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Para você, o que é ser nordestino?

Na semana retrasada, enquanto navegava pelo Facebook, encontrei uma publicação da página Nordestinos que, em comemoração ao Dia do Nordestino (8 de outubro), questionava aos seus seguidores: pra você, o que é ser nordestino? Achei bem interessante porque imediatamente lembrei que foi literalmente essa uma das perguntas do meu trabalho de conclusão de curso na graduação, com um quórum muito menor.

Na monografia, intitulada “O que faz ser nordestino no Facebook: escolhas da construção identitária nos sites de redes sociais”, selecionei 18 pessoas – duas de cada estado do Nordeste – para responder a um simples questionário, que basicamente perguntava (abertamente) o que era ser nordestino e por que se apresentar nordestino no Facebook. A partir das respostas, consegui discutir no trabalho algumas questões que dialogavam diretamente com a base teórica que desenvolvi, pensando a invenção do nordeste, identidade (cultural) na modernidade, etc.

Caprichem nas respostas 🥰

Posted by Nordestinos on Tuesday, 8 October 2019
Publicação da página Nordestinos no Dia do Nordestino (8 de outubro)

Quando vi a publicação com a exata mesma pergunta que fiz no meu trabalho, bateu a curiosidade: será que consigo encontrar semelhanças (ou diferenças) entre as 18 respostas que obtive e as algumas centenas de comentários que os seguidores deixaram na publicação da página? Vale ainda pontuar que, no desenho metodológico que tracei para selecionar os respondentes do TCC, a página Nordestinos (que fez a publicação) foi uma das mais relevantes para o critério de seleção, o que empiricamente aproxima ainda mais as duas ocasiões.

Diferentemente da monografia, entretanto, na qual analisei resposta por resposta (afinal, eram menos de 20), tive que recorrer a uma técnica analítica mais quanti-qualitativa para lidar com as centenas de comentários que a publicação recebeu. Utilizei, portanto, a análise de rede semântica, que me permite identificar no corpus de texto quais são os principais territórios discursivos que se formam. Feita a coleta dos comentários com um código em R para raspagem dos dados, criei o arquivo de co-ocorrência no Wordij e trabalhei no Gephi finalizando no seguinte resultado:

Antes de entrar na rede, retomo algumas das respostas ou alguns pontos que identifiquei na monografia sobre o que seria “ser nordestino”: 1) simplesmente ter nascido em estados do Nordeste; 2) associar (por osmose) valores simbólicos atrelados ao território; 3) reconhecê-lo como lugar da tradição e origem (como nos romances de 30); 4) vivenciar comidas típicas e festividades como São João; 5) reconhecer-se como povo forte/batalhador, apesar das adversidades e secas; 6) reconhecer-se como povo sofrido, mas sempre alegre/receptivo; 7) reconhecer-se como comunidade; 8) ter orgulho de onde é/veio, sempre defendendo o seu local.

Informante 15, de Sergipe: “É ter o sotaque mais bonito, ter orgulho do seu povo e suas histórias, amar o mar mesmo no inverno. É poder compartilhar a nossa rica culinária e cultura com outras regiões, espalhar as nossas gírias que só quem é nordestino entende, é tratar qualquer pessoa de outra região com o mesmo respeito e alegria.”

(MEIRELLES, 2017, p. 71)

Não é preciso ir muito afundo na análise para perceber, de imediato, como as respostas de ambas estão praticamente em perfeita consonância. A diferença que consigo perceber é somente analítica, visto que a rede permite também que trabalhemos com proporção: os agrupamentos (clusters) encontrados partem do ponto de maior frequência, ou seja, os nós maiores – orgulho, cuscuz, feliz, povo – são fruto de uma maior assiduidade de respostas. No TCC, não trabalhei quantitativamente, apenas complexificando e organizando os pontos (já citados) que encontrei.

Importante ressaltar também como uma rede semântica, diferente de outras redes comuns à análise de/em mídias sociais (como perfis, páginas, canais, etc.), nem sempre é tão bem delimitada; muitas vezes, como neste caso específico, devido à similaridade discursiva do corpus, os clusters se embaralham e se entrelaçam em suas teias de significado. O Gephi encontrou, por exemplo, nove clusters, mas que eu transformaria em quatro – conforme listei na tabela comparativa abaixo. Lado a lado, é possível perceber as semelhanças entre os pontos.

TCC (18 respostas)Facebook (+600 comentários)
Nascer no Nordeste
Valores simbólicos associados ao territórioSofre por problemas naturais, mas segue com fé e esperança (4)
Lugar da tradição e origemMuito orgulho de sua história e identidade (1)
Comidas típicas e festividadesDesfruta das melhores comidas (2)
Povo forte/batalhador, apesar das adversidades e da secaPovo guerreiro/batalhador, feliz apesar das dificuldades (3)
Povo sofrido, mas sempre alegre/receptivoSofre por problemas naturais, mas segue com fé e esperança (4)
Comunidade imaginadaMuito orgulho de sua história e identidade (1)
Orgulho da sua identidadeMuito orgulho de sua história e identidade (1)

Lembro como um dos feedbacks que recebi na banca foi a falta (ou a falha) de esquematização das minhas respostas – o que teria sido resolvido, por exemplo, com uma simples nuvem de palavras, a sugestão da professora. Por mais que eu compreenda essa necessidade científica de diminuir o social à fragmentação supostamente matemática do objeto, percebo também através dessa segunda tentativa o quão é difícil elencar esses valores. Talvez a mania de professor de colocar tudo em lista aqui não funcione tão bem.

