o que mostra uma exigência mais clara e talvez dialogue com o fato de que várias das ferramentas utilizadas são completamente em Inglês. Como diferencial que pode gerar valor ao candidato, o Espanhol também aparece com bem mais frequência do que nas demais áreas.

Ao observarmos os Conhecimentos, percebemos o que mencionei anteriormente, para além das mídias sociais: são fatores de mídia digital como um todo (Display, Search, Links Patrocinados, Shopping, Remarketing, SEO, Retargeting, Dashboards, Inbound) e de mídia programática (RLSA, Truview). Dentre as ferramentas, essas categorias se repetem: mídias de social (Facebook Ads, Twitter Ads, LinkedIn Ads, Instagram Ads, Power Editor), mídia digital (Adwords, Google Analytics, Bing Ads), mídia programática (DSP, DCM, Bid Manager, Adservers, ) e ferramentas de pesquisa de mídia “tradicionais (TGI, Ibope, ComScore, Ipsos) – a lista completa você confere abaixo. Se você é um profissional em busca de realocação, saiba que o mercado de mídia (digital, não apenas social) é pulsante.

Formações
  1. Publicidade
  2. Estatística
  3. Matemática
  4. Economia
  5. Comunicação Social
  6. Administração
  7. Jornalismo
  8. Relações Públicas
  9. Ciências Humanas
  10. Engenharia
Conhecimentos
  1. Display
  2. Programática
  3. Search
  4. Links Patrocinados
  5. Shopping
  6. Remarketing
  7. SEO
  8. Native Ads
  9. Dashboards
  10. Tagueamento
  11. Inbound
  12. Retargeting
  13. RLSA
  14. Trueview Bumper Ads
Ferramentas
  1. Adwords
  2. Excel
  3. Facebook Ads
  4. Google Analytics
  5. PowerPoint
  6. Twitter Ads
  7. LinkedIn Ads
  8. Adservers
  9. Ibope
  10. Instagram Ads
  11. Power Editor
  12. ComScore
  13. Bid Manager
  14. Pacote Office
  15. TGI
  16. DBM
  17. Tag Manager
  18. DSP
  19. Turn
  20. DCM
  21. Hubspot
  22. Bing Ads
  23. Kenshoo
  24. Workstation
  25. Planview
  26. Mailchimp
  27. Supermetrics
  28. Klipfolio
  29. DMPS
  30. Ad Espresso
  31. Melt
  32. Business Manager
  33. DataXu
  34. Critix
  35. Yahoo Search
  36. Marketing
  37. Ipsos
  38. SEMrush
  39. Adobe Site Catalyst
  40. Criteo

Monitoramento

Há duas frentes que tomaram conta do trabalho de Monitoramento no mercado: a primeira, diz respeito aos cargos e funções que usam o monitoramento apenas como aporte tecnológico para interações e relacionamento com cliente (CRM, como já citado aqui); já a segunda, tão comum quanto, está relacionado a performance/buzz, ou seja, usar do monitoramento para avaliar a receptividade do público perante alguma situação (lançamento de uma campanha, ação, produto novo, etc.). Não que essas atribuições sejam rasas, mas há de se lamentar o potencial subutilizado do monitoramento de mídias sociais. Estudos de público, audiência, segmentos, personas e muitas outras análises mais profundas que não condizem com as realidades urgentes das agências de comunicação.

Diferente das demais áreas correlatas de dados, as vagas de monitoramento têm no escopo de Formação certa variedade: Comunicação Social, Relações Públicas, Sociologia, Jornalismo, Publicidade e até Matemática. No Idioma, Inglês aparece com certa frequência e Espanhol vem como diferencial – geralmente em vagas de empresas com bases na América Latina, como a LATAM. Dentre os Conhecimentos, noções de métricas são bastante valorizadas, além de tagueamento e CRM. É interessante perceber como há uma associação com métricas que parte mais daqui para lá do que de lá para cá. Talvez isso esteja associado ao fato de que o monitoramento foi associado a métricas no contexto de mídias sociais, mas web analytics surgiu e se consolidou de forma independente.

Dentre as Ferramentas, a predominância de plataformas de monitoramento como era de se esperar: Scup, Socialbakers, Seekr, Sprinklr, Brandcare, Tweetdeck, Radian6, Brandwatch, Vtracker – fora dessa curva, mas ainda se destacando, estão Pacote Office: principalmente Excel e PowerPoint. Há também, entretanto, ferramentas de métricas (Facebook Insights, Twitter Analytics, YouTube Analytics, Google Analytics – além das próprias ferramentas de monitoramento que também trazem módulos específicos de analytics) e até de mídia (Facebook Ads). Comparado às demais áreas “de exatas”, entretanto, a lista é relativamente curta – mais importante do que saber manusear, é saber “estrategicizar”.

Formação
  1. Comunicação Social
  2. Publicidade
  3. Relações Públicas
  4. Jornalismo
  5. Sociologia
  6. Matemática
Conhecimentos
  1. Métricas
  2. Tagueamento
  3. CRM
Ferramentas
  1. Scup
  2. Excel
  3. Socialbakers
  4. Seekr
  5. PowerPoint
  6. Facebook Insights
  7. Twitter Analytics
  8. Sprinklr
  9. Brandcare
  10. Tweetdeck
  11. YouTube Analytics
  12. Radian6
  13. Pacote Office
  14. Quintly
  15. Brandwatch
  16. Facebook Ads
  17. Vtracker
  18. Google Analytics

Planejamento

Como a nuvem de palavras já indica, o profissional de Planejamento precisa ter um amplo guarda-chuva de conhecimentos sobre várias e diferentes nuances de negócios/comunicação (social e digital) – mesmo que esse não seja aprofundado, mas pelo menos relativamente sólido. Entrarei em mais detalhes sobre a função no próximo capítulo da série Profissão Social Media, mas achei interessante pontuar esse fator porque é algo que tenho visto constantemente em artigos, debates e materiais sobre a área – em suma, é esse lema: repertório importa (e muito!).

Nas vagas analisadas, foram poucas que exigiram especificamente alguma Formação para o cargo – dentre esse seleto grupo, apareceram Publicidade, Comunicação Social e (para destoar completamente) Estatística. A proficiência em Inglês, entretanto, foi ressaltado em diversas oportunidades, sendo o Espanhol tratado novamente como diferencial (semelhante ao Monitoramento). Os Conhecimentos estão em consonância com o que falei anteriormente (de tudo, um pouco): Performance, Métricas, UX, Monitoramento, Inbound, Web Analytics, CRM, SEO, Design Thinking.

Na lista de Ferramentas, que também segue essa pluralidade de conhecimentos, acho interessante pontuar um fato curioso: foi a primeira vez que o PowerPoint apareceu na frente do Excel dentre todas as áreas – se juntar com a frequência do Keynote, dispara ainda mais. No mais, temos ferramentas de mídia (Adwords, Facebook Ads), de métricas (Socialbakers, Google Analytics, Omniture), de monitoramento (Scup, Seekr) e de criação (Photoshop, FinalCut). Arrisco dizer que, para trabalhar com planejamento, é preciso ter mais habilidades “qualitativas” do que técnicas (além do já mencionado repertório).

Conhecimentos
  1. Performance
  2. Métricas
  3. UX
  4. Monitoramento
  5. Inbound
  6. Web Analytics
  7. CRM
  8. SEO
  9. Design Thinking
Ferramentas
  1. PowerPoint
  2. Excel
  3. Keynote
  4. Adwords
  5. Facebook Ads
  6. Socialbakers
  7. Google Analytics
  8. Scup
  9. Omniture
  10. Seekr
  11. Adservers
  12. Twitter Ads
  13. LinkedIn Ads
  14. Photoshop
  15. FinalCut
  16. iMovie
  17. TGI

Social

Por fim, analisei as vagas cujo título remetiam de alguma forma ao trabalho de Social Media (ou simplesmente Social). Embora haja um argumento de que essa realidade generalista esteja um pouco ultrapassada, há ainda grande demanda por esses cargos “faz-tudo” – na base que analisei, ficou atrás apenas de Mídia em número de oportunidades. No entanto, o que percebo é que, diferente das demais áreas, este cargo não tem uma “funcionalidade” específica, é mais uma atribuição para indicar que: 1) o trabalho é voltado para mídias sociais e/ou; 2) você vai fazer de tudo, um pouco.

