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Um breve rascunho sobre a história da inteligência em mídias sociais

O mês de novembro sempre chega, há pelo menos alguns anos, com bastante expectativa para profissionais que trabalham com monitoramento e métricas (social analytics). Isso porque, além de ser o mês oficial da Consciência Negra (sempre bom lembrar), é também o mês não-tão-oficial da divulgação dos resultados da pesquisa “O profissional de inteligência de mídias sociais”. Agora já na sua 8ª edição, tendo passado pelas mãos de grandes profissionais (Tarcízio Silva, Júnior Siri, Ana Claudia Zandavalle e atualmente com Pedro Barreto), a pesquisa chega aos quase dez anos de idade com muitas histórias para contar.

É por isso que, neste post, achei que seria legal não apenas comentar sobre os resultados da última edição, mas fazer um breve rascunho de como a história da área de inteligência de mídias sociais (como se convencionou, a partir também da pesquisa, chamar o mercado de comunicação digital em mídias sociais dedicado ao trabalho de monitoramento e métricas) desenvolveu-se por todos estes anos. Já comentei em diversos textos aqui no blog a relevância da pesquisa para mim, quando “entrei” na área em 2015, portanto reforço seu papel não somente para atores que já fazem parte e escrevem seu roteiro, mas também para aqueles que chegam (ou chegarão) um pouco perdidos nesse contexto.

Antes de trazer as apurações e os levantamentos que fiz, ratifico mais uma vez: essa breve história é (quase) completamente baseada nos resultados das pesquisas desde 2011, com alguns pitacos e acréscimos a partir do meu nível de conhecimento (novamente — de alguém que chegou somente em 2015). Ou seja, é possível que algumas considerações relevantes fiquem de fora, por isso chamei de “rascunho”; estou mais do que aberto a correções, contra-argumentações e novas/mais perspectivas. Por ora, eis a história conforme eu compreendi e, arbitrariamente (como todo escrito histórico), convencionei dividir em quatro momentos: O nascimento (2008-2011); A consolidação (2012-2014); O amadurecimento (2015-2017); e Os desafios (2018-).

2008-2011 – O nascimento

É sempre bom ratificar que o trabalho em/com mídias sociais não é nada recente – aliás, não é nada novo há já algum tempo: no curso CoLab Social Media, Nathália Capistrano contou como já desenvolvia ações no Orkut em 2007/2008, para citar apenas um exemplo; o primeiro post do famoso blog de Avinash Kaushik, com o título “Traditional Web Analytics is Dead”, foi publicado em maio de 2006 – ainda que não seja especificamente sobre mídias sociais, é uma referência relevante tanto pelo profissional em si quanto para mostrar como marcas (lá fora, mas aqui também) já estavam online há bastante tempo. Acontece que de 2008-2009 adiante, as mídias sociais – encabeçada pelo Facebook, principalmente – dominaram a internet.

O relatório acima, “Monitoramento e Análise de Mídias Sociais – Gerando Insights de Consumidores a partir de Conversação Online” (em português), que é de 2008 e foi citado na primeira edição da pesquisa (2011) declara: “este relatório investiga como as empresas podem competir com sucesso num mundo no qual conteúdo da web gerado por consumidores está marginalizando o valor de canais de mídia tradicional, e no qual redes um-a-um estão substituindo figuras de autoridade tradicionais no fornecimento de informação confiável sobre uma marca”. Tendo entrevistado mais de 250 empresas, mostra como o trabalho de monitoramento/mensuração já era uma realidade em meados da década passada.