Não porque não somos capazes de identificar quais são os valores associados ao que as pessoas compreendem no que seria “ser nordestino”, mas porque eles são e estão completamente embaralhados, tanto no discurso (semântico) quanto no imaginário. As coisas se sobrepõem, invadem o espaço uma das outras e vão de acordo ao que por tanto tempo se construiu como a narrativa do Nordeste e dos nordestinos. A comunidade inventada segue firme e forte, assumindo o lugar do oprimido que lhe foi imposto mas, talvez, pronto para se emancipar.

Obviamente, como discuti nas considerações finais do TCC, é de extrema importância complexificar tanto as respostas quanto o que está por trás das respostas (este que fiz nos dois primeiros capítulos, caso surja o interesse em saber). A primeira questão, entretanto, seguiria a discutir a generalização do todo em detrimento de alguns – de certo modo, como na construção do estereótipo: será que todas as pessoas que nasceram no Nordeste têm o sotaque arrastado, a cabeça chata, sofre(u) com a seca, etc.? Fica o questionamento para outro texto, quem sabe.

O “nordestino” no Twitter em fevereiro: entre a política, o sotaque e a identidade

Desde que finalizei, entreguei e apresentei meu TCC, no final do ano passado, tenho buscado alternativas para continuar com um possível projeto de mestrado que me permita ingressar numa pós-graduação com tema semelhante. Já tive algumas ideias (específicas, outras mais abrangentes), mas – por enquanto – não tenho nada definido. Nesse cenário confuso e incerto, uma das ideias que tive foi criar uma base de dados sobre nordestinos no Twitter para que pudesse, talvez, desenvolver algo em cima disso num futuro próximo. Mensalmente, portanto, devo compartilhar uma visão geral do que foi conversado/discutido e quem foram os atores que fomentaram essa discussão.

O primeiro post foi publicado no blog do IBPAD, colocando em foco como as funcionalidades de text analysis e network analysis da ferramenta Netlytic podem ser extremamente úteis para pesquisas acadêmicas. Quanto aos resultados, no mês de janeiro, cerca de 60% das 37.333 menções no Twitter sobre nordestinos foram retweets, destacando três assuntos principais: sotaque (além de um caso específico fruto da cultura de fãs, outros mais relacionados a produtos televisivos da Rede Globo), política (o julgamento do ex-presidente Lula) e futebol (parceria entre times/campeonatos nordestinos e emissoras de TV para direitos autorais de exibição). Em fevereiro, o cenário não mudou muito.

Desta vez, entretanto, pretendo seguir caminho inverso ao que fiz no primeiro post, apresentando inicialmente a rede composta pelos usuários para, em seguida, destrinchar os assuntos mais comentados. A lista de arestas gerada pela Netlytic resultou numa rede com 16.068 nós (usuários) e 17.270 arestas (conexões). Como, para essa primeira abordagem, o que me interessa é visualizar “the big picture”, utilizei a métrica de componentes conectados para filtrar apenas o grupo da rede com maior número de conexões entre si, o que resultou em 63,38% da rede: 10.283 nós e 12.980 arestas. No grafo abaixo você pode visualizar melhor a rede completa e, destacado em marrom, o maior componente conectado.

Direcionar o olhar para o grupo mais conectado é relevante pois é ali onde as discussões, embates e conversas em geral sobre a temática acontece mais calorosamente – o que não indica que todo o resto deve ser ignorado ou subestimado (retornaremos a ele mais adiante), mas que o processo de analisar a estrutura de conversações pode oferecer insumos gerais para a análise mais detalhada. Apresento, portanto, logo abaixo, a rede já com o filtro de componente conectado, os nós em menor proporção para destacar os agrupamentos e os principais clusters destacados com suas devidas cores. São eles, respectivamente: política-esquerda, com 2.717 nós (26%); cultura pop, com 2.462 nós (24%); futebol, com 1.225 nós (11%) e política-direita, com 771 nós (7%).

Cluster Azul – Política-Esquerda / Cluster Verde – Cultura Pop / Cluster Vermelho – Futebol / Cluster Marrom – Política-Direita

Além dos clusters, o grafo também permite perceber outro aspecto importante dessa rede: trata-se, mais uma vez, de uma rede bem dispersa e com baixo índice conversacional (usuários mencionando uns aos outros, como uma conversa). Assim como em janeiro, há vários agrupamentos do tipo broadcaster que indicam fontes de replicações de mensagens através de retweets – ou seja, em termos simples, são vários usuários dando “RT” em uma mensagem específica. Dos 26.002 tweets coletados, 12.971 são retweets (49%); na rede de maior componente conectado, essa porcentagem aumenta – já que a métrica foca justamente nas conversas com mais interações (menções e retweets): dos 13.317 tweets, 10.128 são retweets (76%).