Dentre as Formações mais citadas, não há grande variedade: Publicidade, Jornalismo, Relações Públicas e Comunicação Social. Inglês é essencial e um bom Português também é pré-requisito, enquanto Espanhol continua sendo diferencial para algumas oportunidades específicas. E o profissional “faz-tudo” se concretiza ao observarmos os Conhecimentos solicitados: monitoramento, planejamento, redação, gestão, SAC, métricas, SEO, performance e web analytics. Uma vaga trouxe especificamente o pedido por: “planejamento, produção de conteúdo, programação de postagens, pesquisas de concorrentes, monitoramento e SAC”.

Todos esses tentáculos de conhecimento também se traduzem nas ferramentas, que podem ser consideradas básicas para quem trabalha no mercado, sem nenhum aprofundamento em área mais específica. Facebook Ads, Excel, Google Analytics, Photoshop, Adwords, Scup, Sprinklr, Socialbakers, Twitter Ads, LinkedIn Ads, Pacote Office, Buzzmonitor e Illustrator. Segundo o mercado, é só isso que você precisa para ser um social media e ter sua própria eu-quipe. Não que conhecimento não seja bom, mas conhecimento qualificado tem mais valor do que conhecimento generalizado.


Antes compartilhar alguns apontamentos finais, só por curiosidade, compartilho o “ranking” geral (Conhecimentos, Ferramentas, Formação, Linguagens) com todas as áreas juntas – e já deixo meu adendo: se você quiser trabalhar com digital/mídias sociais, é melhor garantir a proficiência em inglês e aprender o máximo possível de Excel:

Considerações finais

  1. Agradeço a Mariana Oliveira, dona do grupo VAGAS do <3 – Social, BI, Mídia, Digital, por ter proporcionado o trabalho. Sem isso, não teria análise! Muito obrigado, Mari <3
  2. Agradeço também a Mayara Mendes e Anna Carolina, que me ajudaram na classificação das mais de 600 vagas que coletei no período de um ano; a Ana Cláudia Zandavalle, Juliana Freitas e Kaique Oliveira, que tentaram me ajudar a não cometer gafes.
  3. Feitos os agradecimentos, algumas ressalvas importantes: este foi um projeto bem exploratório. Eu fiz (quase) tudo manualmente, na unha, apenas com o intuito de tentar levantar um cenário razoavelmente sólido do mercado.
  4. Houve, por exemplo, alguns “empecilhos” metodológicos: algumas vagas divulgam textos apenas em inglês (o que não impossibilita puxar o nome de ferramentas, mas dificulta como um todo), outras nem requisitos apresentam – apenas divulgam a oportunidade; dentre outras coisas.
  5. Peço desculpas e um pouco de paciência caso eu tenha cometido alguma gafe ao falar sobre áreas que desconheço, principalmente Mídia. Se há alguma correção a ser feita, por favor, peço a sinalização para que eu possa consertar no texto.
  6. Reforço que foi um estudo exploratório. Há muita coisa que poderia ser feita (e espero que seja, algum dia): analisar um recorte maior para conferir a evolução dos requisitos de mesmos cargos; verificar as demandas por grupos e (principalmente) por estados; usar uma base de dados mais ampla, como de sites específicos de vagas para ampliar as informações; dentre várias outras coisas.
  7. Com uma demanda e oferta cada vez maior de cursos livres de mídias sociais e marketing digital, esse é um tipo de estudo que pode ajudar muito a elaborar cursos pensados em caixinhas para profissionais e áreas específicas.
  8. Não sei se tenho permissão para divulgar publicamente a planilha porque há informações razoavelmente restritas nela, mas pode entrar em contato que tentamos conversar alguma maneira de fazer isso.
  9. Obrigado!

CoLab Social Media: métricas, relatórios e dataviz (4/6)

Depois de um breve período de hiato, retomo a série de posts do CoLab Social Media. Se você chegou aqui de primeira, saiba que este é o quarto texto de um total de seis. Já publiquei sobre os módulos de comportamento do consumidor/tendências e planejamento, real-time marketing e mídia online. Na postagem de hoje, abordo os módulos de métricas e dataviz, para na próxima semana finalizar a série com monitoramento, conteúdo e comunidades.

A facilitadora dos módulos de métricas de mídias sociais e relatórios e dataviz é a Julie Teixeira, ex-coordenadora de BI da Revista Trip e agora head de Inteligência na Remix Ideas – cujo trabalho já foi apresentado aqui no blog no ano passado e provavelmente será retomado com ênfase ao chegarmos na segunda parte deste post. Começamos, entretanto, falando sobre a parte de métricas, com um foco especial para a parte de web analytics e métricas para plataformas de vídeos. Segundo Julie, essa estrutura didática nos permite entender os principais conceitos da área que podem – e devem – ser replicados/adaptados em diferentes plataformas, serviços e objetivos de trabalho.

Foi interessante ter logo de início um conteúdo menos voltado para mídias sociais (como é a proposta do curso da Trespontos) e mais voltado para web analytics. Como Julie tem um amplo repertório de BI, pôde oferecer uma visão geral bem completa de alguns conceitos básicos de métricas do Google Analytics – que, como já dito, pode ser replicado e adaptado para outras ferramentas. O GA é a segunda ferramenta mais utilizada por profissionais de inteligência de mídias sociais no Brasil, o que é curioso, já que ele não apresenta dados das próprias plataformas em mídias sociais. No entanto, isso demonstra o quanto as empresas têm investido cada vez mais numa estratégia inbound, integrando o trabalho de mídias sociais com plataformas próprias.

Vale reforçar também que o Google Analytics é uma plataforma freemium, que atende perfeitamente às necessidades das maiorias das empresas em sua versão gratuita. A única diferença relevante é que esta faz uma mensuração por amostragem, enquanto que a versão premium (paga) fornece todos os dados disponíveis e não entrega seus dados para possíveis análises de mercado. Segundo Julie, isso acontece porque o Google oferece alguns benchmarks de segmentos (por exemplo, telefonia móvel) para comparativos de atuação. No curso ela também recomenda outras ferramentas, como a Chartbeat, interessante para clientes de editoria, pois gera um mapa de calor para as páginas do seu site.

Deixando um pouco de lado a plataforma e focando de fato nas métricas, ela apresenta no curso dois “níveis” diferentes: audiência e engajamento – também comum em conteúdos voltados para as mídias sociais. A primeira, como descrita abaixo, tem sua atenção voltada para o público, enquanto a segunda indica o “interesse” do público, ou seja, de que modo ele agiu nas páginas. No Google Analytics essas métricas de engajamento são pautadas no que chamam de “eventos”, que são todas as (inter)ações feitas num site (cliques, scroll, etc.) – e precisa ser pré-configurada para cada conta.