Quando a primeira edição da pesquisa, “Usos e Percepções do Monitoramento de Mídias Sociais” (148 respondentes), foi lançada, portanto, o mercado de monitoramento já era uma realidade no Brasil – ferramentas como Scup e Radian6 já existiam, por exemplo, e todo o mercado brasileiro de comunicação/publicidade já encarava as mídias sociais como ponto de parada obrigatório. A primeira definição de “monitoramento de mídias sociais” foi, inclusive, rascunhada um ano antes, em 2010, por Tarcízio Silva, no livro #MídiasSociais – Perspectivas, Tendências e Reflexões, que contém inclusive alguns apontamentos históricos já interessantes para esse panorama que trazemos aqui:

No Brasil, agências digitais passaram a oferecer o serviço de monitoramento, e algumas foram criadas com esse negócio como central. Em outros casos, foram criados braços de agências ou institutos de pesquisa e análise de mercado dedicados à atividade. Desde 2008, cerca de uma dúzia de agências, em geral de médio porte, começaram a produzir, publicar e apresentar conteúdo para educar o mercado sobre suas possibilidades, ainda que de forma não coordenada. A crescentemente demanda pelo serviço também estabeleceu o contexto pro lançamento de softwares nacionais. Desde o início de 2010, com o debate em torno destas eleições de legislação novamente renovado, temas relacionados às mídias sociais e o monitoramento das conversações entraram em pauta. De portais de âmbito nacional aos blogs mais segmentados, vez ou outra se fala repetidamente da corrida pelo maior número de tweets positivos, por exemplo. (p. 43).

É importante ratificar que o foco na disciplina de monitoramento aqui se dá simplesmente devido ao recorte específico também da primeira pesquisa, voltada exclusivamente (na teoria) aos profissionais que trabalhavam com essa atividade (como o próprio nome da primeira edição indica). Isso não quer dizer, de forma alguma, que o trabalho com métricas já não estivesse em voga, muito pelo contrário – o próprio post de 2006 de Kaushik é exemplo de como a disciplina de web analytics (ainda que desassociada do contexto de mídias sociais) é bem antiga. Talvez o “pulo do gato” esteja justamente na essência do contexto do trabalho de monitoramento: a proliferação em massa de conteúdos produzidos por usuários.

Ainda assim, a linha entre monitoramento e métricas (tanto social quanto web analytics) sempre foi tênue, desde a primeira edição: o quadro de “métricas mais importantes” trazia, em 2011, tanto indicadores típicos do primeiro (sentimento, reputação, influência, satisfação, resolução de problemas, temas, etc.) quanto do segundo (engajamento, alcance, ROI, vendas, leads, etc). O quadro abaixo é um levantamento de vários materiais voltados à “mensuração” de mídias sociais apresentado por Tarcízio Silva (que comandou a primeira edição da pesquisa) num material de 2010, que também reforça o cenário nebuloso de diferença entre monitoramento e métricas no início da década.

Slides da apresentação “Métricas para Mídias Sociais – conceitos, elementos, abordagens e ferramentas”, de Tarcízio Silva (2010)

Enfim, retornando aos resultados da primeira edição da pesquisa, o que eles nos apontam sobre o cenário em 2011?

  • Antes de mais nada, reforça que monitoramento/métricas não é algo novo, com pelo menos dois relatórios que já apontavam boas práticas na área;
  • Ainda assim, a profissão generalizante em/de mídias sociais era predominante, conforme as nomenclaturas mais comuns dentre os respondentes refletiam: Analistas/Coordenadores de Mídias Sociais, Analistas/Assessores de Comunicação;
  • Esse cenário amador também reflete as ferramentas plenas e parciais mais utilizadas, que trouxe nesse primeiro ano nomes como Google Alertas, Hootsuite e Tweetdeck – aplicações bem diferentes entre si, diga-se de passagem;
  • O monitoramento atendia principalmente à proposta de relacionamento, seguido imediatamente pela avaliação de resultados de comunicação – o que é muito interessante, pois a primeira resposta é completamente dependente do trabalho de monitoramento enquanto que a segunda pode, mais uma vez, estar se referindo a métricas (social e web analytics);
  • As principais insatisfações eram: dados imprecisos, delay na entrega, poucos cruzamentos/recursos, falta de conhecimento e pouco investimento – todas justificativas que fazem sentido a uma área que apenas começava a engatinhar e amadurecer, conforme os próximos anos vão mostrar;
  • Para o futuro, o relatório apontava como urgente: educar o mercado, produzir conteúdo/conhecimento, integrar fonte de dados e padronizar métricas – todos objetivos alcançados com sucesso (talvez somente a última ainda levante discussões, embora poucos se proponham a discutir atualmente).