Quem são, portanto, esses atores responsáveis pela mobilização de milhares de usuários quanto ao assunto “nordestino”? O maior cluster, que agrega usuários em torno do assunto política, é encabeçado por: @conversaafiada, @eduguim e @lulapelobrasil; logo em seguida, o cluster de cultura pop é liderado por @whomath e @bchartsnet; quando o assunto foi futebol, @brunoreis, @resenhabbmp e @ecvitoria comandaram a conversa; e, por fim, @lula_nacadeia e @rj_em_alerta são os principais mobilizadores no cluster razoavelmente heterogêneo (e bem disperso) da política-direita. No grafo abaixo (clique para ampliar) estão apresentados os usuários com maior grau de entrada, ou seja, que receberam mais menções ou retweets sobre o tema em fevereiro.

Um dos benefícios de trabalhar os dados para além da Netlytic está em poder manuseá-los com mais facilidade. Ao extrair a lista de arestas para elaboração da rede no Gephi e o arquivo .CSV com todas as menções coletadas, pude cruzar essas fontes de dados para descobrir quais eram os tweets da base de dados referentes a cada cluster. Ou seja, de maneira mais detalhada: 1) a partir da rede gerada (com o filtro de maior componente conectado), exportei uma planilha com as métricas referentes aos nós; 2) inseri essa base na planilha com os tweets coletados para que tudo se mantivesse num único arquivo; 3) utilizei a fórmula PROCV para, na base de tweets, criar uma coluna que indicasse a qual cluster aquela linha se referia.

Com esse processo, semelhante ao que fiz nessa outra análise também do Twitter, pude separar os tweets para que se tornasse mais fácil identificar o que cada grupo – levando também em consideração o volume considerável de retweets – estava mencionando sobre o tema. Desta forma, elaborei as nuvens de palavras abaixo a partir dos tweets de cada um dos cinco clusters destacados, respectivamente. No entanto, o que se pode perceber é que, como era de se esperar, os termos mais frequentes em cada grupo é referente principalmente às mensagens com maior número de retweets – o que acaba limitando um pouco a exploração dos dados.

A primeira nuvem de palavras, referente ao cluster de polícia voltada à esquerda, apresenta a maioria dos termos relacionados ao tweet de @conversaafiada, @bbcbrasil e @lulapelobrasil; a segunda nuvem, esverdeada, traz basicamente os termos referentes aos tweets populares de @whomath e @bchartsnet; no cluster de futebol, a nuvem de termos em vermelho representa em sua grande maioria os tweets mais populares do jornalista e comentarista esportivo @brunoreis; por fim, no grupo de política à direita, o tweet do usuário @Lula_nacadeia é o que mais reverbera na nuvem de palavras.

Tweets que movimentaram a conversa sobre nordestinos em fevereiro

  1. @whomath: “nayara falando de representatividade nordestina, nem parece que zoou a gleici dias desse pelo fato dela ser do acre kkk hipócrita #bbb18”
  2. @bchartsnet: “Uma rainha negra, gorda, da favela, empoderada. Outra rainha LGBT, nordestina e com visibilidade internacional. Ambas tendo destaque na maior festa popular do mundo juntas 💗! Vem, Beija-Flor! #globeleza”
  3. @conversaafiada: “Diálogo entre garçom nordestino e empresário coxinha em restaurante chic de SP. Empresário tentava provar a amigo rejeição do Lula entre os pobres: Empresário: em quem você vai votar para presidente? Garçom: no Lula Empresário: e se não for candidato? Garçom: em quem ele mandar”
  4. @eduguim: “Grande parte do eleitorado Nordestino, mais afinado com o PT, irá descobrir que não pode votar só quando chegar na urna em outubro, Denuncie armação do TSE para barrar a esquerda em 2018, sob a batuta de Luiz “mato no peito” Fux. Espalhem enquanto é tempo”
  5. @lulapelobrasil: “O povo nordestino deixou de ser tratado apenas pela fome, pela mortalidade infantil e pela evasão escolar e passou a ser considerado parte do Brasil. Eu tenho confiança de que podemos recuperar o Brasil.”
  6. @kaiooliveiras: “Um nordestino q não gosta de farofa tem q ser exilado do país.”
  7. @brunoreis: “Tenho dito, Matheus, atacante do ABC hoje é o melhor jogador do futebol nordestino. Tem 9 gols em 7 jogos no ano. Artilheiro do futebol brasileiro em 2018. Menino de personalidade. Clareou, chutou. Bem no estadual e no nordestão. Ano passado foi bem também. 19 anos apenas.” [tweet apagado]
  8. @priscilaevelynn: “amo comida nordestina aaaaaaaaaaa”
  9. @bbcbrasil: “#MaisVistos Família nordestina guardou séculos de romances medievais de mais de 700 anos na memória http://bbc.in/2GGQZp9”
  10. @lula_nacadeia: “Mas pra muitos ignorantes no nordeste, luladrão é o “pai dos pobres” povo burro! E antes que venham encher o saco, eu sou nordestino. @Isabellniky @BecaBrix @HumbertoReisJr @Henrietterrsa @iaragb @MsCMauro @wwrealist @SPD_33 @FUSSHIGHLANDER”