  • AUDIÊNCIA – MÉTRICAS DE PÚBLICO
  • Usuários únicos – em um período. quantas pessoas entraram no site (GA guarda o cookie por 90 dias ou até limpar o histórico);
  • Sessões – uma visita no site (após 30 minutos de inatividade a sessão expira e começa outra) *métrica mais usada do mercado;
  • Pageviews – os pageviews dizem quantas páginas foram navegadas no período (maior volume de pageviews contribui para aumentar nossas impressões) *atenção para o URL: alguns sites não mudam a URL conforme a navegação do usuário, neste caso, é preciso “forçar” uma leitura para o GA fazer essa contagem.
  • ENGAJAMENTO – MÉTRICAS DE INTERESSE (cruzamento de duas métricas)
  • Pageviews por sessão – um dos principais indicadores de interesse dos usuários pelo conteúdo de um site: a cada sessão, quantas páginas o usuário visitou;
  • Tempo médio de sessão – quanto tempo a pessoa passa no site em cada sessão (expira até 30 minutos de inatividade e inicia uma nova sessão depois)
  • Taxa de rejeição (bounce rate) – indica quantas pessoas entraram em apenas uma página do site (não se interessaram por nenhum outro conteúdo — sessões que visitaram apenas uma página dividido pelo total de sessões) *Ser alta não significa algo ruim: a depender do objetivo, vale verificar se o usuário não está gastando muito tempo no site para achar algo simples (uma taxa baixa, nesse caso, pode ser ruim).

O trabalho no GA é bastante investigativo. A pensar pelas métricas de dados do usuário, por exemplo, é possível ter em mãos: fonte de tráfego – de onde ele veio?, busca orgânica ou alguma campanha? (a URL parametrizada pode indicar a resposta); tipo de dispositivo – qual plataforma está sendo usada para consumir meu conteúdo?, mobile ou desktop? (a taxa de rejeição de um dispositivo específico pode indicar soluções específicas para melhor atender uma parcela dos usuários); fluxo de navegação – qual é o trajeto que o usuário faz desde a entrada até a saída do meu site?; palavras-chave busca paga – qual foi o termo de busca que levou o usuário ao meu site?; assuntos mais lidos – o que gera mais interesse?; localização – onde está meu usuário?.

Como já mencionei anteriormente, foi interessante ter uma estrutura didática que começasse pelos conceitos básicos de web analytics para então seguir com o tema de métricas para mídias sociais. Embora reconheça que (principalmente grandes marcas) usem as mídias sociais apenas como “ponte de divulgação”, acho que, pelo menos para quem está começando a estudar sobre o tema, talvez seja melhor começar pelo básico – neste post você confere meu texto sobre os dois primeiros cursos que fiz na área, sobre métricas de mídia sociais. Isso porque considero este assunto mais fácil, enquanto o tema de web analytics – que é também anterior às mídias sociais – exige um pouco mais de refinamento no conhecimento.

A proposta de Julie para métricas de mídias sociais, aliás, é diferente da que é mais comum nos cursos e materiais do mercado. Explico: os “níveis” de categorias mais conhecidos são dimensão/base (público) e interação/engajamento (ação), onde a primeira é referente ao universo de análise e a segunda correspondem às respostas aos usuários. No conteúdo do curso, a métrica de engajamento é vista como métrica de audiência (ou dimensão/base); como métrica de engajamento, Julie considera a ação dos usuários sobre o universo alcançado (ou seja, engajamento dividido por impressões). Para alguns profissionais, isso já deixaria de ser métrica e passaria a ser um KPI (key-performance indicator).

Não estou aqui para julgar (nem me vejo capaz ou com propriedade para isso), mas achei curioso contrapor esses diferentes métodos porque de fato “engajamento” é um termo bastante complexo ainda nos dias de hoje quando falamos de marcas na internet. A conclusão que cheguei numa breve reflexão é que não importa o meio, mas o destino, ou seja, tudo – como sempre – depende do objetivo. O importante é mostrar de onde veio e para onde vai (ou pretende ir). Como Julie menciona no curso, não há padrões ou parâmetros (comparativos) fixos, o ideal é contrapor com resultados antigos – dados internos: histórico, investimento, frequência de postagem, conteúdo, horários de postagem, percentual ativo da base, etc.

A mensagem passada é que, entendendo esses conceitos gerais de métricas de audiência (volume, alcance) e de engajamento (público, interesse), é possível aplicá-los em outras métricas de várias plataformas. No curso, por exemplo, ela apresenta um cenário geral de algumas métricas para plataformas de vídeo – mais especificamente Facebook e YouTube. Com o aumento da produção de vídeos para a web, houve certa discussão e debate sobre qual seria a melhor plataforma para divulgação. Como tudo na comunicação: depende (do objetivo). Abaixo, uma tabelinha que fiz com as métricas e atribuições para cada plataforma passada no material do curso. Em suma, no entanto, cada uma serve melhor aos propósitos:

  • Facebook: vídeos pontuais com necessidade de alto alcance ou conversão fora da plataforma; menor qualidade de retenção do usuário/conteúdo; sem possibilidade de merchan/product placement/pre-roll;
  • YouTube: fomentar comunidade, projetos de frequência/formato e temática específica, construção de marca; Usuário mais caro (distribuição e produção); monetização, merchan e product placement permitidos.
Métricas para plataformas de vídeos – principalmente Facebook e YouTube (clique na imagem para ampliar)

Com esse conteúdo de métricas para plataformas de vídeos chega ao fim o módulo de métricas de mídias sociais do CoLab Social Media – adiante, vamos falar sobre dataviz e relatórios. Essa é uma preocupação crescente no mercado que tem ganhado cada vez mais a atenção de analistas, coordenadores, gerentes e profissionais como um todo, que aprenderam a lidar com os números saindo da área de humanas e agora precisam voltar para um lado mais artístico com a apresentação sobre essa avalanche de dados. Nesse cenário, conhecimentos apenas sobre gráficos são insuficientes – é preciso ir mais a fundo nos estudos de profissões que já lidam com muitos dados há muito tempo.

Não vou me estender neste post sobre o módulo de dataviz porque ele segua a mesma apresentação feita no Social Analytics Summit 2015, sobre qual eu fiz um texto específico em janeiro do ano passado. Em resumo, acho importante lembrar: dataviz não é só parceria com diretores de arte, envolve apresentar padrões, destacar resultados e resumir os números – contar uma história; muita atenção para margem e alinhamento (!), permita que as informações respirem; hierarquia da informação é algo importante para direcionar a leitura (lembre-se que você é quem conduz a narrativa); tenha sempre alguns layouts “prontos” que sigam um padrão de esquematização proporcional à importância das informações, para que você possa apresentá-los com facilidade.

data-ink

Outro conteúdo importante que vale replicar é a recomendação de quando utilizar cada instrumento de leitura. Tabelas, por exemplo, são mais apropriadas para valores individuais, exatos, mais de uma unidade de medida, enquanto gráficos são ideais para relações e tendências. Colunas empilhada são indicadas para contribuição entre séries, com sua versão totalizante recomendada para contribuição proporcional. Nas colunas, nomes curtos; em barras, nomes longos, duração. Linhas são como setas (indicam de onde veio e para ondem vão), então são bons para tendências/grande volume de dados – e linhas com marcadores, para volume menor (médio) de dados. A área só é indicada para representatividade no todo, com sua versão totalizante para proporção.

Outras dicas importantes (que vale a pena repetir):

  • Gráfico de pizza: nunca. Jamais;
  • “Isso é bom?”: um dado descontextualizado é apenas um número. Sempre faça comparativos e/ou use um referencial para mostrar ao leitor se o que aconteceu está melhor ou pior;
  • Parâmetros: nesse trabalho de fazer comparações, cuidado com a natureza dos dados que serão comparados – eles precisam ser de uma mesma “categoria” (!) para que essa comparação possa ser válida (atenção também à proporcionalidade, principalmente na exibição dos gráficos);
  • Resultado-conceito (ou, “iai, neyn, comé ki fica?”): a depender de quem vai ler o relatório, é importante tentar sempre ser bastante claro: “o resultado foi bom/ruim/satisfatório/insatisfatório/nota 7/etc.”;
  • Atenção à estética: fontes – é recomendável usar apenas duas fontes (título e corpo do texto, a primeira mais “artística” e a segunda mais “sóbria”); paleta de cores – para dados sequenciais, usar uma mesma cor em diferentes intensidades, para dados divergentes, cores de sentimentos-padrão, para dados categóricos, cores distintas; ícones – “uma imagem vale mais que mil palavras”, neste caso, somente para legenda.