2012-2014 – A consolidação

O objetivo dos players (profissionais, ferramentas, agências, etc.) no início da década era, portanto, educar – praticamente evangelizar – o mercado. E foi justamente isso que aconteceu nesse segundo momento, quando a disciplina de monitoramento se consolidou e ganhou corpo em conjunto à também matéria de métricas específicas para/de mídias sociais. Entre 2012 e 2014, explodiu a produção de conteúdo (dentre livros, e-books, eventos, etc.) sobre “monitoramento e métricas”, quando a linha tênue entre ambas tornou-se não mais um motivo de confusão pejorativamente, mas uma junção estratégica para somar forças ao argumento da importância do trabalho de “acompanhamento de resultados”.

No ano de 2012, com praticamente doze meses de distância, duas publicações importantíssimas foram lançadas: a coletânea Para Entender o Monitoramento de Mídias Sociais, organizada por Tarcízio Silva, com capítulos sobre análise de sentimento, SAC, gestão de crises, netnografia, etc.; e Monitoramento e métrica de mídias sociais: do estagiário ao CEO, de Diego Monteiro e Ricardo Azarite, chefias da Scup que já se consolidava como principal ferramenta de monitoramento do Brasil naquele momento. Ambas publicações foram muito além do recorte de monitoramento/métricas (principalmente a segunda), trazendo um panorama completo de boas práticas para a atuação de marcas nas mídias sociais.

Importante ressaltar, nesse momento, a ofensiva do Scup quanto à produção de conteúdo: além do livro, que veio a se tornar um dos mais relevantes para a área – conforme relembrado ano após ano na própria pesquisa -, a empresa criou na época um blog chamado Scup Ideas para compartilhar conhecimento sobre monitoramento/métricas e convidou dezenas de profissionais de agências já especializados no assunto para produzir e-books simples (porém extremamente educativos) sobre essas mesmas temáticas. Ainda patrocinou webinars, palestras/eventos, cursos rápidos e muito mais. Embora o blog e os e-books tenham se perdido na venda para a Sprinklr, eles ainda vivem aqui no blog.

A segunda edição da pesquisa, portanto, com 182 respondentes, já refletia um pouco desse cenário mais profissionalizantes. Nomenclaturas como “Analista de Métricas e Monitoramento” e “Analista de Buzz Intelligence” surgem, ainda que com a soberania de “Analista de Mídias Sociais” – que deve também ser celebrado uma vez que a primeira pesquisa trazia títulos ainda mais abrangentes de comunicação; a popularidade da Scup também se consolida, conseguindo quase 50% das menções em ferramentas mais citadas; além da presença/diferenciação dos tipos de softwares, comerciais plenas/gestão/métricas. A evolução do mercado dependia, neste momento, da valorização da área pelas empresas e da especialização da função.

Mas o mercado já estava evoluindo: a segunda maioria dos respondentes citaram “material online” como principal fonte de aprendizado, fruto justamente da proliferação de conteúdo que estava acontecendo através de blogs, grupos/comunidades, livros/e-books, eventos/cursos e Slideshare – todas essas opções também citadas na pesquisa. Ou seja, o mercado estava se educando, profissionais procurando capacitação, empresas se mobilizando para produzir conteúdo/conhecimento sobre o assunto, e a dupla “monitoramento e métricas” já tinha poder de argumentação nas maiores agências e empresas do Brasil – principalmente no eixo Sudeste, que historicamente sempre concentrou a mão de obra e força de trabalho.