Embora a análise de redes seja uma metodologia extremamente útil para (literalmente) visualizar como as conversas aconteceram, uma vez que não é o meu objetivo principal focar na estrutura das interações para possivelmente encontrar grupos e/ou atores relevantes nesse cenário, é preciso também voltar o olhar para além da base mais popular/mobilizada. Como mencionei anteriormente, iniciar a análise voltando o olhar de rede para a parte mais conectada pode indicar temas relevantes para análises mais específicas – e assim conseguimos perceber discussões sobre política principalmente centrada no ex-presidente Lula, a “nordestinidade” como categoria compreendida pela cultura pop e o recorte regional nas disputas (simbólicas) esportivas.

Para superar as barreiras dos tweets e clusters mais populares/mobilizados, criei uma nuvem de palavras somente com as menções coletadas que ficaram de fora da rede de maior componente conectado. No resultado, alguns assuntos já identificados continuaram presentes: lula, bb18, nayara, futebol, garçom, restaurante e empresário – todos termos já levantados nas nuvens de palavras dos clusters. No entanto, a palavra com mais destaque, que apareceu também em janeiro, mas ainda não havia aparecido nesta análise, é “sotaque” – que aparece em associação direta a outros termos também em evidência, como “amo”, “paulista”, “carioca”, “gosto” e “ouvir”. Na maioria dos tweets, aparece em tom de exaltação e também em comparativo com outros semelhantes.

Uma questão muito interessante a discutir sobre esse assunto é como parece haver um imaginário social do que seria o “sotaque nordestino”, como um representante único de nove estados distintos, enquanto outros…: “Qual é o seu sotaque favorito? — Carioca, gaúcho, Paulista, nordestino, ah todo”. Pensando o sotaque como uma representação exclusivamente oral, uma hipótese a ser levantada é que essa convenção do que seria um sotaque nordestino pode ter surgido a partir das representações do que seriam também personagens “nordestinos” na televisão e no cinema. Nesse contexto, a categoria “nordestino” é aplicada a um todo identitário muito maior que deve supostamente dar conta de milhões de pessoas com diferentes valores, tradições e referências – semelhante à discussão que travei também no meu TCC.

No mais, termos como “anos”, “sertão”, “chuva”, “romances” e “família” são referentes a dois tweets com certa repercussão relevante: “A chuva volta ao sertão nordestino após seis anos de seca. Agora o sertanejo espera a volta de Lula” e “Família nordestina guardou séculos de romances medievais de mais de 700 anos na memória https://t.co/JU57dnfUAj”. No entanto, o que mais tem me chamado a atenção, desde a primeira análise, é a presença de outras palavras como “gay”, “negro(a)” e “mulher”. Como aparece no tweet da @bchartsnet, um dos mais populares de fevereiro contendo o termo “nordestina”, esta categoria identitária aparece ao lado de outras muito mais consolidadas (e diria até, respaldadas) numa espécie de osmose interseccional das minorias.

Interseccionalidade é uma sensibilidade analítica, uma maneira de pensar sobre a identidade e sua relação com o poder. Articulada originalmente em favor das mulheres negras, o termo trouxe à luz a invisibilidade de muitos cidadãos dentro de grupos que os reivindicam como membros, mas que muitas vezes não conseguem representá-los. O apagamento interseccional não é exclusivo das mulheres negras. Pessoas negras ou de outras raças/etnias dentro dos movimentos LGBT; meninas negras ou de outras raças/etnias na luta contra o sistema que empurra os jovens da escola para a cadeia; mulheres nos movimentos de imigração; mulheres trans dentro dos movimentos feministas; e as pessoas com deficiência lutando contra o abuso policial — todas essas pessoas sofrem vulnerabilidades que refletem as interseções entre racismo, sexismo, opressão de classe, transfobia, capacitismo e muito mais. A interseccionalidade deu a muitas dessas pessoas uma forma de destacar as suas circunstâncias e lutar por sua visibilidade e inclusão.
Kimberlé Crenshaw

Este é um “fenômeno” que venho trabalhando desde a monografia e que está diretamente relacionado com o sentimento e a sensação de “orgulho” que costura todas as disputas simbólicas em torno do sentir-se (ou autointitular-se) nordestino. É interessante pensar sobre isso porque a interseccionalidade, como foi “criada”, nasceu nos Estados Unidos, portanto, discuti-la no contexto brasileiro deve levar em consideração várias outras instâncias históricas de poder e relações sociais. Além disso, há uma lacuna entre o sentimento de orgulho como resposta a ataques externos (que foi o que discuti no meu TCC) e classificar essa identidade como legítima da interseccionalidade no contexto brasileiro (que pode ser o meu projeto de mestrado, quem sabe?). Com a cabeça borbulhando mas ainda sem uma ideia definida, sigo acompanhando.