Embora não tenha me estendido muito no material do curso, reforço que gosto muito do conteúdo da Julie. Ele me ajudou bastante na produção do meu primeiro relatório público de monitoramento, assim como esse outro guia feito pelo Júnior Siri. Ambos têm um caráter ainda introdutório sobre o que de fato é dataviz (no levantamento de 100 Fontes sobre Pesquisa e Monitoramento de Mídias Sociais do IBPAD você vê pesquisadores como Judith Donath e Fernanda Viegas – além do mais conhecido, Nathan Yau, do FlowingData – estudando isso a fundo). No entanto, são ótimos conteúdos para o contexto do mercado de mídias sociais. Nesse sentido, também queria indicar esse guia e esse post.

No mais, queria mais uma vez elogiar o conteúdo do CoLab Social Media. Já estamos chegando perto do fim do curso e tenho ficado cada vez mais satisfeito com o conteúdo. Embora o material sobre dataviz esteja público (confira abaixo), é muito diferente vê-lo sendo explicado por quem o desenvolveu. Vale muito a pena! Eu, aliás, já tive meu período de “degustação” expirado e paguei pelo acesso vitalício. 🙂

Profissão Social Media: áreas de atuação e fontes para estudo

[Post feito com a colaboração de Mayara MendesMari Ferreira e Juliana Freitas]

É muito difícil, para quem está começando, conseguir enxergar todo o ecossistema de Social Media. A chamada profissão Social Media”, na verdade, engloba diversas áreas de atuação e práticas profissionais diferentes, tanto referentes à democratização da produção e acesso aos canais de mídia quanto ao caráter essencial das novas plataformas e tecnologias da comunicação. No entanto, quem começa a trabalhar com mídias sociais sem o reforço de um curso de graduação apropriado geralmente tem dificuldade de identificar todos os tipos de prática dentro desse universo comunicacional.

Para além disso, é importante admitirmos que a grande maioria dos profissionais trabalhando com mídias sociais são “novatos” da comunicação (digital). A primeira pesquisa d’o perfil do Social Media brasileiro realizada pela trampos em parceria com a Alma Beta elencou cinco “tipos” de profissionais: novato, júnior, empreendedor, sênior e freelancer, sendo os dois primeiros (estagiário e analista jr.) a maioria esmagadora a responder à pesquisa. Baseado no que tenho visto enquanto entusiasta e estudante (e estagiário atrás de vagas), enxergo pelo menos três níveis de maturidade das empresas que reflete nos tipos de profissionais e suas atuações:

1) O mundo ideal: aquele profissional (jornalista, publicitário, etc.) que trabalha em médias ou grandes agências/empresas, cujo escopo de trabalho é bem delimitado e específico para tratar de questões que correspondem apenas à sua formação e experiência profissional;

2) O mundo da fantasia: o profissional que já trabalha numa agência de publicidade e comunicação, mas que acaba sendo (muitas vezes o único, mas também numa equipe mais curta) responsável pelos esforços de comunicação online/digital/em mídias sociais;

3) O mundo real: um profissional independente, geralmente freelancer, que atende a pequenas e médias empresas e é também um faz-tudo: pesquisa, planeja, produz, publica, promove, etc. (quando fisicamente possível).

No mercado glamourizado e extremamente restrito da publicidade brasileira, é evidente que o que mais encontramos por aí – também graças à descentralização de poder comunicativo proporcionada pelas mídias sociais – é o mundo 2 e o mundo 3 (com algumas nuances, mas essencialmente dentro dessas condições). Ao mesmo tempo em que a popularização do “profissional de mídias sociais” foi benéfica ao trazer para jogo várias oportunidades de um mercado historicamente bem fechado, também resultou num desgaste – ou numa desvalorização – das atividades práticas que envolvem o marketing digital.

Nesse contexto, alguns profissionais buscam cursos livres, cursos de especialização e cursos de pós-graduação/MBA para procurar uma qualificação mais responsável à sua área de atuação. No entanto, mesmo aqueles determinados em se capacitar para obter um diferencial encontram certa dificuldade para se localizar naquele “universo” de possibilidades que instituições de ensino têm a oferecer. Como, frente a tanto conteúdo, encontrar aquilo que: 1) é útil para sua atuação profissional; 2) é com o que você aspira trabalhar; 3) dialoga com o que você enxerga para o seu futuro profissional?

A proposta deste post, portanto, é te ajudar a encontrar as respostas para essas perguntas. Não é para o profissional já bem acomodado no mundo da publicidade e que tem noção de todos os micro-universos da comunicação, mas para quem está começando ou deseja começar nesse mundo e tem interesse em procurar mais fontes para estudar e desenvolver cada uma dessas habilidades. A ideia é jogar uma luz no que está por trás da “profissão Social Media” e ajudar tanto o profissional que quer começar, que está começando ou que pretende se especializar, a encontrar a área de atuação que mais lhe contempla.

Com ajuda de Mari Ferreira, Mayara Mendes e Juliana Freitas, elencamos 7 áreas baseado no que temos visto em sites de vagas, experiência profissional, grupos de discussão no Facebook e consumo de pesquisas sobre o mercado. Não são exatamente setores ou departamentos da área digital, mas “práticas de atuação” que se expandem e se desdobram em várias outras especializações. Se você compreende que há alguma incoerência na divisão ou nas próprias descrições, sinta-se mais que convidado para compartilhar a sua opinião – nos comentários – e enriquecer o texto para que a discussão se expanda e mais pessoas possam ter uma visão concreta de como encontrar a sua área (pretendo atualizar o post conforme esses feedbacks vão surgindo).

monitoramento

Monitoramento

Eu diria que a área de monitoramento de mídias sociais é umas das aqui listadas com mais “representatividade” (com ênfase nas aspas) no mercado, ou seja, cujo escopo de trabalho ficou mais evidente com o passar dos anos, por diversos fatores – a popularização de empresas especializadas, pesquisas específicas, profissionais referência, etc. Arrisco dizer também que o trabalho de monitoramento tenha ganhado tanta força porque atravessa diversos outros campos não apenas nas mídias sociais, mas na própria internet.

O livro Para Entender o Monitoramento de Mídias Sociais, organizado por Tarcízio Silva ainda em 2012, traz colaborações de vários autores que dialogam com o trabalho de monitoramento em diferentes perspectivas: SAC e Social CRM, mensuração (métricas), SEO, relações públicas, netnografia, pesquisa de mercado, etc. Alguns anos antes, Silva desenhou uma definição para o trabalho de monitoramento que se tornou referência em diversas pós, especializações e MBAs ao redor do país:

O Monitoramento de Mídias Sociais consiste na coleta, armazenamento, classificação, categorização, adição de informações e análise de menções online públicas a determinado(s) termo(s) previamente definido(s) e seus emissores, com os objetivos de: (a) identificar e analisar reações, sentimentos e desejos relativos a produtos, entidades e campanha; (b) conhecer melhor os públicos pertinentes; e (c) realizar ações reativas e pró-ativas para alcançar os objetivos da organização ou pessoa de forma ética e sustentável” (SILVA, 2010).

Particularmente acho o trabalho de monitoramento extremamente “gratificante” (não sei se essa seria a palavra correta, mas não consegui pensar em nada melhor) porque ele é bastante representativo do fenômeno das mídias sociais na última década, onde as pessoas se apropriaram de um espaço tecnológico e criaram um novo contexto de sociabilidade. E onde há social, há oportunidade (valor) – é como se fortalecem os dois (ou três) próximos itens, sobre os quais escreverei pouco por falta de conhecimentos avançados.