Nesse sentido, a terceira edição da pesquisa (161 respondentes) demonstrou quase uma continuação dos resultados de 2012, sobretudo na coroação da Scup e na diferenciação explícita entre monitoramento e métricas (também na apresentação de resultados sobre ferramentas). Além disso, algumas outras considerações levantadas no resumo apontaram o cenário da época: o crescimento de ferramentas como Facebook Insights e Socialbakers refletia o poder do Facebook no Brasil; a queda de ferramentas de gestão é fruto da profissionalização também das próprias plataformas de mídias sociais (e funções de agendamento, por exemplo); a lembrança dos respondentes de ferramentas de web analytics reforça a importância do ROI financeiro; e mais capacitações (cursos livres e strictu sensu) surgem na área.

Outra “fonte histórica” também interessante para compreender esse período é o anual Social Analytics Summit, organizado pela Media Education. Com sua estreia em 2012 ainda sob nomenclatura “Metrics Summit 2012”, a primeira edição – apesar do nome – já misturava monitoramento e métricas dentre suas palestras; já em 2013, surge termos importantes como “inteligência” e “big data”, que se tornariam indispensáveis ao mercado desde então; em 2014, nem monitoramento nem métricas, mas “social analytics” – ou o ainda mais arriscado, “ciência de dados”. Esse quadro reflete como, em apenas alguns anos, a “inteligência de mídias sociais” nasceu e começou a engatinhar com as próprias pernas.

Ao chegarmos em 2014, portanto, a área já tinha se consolidado. Grandes players já tinham feito seus nomes, cursos livres e especializações/MBAs já eram uma realidade bastante popular (pelo menos no Sudeste), médias e grandes empresas já dedicavam um setor – ou pelo menos mais de um profissional – ao acompanhamento de marca e resultados nas mídias sociais, etc. E tudo isso pôde ser consolidado na 4ª edição da pesquisa, agora já nas mãos do sergipano Júnior Siri. Com 222 respondentes e agora intitulado “Profissional de métricas, monitoramento e social analytics no Brasil”, a pesquisa crescia em popularidade assim como a área em si ganhava mais projeção e, consequentemente, mais profissionais interessados/capacitados.

O termo inteligência (em inglês) já era uma realidade dentre as nomenclaturas mais relevantes: social intelligence, buzz intelligence, data intelligence, business intelligence, etc. Segundo explicação do próprio Siri, o aumento do percentual de respondentes que trabalham a maior parte do tempo ou exclusivamente com tais habilidades “mostra que, apesar de muitos profissionais de social media desempenharem diversas funções, está cada vez mais comum vê-los utilizando mais tempo em atividades de inteligência”. Nesse contexto, já havia também mais profissionais com especialização/MBA em marketing digital, comunicação digital, mídias digitais e BI/métricas, expurgando de vez a generalizante função de comunicação.

Dentre as ferramentas de web/social analytics, destaque para o contínuo crescimento do Google Analytics e Socialbakers (além do próprio Facebook Insights ainda relevante), que traduziam um cenário próspero para o Facebook e para inbound marketing. Já quanto às ferramentas de monitoramento, a coroação soberana da Scup enquanto líder de mercado devido principalmente a um trabalho – convenhamos, sensacional – de educação e evangelização de profissionais e clientes, com centenas de materiais produzidos nos dois/três anos anteriores. E, por falar em produção de conteúdo, essa edição trouxe a primeira lista de profissionais referência na área, com autores, professores e profissionais capacitadores.

Outro aspecto muito legal -que essa edição da pesquisa trouxe foi a apresentação de resultados por região. Embora a concentração no Sudeste (sobretudo em São Paulo) seja desconcertante, é muito interessante pensar as diferentes realidades do Brasil e como isso impacta o/é impactada pelo investimento na área. Para fechar essa era, vale citar só mais algumas coisinhas relevantes: 1) a morte eminente do alcance orgânico no Facebook, que vai estremecer um pouco o cenário dos anos seguintes; 2) a profissionalização do mercado já era realidade, acarretando em melhores salários; e 3) uma pesquisa muito semelhante da Trampos, “O raio-x dos profissionais de mídias sociais no Brasil” serviu como bom parâmetro comparativo.