O que faz ser nordestino no Facebook?

No dia 19 de dezembro de 2017, depois de quatro longos anos, apresentei no bloco A do campus Gragoatá da Universidade Federal Fluminense o meu trabalho de conclusão de curso na graduação em Estudos de Mídia. Com um misto de imensa gratidão e desconcertante despedida, defendi a minha monografia, “O que fazer ser Nordestino no Facebook: Escolhas da construção identitária nos sites de redes sociais”, frente à melhor banca que poderia ter escolhido para fechar esse ciclo com chave de ouro.

Quem me acompanha no Twitter sabe que não foi uma jornada fácil – e nem rápida, já que comecei a confabular a ideia para esse trabalho ainda no primeiro semestre de 2016. Com alguns tropeços (burocráticos e da vida mesmo) no caminho, a verdade é que eu só sentei para realmente escrever os capítulos no segundo semestre de 2017 – escrevendo o segundo e terceiro capítulo só em novembro, ou seja, em apenas algumas semanas. A minha sorte é que, embora tenha deixado a produção para a última hora, já tinha lido e catalogado a grande maioria das minhas referências meses antes.

Como comentei no Twitter, o sufoco para finalizar esse trabalho não se deu por falta de aptidão pelo tema, mas apenas pela irresponsabilidade cronológica das minhas obrigações. Garanto, no entanto, que foi o meu entusiasmo pelo tema – e pela ideia em geral – que me forneceu o combustível necessário para escrever mais de 60 páginas apenas em duas/três semanas. Poder levantar a discussão sobre identidade, cultura, representação, Nordeste, autoapresentação, performance e sites de redes sociais em um único trabalho fez com que a escrita saísse com suor, mas com um imenso sorriso no rosto.

Embora o tema – ou melhor, os temas – possam parecer óbvios para a minha pessoa, não foi fácil chegar nele(s). No quinto período, quando fiz a disciplina Metodologia de Pesquisa, foi realmente quando tive que colocar no papel as ideias que tive durante os três anos de graduação para elaborar um anteprojeto. Revirei minhas anotações, as disciplinas que fiz, tweets que publiquei… E cheguei à conclusão que queria falar de identidade e sites de redes sociais, só faltava um meio termo. Felizmente no mesmo período tinha feito um trabalho sobre a Brasileiríssimos que me orientou por onde deveria seguir, até que cheguei à Nordestinos.

A ideia inicial (do anteprojeto) era fazer uma análise da representação do Nordeste nessa página, mas descartei eventualmente essa proposta porque queria focar mais em identidade e menos em representação/análise do discurso (embora seja tudo muito imbricado). Isso porque era uma questão que me atravessava diretamente (saí de Aracaju com 17 anos para São Paulo e depois Rio de Janeiro, então a identidade nordestina era “percebida” pelos outros de forma constante na minha vida no Sudeste) e também devido à minha afiliação teórica com a discussão sobre identidade – e não tanto com análise do discurso (muito relevante para avaliar o conteúdo de uma página), por exemplo.

Antes de começar a escrever o trabalho, meu orientador – Prof. Dr. Marildo Nercolini – orientou que eu produzisse, sem me preocupar com a burocracia das referências, um texto sobre o que eu tinha em mente. Deveria ter somente duas páginas, mas acabei escrevendo sete. Com o entusiasmo, cheguei a produzir um artigo para o XIII ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, que infelizmente não foi aceito. Fiquei bastante abatido na época, porque era uma das minhas metas de 2017, mas concordei com todos os apontamentos do avaliador. Embora tivesse uma boa base teórica, partiu de um texto na primeira pessoa e faltou uma análise mais densa.

Confesso que me desanimou um pouco, e talvez tenha sido esse o motivo pelo qual demorei tanto para começar a escrever o TCC. Fui negado em maio, escrevi o primeiro capítulo em julho e fui revisar só em setembro. Felizmente meu orientador não me abandou em nenhum momento e me deu todo o apoio necessário para que eu terminasse o trabalho em tempo recorde. E, finalmente, depois de tantos altos e baixos, consegui produzir algo do qual me orgulho muito e fiquei bastante feliz com o resultado. Independente da avaliação da banca, estava satisfeito com o meu trabalho. Sem mais delongas, portanto, compartilho aqui – para quem tiver interesse – a minha monografia:

Talvez eu deva começar explicando pelo título, que não foi bem aceito pela banca. A minha ideia inicial era seguir pelo óbvio “A identidade nordestina no Facebook”, mas não consegui encontrar um subtítulo que não repetisse a mesma ideia do título, complementando-o – como deveria ser. Foi somente nos últimos dias de produção que me veio o título final, no qual a proposta é fazer uma referência direta ao livro “O que fazer ser nordestino: identidades sociais, interesses e o ‘escândalo’ Erundina”, escrito por Maura Penna na década de 90 e uma das principais referências bibliográficas no meu trabalho. Reconheço, entretanto, que pode soar estranho para quem não conhece a obra – a grande maioria das pessoas.