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– Pesquisa

Pesquisa e monitoramento não seriam a mesma coisa? Não exatamente. Eu diria, com humildade, que o monitoramento é uma metodologia de pesquisa, ou seja, um modo de executar o trabalho investigativo. Isso quer dizer que há outras formas de fazer pesquisa nas mídias sociais – várias delas, inclusive, herdeiras da “tradicional” pesquisa de mercado: surveys, entrevistas, etc. – tudo no contexto de mídias sociais. Aqui o que chamo de “pesquisa” está mais ligado à tradicional pesquisa de mercado, que geralmente tem foco maior na indústria, no público-alvo, nas plataformas, na sociedade como um todo e não exatamente nos consumidores.

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– (N)Etnografia

Como mencionei anteriormente, a sociabilidade que se instaurou no ciberespaço abriu caminho para que “novos” processos de significação criassem um espaço simbólico de trocas interacionais. Ou, simplificando: se as pessoas vivem a internet, há culturas atravessando esse espaço – com isso, alguns métodos de pesquisa “tradicionais” (pré-internet) foram herdados para esse novo contexto. Embora seja uma herança mais academicista, algumas empresas já reconhecem o valor da pesquisa etnográfica e incorporam essa prática aos seus departamentos. Em termos muito (muito!) simplificador, trata-se de métodos das ciências sociais para o estudo das culturas.

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– Análise de Redes

Outro método de pesquisa também filho da academia é a análise de redes sociais (ARS). No Brasil, esse tipo de análise despontou de alguns anos para cá principalmente como recurso para compreender disputas discursivas no campo da política nas mídias sociais. Embora haja uma resistência do mercado em adotar esse tipo de metodologia para a análise de dados, ela oferece perspectivas únicas para analisar conversas nas mídias sociais e pode ser muito útil para estudos que queiram focar na disseminação de informação/atores em rede – no caso de influenciadores, por exemplo.

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planejamento

Planejamento

A parte de planejamento é talvez uma das mais importantes e ao mesmo tempo mais subestimadas de social media (pelo menos em pequenas agências/empresas). Planejar, como a própria palavra indica, significa – de certa forma – antecipar-se, procurar medidas eficazes para esquematizar uma ação em prol de um objetivo. Nesse sentido, para o contexto da comunicação (digital), o planejamento está ligado a estudar e compreender cenários para desenvolver planos de atuação responsáveis que deem conta de resolver um problema comunicacional.

O profissional de planejamento, portanto, precisa estar de olho no mercado, nas plataformas, nos consumidores, nas novas tecnologias, nas culturas, na sociedade, etc. Ou seja, conhecimentos em Publicidade e Propaganda, Marketing, Jornalismo, Estudos de Mídia, Relações Públicas, Sociologia, Psicologia e Administração são muito bem-vindos. O planner precisa ter uma visão bem panorâmica de todo o cenário (social, digital, econômico, cultural, etc.) para saber estruturar responsavelmente os esforços de comunicação.

Em suma, sabe aquela importante história de que não adianta falar sem propósito (mesmo nas mídias sociais, onde isso é fácil e geralmente gratuito)? A proposta de planejamento está alinhada justamente a esse argumento. É unir pesquisa, estratégia e criatividade para pensar a comunicação e desenvolver minuciosamente toda a estrutura de um esforço comunicacional responsável (embasamento teórico é fundamental) para solucionar um problema.

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criacao

Criação de Conteúdo

Talvez este seja o tópico mais apropriado para reforçar que esta lista não se trata exatamente de profissões específicas, mas de áreas (ou “práticas”) que envolvem a comunicação digital. O que indico aqui como criação de conteúdo, por exemplo, contempla diferentes profissionais da área de publicidade, como redatores, designers, diretores de arte, produtores audiovisual, etc. – os famosos “criativos”. É aqui onde a estratégia do planejamento vira tática criativa; o problema é que grande parte dos trabalhos de social media passam por cima do planejamento para simplesmente criar peças criativas e publicá-las de qualquer forma no Facebook, Instagram, etc.

Isso não quer dizer que o trabalho criativo não seja tão importante ou seja menos importante que o de planejamento, mas é que são extremamente complementares e dependentes entre si. Sempre aliado às áreas de pesquisa e planejamento, a produção de conteúdo orienta-se em estratégias de criação focadas na brand persona definidas para cada marca/cliente. Definir o tipo, a linguagem, o tom e a identidade visual no ambiente digital é um passo fundamental para dar consistência ao seu conteúdo, passar uma mensagem clara ao seu consumidor e não deixar ruídos na comunicação com seu público-alvo.

Tendo embasamento do planner, o profissional de criação consegue “guiar” sua criatividade para responder às demandas pré-estabelecidas. Isso permite que ele “brinque” dentro dos trilhos, sem limitar sua criatividade, mas orientando sua criação para aquilo que é necessário. Acho importante ressaltar isso tanto para o contexto da internet onde o “meme pelo meme” não tem valor – embora a adequação da linguagem é mais do que necessária, mas sempre dentro de um contexto pensado, planejado e estruturado -, quanto para o glamour, luxo e riqueza da publicidade para publicitários de Cannes. 

Por fim, é nesse contexto criativo que vão surgir termos comuns como storytelling, gamification, branded content, transmídia, etc. São formas criativas de contar histórias (para vender, porque no final das contas é isso), geralmente pautadas nas peculiaridades (e novidades) das plataformas e nos hábitos culturais da sociedade. Ou seja, é ainda mais indício de que planejamento e criação precisam andar de mãos dadas, porque enxergar bem o(s) cenário(s) só facilita – e estimula – a criatividade.

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gestao

Gestão de Conteúdo

O que aqui estou chamando de gestão de conteúdo dialoga um pouco com o trabalho de planejamento. No entanto, não tenho certeza que essa seja uma posição/ocupação comum nas agências ou setores de publicidade de grandes empresas. Seria, talvez, algo associado à função de Gerente de Projetos – aquele que coordena os jobs – mas a ideia aqui é mais específica, provavelmente mais comum em pequenas agências ou trabalhos de freelancers.

Fazer a gestão de conteúdo aqui está ligado à prática de organizar esquematicamente a comunicação nas mídias sociais. Ou seja, é desenvolver calendário de postagens, categorizar mensagens, planejar ações, etc. É ter a senha do Instamizer e do Hootsuite, sabe? É a pessoa que ama planilhas e calendários. Não é quem vai desenvolver a arte para o Facebook, mas quem vai fazer o pedido ao designer (se não for o próprio) e colocar a peça na rua.

Ratifico que não acredito que seja um cargo “real” em médias e grandes agências, mas é uma atividade importante – e comum – para quem atende marcas de pequeno porte (seja como freelancer ou numa pequena agência digital). Não substitui de forma alguma o trabalho de planejamento (!), mas é um passo inicial aceitável para quem deseja avançar da irresponsabilidade de “postar apenas por postar” nas mídias sociais.

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relacionamento

Relacionamento/SAC 2.0 (+ Community Management)

Para falar de relacionamento, já tendo elencado gestão e criação de conteúdo, acho importante abrir um parênteses para falar de Community Management. Embora acredite que não haja uma definição fixa do trabalho desse profissional, matérias sobre Community Managers explicam que se trata justamente da união do que foi descrito de gestão, criação e – agora – relacionamento com os consumidores. O dia a dia deste profissional pode envolver desde a criação de posts, arte/peças, até a criação de replies, comentários e alguns insights do cotidiano.

Destaco essa profissão porque acredito que, pelo menos em sua essência, ela reforça um dos principais valores da “revolução” das mídias sociais na relação entre consumidores e marcas: criar uma atmosfera de comunidade. Não, não é fácil: para empresas pequenas, porque é difícil reter o público num espaço em comum; nem para empresas grandes demais (e facilmente odiáveis, como bancos), porque as discussões saem do controle. Mas é importante ter em mente que as mídias sociais (diferente de outros canais da própria internet, até) não foram feitas para atendimento, mas para relacionamento – mesmo que seja uma tarefa difícil.