2015-2017 – O amadurecimento

Ao chegarmos em 2015, a área já estava consolidada no mercado. Tão consolidada que os termos “monitoramento, “métricas” e “social analytics” já deixaram de vez o título da pesquisa, dando enfim espaço para o lançamento da “inteligência de mídias sociais” na própria pesquisa – lembrando que não foi a pesquisa em si que convocou essa expressão, mas o mercado que, nos anos anteriores, incorporou o termo sobretudo da nomenclatura de “Business Intelligence”. Quase que de modo celebratório, a pesquisa, agora “O profissional de inteligência de mídias sociais no mercado brasileiro” veio ainda mais densa, com novas questões e novamente recorde de respondentes: 296, seguindo padrão de crescimento iniciado em 2013.

Quanto à demografia, no entanto, houve pouca ou quase nenhuma mudança: São Paulo e Rio de Janeiro continuam predominantes, mulheres são maioria e os profissionais continuam jovens (entre 19 e 30 anos). Na seção de formação e estudos, entretanto, há uma certa “novidade” à época que merece destaque: a pesquisa identificou 52 cursos de 35 instituições diferentes. Lembra que as metas da “era” passada era justamente educar o mercado? Pois então, vários profissionais e empreendedores viram nisso uma oportunidade de lançar cursos sobre a temática cuja demanda era enorme – e surgem cursos livres, tanto em pequenas instituições quanto em escolas de graduação já renomadas, além de incorporação a Pós/especializações/MBAs.

Essa movimentação reverberou também nas principais referências, conforme apontado no próprio relatório: “foram lembrados aqueles que produzem conteúdo voltado para a área e os que têm participação ativa em eventos e grupos de discussão online […] referências como portais/blogs e livros estão associados a outros tópicos da pesquisa”. Ou seja, as obras coletivas do Scup garantiram tanto à ferramenta quanto aos profissionais que as produziram a presença em outras categorias; assim como a produção de conteúdo da Social Figures, comandada por Tarcízio Silva, também foi mão dupla para receber destaque nessa edição; o mesmo para a escola Atlas Media Lab e Gabriel Ishida, indissociáveis; e para a Trespontos Brasil, que produzira materiais com as professores Mariana Oliveira e Priscila Muniz – também ao Scup.

Dentre os livros mais citados (que que permanecerão praticamente os mesmos no ano seguinte), podemos arbitrariamente argumentar por uma diferença prática de leitura: obras do mercado (Diego Monteiro e Ricardo Azarite; Tarcízio Silva e colaboradores; Avinash Kaushik) e obras da academia (Martha Gabriel, Raquel Recuero e Adriana Amaral). Nesse sentido, reforça-se a proliferação de especializações/MBAs, distingue o conteúdo prático e teórico e, de certa forma, escancara ainda como a academia é – com muita ressalva – um lugar mais propício à apreciação intelectual de mulheres. Vale lembrar que o público feminino sempre foi maioria na pesquisa, o que nem sempre se concretizou também dentre as referências levantadas.

Outro detalhe importante que pode passar despercebido, mas que aparece em pelo menos seis slides é o surgimento, pela primeira vez, da disciplina de social ads (mídia): aparece nos grupos mais referenciados; através dos nomes Camila Porto e Fábio Prado Lima, também produtores de conteúdo e professores; nas integrações com outras áreas; e nos destaques do Sudeste e maiores agências. Essa novidade é fruto da polêmica morte do alcance orgânico no Facebook: se antes os profissionais conseguiam um bom retorno nas suas publicações apenas produzindo conteúdo de qualidade e utilizavam as métricas para otimizar esses resultados, de 2013 em diante a morte anunciada do alcance orgânico exigiu que as empresas agora pagassem para ter seu conteúdo bem-sucedido, fortalecendo a área de social ads (ou mídia, em seu nome tradicional).