Fora isso, o trabalho foi muito bem aceito pela banca que apontou apenas algumas (várias, na verdade: eu falei por 20 minutos e elas falaram por 2/3 horas) considerações de correção e/ou melhorias. Em suma, a proposta do TCC era responder à pergunta: por que as pessoas optam por acionar a identidade nordestina nos sites de redes sociais? Para isso, estruturei da seguinte forma: no primeiro capítulo, fiz um levantamento histórico-bibliográfico de como “surge” o Nordeste e o nordestino; em seguida, dedico todo o segundo capítulo à discussão sobre identidade, sob diferentes perspectivas: nacionais, regionais, fragmentadas e, finalmente, nos sites de redes sociais; finalizo o trabalho com as respostas ao questionário que apliquei com usuários do Nordeste.

Fiquei muito feliz que, nesta última etapa, encontrei uma solução metodológica utilizando a análise de redes. Explico: a minha pergunta principal parte do pressuposto de que há pessoas que acionam essa identidade nos sites de redes sociais, então, como posso encontrá-las? Poderia optar por simplesmente selecionar alguns amigos meus e pedir que respondessem ao questionário, mas achei que a análise de redes me ofereceria um critério “científico” muito mais válido. Aquele trabalho que publiquei aqui no post alguns meses atrás, do mapeamento do Nordeste no Facebook, portanto, serviu como base para que eu encontrasse as páginas mais “influentes” no contexto da minha pesquisa – a identidade nordestina. Com essa lista em mãos, utilizei como requisito básico para encontrar usuários aptos a responder o questionário.

Enfim, consegui colocar identidade, cultura, representação, Nordeste, sites de redes sociais, autoapresentação e análise de redes (que por tanto tempo fugi) num mesmo trabalho – e, portanto, repito: não poderia estar mais feliz com o resultado. A versão que trago acima já é corrigida após os apontamentos da banca, na medida do possível. Algumas considerações mais complexas (e foram muitas, o que me deixou muito animado) eu anotei como ideia para levar ao mestrado, a nova meta de 2018. Acho importante reconhecer, inclusive, uma limitação do projeto: o questionário em vez da entrevista, o que “limitou” as respostas dos informantes para averiguar com mais afinco a especificidade dessa construção identitária nos sites de redes sociais, como apontou Prof. Dra. Beatriz Polivanov.

Para finalizar, reconheço que não apenas a questão sob a viés dos sites de redes sociais pode ser um campo muito interessante a ser explorado num programa de pós-graduação em comunicação, mas diversas outras questões como estigma, preconceito, estereótipo, disputa, orgulho e diáspora. Dentre as falas da banca, uma das que mais me marcou foi da Prof. Dra. Ana Lúcia Enne: é difícil deslocar a identidade quando se ancora na natureza (como álibi climático comumente associado ao Norte), pois o significante é muito poderoso, o que dificulta destruir o estereótipo. Mais difícil do que mexer no significado, portanto, é disputar o significante. Sobre isso, compartilho o que escrevi nas considerações finais após essa consideração na defesa:

Nascido em Salvador, parti para Aracaju com apenas 5 anos e deixei a capital somente aos 17, quando fui para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro fazer faculdade. Como qualquer pessoa que sai do Nordeste em diração ao Sul, tive que lidar em algum (ou alguns momentos) com a diferenciação do “outro”, geralmente facilitada pelo conflito de sotaques. Desde então, a classificação “nordestino” atribuída a mim – e a outros milhões – sempre foi uma questão que me intrigava. Com as leituras que fiz no curso, a reflexão de anos ficou ainda mais complexa e, de certa forma, até mais complicada.

Essa dificuldade de lidar com a questão da autoatribuição nordestina pairou toda a escrita deste trabalho, uma vez que as reflexões sobre o “ser nordestino” após a minha migração já trazia uma leitura da identidade nordestina como representada nas obras de arte, como uma condição de sofrimento e adversidades. Se o texto parece impessoal, é somente devido a essa angústia que ainda me agonia. Ao tentar fugir do estereótipo, acabo negando-o e, ao mesmo tempo, legitimando-o. Afinal, “sou” nordestino, mas nunca passei por dificuldades (estruturais) na vida. Será que, então, poderia me identificar enquanto nordestino? Depois de tudo isso, acredito que sim.