Muito se fala sobre o que de fato seria o SAC 2.0 e eu acredito que todo debate é enriquecedor, mas o foco dessa área é fato: pessoas – ou, melhor, usuários. Trabalhar com relacionamento (ou atendimento, como preferir) nos sites de redes sociais exige um esforço organizacional que estruture processos de maneira, rápida, clara e eficaz. Trata-se de antecipar as demandas dos usuários e fertilizar o terreno para colher qualquer pepino inesperado que venha a surgir. Isso envolve mapear, ouvir, dialogar, resolver, conectar e responder. Não é uma tarefa fácil, mas extremamente necessária – principalmente no universo digital.

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socialads

Facebook Ads/Social Ads

Esta talvez seja a área que mais cresceu no “mercado de social media” no último ano. Se antes estavam todos felizes porque os canais tinham sido “democratizados”, a preocupação foi grande quando o Facebook matou o alcance orgânico e mostrou as asinhas de quem detém o poder do meio. Atualmente é praticamente impossível falar em social media sem falar em mídia paga, principalmente no Facebook, onde estão a maioria das empresas e marcas no Brasil – por isso o destaque no título.

O papel do profissional de mídia já era comum à publicidade muito antes da internet, como aquele que negociava com os canais (TV, rádio, jornal, etc.) para a divulgação das peças publicitárias. No ciberespaço, esse contexto de mídia primeiro apareceu nos blogs e portais digitais, através de anúncios “banners” bem parecidos com outdoors, por exemplo. Hoje, depois da glória e declínio do conteúdo orgânico nas mídias sociais, o trabalho de mídia é essencial para mostrar ao público o que os planners planejaram e os criativos criaram.

Nesse contexto, novamente devido à popularidade da plataforma, o trabalho de mídia no Facebook é o mais popular dos dias de hoje – principalmente para pequenas e médias empresas. Por meio do Gerenciador de Anúncios do Facebook é possível ter um direcionamento de mídia para conversão de sites, aplicativos, alcance de publicações e páginas em diferentes formatos explorados no Facebook e também para publicações e perfis no Instagram.

A área de social ads também se expande para outras plataformas, é claro, como Twitter, LinkedIn, Pinterest, etc., mas é o Facebook o poderoso-chefão das mídias sociais. Vale ressaltar que o profissional de mídia geralmente expande seu escopo de trabalho para além dos sites de redes sociais, necessitando conhecimentos também em compras de mídia no Google (Pesquisa, Display, Mobile, Vídeo e Shopping) e portais de notícias/blogs através do famoso mídia kit.

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metricas

Mensuração de Dados (Métricas e Indicadores Digitais)

Depois de pesquisar/monitorar, planejar, criar, gerir, conectar e promover, chega o momento de fazer as contas. Na verdade, embora (para fins didáticos) eu tenha seguido essa ordem e colocado a área de mensuração no final (tentando seguir certa lógica), é importante elucidar que medir nunca deve ser deixado apenas para o final. Como se trata de um ciclo, este item poderia muito bem vir em primeiro lugar – afinal, tanto monitoramento quanto métricas deve servir de fundamento básico para tudo que se deseje construir em cima ou a partir disso.

Assim como monitoramento, é uma área que ganhou muita força nos últimos anos principalmente pela possibilidade quase inédita de finalmente ser possível quantificar (ou mensurar) os resultados dos esforços comunicacionais. Embora algumas polêmicas envolvendo bots, click-baits e números inflados estejam presentes desde a popularização da análise de dados da web, é inegável o quão poderoso tem sido para as empresas ter a possibilidade de avaliar suas ações e compreender melhor seus consumidores através dos dados gerados nas mídias sociais, sites institucionais, e-commerces, Google, etc.

O economista Douglas Hubbard explica que “mensuração é uma redução quantitativamente expressa de incerteza, baseada em uma ou mais observações”, ou seja, o trabalho com métricas/indicadores digitais envolve traduzir os números (rastros sociais digitais) em estratégias eficazes de re-avaliação para melhor a assertividade. Assim como fiz em monitoramento, acho legal trazer essa citação que costuma estar sempre presente nos materiais de cursos e especialização sobre métricas para mídias sociais:

“Uma métrica é um sistema de mensuração que quantifica uma tendência, dinâmica ou característica. Métricas são usadas para explicar fenômenos, diagnosticar causas, compartilhar descobertas e projetar os resultados de eventos futuros.” – Paul Farris, Neil Bendle, Phillip Pfeifer, David Reibstein

No entanto, as famosas métricas não são exclusivas das mídias sociais. Sites, blogs e e-commerces, por exemplo, como já mencionados, também possuem suas próprias lógicas de métricas para avaliação. Não pretendo me aprofundar no assunto porque sair das mídias sociais envolve mais um universo de possibilidades (como Adwords, SEO, etc.), mas é importante ressaltar que o Google Analytics é uma plataforma de extrema importância também para as mídias sociais, uma vez que a integração site + rede social é bastante comum.

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A minha ideia inicial era fazer mais uma seção “indo além” para destrinchar inbound marketing/marketing de conteúdo, SEO, Adwords, etc., mas, dada a extensão do post, optei por manter a base apenas com o trabalho dentro de mídias sociais – o que já é bastante coisa. Sem mais delongas, apenas reforço o que expliquei na introdução: não quer dizer que cada uma dessas áreas seja única ou que as profissões/departamentos atuem exatamente dessa forma nas agências/empresas, mas foram “ambientes” do ecossistema de social media que identifiquei e estruturei de tal forma apenas para fins didáticos.

Eu espero que o conteúdo seja útil para quem está começando e precisa encontrar um rumo para sua carreira. Espero também que as referências sejam úteis e que acrescentem a quem precise, nem que seja apenas para começar a se ambientar com alguns termos específicos desconhecidos – agora você já pode compreender melhor as vagas publicadas em grupos no Facebook. No mais, agradeço imensamente às moças que me ajudaram a montar todo esse material e me aturaram durante todos esses dias.

Segunda semana do curso Social Media Analytics, da QUT: hashtags, Tableau e #BielExposedParty

Na semana passada dei início à “série” de posts sobre um novo curso que comecei a fazer no FutureLearn. Se você acabou de chegar, explico: realizado pela australiana Queensland University of Technology, no Digital Media Research Centre, trata-se de um ambiente virtual de aprendizado – ou MOOCs (Massive Open Online Course) – onde qualquer um com acesso a internet e conhecimento da língua inglesa pode participar. O curso em questão, Social Media Analytics: Using Data to Understand Public Conversations, comandado pelas pesquisadoras Jean Burgess, Axel Bruns e Tim Highfield, começou no dia 18 de julho – com duração de apenas três semanas – e continua com as inscrições abertas até dia 6 de agosto (creio eu, já que é quando termina a última semana). Caso tenha interesse, vale dar uma olhada no primeiro post que fiz sobre ele, onde descrevi a primeira etapa de aprendizado e apresentei mais informações institucionais.

SEMANA 2

A primeira atividade dessa segunda semana foi divulgada, na verdade, só na sexta-feira: a professora Jean Burgess e o professor Axel Bruns responderem algumas perguntas que os alunos fizeram durante os últimos dias nos “fóruns” de discussão. Eles explicaram o motivo da escolha das ferramentas que utilizamos no curso (com foco no Tableau), falaram um pouco sobre as limitações de pesquisa no Facebook (comparado ao Twitter) e comentaram sobre algumas questões específicas da prática das atividades que fizemos. Um ponto que eu gostaria de trazer à tona desse Q&A, retomando um tópico da última semana, é sobre a provocação de que o Twitter estaria ficando “menos sociável”. Em resposta a uma colega da turma, a profª. Jean explicou o que eu tinha pontuado no outro post – porém não tinha a base teórica para sustentar minha compreensão – sobre os embates de significados com relação à palavra “sociabilidade”:

Jean, there has been discussion in the first week about sociability and what we mean by social media, in response to your post on Medium. Could you tell us how you understand social and sociability?