facebook announcement

Outra importante impacto também aconteceu em 2015, quando o Facebook anunciou uma mudança drástica em sua API que afetou diretamente a atividade específica de monitoramento da plataforma. Como anunciado pelos textos proferidos nessa época, seria necessário – quase urgente – que o mercado, mais uma vez, buscasse alternativas responsáveis e uma capacitação ainda mais rigorosa para lidar com esse obstáculo: é também nessa época que se proliferam, conforme refletido na edição de 2016, cursos de Etnografia e Análise de Redes para Mídias Sociais – que não são matérias recentes, tendo já sido tópicos de discussão na era anterior, mas agora com maior projeção e relevância.

Algumas outras novidades da 6ª edição (368 respondentes, mais um recorde), agora conduzida por Ana Claudia Zandavalle, são: o surgimento (e a posterior morte) do Snapchat; o aumento considerável da realização de cursos livres (com 116 cursos e 100 instituições); o surgimento da Stilingue, que viria nos anos seguintes a tomar a coroa do Scup; o crescimento do Gephi, justamente em correlação com a proliferação da disciplina de ARS; a presença de referências como Resultados Digitais e Rock Content, empresas mais abrangente de marketing digital que refletem principalmente: 1) a produção em massa de conteúdo de materiais online, tal qual fizera Scup; e 2) a popularização do chamado “inbound marketing”, que propõe justamente a criação de conteúdo atraente (e, de certa forma, úteis) ao consumidor.

O que temos de 2016 para 2017 são, portanto, algumas notas de amadurecimento do mercado: o sustento das fases seguintes à graduação (especialização/MBA, mestrado e doutorado); a consolidação das disciplinas de Etnografia de Análise de Redes, sob o comando principalmente do IBPAD, que também lançara um livro colaborativo nessa mesma época com vários autores relevantes; as obras consolidadas de Diego Monteiro e Ricardo Azarite, Tarcízio Silva e colaboradores, Martha Gabriel, Jim Sterne e Raquel Recuero; a coroação da Stilingue como líder do mercado e consequente decadência do Scup; a popularização do Gephi como fruto do crescimento da ARS; a junção agora praticamente indissociável da disciplina de social ads, com profissionais, grupos, cursos e sites de referência; e, por fim, o também crescimento da Resultados Digitais e RD Station.

Eu ainda argumentaria por um fenômeno que talvez seja um pouco difícil de sustentar sem melhor averiguação dos dados, mas que me parece fazer sentido: há, a partir principalmente de 2015 em diante, o surgimento de uma “nova leva” de profissionais de “social media”. Na sétima edição, três grupos surgem como referência nesse sentido: Entusiastas da Social Media, Entusiastas | Social Media e Escola Social Media; em 2016, apareceu Entusiastas e Profissionais da Social Media; em 2015, Entusiastas e Social Media Brasil (no entanto, aqui o cenário era bem mais plural e, de certa forma, especializado, com grupos específicos de cursos, ferramentas e áreas bem delimitadas como web analytics). Sem contar a nomenclatura “Social Media”, que cresceu bastante e se manteve até 2018.

2018- Os desafios

A oitava e mais recente edição da pesquisa saiu há apenas algumas semanas, agora sob o comando de Pedro Barreto. Uma das mais relevantes mudanças está no enfoque dado à categoria de respondentes que dedicam a maior parte do tempo ao trabalho de inteligência, enquanto que todas as últimas pesquisas consideravam aqueles que trabalhavam “pelo menos parte do tempo” com a área – foi também a primeira vez que o cargo focado na área superou a outra opção, com 29% a 27% de disputa. Essa categoria mais especializada representa 75% dos respondentes, o que reflete um mercado já consolidado e maduro – com um público mais velho e com maior experiência de mercado.