Mapeando o Nordeste no Facebook: primeiros apontamentos com análise de redes sociais

Embora possa por vezes parecer eterna ou natural aos brasileiros, a ideia de Nordeste é de pouco mais de um século, sua origem remontando à reação política ao desmantelamento das economias do açúcar e do algodão e à busca de uma solução para a crise enfrentada conjuntamente pelas províncias brasileiras que delas dependiam. É somente nesse momento que começa a ruir a percepção provincial então vigente e que se elabora um discurso regionalista e nordestino, o qual se define e se afirma não apenas em oposição ao seu “outro” mais próximo – o ‘Sul’ cafeeeiro –, mas também em relação a um passado de suposto bem estar e harmonia. É através desse discurso e das ações oficiais dele derivadas que se demarca o espaço do que é Nordeste e se conforma uma identidade cultural nordestina, a qual legitima e representa, simbolicamente, aquele espaço. (ANJOS, 2000, pp. 47-48).

É extremamente difícil pensar que o Nordeste, assim como qualquer outra região/país/território, é apenas uma categoria discursiva. Isso não quer dizer que ela exista apenas no mundo semântico (das ideias), mas que ela se materializa nas nossas dinâmicas sociais através de um “ato mágico” performático que nos convenciona, enquanto seres humanos inteligíveis, um acordo sobre como entendemos as delimitações do espaço físico. A própria etimologia da palavra “região” traz consigo a ideia de regere sacra: uma espécie de crença mágica que confere àquele que está regendo uma autoridade/legitimidade que se faz acreditar nessa regência (e isso é Bourdieu explicando, não eu). A partir dessa discussão, Silva (2009, p. 20) explica que:

O Nordeste, nessa concepção, constitui-se como região a partir do trabalho de criação de determinados setores sociais que se relacionam em um espaço específico. Também compõem com outras áreas um conjunto nacional politicamente definido por grupos que o reconhecem como espaço construído em seu processo de produção material e cultural, através da qual se articula com o capital e com o Estado, formando uma entidade político-administrativa.

Se o Nordeste, portanto, é uma construção social fundada atos performáticos sobre os quais acordamos culturalmente, o que acontece com a sua noção “material” – no sentido físico, territorial – quando surgem novas esferas de comunicação que já atravessam e constituem parte da nossa vida cotidiana? Essa é uma pergunta extremamente complexa que não cabe a mim responder neste simples post. O meu interesse nesse contexto surge a partir de um viés bastante específico: a noção de identidade nordestina. Afinal, assim como o Nordeste, esta foi construída social e historicamente nos últimos 130 anos a partir de diversas conjunturas discursivas (e midiáticas) que estabeleceram, para tal, apontamentos bem específicos do que representava (e esta palavra é importante) ou não o ser nordestino.

O que tem se convencionado enquanto identidade nordestina, com o famigerado advento das novas tecnologias de comunicação e informação, é reconfigurado de alguma forma? Como as novas dinâmicas sociais de produção cultural alteram (ou não) os formatos impingidos aos nordestinos durante as últimas décadas? Essas são algumas perguntas que norteiam o meu trabalho de conclusão do curso de Estudos de Mídia, na UFF. Embora o projeto ainda esteja, metodologicamente, em seu formato embrionário, um pressuposto óbvio para discutir a identidade nordestina nos sites de redes sociais é localizar a categoria – e o Nordeste, de maneira geral – no ambiente online (mais especificamente no Facebook, por ser a mídia social mais popular do Brasil).

O propósito deste post, portanto, é apresentar os resultados iniciais (bem iniciais mesmo) desta minha difícil missão. Para enfrentar esse desafio, optei pela metodologia de análise de redes sociais – técnica que me permite localizar no Facebook praticamente todas as páginas que tragam alguma associação direta com o Nordeste ou com a identidade nordestina. Uma vez que a identidade nordestina é construída discursivamente através de recursos ancorados na repetição de certos valores simbólicos, identificar quem são os principais atores online que trabalham ativamente para a produção dessa construção que estimula (reforça) uma identificação dos usuários com a identidade é o primeiro passo para diagnosticar quais novas lógicas operam esse jogo de sociabilidades.

Para gerar a rede (sobre a qual explicarei e descrevei com mais detalhes a seguir), percorri os seguintes passos: 1) com a ajuda da Netvizz, fiz três buscas de páginas sobre o meu escopo de pesquisa: uma para “Nordeste”, outra para “Nordestino” e outra para “Nordestina” (a variação do plural também é captada pela ferramenta); 2) com as três listas em mão, organizei e limpei os dados para encontrar as páginas mais relevantes (removi páginas pequenas e outros lixos) sobre o tema, encontrando 139 resultados; 3) com a técnica de bola de neve (snowball), documentada por Richard Rogers (DMI) nos seus estudos sobre métodos digitais, encontrei mais 125 páginas a partir das conexões do grupo de páginas-semente. Para explicação mais detalhada sobre esse procedimento, ver Alves (2017, p. 109).