Jean: Yeah, the term social is often used interchangeably with sociability. But they actually have two different meanings and in sociology, sociability has a specific meaning. So we can talk about social media in terms of something that brings people together and they interact without thinking about the value of that or whether it’s a positive or negative experience. Sociability carries with it the idea of playfulness and pleasure and cooperation. So the idea of a sociable social media environment is where people actually enjoy themselves, interact in a positive and constructive way with each other and contribute to building society through their interactions on the platform.

A conversa com os professores em vídeo foi importante para sentirmos as suas presenças no curso, mas não foi muito aprofundada em termos teóricos e/ou de discussão – foram apenas 7 perguntas respondidas e cerca de 10 minutos de vídeo. Acredito que esse formato se encaixe no modelo “rápido” do curso, uma vez que a discussão e o debate acadêmicos sobre alguns assuntos que já vimos na primeira semana seja extensa e mereça uma abordagem mais estruturada para dar conta de tamanha complexidade. Aliado a isso, tem o fato de que, diferentemente da primeira semana, essa segunda etapa do curso foi bem mais mão-na-massa – ou hands-on, para usar a expressão que eles usam – o que, a meu ver, mais uma vez reflete a proposta do curso: o objetivo é oferecer aos alunos conhecimento e habilidades práticas para começar o seu trajeto na análise de dados voltada para sites de redes sociais. Isso não diminui, em nenhum instante, a sua qualidade, apenas se adéqua ao formato disponibilizado pelo próprio FutureLearn. Dito isso, continuemos com o conteúdo programático.

socialmedianalaytics2Depois de conhecermos, na semana passada, o TAGS, fomos apresentado ao Tableau“um programa de análise e visualização de dados que te ajudará a analisar e compreender toda a informação coletada”. Muito do que aprendemos nas atividades desta semana – praticamente tudo, na verdade – foram ensinamentos iniciais sobre a utilização desse programa. Para o post não ficar muito grande (e até porque acredito que ainda não tenho conhecimento suficiente para escrever sobre o assunto, mesmo já tendo aprendido algumas coisas – mas não quero ensinar nada errado), vou compartilhar aqui somente o que nos foi proposto a executar na ferramenta com os dados que coletamos do TAGS. Quem tiver interesse em conhecer mais do Tableau (com mais detalhes práticos), há uma página específica de treinamento e tutoriais no site deles com vídeos que ensinam vários passo-a-passos para todos os níveis de conhecimento – que eu mesmo devo conferir com mais calma em breve e, se possível, compartilho alguns aprendizados também aqui no blog.

Antes de entrar nessa parte mais prática, no entanto, acho válido colocar em pauta um pouco da “breve” parte teórica que vimos nesta semana. Como eu já tinha mencionado antes: embora o FutureLearn indique a carga-horária de 3 horas necessárias para a conclusão das atividades semanais, se você quiser dar conta de todos os níveis de informação (atividades, artigos, comentários, etc.), você provavelmente precisará de mais tempo. Com isso em mente, tomei a consciente decisão de abrir mão da discussão com meus colegas de turma para conseguir ler alguns dos artigos propostos por Burgess e Bruns. O primeiro, Twitter Hashtags from Ad Hoc to Calculated Publics, de autoria dos próprios, traz um apanhado interessante sobre o contexto das hashtags no espaço e tempo – pensado em mudanças técnicas, reapropriações, etc. – que nos ajuda a pensar a análise prática mais pra frente. Eis alguns pontos que achei interessante ratificar e trazer para a discussão:

  • Sobre características de hashtags
  • A hashtag é como um mecanismo gerado por usuários para etiquetar e coletar tweets que são relacionados a algum tópico específico;
  • Ela foi decisiva na identidade do Twitter para ser reconhecido como plataforma da criação instantânea de audiências que são formadas, reformadas e coordenadas através de dinâmicas de redes comunicacionais e cuja conectividade social é organizada prioritariamente em volta de questões e eventos ao invés de grupos sociais pré-existente;
  • Elas nascem de dentro de comunidades do próprio Twitter, sejam através de planejamentos prévios ou consensos rápidos entre os usuários, ou até mesmo de disputas discursivas que acarretam na utilização de hashtags conflitantes;
  • A discussão em torno de hashtags atua num nível macro do Twitter (Bruns & Moe, 2014), comparado à estrutura mais definida de “personal publics” (Schmidt, 2014) que age dentro do nível meso de seguidores e também à conversação mediada através de replies, num nível micro.
  • Sobre a história de hashtags
  • Muitas das técnicas oferecidas e aplicações culturais do Twitter que define seu papel na comunicação pública tão significante foram originalmente inovações criadas por usuários, sendo somente incorporados à arquitetura da plataforma depois de um tempo;
  • O uso das hashtags nasceu numa proposta feita por Chris Messina, um tecnólogo de São Francisco, em 2007, quando fez um post no seu blog: ‘Groups for Twitter, or a Proposal for Twitter Tag Channels’. Sua sugestão para o uso de hashtags – como conhecemos hoje, criando um sistema de canais etiquetados utilizando o símbolo do jogo da velha para que as pessoas pudessem seguir e contribuir em conversações sobre assuntos de interesse particular – tinha o intuito de “melhorar a contextualização, o filtro de conteúdo e sensação de exploração satisfatória no Twitter”.
  • Sobre a dinâmica entre hashtags e publics
  • O que chamamos de “publics”, aqui, pode ser compreendido como audiência; a partir disso, podemos pontuar que a compreensão tradicional de audiência para os meios de comunicação de massa é traduzida num grande grupo de pessoas estranhas que acompanham um conteúdo editorialmente curado por uma instituição comunicacional;
  • Nos casos das hasgtags, esse cenário muda um pouco – em partes: embora os usuários possam, como um todo, contribuir para a comunicação e conversação entre si, há também uma curadoria da própria plataforma – seja por popularidade ou relevância, a depender das situações – que também norteia o consumo de informação dos tweets.
  • Sobre a “anatomia” de hashtags
  • Alguns aspectos podem ser observados em tweets com hashtags que envolvem “crises”: por terem um caráter mais voltado para a intensa e rápida propagação de conteúdo, esses tweets geralmente contêm mais URLs (links, imagens, etc.) e retweets;
  • Já tweets que envelopam, por exemplo, eventos televisivos, são mais “originais”: são menos URLs e retweets e mais menções originais, uma vez que os usuários já possuem um guia-condutor da conversa e desejam, majoritariamente, expressar uma opinião original/própria sobre o assunto.