Embora, num primeiro momento, a pesquisa pareça não trazer muitas novidades em termos técnicos (de especialização, etc.), eu argumentaria que há pelo menos cinco públicos diferentes que podem ser identificados nessa última pesquisa:

  1. Profissionais de Monitoramento – são profissionais que já respondem a pesquisa há alguns anos e trabalham (quase) exclusivamente com o monitoramento de mídias sociais, provavelmente em agências/empresas de médio-grande porte;
  2. Profissionais de Social/Web Analytics – são profissionais que trabalham diretamente com métricas de mídias sociais e websites, ou seja, cuja rotina diária envolve ferramentas como Facebook Insights, Twitter Analytics, Google Analytics, etc.;
  3. Profissionais de BI – seria como uma junção dos dois profissionais citados acima, com uma visão mais experiente e mais analítica de todo o cenário, possivelmente com pontes direta a outros indicadores de negócio (e, consequentemente, esforços de mídia paga);
  4. Profissionais de Social Media – são (novos) profissionais que não trabalham necessariamente em agências/empresas de médio-grande porte, mas que conseguem desenvolver o trabalho com métricas e (talvez) monitoramento de alguma forma em sua rotina, embora seja muito mais comum o diálogo direto com a disciplina de mídia para justificativa de ROI;
  5. Pesquisadores – são profissionais que dialogam entre academia e mercado, tentando unir as realidades de forma proveitosa para ambos os lados – e que são fruto da vontade de especialização do mercado, muitas vezes atravessada pela área de jornalismo e política.

Particularmente, acredito que estamos em um momento crítico (por falta de melhor termo, mas sem querer soar apocalíptico, apenas responsável) da área. Cito ao menos dois pontos distintos, mas que “chacoalharam” o mercado nos últimos anos: a nova lógica de publicização do conteúdo, que resultou na crescente absurda da área de social ads nos últimos anos e que se entrelaçou com a área de métricas, já que ambas se preocupam em resultados e otimização; e do outro lado do navio, a dificuldade cada vez maior de se trabalhar com dados (públicos) de mídias sociais, fruto dos mais recentes escândalos políticos envolvendo principalmente o Facebook – mas que, na verdade, reflete uma lógica capitalista por trás de uma suposta justificativa de preocupação com dados dos usuários.

O futuro, ao meu ver, é bastante incerto. Embora “inteligência artificial” tenha se tornado a buzzword mais queridinha do mercado nos últimos anos, parece que ninguém sabe ao certo do que se trata. Será que a Etnografia consegue se sustentar no ritmo frenético do mercado de agências? Se for somente a criação de bots para relacionamento, não me parece tão revolucionário assim. Mídia programática também ganhou destaque nos últimos anos, o que parece comprovar que as empresas não entenderam nada de 2010 para cá (dica: ninguém gosta de propaganda indesejada). Paralelamente, inbound marketing segue firme e forte, embora o foco esteja sempre na aquisição de leads e menos em entender o consumidor. Por fim, growth hacking também chegou prometendo bastante, mas será que não é mais do mesmo?

O que a história nos mostra é que a solução sempre está na especialização: um ponto que eu não citei nos comentários sobre as edições é o também crescente enfoque em ciência de dados e áreas correlatas. Tenho visto nos últimos anos diversos colegas procurando especialização em técnicas mais quantitativas, além de o aprendizado de programação para superar os obstáculos das APIs. Isso mostra como (pelo menos alguns) profissionais da área de mídias sociais já não a compreendem como ponto de partida, mas como atravessamento inevitável – e é necessário, portanto, ir muito além das suas limitações. O monitoramento não vai morrer, o Facebook não vai morrer, a publicidade não vai morrer. Mudanças (drásticas, sobretudo nos últimos anos na sociedade em geral) acontecem, mas a gente se adapta – e continua estudando.