Com a lista completa de páginas sobre o Nordeste e/ou a identidade nordestina, totalizando agora 265 canais, fiz o download dos módulos de “curtida” de cada página também com a Netvizz. De maneira simples, funciona da seguinte forma: cada página do Facebook possui um ID que, através da ferramenta, é possível gerar um arquivo específico que traz consigo as conexões da página em questão com outras páginas que essa “curte” (assim como os usuários, as páginas também têm a opção de curtir outras páginas). Com todos esses arquivos em mãos, pude trabalhá-los diretamente no Gephi, programa específico para análise de redes. O resultado “final”, 5.100 nós (páginas) e 18.456 arestas (conexões), apresento abaixo:

A plotagem da rede foi gerada no Gephi a partir do layout ForceAtlas 2, conforme descrito por Alves (2017, p. 110): “esse processo cria um desenho de rede no qual os nós com mais ligações são atraídos para o centro e os menos conectados são repelidos para as margens”. Marquei a opção de “gravidade mais forte” porque a rede não apresentava alta densidade, ou seja, não havia uma mobilização orquestrada em prol de algum assunto específico – eram apenas algumas milhares de páginas centradas numa temática em comum. Além disso, também não é do meu interesse direto analisar o posicionamento dos clusters, a disposição espacial da rede, sendo suficiente para a minha proposta uma simples interpretação dos grupos formados – para então localizar atores influentes.

Na imagem acima, os clusters representam esses agrupamentos (classificados de maneira estatística pela própria ferramenta) coloridos. As cores foram selecionadas de maneira arbitrária, somente para representar os grupos reconhecidos pelo Gephi: 1.205 (23,63%) páginas no lilás, 959 páginas (18,8%) no verde, 540 (10,59%) no azul piscina, 493 (9,67%) no preto/cinza escuro, 401 (7,86%) no laranja, 221 (4,33%) no rosa e 207 (4,06%) no esmeralda. Os nós maiores, em formato circular, são as páginas com maior PageRank, métrica que leva em conta a centralidade e o peso das arestas – de maneira geral, ela identifica quais páginas recebem conexões mais relevantes dentro do próprio grupo.




Não me aprofundarei numa descrição dos clusters acima porque, além de serem relativamente auto-explicativos em seus exemplos apresentados, os dois grupos que mais aparentam relevância para o meu projeto são o lilás e o preto/cinza escuro. Neles estão presentes – além de algumas páginas que refletem gostos e valores culturais (até políticos) interessantes para possível discussão posterior – atores que trazem consigo o discurso mais vívido acerca do Nordeste e do ser nordestino. Para melhor visualização desses grupos, expandi um pouco a rede e ajustei os rótulos (desta vez proporcionais de acordo com a métrica grau de entrada) conforme representados nas imagens abaixo:



 

Tomando como base esses dois clusters, consegui identificar quais são os principais atores a propagar noções da identidade nordestina no Facebook. Para tal, exportei uma tabela com todos nós dos grupos e organizei na ordem da métrica talking_about_count. A minha ideia aqui em priorizar essa medida é priorizar as páginas onde há uma conversação contínua acerca dessa temática, já que para que haja uma construção identitária é necessário uma articulação constante de pessoas (no caso, usuários) apresentando e representando os valores daquele grupo – a página Nação Nordestina, por exemplo, embora volumosa em visibilidade, não se mostrou muito popular. O top15 – que classifiquei manualmente – segue abaixo:

Antes de finalizar, talvez deva uma resposta a um incômodo que pode surgir na leitura desse post: “por que você não mapeou todas as páginas das cidades (ou pelo menos capitais) e estados do Nordeste?”. Por dois motivos: primeiro, pela demanda de trabalho, obviamente; segundo, porque a minha fundamentação teórica segue justamente a linha de raciocínio na qual o Nordeste é visto como uma categoria discursiva, ou seja, por mais que “na prática” represente suas ramificações, é compreendido no imaginário social enquanto figura homogênea (como o Brasil, por exemplo, e o ser brasileiro). Ou seja, estou interessado justamente nessa concepção de Nordeste e identidade nordestina como um todo macro, mesmo que de maneira crítica e cautelosa para não reproduzir certos equívocos.

Esses foram os primeiros passos que pensei que podem me guiar no que tange o meu trabalho de conclusão de curso (e quiçá uma possível empreitada numa pós-graduação stricto sensu). Ainda não sei exatamente como seguir, mas foi uma atividade na qual pude unir o útil ao agradável: trabalhar o meu objeto de pesquisa junto a uma metodologia sobre a qual venho aprendendo cada vez mais, conforme já narrado aqui na minha saga e posterior aprendizados iniciais graças ao curso do IBPAD. Fico aberto a todo tipo de crítica (construtiva) para elucidar conseguintes apontamentos metodológicos que me ajudem a estruturar uma linha de raciocínio e argumentação para o projeto.

Referências bibliográficas

ALVES, Marcelo Santos. Campanha não oficial: A Rede Antipetista na eleição de 2014. REVISTA FRONTEIRAS (ONLINE), v. 19, p. 102-119, 2017.

ANJOS, Moacir dos. “Desmanche de Bordas: notas sobre identidade cultural no Nordeste do Brasil”. In: Artelatina. RJ: Aeroplano Editora, 2000.

SILVA, Claudeci Ribeiro. A representação do Nordeste nas letras das músicas de Marinês. UEPB: 2009.