A segunda leitura da semana, o artigo “Towards more systematic Twitter analysis: metrics for tweeting activities“, de Axel Bruns e Stefan Stieglitz, já traz um conteúdo mais voltado para a prática dos métodos digitais. Compreendendo métricas como “medidas quantificadas que nos permite analisar, comparar e contrapor dados [do Twitter, para o caso específico do curso]”, somos apresentados a três “níveis” de métricas propostos pelos autores do artigo: como os usuários contribuem para a conversação, como a atividade acontece e o padrão de certos usuários ao passar do tempo. O objetivo aqui é propor algumas métricas básicas que forneçam um suporte de análise que possa crescer e desenvolver outros indicadores mais complexos – ou seja, construir um terreno comum entre pesquisadores que sirva de base inicial. Não vou aprofundar aqui na discussão completa do artigo, pois ele traz tantas funcionalidades importantes para a análise de dados no Twitter que merecia um post sozinho, mas destaco esses principais níveis de métricas:

  • User Metrics: apresentam geralmente uma cauda longa com um grupo pequeno de usuários sendo mais ativos e tendo mais visibilidade do que o restante dos usuários*;
    • Atividade: a simples contagem de tweets enviados por cada usuário, o que fornece uma compreensão do seu envolvimento (e comprometimento) com a hashtag;
    • Visibilidade: o levantamento dos usuários mais mencionados na base de dados apresenta os que são, provavelmente, mais visíveis naquele contexto;
    • *Aqui é interessante fazer uma comparação, além de entre os indivíduos, também entre esses grupos – no modelo proposto por Tedjamulia, por exemplo, de três grupos: o top1%, top9% e top90%.
  • Temporal metrics: essa medida ajuda a ter uma visão temporal de como a hashtag foi incorporada pelos usuários ao passar do tempo, o que permite observar, por exemplo, picos de volume ou quedas bruscas de atividade – a partir daí, é possível identificar de maneira qualitativa alguns comportamentos dos usuários e da comunidade como um tempo para determinado período.
  • Combined metrics: essa métrica permite fazer uma extensão da análise ao assimilar descobertas sobre usuários com descobertas sobre atividade ao passar do tempo – isso pode revelar quem está dominando a conversação em momentos-chave.

Um benefício-chave de estabelecer uma caixa de ferramentas de métricas padrões para a análise de datasets de hashtag no Twitter são as oportunidades aprimoradas para comparação e correlação em torno de uma série diversa de caso de estudos. Tal comparação pode pontuar semelhanças e diferenças em padrões de uso do Twitter, e pode direcionar para a identificação de um número de gêneros comuns de comunicação baseada em hashtag no Twitter; conforme a plataforma e sua utilização evolui, e conforme a base de usuários geral se desenvolve, nós também podemos acompanhar essas mudanças ao passar do tempo. […] Isso demonstra como a abordagem quantitativa para análise de dados do Twitter em larga escala, cujos métodos e métricas que introduzimos aqui torna possível, pode gerar clara evidência de padrões comunicacionais no Twitter.

Outro artigo cuja leitura foi recomendada mas do qual eu não consegui dar conta de ler a tempo foi o “Tweet, Tweet, Retweet: Conversational Aspects of Retweeting on Twitter”, de danah boyd, Scott Golder e Gilad Lotan. A proposta desta etapa era trazer uma compreensão teórica da dinâmica dos retweets na plataforma, uma vez que eles demonstram “qual conteúdo carrega peso na conversação e na comunidade”. O argumento aqui é que essa prática do Twitter tem um valor bastante significativo no universo de interações da plataforma, pensando também como a informação se move com relação a um assunto ou a um problema dentro daquele contexto. No curso fomos apresentado à história de Jerry, um simples fabricante de lâmpadas residente da cidade de Nova York que ganhou uma visibilidade enorme no Twitter graças às fãs do One Direction – você pode conhecer e entender essa história nessa timeline dinâmica criada pelo pessoal da QUT.

Tendo destrinchado minimamente a parte teórica, podemos seguir para o restante da semana: Tableau na prática. Como já mencionei anteriormente, acho que não cabe trazer ao post o passo a passo de como realizei cada uma das atividades (esse acompanhamento foi disponibilizado no próprio curso), mas trago aqui o que criei com a ferramenta – quem tiver curiosidade em saber como foi feito pode deixar perguntas nos comentários que posso orientar mais minuciosamente. Portanto, o que eu fiz, num primeiro momento, no Tableau:

  1. Utilizei a coleta de dados que fiz com a TAGS;
  2. Desenvolvi um gráfico de evolução temporária da hashtag monitorada;
  3. Encontrei (e explorei) os retweets proeminentes da minha base de dados, comparando também esses retweets com tweets de maior “alcance”;
  4. Criei dois gráficos para descobrir quem foram os usuários mais ativos e mais visíveis;
  5. Encontrei os usuários mais “influentes” (com o maior número de seguidores) da minha base;

Já que na semana passada eu ainda não tinha definido exatamente qual seria o meu tópico de estudo para o curso, tive a sorte de “participar” de um movimento que aconteceu no Twitter esta semana em resposta a uma reportagem do cantor Biel. Numa entrevista ao TV Fama, ele proclamou que a repórter que a denunciou por assédio tinha prejudicado muito sua carreira – foi o suficiente para o Twitter entrar em turbilhão e colocá-lo mais uma vez em pauta. Usuários começaram a procurar tweets antigos do cantor com referências racistas, machistas, etc., expondo os absurdos através de retweets e prints que circularam a plataforma e culminou na hashtag: #BielExposedParty. Quando a encontrei nos Trending Topics, já eram mais de 10.000 menções utilizando a hashtag – achei que seria interessante, portanto, juntando a curiosidade à prática, fazer os exercícios do Tableau com essa base de dados que consegui coletar através do TAGS, ferramenta que foi apresentada na primeira semana do curso. Foram 11.149 tweets em 24h de hashtag e o resultado foi esse:

Para além de ter feito essa atividade na prática, acho válido – necessário, na verdade – pontuar algumas observações que podem ser feitas a partir desse simples cruzamento de dados. Podemos compreender, por exemplo, através da análise temporal, que o principal período de adesão à hashtag aconteceu entre às 21h e 23h; podemos também perceber que os retweets tiveram um papel essencial para a disseminação, propagação e viralização da mensagem que a hashtag queria passar (expor o cantor, basicamente) – o volume de tweets originais é muito menor do que o volume de retweets; quando você olha mais afundo para tentar descobrir a crescente exponencial do volume de tweets entre 21h e 22h, consegue encontrar a adesão de algumas contas (@forumpan, @gifboardbrasil e @bchartsbr, por exemplo) que foram essenciais na propagação da hashtag; ao mesmo tempo, os tweets originais também apresentam uma crescente nesse período uma vez que esse é o momento em que as pessoas entram na conversa para conseguir também sua porção de visibilidade na conversação.

Quando olhamos para as menções com o maior número de retweets, podemos fazer uma simples (e estaticamente incorreta, mas aqui vale) dedução que essas contas são bastante ligadas ao mundo pop – uma análise mais aprofundada poderia nos ajudar a compreender como a informação se moveu nessas conversações. Quando comparamos a visibilidade com a atividade dos usuários, percebemos que o uso frequente da hashtag não corresponde a um maior nível de atenção dos usuários; no entanto, vários dos usuários de maior visibilidade também se encontram dentre as menções com mais retweets – o que pode indicar, superficialmente, que estes foram essenciais na circulação da mensagem dentro do universo da hashtag; quando olhamos para alcance dos tweets e usuários mais seguidos, no entanto, observamos que vários dos tweets de maior alcance não necessariamente foram retweets, mas menções originais de usuários com uma grande leva de seguidores.

Vale ressaltar que essa é uma análise bem simples e inicial do cruzamento de dados que foi apresentado no curso. Caberia, sim, um aprofundamento nas discussões e no tema para que pudéssemos desenvolver hipóteses mais concretas e buscar uma compreensão sobre o tema. No entanto, por motivos de tempo, esse estudo mais aprofundado vai ter que ficar para um outro momento. Ainda houve, por fim, mais duas atividades práticas nessa segunda semana de aprendizado, entretanto, por se tratar de um cruzamento de dados um pouco mais complexo e que eu gostaria de tratar com outra abordagem, vou deixar essa parte final para o post da próxima semana – vai ser interessante também porque será possível cruzar com algumas aplicações que devemos fazer no Gephi e tal, então acredito que se encaixe mais na publicação da semana seguinte. Combinado? Novamente, quem estiver fazendo curso ou quem estiver interessado em fazer e queira saber mais, entra em contato comigo. Estou à disposição!